segunda-feira, 30 de julho de 2012

Personagem da semana - A medalha


* por Raoni David Colpas

Começaram os Jogos Olímpicos de Londres e desde então ela – a medalha -, é o objeto mais cobiçado de todo o mundo. O planeta inteiro está de olho nas disputas e todos querendo ver o seu país com o maior número delas no peito ou/e principalmente no quadro de medalhas, o que determina o campeão das Olimpíadas.

Em quase todos os esportes, uma medalha olímpica é o ápice para o atleta. Geralmente, essa conquista supera todas as competições em cada uma das modalidades disputadas. Não existe título mundial do atletismo, por exemplo, que supere uma vitória nos 100m ou na maratona. Assim como na ginástica, mundiais podem ser ganho aos montes e jamais irá superar a conquista de uma medalha de ouro.

Em alguns esportes, porém, a medalha olímpica é algo inferior a outras conquistas na modalidade e isso, invariavelmente, tem ligação com o poder e o dinheiro. Exemplo de esporte em que um mundial supera a Olimpíada é o futebol. A Copa do Mundo é muito mais importante para uma seleção do que a conquista das Olimpíadas e mais, as disputas continentais como Eurocopa e Copa América, também. E com a regularidade que tem sido disputada, a Copa das Confederações começa a atingir patamares maiores. Mas no futebol, creio que exista mais tradição neste nível de importância do que o dinheiro, como ocorre em outros dois casos.

No tênis, por exemplo, é muito mais importante conquistar um torneio Master da ATP do que a medalha olímpica. Prova disso é que os torneios de tênis nas olimpíadas vivem vazios, dando chance para Fernando Meligeni, a quem respeito e sempre torci demais, buscar uma medalha em um dos Jogos que me falha a memória agora, mas se não me engano foi em 2000. Sim, estou com preguiça de pesquisar...

Uma olimpíada acontece de quatro em quatro anos, enquanto o circuito da ATP é a vida do tenista, o que justifica a importância maior ao torneio da associação dos tenistas profissionais, valendo, inclusive, se poupar e não disputar os Jogos. Mas, temos de convir que exista toda uma questão financeira por trás disso.

Nada comparado, porém, ao que acontece (ou acontecia?) no basquete. Principal força do planeta no esporte, os Estados Unidos geralmente não levava suas maiores estrelas para a disputa, dando mais importância à NBA, liga altamente rentável e que contava - e conta ainda -, com essas peças em boas condições para manter seu brilho. Hoje, os cobras do time norte-americano já começam a se importar com os Jogos. Não sei se por influência de Kobe Bryant, que é um cara acima da média neste sentido ou se por causa de algumas derrotas que seus terceiros e segundos times andaram sofrendo.

Olhando por este prisma, chego – ou acho que chego, sei lá, tô com preguiça, já falei -, à conclusão de que a medalha olímpica é hoje o maior símbolo de amor ao esporte. A luta pela medalha olímpica é o esporte praticado pelo sentimento primaz da disputa, pelo prazer de vencer, como vencia quando começou brincando na infância. A luta por uma medalha é esporte em sua essência.

E, quando jogadores de futebol, basquete, tenistas entre outros consagrados em suas modalidades, se destacam para buscar este feito, merecem aplausos tanto quanto cada um dos heróis de esportes amadores que vivem em função do ciclo olímpico.

*Raoni David Colpas é jornalista, santista e editor do site da Federação Paulista de Futebol.

domingo, 29 de julho de 2012

Missão cumprida

A Lusa venceu o Náutico por 3 a 1. Convenceu? Longe disso, muito longe. O futebol apresentado pelo time de Geninho foi paupérrimo, pobre mesmo. Mas tinha um adversário horroroso à frente. Não dá para disputar um campeonato de Primeira Divisão, qualquer que seja, com Lúcio, Felipe (o famoso Mão-de-alface) e Breitner no time, e o Timbu está tentando fazer isso.

Como de hábito, a Portuguesa não sabia o que fazer com a bola. Mesmo o lance do gol de cabeça do Ananias é sintomático: coube a Ferdinando armar, de improviso, para que Luis Ricardo colocasse a bola (aí sim com qualidade) na cabeça do pequenino Ananias, que se salvou no meio da mediocridade rubro-verde.

Decididamente, o jogo não foi bom. A equipa foi aguerrida, como sempre foi. Quando conseguiu virar o escore, Geninho resolveu retrancar o time de vez. Feio? Sim. Condenável? Talvez. Necessário? Muito. O Náutico, exceto no momento de extrema felicidade do avançado Kieza, que achou um petardo no ângulo esquerdo do guardarredes Dida no comecinho do jogo, não ameaçou, nem tinha bola para isso.

Precisávamos desesperadamente da vitória e ela veio. Jogando mal, contra um adversário ridículo, com gol até do Diego Viana, que não lembra o Batistuta nem no jeito de andar, mas veio. Ainda mais contra um adversário direto na luta contra a despromoção. 

A Lusa saiu da zona de descenso. Momentaneamente. Voltará em algumas rodadas, sairá em outras, mas ficará sempre com o gume a passar perto do pescoço. Os próximos adversários são duas equipas na mesma situação: Figueirense e Bahia, sendo o primeiro dentro de casa e o segundo na Boa Terra. Não pode sequer sonhar em perder, mesmo jogando mal.  

    

Para não chamar o padre

O jogo da Portuguesa contra o Náutico, neste domingo, é daqueles em que qualquer resultado diferente da vitória não serve. Qualquer que seja ela. Qualquer que seja o golo e seu marcador. Por 6 a 0, 1 a 0, com ou sem Guilherme, com ou sem auxílio de arbitragem, com ou sem apoio ou apupo da exigente e sofrida malta das bancadas, que deve estar em número reduzido no frio concreto do Monumental do Pari no início da noite que abre a semana na capital paulista. 

