quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Um porto para Barcos

*Douglas Sato e Marcos Teixeira

Em meio à sua pequena população, de aproximadamente de 32 mil habitantes, a cidade de Bell Ville, na Argentina, pode ser considerada uma terra de grandes centroavantes. Nascido no município que faz parte da província de Córdoba, o lendário Mario Kempes anotou 20 gols com a camisa dos hermanos e comandou a albiceleste na conquista do mundial de 1978. Porém, atualmente, o grande matador de Bell Ville é um jogador que vive a alegria de ser chamado para defender o país pela primeira vez na carreira.

Antes esquecido pelos selecionadores que antecederam Alejandro Sabella e com a intenção de se naturalizar equatoriano, o centroavante Hernán Barcos viu a sua primeira convocação para a seleção argentina transformar a sua carreira. Um dos grandes destaques do Palmeiras nesta temporada – o avançado já marcou 21 gols - nutria o sonho de debutar na seleção argentina.

Com 28 anos, ele ganhou notoriedade por seus gols e jogadas de impacto. Chegou até a ser sondado pelo futebol do Catar, mas após esta convocação é pouco provável que Barcos navegue nos rios de dinheiros do Oriente Médio. Antes tendo Mazinho, Betinho e outros inhos como parceiros de ataque, o artilheiro terá na seleção da Argentina a companhia de alguns dos melhores do mundo, como Messi , Higuaín e Lavezzi.

É. Barcos verá sua vida mudar, mas e o Palmeiras? Como fica nesta história? O sempre solicito César Sampaio, diretor de futebol do clube, assegurou que principal o jogador da equipe alviverde permanecerá na Barra Funda até o final do ano. Mas isto realmente é o que o Palmeiras quer? Vejamos assim: o atleta, por maior que seja identificação com o clube, ficará valorizado e ganhará mais notoriedade, abrindo assim um leque de olheiros da Europa, Ásia e Oriente Médio, em busca dos seus serviços.

Sejamos francos, o chileno Valdívia, cada vez menos ‘El Mago’ em entrevistas sempre exalta o Palmeiras e que seu plano é permanecer na equipe, mas duvido que recuse uma proposta da Europa ou do Oriente Médio. Diga-se de passagem, ele já o fez uma vez. Caro leitor, não que duvidemos que Barcos queira ficar, mas cremos que será bem difícil a manutenção do ponta de lança na esquadra. Tendo em vista que a partir de agora o Palmeiras servirá apenas para a consolidação do atleta perante a sua seleção, para que num futuro breve ele possa jogar em uma liga considerada grande e possa ser lembrado outras vezes pelo treinador do selecionado nacional.

Pela ótica desta análise, uma venda do atleta para algum polo da Europa seja algo bom e lucrativo tanto para Barcos e Palmeiras. O clube terá um dinheiro em caixa e condições para montar um elenco mais competitivo para 2013, ano em que disputará a Libertadores, e Barcos ficará com o dilema de atracar bom futebol em algum porto banhado pelos petrodólares do Oriente Médio ou esperar por uma proposta de algum grande centro do Velho Continente.

Por fim, nos resta esperar o desenrolar desta convocação. A seleção da Argentina enfrentará o Paraguai e o Peru, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2014. Por ironia do destino, a provável estreia de Barcos acontecerá justamente no Estádio Mario Alberto Kempes, em Córdoba.

* Douglas Sato tem 23 anos, é músico e estudante de Jornalismo 
(nesta ordem) e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano. 
E Marcos Teixeira sou eu.

sábado, 25 de agosto de 2012

800

Com o agora dirigente Ivan Córdoba  (Inter.it)

*por Douglas Sato

Imagine você ficar jogando pelo clube que ama e ser correspondido. Imagine ganhar quase tudo que disputou. Imagine ter a oportunidade de defender as cores do seu selecionado nacional numa Copa do Mundo. Uma não! Duas. Ainda neste pensamento, imagine você ser respeitado por tudo que você defende. E ainda não ser um dos melhores da sua posição, tanto taticamente quanto ofensivamente.

