sábado, 30 de agosto de 2008

E a luz, quem apaga?


Torço pra Portuguesa desde 1985, aos 7 anos, idade em que comecei a acompanhar o futebol, embora minha memória mais remota me remeta a 1984, ano em que o Santos foi campeão paulista. Por sorte, sem qualquer influência na minha escolha clubística.

Ainda me lembro da escalação da Lusa: Serginho, Luciano, Luís Pereira, Mauro e Alberis; Célio Bagre, Toninho e Edu; Toquinho, Jones e Esquerdinha. O técnico era o Jair Picerni. Chegamos à decisão contra o São Paulo, que alinhou com Gilmar, Zé Teodoro, Dario Pereyra, Oscar (que dupla de zaga!) e Nelsinho; Márcio Araújo, Silas e Pita; Muller, Careca e Sidney. Eram comandados pelo Cilinho. Apesar de termos mais time, perdemos ambos os jogos daquela final. No segundo o Edu quase fez um golo antológico, do meio do campo. A bola, caprichosa, preferiu beijar a o travessão por duas vezes a aconchegar-se nas redes do goleiro Gilmar.

Antes que você, caro leitos, pergunte "e daí?", explico a razão dessa introdução: todos esses jogadores citados marcaram época na Lusa, não por terem chegado a uma decisão – o que, em se tratando de Portuguesa de Desportos, é um acontecimento e tanto –, mas por terem, apesar do sucesso, esquentado lugar no clube do Canindé. O mesmo se aplica aos do Tricolor, exceto pela escassez de títulos.

Bons tempos aqueles em que o sonho de qualquer jogador do interior era jogar num grande clube da capital. Aí passava três, quatro anos ou mais, para depois rumar para o exterior, no caso dos melhores. Aos outros, restava rodar por equipes menores, mas sempre no Brasil. Tempos em que qualquer torcedor sabia de cor e salteado a escalação do seu time, seja ele a Portuguesa, o São Paulo, o Grêmio, o Vasco.

E hoje? Até outro dia a formação do time era igual iogurte, com prazo de validade de seis meses. Hoje, nem isso. A Lusa, por exemplo, começou o Nacional com Diogo e Christian no ataque, e antes do primeiro turno acabar os titulares já eram Jonas e Washington. E no ano que vem? Só Deus sabe.

O que todo mundo sabe é que, a cada janela de transferência – pelo tamanho do estrago que causa, deveria chamar-se portal –, o pé-de-obra (com licença, Mauro Beting) qualificado vai embora, e o desqualificado também. O que sobra aqui é o terceiro escalão da boleirada. Até as categorias de base estão servindo aos clubes do exterior. Os nossos viraram meros fornecedores para os times de fora que, por meio de empresários mal ou muito mal intencionados que levavam o produto acabado. Levavam, pois agora levam, além do produto pronto, a matéria-prima, a semente e até o adubo.

Soluções para estancar esta sangria desatada existem. Uma delas seria a adequação do nosso calendário ao europeu. Assim, pelo menos durante o campeonato, as equipes seriam preservadas, como a paciência do torcedor, que, no fim das contas, é a razão de ser dos times de futebol.

Ah, se um dia eles, torcedores, percebessem...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Medalha de lata

Vergonhosa. Lamentável. Bisonha. Ridícula. Esses e outros adjetivos que o valham podem  perfeitamente ser usados para definir a participação da pseudo-Seleção masculina de futebol na Olimpíada de Pequim.

A começar pela preparação, pois o "treinador" foi definido pouco antes dos jogos. Se com o treinador foi assim, dizer o quê dos jogadores? Não houve tempo pra que se fosse ajeitada a equipe brasileira. Não havia sequer uma equipe!

O que se viu foi um catado. Não houve amistosos contra seleções gabaritadas, apenas um joguinho mequetrefe contra a seleção do Campeonato Brasileiro, outro mais sem-vergonha ainda contra um catadão do Rio, mais dois pseudo-amistosos contra pseudo-seleções. Sem contar a ação entre amigos pra recuperar e dar ritmo de jogo ao ex-melhor do mundo Ronaldinho Gaúcho - a propósito, ele ainda vive daquele gol que marcou contra a temida e igualmente garbosa Venezuela, na Copa América de 99, e do gol espírita que fez no Seaman, pelas Quartas-de-Final da Copa de 2002.

Quem agradeceu foi o Milan, seu novo clube. O gaúcho, aliás, jogou o de sempre, ou não jogou, o que, cá entre nós, é a mesma coisa. Apareceu (pouco) no formidável amistoso contra o Vietnã. Já contra a violenta Bélgica e seu ferrolho quase não foi notado em campo. Assim foi contra a China e a Nova Zelândia, também. Já no jogo que definiu o destino tupiniquim, contra nuestros hermanos, no único jogo de verdade, ficou tocando a bola horizontalmente. Escondeu-se do jogo e pra falar a verdade, só foi notado quando atendeu o telemóvel, no pódio. Isso mesmo: no pódio! Foi sintomático! Serviu pra que nós, meros e tolos torcedores, víssemos a importância que essa gente dá para a Seleção. Um verdadeiro papelão.