Foi justamente contra o Náutico que a Portuguesa iniciou, com uma goleada por 4 a 0, a caminhada que culminou com a histórica campanha que a devolveu, após três épocas, à elite do futebol nacional. A representação pernambucana faz parte do grupo de equipas contra as quais a Lusa disputa a permanência na Primeira Divisão. Que me perdoem os adeptos mais exaltados. A realidade da equipa de Geninho é lutar para não cair. Qualquer coisa acima disso é superávit, é lucro.


Exceto contra o Cruzeiro, a Lusa vem apresentando um futebol mentiroso, de posse de bola, mas nenhuma objetividade. Ante os mineiros, que não fizeram nada para ganhar, mas enfrentaram um time que fez de tudo para perder, não dá nem para classificar como futebol aquele troço que foi apresentado no relvado do mesmo Canindé onde a Lusa volta a jogar após dois bons empates fora de casa, contra Corinthians e Flamengo.

O time luso tem todas as características de quem está fadado ao descenso: joga bem e empata, isso quando empata; joga mal e, invariavelmente, perde. Fede a rebaixamento. E, a continuar o mesmo fado, nem dará para lamentar. Se não vencer o Náutico, seu companheiro na desditosa tarefa de não voltar à Série B, já pode chamar o padre para a extrema unção.



quinta-feira, 26 de julho de 2012

A música entra em campo e conta como Moreira da Silva salvou Pelé



*por Vinicius Rodrigues

Considerado o último malandro a moda antiga e um dos precursores do samba-de-breque, Moreira da Silva (1902-2000) tem uma importância fundamental no título da Seleção Brasileira em 1970, no México. Mais especificamente na partida contra a Inglaterra. 

Pelo menos, Morengueira tinha essa importância na cabeça do jornalista e compositor Miguel Gustavo, um dos parceiros mais importantes de Moreira. Foi dele a ideia de criar essa faceta heróica ao sambista. Antes de ser agente secreto e salvar Pelé, o malandro já tinha dado as caras no velho oeste encarnando a figura do justiceiro Kid Morengueira. Anos mais tarde seria gangster e acabaria com a quadrilha de Al Capone e depois daria um pulo no Brasil para ser o Rei do Cangaço. 

O enredo do samba é que Bond, James Bond, recebe a missão de sequestrar Pelé para que a Inglaterra tivesse o caminho mais fácil no mundial de 1970, tendo assim, maiores chances de se sagrar bicampeã. 

Acompanhando 007 estava Claudia Cardinale. Os dois se hospedam na concentração do Santos e, à beira da piscina, o rei do futebol e a atriz protagonizam um romance que deixa Bond furioso. O inglês tira o soco inglês e parte para cima de Pelé. Mas ele não contava com o agente brasileiro Moreira da Silva que, além de salvar o camisa 10, prender o maior agente do mundo no DOPS e desperta o amor de Cardinale após um dia de pif-paf no Guarujá e uma bela pizza no Brás. 






No fim das contas o Brasil derrotou a Inglaterra na Copa de 70 pelo placar de 1 x 0, gol de Jairzinho após passe de Pelé. Naquele mesmo ano, Miguel Gustavo assinaria uma composição mais conhecida do torcedor nacional: “Pra Frente Brasil”. 

Salve Morengueira e o samba-de-breque, Miguel Gustavo e Pelé, é claro! Semana que vem tem mais!

Texto originalmente publicado no blog Paixão Clubística

*Vinícius Rodrigues, 24 anos, é  corintiano, boêmio e jornalista, 
nesta ordem, e, se pudesse escolher, queria ser João Nogueira.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Personagem da semana - Elivélton

NR: Mais um colaborador começa a desfilar sua pena pelas linhas deste blog. Toda segunda-feira (se ele não der mancada), uma nova crônica estará à disposição dos leitores. 

*por Raoni David Colpas

Campeão Mundial (1992, com o São Paulo), bicampeão da Libertadores (1992 com o São Paulo e 1997 com o Cruzeiro), campeão brasileiro (1991 com o São Paulo), campeão da Copa do Brasil (1995 com o Corinthians), tetracampeão paulista (91 e 92 com o São Paulo, 95 com o Corinthians e 96 com o Palmeiras), bicampeão mineiro (97 e 98 com o Cruzeiro) e finalista da 11ª Copa Record de Futebol Amador da Liga Sul Mineira. Este é o currículo de Elivélton e se você acha que este último item é menos importante, precisava vê-lo comemorando o gol que garantiu a vaga de seu time na decisão da competição. 

O tal jogo aconteceu neste domingo, quando o experiente Elivélton, aos 40 anos, vestia a camisa 10 do time de Areado que enfrentava o time de Guaranésia, em Guaranésia. Seu time abriu o placar logo com dois minutos e ampliou ainda na metade do primeiro tempo. Elivélton lançou a bola do primeiro gol e contou com as falhas de um zagueiro e um goleiro para ver um companheiro marcar. No segundo lançou linda bola na vertical e viu outro companheiro driblar o zagueiro adversário e cruzar para o segundo gol. Favas contadas, certo? 

Errado. Valente, o time de Guaranésia diminuiu ainda na primeira etapa, inflamando a torcida e deixando o time com condições de reverter o quadro. Na segunda etapa o técnico guaranesiano mexeu bem, o time pressionou demais o adversário e conseguiu o empate por 2 a 2 que levaria a partida para uma prorrogação, onde o time de Areado teria a vantagem de um novo empate, pois em casa empatou por 1 a 1 e fez mais gols fora de casa. 

O resultado persistiu graças às intervenções do goleiro areadense, até que aos 43 minutos Elivélton sofreu falta na entrada da área. Ele mesmo bateu e colocou a bola no ângulo esquerdo do goleiro guaranesiano para agora sim, decretar a vitória da equipe visitante e a vaga na final do campeonato.