Sei, caro leitor, parece estranho. Afinal, aonde quero chegar? Em partida válida pelo play-offs para a fase de grupos da Liga Europa, a esquadra da Inter de Milão fez a sua obrigação e deu passo importantíssimo rumo à meta deste semestre, porém, mais do que isso, o embate marcou a 800ª partida do capitão Javier Zanetti com a camisa da equipe.

O lateral-direito, de 39 anos, entrou em campo com uma braçadeira personalizada com o número 800 em destaque. No clube desde agosto de 1995, ele soma no currículo cinco Campeonatos Italianos, quatro Copas da Itália, quatro Supercopas da Itália, uma Liga dos Campeões, um Mundial de Clubes e uma Copa da Uefa entre os mais importantes títulos.

Agora, caro leitor, já sonhou pelo menos um minuto na vida jogar ao menos um segundo no Giuseppe Meazza ou em qualquer outro estádio com a sua segunda pele? Imagine, então, jogar oitocentas vezes com a mesma paixão, intensidade e profissionalismo. Usando a cabeça e o coração que às vezes até se perdeu em polêmicas e outras armadilhas do destino. Mas que poucas vezes perdeu os jogos mais importantes, os títulos mais impressionantes.

Mas paro por aqui. Porque Zanetti não vai parar aí. Ele não vai conseguir se contentar com tão pouco, digo, com "apenas" isto. Ele é a representação de um ícone, uma pessoa a se espelhar. Um ídolo. E aos 39 anos, ele é um cara que amanhã fará todo o ritual de preparação para mais um jogo que seria como outro qualquer. Concentração, aquecimento, uniforme, chuteiras, preleção, subida ao gramado, bola rolando, uma disputa de bola, um gol, uma reclamação, o apito final.

E Javier Zanetti voltará ao vestiário. E o Giuseppe Meazza irá aguardar o 801. O 802. Sabe lá até quando. Só sei que, depois desta partida, até quem não quer vê-lo pela frente vai querer olhar para trás e lembrar os bons tempos de tantos primeiros e segundos tempos. Quando havia um lateral, um cara, que defendia, atacava e apoiava, como poucos, e que soube representar tão bem o amor por um clube de futebol.

Zanetti comemora o primeiro gol da Inter no jogo (EFE)
* Douglas Sato tem 23 anos, é músico e estudante de Jornalismo 
(nesta ordem) e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um trabalho sujo

* por Vinícius Carrilho

Um dos grandes sucessos da TV mundial é o programa Trabalho Sujo, apresentado e produzido por Mike Rowe. No Brasil, a série é transmitida há tempos pelo canal pago Discovery e também pela TV Bandeirantes, porém, neste último canal, em pequenos trechos. A ideia do programa é simples: mostrar os piores empregos do mundo.

Toda esta apresentação foi necessária para que de fato começasse a desenvolver o assunto inicial deste texto. Se algum dia encontrasse Mike Rowe pela rua, daria uma sugestão de emprego para que ele colocasse em seu programa. Sem dúvidas, falaria ao americano que uma das piores profissões do mundo é ser técnico da Seleção Brasileira de Futebol.

Escolher os melhores jogadores do Brasil parece ser um trabalho fácil, porém torna-se um verdadeiro martírio quando se tem mais de 190 milhões de patrões, sendo que a grande maioria é de uma incoerência digna de estudos. A começar pelo fato de que todos batem no peito e dizem não estão nem um pouco interessado na Seleção Brasileira, porém não é bem assim que as coisas são.

Comece pensando nos acontecidos pós Copa do Mundo de 2002. Parreira assumiu a Seleção Brasileira após um grande trabalho no Corinthians. Credenciado por sua longa carreira no futebol, tinha em mãos uma equipe repleta de bons jogadores, todos já com bagagem no mundo da bola. Reeditando a dupla tetracampeã do mundo com Zagallo, o treinador viu seus comandados conquistarem uma vitória heroica na Copa América de 2004 e ressurgirem das cinzas na Copa das Confederações de 2005, passando por equipes como Alemanha e Argentina após uma derrota para o México e um empate com o Japão na primeira fase.