E pra coroar o espetáculo dantesco protagonizado por nossos "heróis", deram uma banana pro COI e foram receber as medalhas usando a camisa com o distintivo da CBF, que o mesmo órgão proibira, coberto com uma espécie de adesivo ou qualquer coisa que o valha. Quem eles pensam que são? Quiseram peitar o COI, da mesma forma que peitaram a história do futebol brasileiro.


Restou-lhes engolir a própria empáfia e aplaudir a bicampeã Argentina, que se preparou decentemente e fez por merecer a honraria.

Pequim - 2008

Acabamos de assistir, na manhã de domingo, à maior e mais bem sucedida edição dos Jogos Olímpicos, dessa feita na sua 29ª edição, se contarmos apenas a era moderna, desde Atenas'1896.

tudo beirou a perfeição, desde a infraestrutura, passando pelas moderníssimas e belíssimas - e quantas mais "íssimas" couberem - instalações para a prática dos esportes, indo até a cerimônia de encerramento. Um espavento só! É claro que falhas aconteceram. Como o erro imperdoável de sumirem com a vara da saltadora brasileira Fabiana Mürer, o que fez com que ela perdesse completamente a concentração e ficasse alijada da disputa por medalha. Mas convenhamos, não foi suficiente para ofuscar o brilho dos jogos.

Brilho, aliás, que ficou intenso como nunca graças às performances quase que sobrehumanas dos super atletas Michael Phelps e Usaim Bolt, que pareciam ter saído das histórias em quadrinhos nas peles dos heróis Aquaman e The Flash.

Não tão brilhante foi a parte que coube ao Brasil. Nunca levamos tantos atletas para os jogos, não só em quantidade, mas também em qualidade.

Pelo menos era a impressão inicial. Esperava-se, pelo menos, igualar o desempenho de Atenas’04, quando tivemos cinco ouros, mas subimos ao lugar mais alto do pódio apenas três vezes. É verdade que pela primeira vez foram conquistadas medalhas individuais por parte das mulheres, com o bronze da judoca Ketelyn Quadros. Mais dois bronzes, de Natalia Falavigna no taekwondo, e Fernanda Oliveira e Isabel Swan, na vela, e o ouro de Maurren Maggi no salto em distância confirmaram a evolução do nosso esporte feminino. Isso sem contar a inédita vitória de nossas meninas do vôlei de quadra. A outra vitória veio nas piscinas do espetacular cubo d’água, nos 50 metros livres, pelas mãos, ou melhor, braçadas do paulista César Cielo, que também foi bronze nos 100 metros livres, enquanto todos os nossos holofotes estavam virados para Tiago Pereira, pelo sensacional desempenho no Pan do Rio de Janeiro. Esperava-se mais do judô - dos três campeões mundiais, só Thiago Camilo subiu ao pódio -, do atletismo, da ginástica artística. No vôlei (tanto o de quadra quanto o de praia) e no futebol as medalhas vieram. Na vela também. A cor aguardada, no entanto, era outra.

Ficou a impressão que, nos momentos decisivos, ainda não temos a frieza dos grandes. Vejam o caso de Phelps, por exemplo. Antes dos jogos ele disse, pra quem quisesse ouvir que ganharia os ouros em tantas quantas fossem as provas em que viesse a competir. E conseguiu, a despeito da pressão que resolvera trazer para si. Assim como Daiane dos Santos sucumbiu há quatro anos, Diego Hypólito, campeão mundial, como ela, também falhou quando não podia. Talvez por excesso de confiança, dado que a manobra na qual caiu não era das mais complicadas. Jade Barbosa parece já entrar derrotada, ainda falta-lhe controle emocional.

A esses, foram dadas todas as condições. Nesses casos, e em casos similares, deve haver cobrança. Outro que também ficou aquém do que poderia apresentar foi o triplista Jadel Gregório. Atletas polêmicos, como ele, têm que se sobressair para assim justificarem a força de suas personalidades. Aliás, desde que inventaram essa tal “personalidade forte”, acabaram os arrogantes e prepotentes.

Quem também viu o ouro bater na trave, literalmente, foram as meninas do futebol. Mas desde já, devem ser absolvidas de quaisquer tipos de cobrança, dada a total falta de apoio tanto por parte da CBF quanto por parte da imprensa, que sequer cobre os pouquíssimos amistosos da seleção. O mesmo não se deve dizer dos “homens”, mas isso é pano pra outra manga.

Enfim, o saldo não foi dos piores, mas ficou bem abaixo do que era esperado, e do que era possível. Que sirva de lição para Londres, daqui há quatro anos, quando alguns dos que estiveram em Pequim estarão quatro anos mais velhos, mas também quatro anos mais experientes.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Inesquecível

Eu freqüento estádios de futebol desde os 7 anos, idos em 1985. Ainda lembro-me da primeira vez em que eu fui a um. Foi contra o Marília, numa belíssima tarde de sábado. Meu tio Albano chegou ao bar do meu pai (como todo bom português meu pai é comerciante) e anunciou:

-Ó, Tino, eu vou levar o Marquinhos ao jogo da Lusa!
-Ué! Vais lá fazer o quê, ó pá?- respondeu perguntando meu querido pai, estranhando a novidade.
-O miúdo já tem 7 anos. Já está na hora de ir ver a Lusa, antes que vire corintiano.