Este não foi o primeiro gol decisivo da carreira de Elivélton. Pelo contrário. Canhoto, ele encheu o pé esquerdo para marcar o gol do título corintiano no Campeonato Paulista de 1995. E, ainda mais importante, bateu com o pé direito para marcar o gol do título cruzeirense na Copa Libertadores da América de 1997.

Nem por isso o veterano Elivélton deixou de comemorar muito o seu gol de falta em Guaranésia. Correndo em direção à sua torcida ele vibrou demais, beijou o escudo da camiseta de Areado, mordeu o escudo e vibrou mais um pouco com o gol que colocava seu time na final do campeonato. 

Qual campeonato mesmo? Sim, a Copa Record de Futebol Amador... O que rendeu a dúvida: qual a motivação de um cara multicampeão por times importantes, se entregar tanto e vibrar tanto com um gol em um campeonato amador? A resposta mais simples e objetiva é a paixão pelo futebol. 

Por mais que receba uns trocos para defender o time areadense, somente muito amor ao esporte faria o veterano e vitorioso jogador ir ao fundo marcar e dar carrinho em garotos, ou se indispor em discussões com juiz e adversários, dar bicão para a lateral e pedir desculpas à torcida quase atingida pela bola... 

Só por muito amor ao futebol é possível manter tal chama acesa depois de tantos títulos e representar tantas camisas importantes. Muitos dos atuais jogadores brasileiros precisavam de um pouco mais deste amor pelo esporte, que hoje parece estar apenas no torcedor e por isso, por todo este amor ao futebol, Elivélton merece a homenagem (singela demais, admito) e ser o meu primeiro Personagem da Semana individual neste meu espaço criado a algumas semanas. 

Por falar em amor pelo futebol, parabéns ao time e a torcida de Guaranésia. O time foi guerreiro e a torcida fez linda festa, como jamais havia visto!

*Raoni David Colpas é jornalista, santista e editor do site da Federação Paulista de Futebol.

domingo, 22 de julho de 2012

Preocupante

Sim, está ficando repetitivo, apesar do desempenho pífio da derrota para o Cruzeiro. A Portuguesa mais uma vez apresentou um excelente volume de jogo, contra um dos melhores, se não o melhor, times do Brasil, o Corinthians, mas não transformar a superioridade territorial em golos, sobretudo na primeira parte do clássico realizado no Pacaembu.

A partida contra o time de Minas foi exceção. Invariavelmente a Lusa de Geninho apresenta um futebol surpreendentemente vistoso, de variações táticas, de domínio de posse de bola. No entanto, é um domínio infrutífero, um tanto mentiroso.

O futebol da Portuguesa é tão profundo quanto uma piscina infantil. O time detém a bola durante boa parte do tempo, mas não sabe o que fazer com ela. O esférico roda, roda, roda, vai para o lateral, passa pelos trincos, anda pela outra lateral e, quando tenta-se uma jogada mais aguda, bate nos inoperantes avançados lusos e volta.

As principais jogadas de ataque da equipa acabam saindo dos pés do excelente Guilherme, que fez sua sexta partida no campeonato e, se entrar em campo contra o Flamengo na quinta-feira, excederá o limite permitido e não poderá ser transferido para outra equipa do certame. Pelo que vem apresentando no campo e nas entrevistas, acredito que o camisola de número oito esteja no onze inicial do próximo jogo.

Acontece que ele, Guilherme, não pode atuar na criação das jogadas. Ele não tem essa característica. O problema é que ninguém tem. Michael, o meia de ofício de que dispõe o treinador, frequenta mais o departamento médico que o relvado, e Héverton, que voltou depois de um ano longe da torcida que o escorraçou, é mais um avançado de lado de campo que um gancho propriamente dito. Ananias e Henrique, outras opções para o setor, são jogadores para abrir o jogo. Sem ter quem os acione, porém, acabam ficando à parte na partida.

Isto posto, a despeito do que parece ser e tem sido vendido nas entrevistas, a situação da Lusa é sim preocupante. Jogos como o de ontem, quando o time mais forte se apresenta bem abaixo do que pode produzir, são para vencer. Salvo uma surpresa, como alguém começar a jogar tudo do nada, o time é isso aí mesmo: muita transpiração, alguma inspiração e a absoluta falta de saber o que fazer com a bola. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sobre a resignação

Poucas coisas são tão difíceis como falar sobre o que não existiu. Não se fala de um encontro quando uma das partes não foi. Assim foi o time da Portuguesa contra o Cruzeiro, na gélida noite de inverno paulistano. A Lusa não foi sequer um rascunho mal-ajambrado de time de futebol. Não teve nada: nem brio, nem raça, nem jogo. Nada.

Geninho armou o time numa espécie de 5-3-2 que mais parecia um "cinco-três-menos-dois", com três beques para marcar dois atacantes cruzeirenses,Wellington Paulista e Borges. Os laterais mal se atreviam a passar da linha do meio-campo e os três trincos, Guilherme, Ferdinando e Moisés, não conseguiam trocar passes ou criar algo no oceano azul que foi o meio de campo do Cruzeiro, e a dupla de "ataque", formada pelos péssimos William Xavier e Diego Vianna, foi digna de pena.

Na primeira metade do primeiro tempo o Cruzeiro pouco incomodou ou se incomodou. Depois, ao adiantar a marcação, anulou de vez o setor de criação da Portuguesa, que insistia em afunilar o jogo. 

No início do segundo tempo, Geninho tentou arrumar o time sacando os (menos) dois inoperantes jogadores de frente, fazendo entrar Héverton e Ricardo Jesus. Como não havia existido até então, a tendência seria a produção ofensiva melhorar, mas o time teimava em tentar furar o bloqueio cruzeirense pelo meio. Uma solução seria a saída de um dos zagueiros para a entrada do meia Henrique, para abrir o jogo. 