Chegou então o ano de 2006 e o Brasil aparecia como a melhor equipe da Copa do Mundo da Alemanha, muito pelo chamado “quadrado mágico”, formado por Ronaldinho Gaúcho, melhor do mundo por duas vezes; Kaká, grande estrela do Milan; Ronaldo, o fenômeno e herói da última Copa do Mundo; e Adriano, ainda considerado o Imperador de Milão. Parreira não titubeou, atendeu ao apelo de seus 190 milhões de incoerentes patrões, que na época exaltavam essa grande equipe, e os colocou em campo. Porém, a magia do quadrado desapareceu e o Brasil acabou eliminado daquela copa por um gênio, que atende pelo nome de Zinedine Zidane. A partir deste momento, todas as conquistas anteriores foram esquecidas e então Parreira, de grande criador do quadrado mágico, passou a ser considerado velho demais por seus patrões. Resultado: deixou o comando da Seleção Brasileira.

Os patrões, que clamavam por renovação na comissão técnica e no time titular, tiveram mais uma vez seu pedido atendido. Dunga, em seu primeiro trabalho como treinador, chegava ao comando da Seleção Brasileira e promovia uma renovação moderada. Nomes conhecidos, como os de Júlio César, Lúcio e Kaká receberam a companhia de nomes até então desconhecidos, como os de Afondo Alves e Felipe Melo. A pressão sob o treinador começou aí e ele foi resistindo, vencendo a Copa América e a Copa das Confederações. Chegava então 2010.

A Copa da África do Sul começou com algum susto para o Brasil, após uma vitória magra por 2 a 1 sobre a Coréia do Norte. Na sequência, um trunfo sobre a Costa do Marfim e um empate com Portugal deram ao time o primeiro lugar do grupo. Nas oitavas, o Chile foi presa fácil e então chegou a Holanda. Com uma falha de Júlio César e uma expulsão de Felipe Melo (que antes havia dado a assistência para o gol de Robinho), a Seleção Brasileira estava mais uma vez fora do mundial e os dias de Dunga, que acabava de perder seu primeiro campeonato profissional, contados. Os patrões demitiam mais um treinador.

Então era a vez de Mano Menezes desempenhar um dos piores trabalhos do mundo. Vitorioso no Corinthians, o jovem treinador chegava credenciado também pelo trabalho realizado do Grêmio, anos antes. Os patrões, mais uma vez, clamavam por renovação e Mano atendeu, trocando praticamente todos os outros antigos convocados do último mundial. A safra de atletas era uma das mais fracas dos últimos tempos, porém a média de idade do time caiu consideravelmente.

Em campo, o técnico colocou o que havia de melhor e todos os jogadores em suas posições de preferências, da forma como atuam em seus respectivos clubes. Até então se passaram dois anos desde a contratação de Mano e em duas competições (sendo uma os Jogos Olímpicos, formado por jogadores Sub23), duas derrotas.

Mais uma vez os patrões não perdoam e pedem o cargo do treinador, que realiza exatamente o que antes era pedido a ele. Mano Menezes sabe que a paciência dos inconstantes donos da Seleção Brasileira se esgotará em seu próximo revés e a Copa do Mundo de 2014, antes meta imposta ao mesmo, pode ser vista apenas pela televisão. A última reclamação por parte dos patrões foi a convocação do goleiro Cássio, considerado o melhor arqueiro da Copa Libertadores da América de 2012. Acusam o técnico de ter convocado o jogador por ele ser empresariado por Carlos Leite, também empresário de Mano Menezes.

É por essas e outras que indicaria este cargo para o programa de Mike Rowe. Parece ser impossível conseguir agradar tanta gente que não suporta uma derrota ou a ideia que seu produto já não tem mais a qualidade de outros tempos. Parece impossível imaginar que algum dia, após tantas atitudes tomadas e pouco resultado final, passem os patrões a entender que deve ser cobrado aqueles que de fato fazem o jogo, dentro das quatro linhas. E se encontrasse Mano Menezes, acho que apenas diria para ele: “mas que trabalho sujo esse que você arrumou, hein mano?!”.

* Vinícius Carrilho tem 21 anos, é estudante de Jornalismo, 
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida fazendo humor, 
mas escreve melhor do que conta piada.

Perene, eterno, imortal

Hoje morreu Félix. O coração do velho goleiro parou de bater por volta da sétima batida do dia, num hospital da Zona Leste de São Paulo. Justo ele, que respirou futebol a vida toda, teve seus pulmões o traindo depois de 74 anos.