Já imaginaram isso? Eu, corintiano?! Ainda bem que meu tio intercedeu antes de qualquer risco.

Ora muito bem! Fomos e a Lusa ganhou por duas bolas a zero, como se diz em Portugal, golos de Toquinho e Toninho, este o meu primeiro ídolo luso. E o primeiro herói é inesquecível, assim como o primeiro amor - seu nome era Fátima, uma menina com quem eu estudava, que - é lógico! - nunca soube disso. 

Dali a uma semana, voltamos ao Canindé, para a partida contra o São Bento, de Sorocaba. E ganhamos. 5 a 1! Fora o baile! Toninho (2), Jones, já falecido (também 2) e Edu fizeram nossos golos. O do São Bento, eu não faço idéia, nunca fiz (e quem faria?). Foi a minha primeira goleada. Desta vez, tivemos o “reforço” do meu irmão mais velho, Mário, o maior “pé-frio” que já tive a oportunidade de conhecer, pois aquela foi a primeira e única vitória da Lusa que ele acompanhou no estádio em mais de 20 anos e o tio Albano bateu o carro na volta.

Até os 14 anos, eu somente ia acompanhado por algum parente mais velho, seja ele o meu pai, ou algum dos meus tios (somos todos lusos, graças a Deus). Um dia, eu disse à minha mãe que iria sozinho ao Canindé assistir à Portuguesa contra a Ferroviária. Minha mãe, é claro, duvidou:

-Você? Ah, tá bom! Você nunca vai sozinho ao estádio!

Pois é, eu fui. E vencemos por 2 a 1. E de virada! Golos de Marquinhos e Caio, batendo pênalti e “comemorando” falando barbaridades para a até então insatisfeita torcida, inclusive eu.

Tudo na vida tem a primeira vez, e é inesquecível, como o primeiro ídolo, a primeira vitória, a primeira goleada. E a primeira final, que foi contra o São Paulo, no Paulistão de 1985. Perdemos por 3 a 1, e tínhamos mais time.

Marcaram o grande Careca, por duas vezes, e Dom Daryo Pereira. Jorginho fez o gol de honra da Lusa, quando já perdíamos por 3 a 0, e só eu levantei para comemorar.

A primeira derrota também é inesquecível, e como dói.

Passou-se, então, 22 lentos e longos anos para que eu novamente pudesse assistir, no estádio, a uma decisão, até porque em 1996 caiu o mundo em forma de água e eu fiquei ilhado, a caminho do Morumbi. E pela primeira vez, decidiríamos em nosso próprio campo! Evidentemente eu não poderia deixar de ir. E fui, ou melhor, fomos: Três primos, dois amigos, eu e... meu irmão! Imaginem: meu irmão, o “pé-frio”.

Não é implicância minha, não. Outro dia, fomos ver Lusa x Náutico, pela fase final da série B de 2005, com o pé na Primeirona, e perdemos! No ano seguinte, jogo de vida ou quase morte contra o Ceará, valendo a sobrevivência (quem diria?) na Segundona. Lá fomos nós, e nova derrota. Pois é, o pé do Mário é de lascar.

Mas voltemos ao jogo: Um domingo impecável, 10 horas da manhã (isso lá é hora de ter jogo?). Chegamos em cima da hora, e não havia mais ingressos (olha o pé-de-gelo em ação). Fomos, então, ver o jogo no bar da sueca – quem conhece o Canindé sabe onde fica. Quando faltava pouco para o fim da 1ª etapa, ainda um 0 a 0 arrastadíssimo, fomos dar uma espiada num jogo de malha da equipe da Lusa, que é imbatível. Foi só a gente encostar pra ver o jogo e... Pronto! 4 a 0 pra equipe do Santa Amália - acho que era esse o adversário, mas quem se importa? 

Pra evitar maiores tragédias, tiramos o Mário de lá e fomos tentar a sorte grande e entrar no jogo. E não é que conseguimos? E nas numeradas, na faixa, e graças ao Mário! Foi ele quem conversou com um conselheiro que estava no portão. E ainda vimos os 4 golos da final, golos estes que me deram o meu primeiro título de campeão. E que delícia é ser campeão. Melhor que uma boa posta de bacalhau com batatas no azeite, acompanhadas por um caneco de vinho maduro ao som das desgarradas do Alto Minho, ou um fado da Amália Rodrigues.

Tudo na vida tem a primeira vez, e é inesquecível, como o primeiro ídolo, a primeira vitória, a primeira goleada, ou a primeira derrota, o primeiro amor (por onde andará a Fátima?), o primeiro álbum de figurinhas completo, e o incompleto também, e é claro, o derretimento da camada de gelo do pé do meu irmão.

Coisas do aquecimento global.