Mas Geninho é um homem de convicções, que não arreda o pé do seu esquema de três beques, que até vinha funcionando bem. Mas neste jogo não era necessário, uma vez que os laterais não desceram. Com um jogador mais agudo, conseguiria abrir espaços, principalmente para os tiros de longe de Guilherme, Moisés e Héverton.  

Aí veio o pênalti besta do Rogério no Borges, a expulsão do beque e o segundo gol mineiro num contra-ataque letal, assim, de arrasto. Aí, com a vaca já deitada, Geninho colocou Henrique, mas puxou um dos volantes para fazer o terceiro zagueiro, e ainda assim não criou uma oportunidade sequer de gol. Se nos outros jogos o time de Geninho criava, jogava bem, mas não conseguia transformar em gol o bom futebol apresentado, neste foi um time absolutamente insosso, entregue, fedendo a descenso. 

A torcida, que não vibrava sequer quando um carrinho era dado, continuou calada, resignada, sem forças até para protestar, num sintoma claro de quem aceita seu fadário, mesmo após o apito final, que acabou com um jogo que sequer existiu.  

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pixinguinha, o chorinho e o primeiro grande título da Seleção Brasileira*

Estou muito feliz. A partir de hoje posso contar com a colaboração de um cara que conhece muito, de futebol, de música e da vida: Vinícius Rodrigues, um bon vivant nato, de Piedade para o mundo. Para o debute neste humilde blog, um texto sobre a relação do Pelé do chorinho, o eterno Pixinguinha, com o futebol.

*por Vinicius Rodrigues


Em 1919 um clima de euforia se fazia presente no Rio de Janeiro. O Brasil sediaria o Campeonato Sul-Americano daquele ano e brigaria pelo primeiro título de sua história após dois tropeços contra o Uruguai.


Para receber o torneio, foi construído o Estádio das Laranjeiras, atual sede do Tricolor do Rio. O clima da cidade atingia até os jornais do Rio, como podemos ler nesse fragmento excluído do jornal “A Rua” de maio de 1919. "Antes do campeonato, o football aqui já era uma doença: agora é uma grande epidemia, a coqueluche da cidade, de que ninguém escapa".


Brasil e Uruguai chegaram à final após duas vitórias sobre Argentina e Chile. No jogo que definiria o campeão, empate por 2 a 2. Outra partida foi marcada e após 90 minutos sem gols as equipes jogaram outros 30 minutos sem balançar as redes.


Não existia a disputa de pênaltis e, com as equipes desgastadas, o jogo teve mais 30 minutos. Logo aos três minutos Neco cruzou da direita, Heitor chutou e o goleiro uruguaio rebateu nos pés de Friedenreich que anotou o gol que deu a seleção o primeiro título de sua história e selou o jogo que ficou conhecido como a batalha sul-americana.


Inspirado pelo acontecimento que contribuiu, e muito, para que a paixão pelo futebol florescesse no brasileiro, Pixinguinha, mestre do choro, em parceria a Benedito Lacerda, deixou sua homenagem à conquista e compôs “1 x 0”.


Estudiosos do choro dizem que o ritmo acelerado da música e sua cadência rítmica refletem toda a correria e disputa da partida. Originalmente, a composição não apresenta letra. Ela foi escrita apenas em 1933 por Nelson Ângelo.



Na opinião do humilde escritor que apenas batuca em caixinhas de fósforo, a versão sem a letra é infinitamente mais bonita, porém, música é igual futebol, cada um a seu gosto.


*Vinícius Rodrigues, 24 anos, é  corintiano, boêmio e jornalista, 
nesta ordem, e, se pudesse escolher, queria ser João Nogueira.

Texto originalmente publicado no blog Paixão Clubística

domingo, 15 de julho de 2012

Nada bem

A Portuguesa perdeu mais uma vez. Desta vez o algoz foi o Sport, na Ilha do Retiro, por 2 a 1. Mais uma vez a Lusa jogou melhor, criou um caminhão até a tampa de hipóteses de golo e desperdiçou quase todas. Só encontrou as redes após estar perdendo por duas bolas a zero, mas não encontrou tempo nem teve competência para evitar o revés, o quinto, em nove partidas.

A despeito de estar jogando bem, a verdade é que os resultados não estão a contento, o que é péssimo para qualquer projeto. Principalmente quando se trata de um clube que não prima por traçar planos a longo prazo. Mesmo porque a cultura do futebol brasileiro não permite.

Como foi dito aqui anteriormente, a Lusa disputa um campeonato à parte dentro do próprio Campeonato Brasileiro. Não está na disputa pelo título ou uma vaga na Taça Libertadores da América. Nem está para medir forças com equipes cujos cofres são recheados pela TV. A Lusa tem seis adversários diretos e tem que ficar na frente de pelo menos quatro deles: Ponte Preta, Náutico, Bahia, Figueirense, Atlético de Goiás e Sport, que a derrotou neste domingo.

Não adianta jogar bem e perder. Não adianta ser Il Bell'Antonio do filme do  Mastroianni. Precisa vencer, sobretudo os jogos mais importantes. Jogos como este da Ilha do Retiro, onde a Lusa costumeiramente se dá bem, são essenciais para pretensões do clube não só na competição, como no futuro da própria instituição. Um novo descenso deitará por terra todas as possibilidades de a Portuguesa voltar a ser respeitada, voltar a ser um lugar onde jogadores queiram estar, voltar a ser grande.  


sábado, 14 de julho de 2012

O compromisso e o fio de bigode

Com o fim da Taça Libertadores, vencida pelo Corinthians, e da Eurocopa, cujo título de campeão a Espanha revalidou, a bola da vez da imprensa esportiva é o meia Paulo Henrique Ganso, por ora vestindo a camisa 10 do Santos.