Hoje morreu Félix. O antigo guarda-redes começou cedo. Aos 15 anos já fazia sua primeira partida como profissional do Juventus, o Moleque Travesso da Moóca, bairro onde nasceu, na mesma Zona Leste onde terminou seus dias. Do Juventus, foi para a Portuguesa, vestindo a camisola rubro-verde por 13 anos, permeados por um breve período pelo Nacional. Até gol pela Lusa ele fez. E foi pela Portuguesa que ele chegou à Seleção. Fato dos mais raros nos dias que correm. Do Canindé, foi para as Laranjeiras para defender o tricolor Carioca e ser campeão carioca.

Félix, quando defendia a Portuguesa, na década de 1960
Hoje morreu Félix, o mais subestimado dos titulares do Brasil tricampeão mundial no México. Tão campeão quanto Pelé, Tostão ou Jairzinho, mas lembrado mais pela falha no gol do Uruguai que pela monstruosa atuação diante da então campeã Inglaterra, no chamado Jogo do Século.

A Seleção Brasileira, com Félix, tricampeã mundial em 1970
Hoje morreu Félix, um dos poucos jogadores da história a receberem o Prêmio Belfort Duarte, por ficar mais de dez anos seguidos sem ser expulso.

Hoje morreu Félix. Passou porque mesmo os heróis perecem, posto que são humanos. Sua história, porém, é perene. É eterna. É imortal.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cavalo paraguaio?



* por Douglas Sato

Desde o momento em que o Atlético Mineiro, o Galo, assumiu a liderança da Série A do Campeonato Brasileiro, houve muito receio e desconfiança por grande parte de mídia especializada. E não é por acaso, sejamos sinceros. A equipe de Minas Gerais não realizava uma campanha de destaque há um bom tempo. Porém, desta vez, contrariando todos os prognósticos, o que se vê é um time conciso, forte e sem grandes valores individuais, e que vem rendendo e liderando o principal campeonato nacional de futebol do Brasil.

Existem pessoas que possam creditar a boa fase ao jovem Bernard. E não estarão erradas, mas dizer que ele é o único é um erro. O mais certo é que ela funciona muito bem coletivamente, com boas opções em campo e no banco de suplentes. Em todos os jogos do certame nacional a equipe vem funcionando. O jovem Bernard é sem dúvida um atleta a se notar e, talvez, um dos mais selecionáveis. Creio que não seria uma má idéia o selecionador nacional, Mano Menezes, dar ao atleta uma chance, já ele vem fazendo por merecer.

O zagueiro Leonardo Silva de longe não é nenhum defensor que faça frente aos grandes da sua história como Luizinho e Vantuir, entre outros, mas a fase é tão boa que uma simples espanada da defesa para o ataque pode resultar em gol. E os laterais não fogem a este pensamento, Junior Cesar é um motorzinho nos cantos do campo. Já Marcos Rocha faz o seu papel, sem brilhantismo, mas com eficiência.

Grande incógnita no início da temporada, Renan Ribeiro saiu debaixo das três traves, e entrou em cena, apesar de uma transferência as pressas, o goleiro Victor, que já esteve na seleção e é um goleiro seguro, algo que a equipe buscava há muito tempo. Finalizando o setor defensivo, o defensor Rever entra a mesma linha do arqueiro: vestiu a canarinha e demonstra muita sapiência.

No meio de campo, os volantes Pierre e Leandro Donizete são os cães de guarda, diga-se de passagem, bem eficientes na contenção. Não são fantásticos e nem estão entre os melhores do setor, porém nem precisam ser: são excelentes taticamente para a equipe mineira e isso é o que importa.

Os ofensivos Bernard, Danilinho e Ronaldinho Gaúcho formam a tríade de ligação atrás do ataque. Os três, mesmo que às vezes apagados, vão desempenhando papéis muito bons, especialmente R49 e Bernard. Todos sabem que o melhor jogador do mundo pela FIFA por duas vezes, não é mais aquele do Barcelona, mas hoje é um jogador muito útil ao Atlético Mineiro, em lampejos de criatividade e decisão. Abertos pelas alas, Bernard e Danilinho dão a rapidez, agilidade e habilidade. E no ataque Jô, que não é um artilheiro dos mais regulares, vem se consolidado na função de matador da equipe.

