terça-feira, 30 de novembro de 2010

E quanto é que eu levo nisso?

O Campeonato Brasileiro está uma vergonha. Não bastasse o paupérrimo nível técnico, agora o apagão é moral. Entrega-se o jogo com uma facilidade absurda, sem o menor pudor. Pudor, aliás, nem no discurso tem tido lugar. Resquícios do final do campeonato do ano passado, quando Grêmio e Corinthians macularam suas histórias para prejudicar rivais que buscavam o título, o que explica, mas não justifica, a falta de decoro. O que se faz hoje é o revide, o nivelamento por baixo, bem por baixo.

Os torcedores de Palmeiras e São Paulo riem feito hienas. Curiosamente, são os mesmos que esbravejaram no ano passado, quando foram as vítimas do pseudo-goleiro Felipe e seus colegas da falta de decoro corintiana. São os mesmos que elegem políticos corruptos, fazendo com que tenhamos que clamar por uma lei para evitar o voto em quem tem o passado espúrio. São os mesmos que reclamam da arbitragem quando um pênalti claro é marcado contra si, mas adoram ver os homens do apito os favorecendo.

O excelente Moacyr Franco, que deve estar envergonhado pelo que o seu Palestra se prestou a fazer, criou o personagem Mendigo, que andava com um jornal amassado sob o braço e repetia o bordão "e quanto é que eu levo nisso?" quando reclamava da vida. Nos dias que correm, a resposta para o bordão é o que tem determinado a distância entre o esfregar das mãos e a indignação.

O problema, pois, é cultural, é de berço, de (falta de) retidão de caráter. O cidadão que, ao se vestir de torcedor, aceita qualquer calhordice que favoreça seu time, despe-se da moral. Mas ao contrário do Mendigo de Moacyr Franco, sua mendicância é vil, é desprezível. Ele mendiga por favores, por benesses, mesmo que seja à margem da lei e em todos os níveis, desde o cafezinho para o guarda à propina do fiscal.

Para não mudar só o cachorro

Muito tenho ouvido falar sobre a ocupação de parte dos morros da capital do Rio de Janeiro pelo exército. Opiniões muito mais abalizadas que a minha, obviamente, pois são de especialistas em Segurança Pública. Meu conhecimento é empírico, como é o da maioria das pessoas. O que não quer dizer que eu não possa ter uma opinião formada e, até que provem o contrário, o que eu penso está certo.

O Estado se ausentou e fez vistas grossas ao crescimento do narcotráfico, que ocupou a lacuna e se estabeleceu. O que estão fazendo no Rio de Janeiro é combater o efeito, quando deveriam também enfrentar a causa. As UPPs exercerão o papel de mantenedoras da seguração local até que a PM prepare contingente para o trabalho. Embora necessária, a medida, se isolada, é apenas paliativa.

Deve-se, como eu disse, combater a causa. Em diversos setores. Não adianta endurecer as penas se há brechas na legislação que garantem seu relaxamento. O sistema prisional está saturado e é obsoleto, servindo como centro de formação da bandidagem. Eis um conjunto de fatores que, aliado à corrupção e à impunidade, favorecem o aumento da criminalidade.

Quanto ao Estado, cabe a ele cumprir sua atribuição mais básica: ser Estado. Deve prover condições para que a população tenha acesso à saúde, moradia digna, educação, emprego e segurança. Uma vez que faltou, o crime fez as vezes e se sedimentou. Esta é, se não a principal, uma das causas para se chegar ao estágio atual. O que se deflagrou com a tomada do morro é um caminho sem volta. Não haverá como justificar um eventual fracasso.

Se não for assim (só para não usar o termo mais chulo), irão ter mudado só o cachorro, pois a coleira continuará a mesma.

Paixão dividida

por Tiago Albino*

No jogo de domingo, na Arena Barueri, o Palmeiras enfrentou o líder do campeonato apenas para cumprir tabela, mas o que chamou a atenção foi a atitude da torcida palmeirense em relação ao próprio time e o adversário.

Em da torcida alviverde apoiar o time da casa, ela incentivou a perda da partida para não favorecer um time rival, o Corinthians, que está a um ponto do líder e que jogava no mesmo horário, contra o Vasco, no Pacaembu.

Bom, tá certo que rivais são rivais, mas cadê a ética? O engraçado de se pensar é que as pessoas gastam dinheiro para ir ao estádio, algumas se deslocam de longe e, em vez de apoiarem o time, pedem para que os jogadores entreguem o jogo. É melhor ficar em casa.

No momento em que o atacante do Palmeiras, Dinei, marcou o gol da equipe paulista, só faltou os torcedores palmeirenses invadirem o campo para bater no sujeito. Detalhe: foi um golaço. Agora, quando o Tricolor fez o gol de empate e consequentemente virou para 2 a 1, foi uma festa no estádio inteiro, principalmente por parte da torcida do Palmeiras. Parecia o título da Copa Sul-Americana que a equipe paulista deixou de ganhar, quando perdeu de virada para o Goiás, pelo segundo jogo da semi-final, em pleno Pacaembu. Mas isso foi outra história, vergonhosa, por sinal.

O ponteiro do certame só não goleou o Palmeiras devido às defesas do goleiro Deola, que encarnou o São Marcos e evitou outro vexame. A indignação foi ver os palmeirenses xingando o goleiro a cada defesa importante que fazia, chegando até a jogar copos d’água na pequena área.

Portanto, deixo aqui os meus parabéns para o goleiro verde, que mostrou, acima de tudo, a grandeza que tem o Palmeiras e, para si mesmo, ter ética.

No final das contas, o tradicional time do Rio ganhou e está a uma vitória do título e ambas as torcidas fizerem a festa. Já o Corinthians ganhou por 2x0, mas depende de um tropeço do clube das Laranjeiras, na última rodada, além de vencer o seu jogo, para ser campeão.

*Thiago Albino, 19, é estudante de Jornalismo.