Ganso chegou à Vila Belmiro pelas mãos de Giovanni, meia que foi ídolo do clube nos anos 1990, e virou, ao lado de Neymar, o astro da última safra dos Meninos da Vila. Pelo Peixe foi tri-campeão paulista, campeão da Copa do Brasil e da Libertadores da América, o suficiente para escrever seu nome na rica história do time da vila famosa.


Um jogador, portanto, que tinha tudo para ser um dos maiores da história de um dos maiores emblemas da história. Mesmo com a contusão sofrida diante do Grêmio, em 2010, que o afastou dos gramados por sete meses. Mesmo não tendo voltado à antiga forma técnica de antes da lesão. Era curioso ver como Ganso "melhorava" a cada jogo que não participava, pelo Santos ou pela Seleção Brasileira. Por seu temperamento introspectivo, não enfrenta rejeição por parte das outras torcidas.

Engraçado como se joga tudo fora em questão de dias. Antes idolatrado pela torcida peixeira e admirado pelas demais, ele resolveu meter o pé no balde que encheu. Ganso não quer mais jogar no Santos. Os adeptos do Alvinegro Praiano não querem vê-lo nem pintado de ouro, quanto mais vestindo o azul-bebê ou a lendária camisola branca do clube, e os rivais o tacham de mercenário.

Ele tem um longo contrato a ser cumprido e sabia das cláusulas quando o assinou. Inclusive, o tempo de duração determina o valor da rescisão, que é calculado também pelo salário. Mas a boleirada não respeita o contrato, o clube ou o torcedor.  


O monstrengo que convencionou-se chamar de Lei Pelé tornou o clube, célula-máter do futebol, em refém de agentes e empresários, que viraram, na prática, proprietários dos jogadores. Se o atleta quiser rumar para um lugar qualquer, basta forçar a saída, seja deixando cair o rendimento, entrando em armações da imprensa ou se negando a defender o clube. Se não conseguir, é só entrar na justiça alegando ser cerceado no direito de trabalhar. Fácil, prático e extremamente imoral.

Houve um tempo em que o fio de bigode bastava. Hoje, nem o contrato é suficiente. Este, que era garantia para as duas partes envolvidas, agora é formalidade para que o jogador seja inscrito nas competições. E ele irá defender as cores do clube até que surja o interesse de outro, cuja "grandeza" é bancada pelo dinheiro despejado por algum investidor ou pelas emissora de TV.



    

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Limitado também ganha


Crédito da imagem: gazetaesportiva.net
Um time com poucas opções em uma competição de baixo nível técnico. Essa foi o início da trajetória do Palmeiras na Copa do Brasil. Passaram pelo caminho do Verdão clubes sem qualquer tradição como Horizonte e Coruripe.

Enquanto o time de Felipão derrapava no Campeonato Paulista e dava a seu torcedor clara e evidente amostra de que o elenco precisava de reforços, o time ia ganhando corpo e se mostrava competitivo. E em uma competição onde o nível técnico é fraco, quem tiver um padrão tático melhor acaba chegando.

Aconteceu com o Palmeiras. O auge foi no Estádio Olímpico pelas semifinais, diante do Grêmio. Felipão tirou da cartola algo que depois pareceu simples, mas naquele momento deu a consistência para o alviverde ficar com cara de campeão: Henrique atuando de volante. Acertou a cabeça de área, deu segurança aos zagueiros e ainda melhorou a transição do meio campo para o ataque.

Tanto é verdade que a mudança surtiu efeito, que quando Henrique esteve suspenso na primeira partida da decisão contra o Coritiba, o Palmeiras sofreu.  A zaga estava exposta e os paranaenses só não conseguiram  um grande resultado por própria incompetência.

Time campeão tem sorte, mas time limitado e campeão tem dedo do técnico. Agora é esperar que esse título não mascare os grandes problemas do clube de Palestra Itália e que o planejamento mude para que esse elenco comece a despertar o minimo de confiança em seu torcedor.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O desmanche começou

Depois que um clube conquista um título estadual, nacional ou internacional, seus jogadores recebem ofertas de outras equipes e por conseqüência acabam se transferindo. No Corinthians não está sendo diferente.

Após a conquista do título inédito da Taça Libertadores, a debandada de jogadores alvinegros começou. O primeiro a ter seu nome vinculado sobre uma possível negociação antes mesmo do fim do torneio sul-americano foi o zagueiro Leandro Castán. Dito e feito, o jogador acertou com a Roma, da Itália.

Agora, mais três jogadores já fizeram suas malas e partiram para outros desafios: William acertou com o Metalist, da Ucrânia; Ramon foi para o Flamengo-RJ e Gilsinho rescindiu com o clube alvinegro para ir jogar no Sport Club do Recife. E para quem achou pouco...

Alex e Paulinho receberam propostas tentadoras de clubes do exterior e podem deixar o time do Parque São Jorge. No caso do Alex a história é mais fácil: a diretoria corintiana já admitiu deixar nas mãos do próprio jogador a decisão de permanecer ou não no clube, já que a proposta do Al Gharafa, do Qatar, de R$ 16 milhões agradou ambas as partes.


Paulinho tem em suas mãos uma proposta de 8 milhões de euros da Inter de Milão. O próprio jogador disse querer permanecer no Timão, mas espera por uma compensação financeira. No mundo futebolístico, isso não é novidade.

A verdade é apenas uma: a bola da vez é o Paulinho. A cúpula alvinegra já adiantou que quer permanecer com o jogador de qualquer jeito. Parte do dinheiro que será recebido da Roma pela venda de Castán e mais o dinheiro da venda de Alex (caso isso aconteça) serão usados para aumentar os direitos econômicos que o Corinthians tem sobre o jogador, sendo apenas 10% do clube, 45% do Banco BMG e 45% do Grupo Pão de Açúcar.

