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Estou triste. Perdi meu avô. Foram quase 94 anos de muita luta, muitas tristezas e alegrias infinitas.
Bom ver que, no fim do curso da sua vida, todos aqueles que o amavam estiveram ali, do seu lado. Sinal de que teve uma vida plena e correta. Nunca ouvi de quem quer que fosse algo que o desabonasse.
Os últimos meses foram difíceis. Resquícios de um AVC avassalador. Ainda assim, foram dois meses de uma intensa batalha pela vida. Essa é a batalha que todos nós travaremos um dia e que, invariavelmente, perderemos. Mas a forma com a qual se luta é que diferencia os vencedores dos demais, e meu avô, neste aspecto, foi o maior vencedor que se houve.
A cada pessoa que chegava a certeza de que valeu a pena aumentava, se é que isso fosse possível. Como disse Fernando Pessoa no seu imortal Mar Português, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". E esta foi grande. Ao final, um choro em uníssono o acompanhou até sua última morada.
Nós vivemos pedindo milagres, mas só no fim é que percebemos que o milagre nos é concedido todos os dias. E o milagre foi a dádiva de tê-lo conosco por tanto tempo, e em plenitude.
Hoje nós choramos, amanhã serão outros, depois seremos nós, novamente. E assim a vida segue. E assim a morte segue. E assim a morte nos segue. Ela sempre nos alcança, mas o quê fizermos e como fizermos é que determinará o legado que deixaremos. E o legado do seu Mário Ferreira é o amor à família. Amor este que também o espera do outro lado do mistério. Quando lá chegar, ele deverá encontrar minha vó Ana, com as mãos na cintura e a perguntar: "Por que demoraste tanto?"
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