A grande arma do Corinthians desde o ano passado vem sendo a coletividade. Perder peças e não conseguir repor à altura pode significar o adeus à briga pelo título nacional.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Não é bem assim

A Portuguesa, que vinha de dois clássicos muito bons  pelo Brasileirão, voltou a perder, desta vez para o líder Atlético Mineiro. Tudo normal, inclusive as falhas do goleiro Dida, a maior contratação lusitana para o certame.

Mesmo no auge, ele nunca soube sair do gol. Não seria agora, aos 38 anos e depois de dois de inatividade, que o guardarredes luso o faria decentemente. No entanto, ele segue muito bem sob a baliza. Não há motivos, pois, para ficar preocupado.

Da mesma forma que o revés em Minas Gerais era esperado. Tudo bem que é preciso somar pontos, mas o campeonato que a Portuguesa disputa não é contra Galo, Inter ou Cruzeiro. Estes, certamente, figurarão à frente da equipa de Geninho na tábua de classificação. Os adversários são outros: Sport, Náutico, Ponte Preta e que tais. É com estas equipes que a Lusa está disputando a permanência na elite. Qualquer coisa além disso é lucro.

O que não significa, no entanto, dizer que o farol vermelho não esteja ligado. A Portuguesa somou apenas oito pontos em oito jogos, o que é aproveitamento de time rebaixado. Contra o Galo das Alterosas jogou melhor que o adversário, assim como foi diante de Vasco e Tricolor Carioca, mas perdeu, como em Minas. Tem jogado bem, mas não é jogar bem o que manterá o time na Primeira Divisão.  

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cada vez mais chato

As redes sociais estão deixando o futebol mais chato. Os usuários, de um modo geral, são pessoas acostumadas com a rapidez e a superficialidade das informações, qualquer que seja ela.

No Facebook, por exemplo, alguns criam imagens, frases e outras mensagens que são compartilhadas e espalham feito fogo na palha. Um bom exemplo são as imagens sobre futebol. Normalmente, engraçadas, feitas para  tirar um sarro do adversário, o que é saudável. 

No entanto, de uns tempos pra cá, os recadinhos engraçados deram lugar para mensagens odiosas, desafiadoras, cheias de presunção e erros de português. Os torcedores, ou algo parecido com isso, servem como caixa de ressonância, uma vez que têm preguiça de pensar.

De um lado os maus corintianos, que julgam, por pura presunção, ter mais amor ao seu time que os outros, pobres infelizes que não têm o privilégio de fazer parte do "bando de loucos", ou qualquer outro modismo irritante que o valha. Afirmam torcer para seu time, apenas para ele, e acham que os "anti" - outro modismo imbecil - torcem para vários times, quando eles também torcem contra os rivais. Julgam, por soberba, que quem não é adepto do seu time tem inveja e não sabe conviver com seu sucesso. Acreditem: seu time não é tão importante assim. É para vocês, só para vocês, e isso basta.

Do outro, não menos irritantes, estão os que batem no peito e desfiam o rosário de títulos que têm, que tentar diminuir a conquista alheia quando falam da suposta "fila" de 102 anos do Corinthians. Ora, a Libertadores é disputada desde 1960, o que diminuiria a tal fila para 52 anos. No entanto, os clubes brasileiros, inclusive os deles, passaram a dar valor depois que o São Paulo foi campeão, o que deixou seus torcedores insuportáveis. Nem o Santos, bicampeão em 62 e 63 dava importância, pois achava mais lucrativo excursionar pelo mundo do que disputar a competição. Do contrário teria a ganho pelo menos cinco edições, só na década de 1960.

Esta molecada que se informa via Wikipedia, se contenta com manchetes de jornal e forma craques jogando PES ou FM está destruindo o prazer de torcer contra o time dos outros, que é a grande graça do futebol.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Corinthians, com méritos

NR: Eu não conseguiria escrever sobre o que representa para um corintiano a conquista de ontem. Assim sendo, um deles teve a fineza de fazê-lo por mim.

*por Breno Benedito

Emerson Sheik fez uma nação explodir de felicidade neste dia 4 de julho de 2012, o dia que ficará marcado pela inédita conquista do Corinthians na Taça Libertadores da América. O conjunto dessa obra não foi fácil, apesar de que o Boca na final não ter tanta resistência. A prova disso foi o camisa 10, Riquelme, que em campo foi se arrastando os 90 minutos, mas os 38 mil pagantes não se importavam com isso e antes dos 40 minutos já gritava “é campeão”.

O Corinthians tinha a Libertadores como o seu “calcanhar de Aquiles”, e a sombra da eliminação na pré-Libertadores do ano passado para um desconhecido Tolima. A estreia começou a brilhar logo na estreia, contra o Deportivo Táchira, quando, de cara, um susto: um gol no começo, mas a sorte começou a mudar. Gol de Ralf no último ataque. E na primeira fase viria a primeira colocação com quatro vitórias e dois empates.

Nas oitavas, um time do Equador, o Emelec. Nesta partida aconteceria a “estreia” de Cássio na Libertadores: um grande teste para o goleiro, que foi aprovado. Empate de zero a zero e a decisão viria para o Brasil. Vitória de três a zero e classificação. Nas quartas o adversário foi o Vasco, atual campeão da Copa do Brasil, e mais uma vez segurou o zero. Na volta, gol solitário de Paulinho, mas o da passagem à semifinal.

Encarar o campeão das Américas, o time mais badalado do momento, o Santos de Neymar, muitos deram a certeza que o time alvinegro teria mais uma desclassificação. Mas Emerson e um time de operários provaram que onde se ganha é no campo. Em São Paulo, empate por 1 a 1, que carimbou a passagem para a sua primeira final. E não seria com qualquer adversário, seria o Boca Juniors.

O primeiro jogo foi na Argentina. Seria a prova deste time que muitos consideravam frio e calculista. Com mais de 50 mil xeneizes, a La Bombonera virou um caldeirão. E Tite soube armar o Corinthians. É verdade que não criou uma chance clara de gol até a entrada de Romarinho. O gol de Roncaglia poderia desestabilizar o time, pois o trauma poderia passar na cabeça, o que não aconteceu, muito por mérito deste treinador. E o time manteve o mesmo jeito. Aos 39 minutos, o baixinho camisa 21, que havia acabado de entrar, escreveu seu nome na história e calou o alçapão.

No Pacaembu, a lotação máxima de 38 mil pessoas gritando como um bando de loucos, enlouquecidos pela expectativa de levantar a primeira taça continental. Nos primeiros 20 minutos o Corinthians estava um pouco nervoso, ansioso e no banco o “professor” Tite acalmava os jogadores. Depois disso, o time brasileiro colocou a bola no chão e ali e foi mais time. Foi o que em muitos anos não tinha a frieza de campeão. E o grito meio tímido e baixo aconteceu com Emerson, aos 15 minutos. Alex cobra falta na área e, no bolo, Danilo dá um leve toque de calcanhar e Sheik estufa as redes: 1 a 0.

O que se viu dali em diante foi um time argentino se arrastando em campo, não conseguindo criar uma chance sequer de gol. E aos 27 minutos, do alto dos quase 40 anos, o experiente zagueiro Schiavi tentou recuar uma bola, mas tinha um pé no meio do caminho. Esse é do Emerson, que dá um pique e faz o segundo gol. E ai era só esperar o fim parar conseguir a liberdade. Ela veio aos 47, e o Corinthians era o novo dono das Américas.

Ovacionado, Tite vive a redenção. Em 2011 queriam a sua cabeça após queda e Andrés Sanchez, ex-presidente, rechaçou e manteve e renovou com ele após título do brasileiro. Tite coloca seu nome e desse grupo na história deste clube. Além dele, Alessandro e Chicão, remanescentes da Série B, também merecem aplausos, e o Corinthians é o campeão, com todos os méritos.  

*Breno Benedito é corintiano, estudante de 
Jornalismo e trabalha na Federação Paulista de Futebol

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sonho de consumo

O dia 04 de julho de 2012 tem tudo para ser histórico. O Corinthians (que não é Brasil coisa nenhuma) pode ser campeão da Libertadores pela primeira vez, realizando o sonho de consumo de 157 em cada 157 corintianos na face da Terra. 

Para tanto, o técnico Tite, que sobreviveu à precoce eliminação frente ao simpático time do Tolima, na pré-Libertadores de 2011, conseguiu montar um time compacto, aguerrido e que joga com a alma, acima de qualquer coisa. Pode não ser um time brilhante, mas o Corinthians atual é o mais fiel reflexo da sua história.

Superou adversidades, como a troca do questionável Julio César pela grata surpresa Cássio, que livrou o time da eliminação diante do Vasco no mesmo Pacaembu que será palco da decisão de logo mais. Tite baseia seu jogo na forte marcação e na saída de bola de extrema qualidade nos pés de Paulinho e Ralf, os diferenciais e maiores reservas técnicas da equipe.

Depois do Vasco, a classificação contra o atual campeão Santos deitou por terra todas as dúvidas quanto ao poderio do Alvinegro do Parque São Jorge. Dois jogos nervosos, como toda decisão deve ser.

Para conquistar a América pela primeira vez e acabar com uma das últimas piadinhas desabonadoras que ainda restam, o Corinthians terá pela frente o assustador Boca Juniors, bicho-papão das Américas no início do século e que, depois de anos montando times medonhos, chega forte, jogando razoavelmente em casa e meticulosamente fora. Foi assim que chegou à decisão.

Mesmo que as chances de nuestros hermanos passem pelos pés pensantes do já mítico Riquelme, não se pode desprezar de forma alguma a mística e a força do time xeneize, que impõe respeito por si só.

Time por time, o Corinthians é melhor, mas que não pense que entra em campo favorito, ainda mais depois do excelente resultado na Bombonera. Terá que manter a mesma maturidade e, principalmente, humildade demostradas até agora. Caso contrário, terá dado o primeiro - e decisivo - passo para perder o título para um time absolutamente acostumbrado à estar no cume da América.

De minha parte, impossível ficar alheio. Naturalmente torcerei pelo time argentino, como sempre faço na Libertadores. Isso não é inveja coisa nenhuma, é rivalidade. E é essa rivalidade que torna o esporte mais bonito. Bonito como será a festa caso o Corinthians ganhe. Bonito (mais ainda) como será se a taça for pela sétima vez para o time que veste azul e amarelo, assim como o Brasil.  

terça-feira, 3 de julho de 2012

O não salvador da pátria

Está praticamente dada como certa a chegada de Obina no Palmeiras. Sim, Obina, o que entrou para a história do Palmeiras após os três gols marcados sobre o Corinthians, no Brasileirão de 2009.  


Atualmente o jogador defende o Shandong Luneng, da China. Os chineses receberão algo em torno de 300 mil dólares (R$ 620 mil) pelo empréstimo de seis meses do jogador. A quantia será paga pelo Eleven Fund Investment, fundo financeiro de Dubai e, caso o Palmeiras queira comprá-lo no final do ano, o valor seria de 1 milhão de dólares (quase R$ 2 milhões).

Caros leitores, é viável pagar esse valor já que o mesmo nem ao menos é titular na equipe chinesa? Não estou desmerecendo o futebol chinês, mas não conseguir ser titular em uma equipe onde o país não tem nenhuma tradição no futebol é complicado, sinal que a fase não está das melhores para Obina.

Por isso, a má fase do atacante fez com que o mesmo não pensasse duas vezes em voltar para o Brasil e aceitar a proposta do Palmeiras. O mais engraçado é ver a cúpula alviverde tratando essa negociação como uma das melhores que o Palmeiras já fez. E cá entre nós, o jogador não vem como nenhuma grande contratação.

Arrisco-me a dizer que nem de imediato ele seria titular na equipe alviverde, porque Barcos é um centro-avante nato, Luan compõe o esquema tático de Felipão, atacando e voltando para ajudar o meio de campo, e Mazinho, alternando entre titular e reserva, demonstra serviço em suas eventuais partidas.

A briga então ficaria entre Maikon Leite, o “talismã” do treinador, e o próprio Obina, para a vaga de reserva do Mazinho. Seria essa mais uma burrada de tantas outras que a direção alviverde já fez? Eu não duvido.

domingo, 1 de julho de 2012

Reescrevendo a história

PARA A HISTÓRIA Casillas ergue a Eurocopa
 pela segunda vez seguida (Getty Images)
Uma aula de futebol. Assim pode ser visto o que o time da Espanha fez contra a Itália, na final da Euro 2012. Um 4 a 0 inquestionável, que não deixou dúvida nenhuma sobre não só quem é a melhor seleção do mundo, mas também quanto à eficácia do futebol hipnótico que pode praticar. 

O espetáculo espanhol tem mais valor ainda por ter tido, como vítima, uma Itália que vinha embalada, sobretudo pelas atuações do super guardarredes Buffon (um dos maiores da história), do meia Pirlo e do atacante Balotelli, com o juízo razoavelmente no lugar - para os padrões Balotelli.

Como era de se esperar, a Itália baseou seu jogo na marcação, que era feita no campo todo e com todos os jogadores. Nas poucas vezes em que teria a posse de bola, caberia ao gigantesco meia Pirlo municiar os perigosíssimos Cassano e Balotelli. Já a Espanha, questionada pelos inúmeros detratores por não ter sido brilhante até a final (como se fosse obrigação), apesar do nível dos adversários, manteve seu toque de bola paciente de sempre, mas, desta vez, Xavi queria jogo.

E foi com o meia cerebral do Barcelona que a Espanha trucidou a Itália. Primeiro por não deixar Pirlo respirar; depois, por ter participado de quase todas as jogadas de gol da Furia, com duas assistências para os gols de Alba e Torres. Com 2 a 0 na frente e a atuação perfeita que fazia, o jogo ficou completamente à feição da Espanha.

Com o relógio correndo ao seu favor, o time de Vicente Del Bosque pode fazer o que sabe de melhor: ficar com a bola. Depois que Thiago Motta se machucou, deixando a Azzurra com dez, já que Cesare Prandelle tinha feito as três substituições, as chances italianas se reduziram a pó e a Espanha brincou de jogar futebol.

SE COM 11 JÁ ERA DIFÍCIL Thiago Motta chora ao deixar
o campo machucado (Getty Images)

Mais que isso: a Espanha hipnotizou a Itália. Ficou com a bola o tempo todo e o time azul que se virasse para correr atrás e recuperá-la. Assim, o desgaste era italiano e a Espanha terminou a partida inteirinha. É simples: quem tem a bola se desgasta menos, pois não precisa correr para ter sua posse. Joga simples, na base da posse de bola e aproximação. Sem vaidade. Sem pressa. Pela campanha que fez, a Itália não mereceu o castigo desta final. Pela final que fez, a Espanha poderia ter feito ainda mais.

A Furia não é apenas uma seleção que bate recordes, que é a primeira a vencer não só a Eurocopa por duas vezes seguidas, e com a Copa do Mundo no meio. A Espanha já está no panteão dos times que reescreveram a história, como a Hungria das décadas de 40 e 50 e o Carrossel Holandês de Rinus Michels, equipes que revolucionaram e reinventaram o jeito de jogar futebol.

Criticar este estilo de jogo é coisa de gente recalcada. Eles estão fazendo história e a inveja impede que alguns vejam (ou admitam). E esses recalcados esperarão pelo próximo tropeço.

GIGANTE ENTRE GIGANTES Iniesta foi o melhor da final contra os italianos

Mais um show da Fúria

Genial como as pinturas de Picasso, monopólio como as ordens do General Franco e um show como uma bela tourada. Essa é Espanha, bicampeã da Eurocopa diante da Itália em Kiev. Quatro gols, pouca discussão e uma certeza: A Fúria é a melhor seleção do planeta Terra.

Um craque, dois craques, afinal quantos craques possui esse time? Um time que vem se acertando desde a derrota para a França de Zinedine Zidane nas oitavas da Copa do Mundo de 2006. Acertou-se, venceu, convenceu e atingiu um patamar de consagração.

ÚLTIMO CARRASCO As oitavas da Copa de 2006 marcaram o último
 desaire espanhol. Desde então, a Fúria domina futebol mundial

A imposição de um time que tinha a fama de amarelar nos momentos decisivos. O esquema mudou isso, marcar o adversário tendo a posse de bola alterou o script do futebol mundial. Venceu a Eurocopa em 2008, levou a Copa do Mundo em 2010 e neste domingo mostrou sua força com o bi europeu.

Sem um centroavante, sem pontas fixos, mas com uma categoria pouco vista nestes mais de 100 anos de futebol. E o resultado desse futebol fantástico? Fazer história! Primeira equipe bicampeã da Europa.

Muitas vezes não temos noção desse momento. Um momento que espero que demore muito para passar. Xavi, Iniesta, Casillas, Xabi Alonso. Um esquadrão, um grupo vencedor que vence a hipocrisia e muda o olhar de quem gosta de futebol.