No comando, o experiente e por vezes desacreditado Cuca, que mesmo não alcançando nas equipes que passou o resultado esperado, no Atlético possui o elenco na palma de sua mão. Soube domar R49 e deu a equipe ritmo e padrão de jogo, tanto que neste nacional possui apenas uma derrota, para o São Paulo, no Morumbi.

Atualmente, o Atlético Mineiro é indiscutivelmente o melhor time do campeonato. Não só pelo time, mas pelos números que comprovam. Depois de jogadas 18 rodadas, lembrando que a equipe mineira tem um jogo com o Flamengo atrasado e, por isso, tem só 17 jogos, mesmo com esta partida a menos a equipe de Belo Horizonte tem um aproveitamento de 82,4%, com 42 pontos até aqui.

Nada disso significa que o Atlético Mineiro levantará o caneco. Pode ser que sim, como pode ser que não. O que já dá para fazer é parar chamar o Galo Mineiro de cavalo paraguaio. A essa altura do campeonato, com tantas partidas acirradas, com um time tão sólido e uma campanha tão impressionante, não é mais possível dizer que o Atlético não brigará pelo título.


* Douglas Sato tem 23 anos, é músico e estudante de Jornalismo 
(nesta ordem) e, nas horas vagas, é imitado pela dupla Cesar Menotti e Fabiano

domingo, 12 de agosto de 2012

O de sempre

A Portuguesa conheceu, contra o Botafogo, o quarto empate nos últimos seis jogos. São seis partidas de invencibilidade, o que deveria ser uma marca a ser comemorada, principalmente porque o time a Lusa debutou na competição com o selo de candidata ao rebaixamento estampado na testa em dez em cada dez listas, inclusive na minha.

Deveria, não fosse por um detalhe. Nestes empates, em todos eles, o time do Canindé foi prejudicado, e muito, pela arbitragem. Pênaltis não dados nos jogos contra Corinthians, Flamengo e Botafogo, fora o gol mal anulado contra o Bahia.  

O lance no clássico contra o Timão foi o único duvidoso, dos citados. No entanto, a não ser que o árbitro tivesse certeza absoluta de que a camisola do avançado Héverton não tenha sido puxada - e foi -, a grande penalidade deveria sim ser marcada, uma vez que a recomendação da Internacional Board, órgão que regula as regras do futebol, é a de prevalecer o ataque em caso de dúvida. Não é regra, é recomendação, e essa subjetividade acaba criando um conceito informal, quase uma lei, de que, em caso de dúvida, a decisão seja contra a Portuguesa.

No jogo contra o Bahia, o golo anulado é emblemático. Bruno Mineiro, avançado que balançou a rede, estava em posição legal por questão de não mais que 15 centímetros, o que, teoricamente, concederia a remissão do pecado ao auxiliar que impugnou a jogada. Teoricamente, já que tanto o avançado quanto o defesa contrário estavam parados, e o bandeira ainda tinha a linha da pequena área como referência. Uma baba. Mas outra vez houve dúvida. Outra vez a defesa prevaleceu. Outra vez contra a Portuguesa.

Já os penais contra Flamengo e este último, contra o Botafogo, foram escandalosos, um escárnio. Este, então, beira a imoralidade, dada a posição do árbitro-que-se-julga-juiz Héber Roberto Lopes. Ele estava na diagonal da jogada, sem ninguém interpondo-se a ele e o lance, que foi mais claro que a sua reluzente careca. Aquele, diante dos rubro-negros, uma voadora por trás bem no meio do mesmo Héverton, tirou-lhe a chance do golo que poderia dar a vitória para a Lusa. Houve tudo o que os comentaristas consideram infração: uso desproporcional de força, imprudência, falta. E outra vez o jogo seguiu. E, mais uma vez - duas, no caso -, a prejudicada foi a Portuguesa.

Geninho tem feito milagre com o time limitado que tem na mão. A missão de permanecer na elite, que por si só já seria das mais árduas, fica potencialmente dificultada por conta da má vontade dos péssimos sopradores de apito. Não é choro de mal perdedor (ou empatador), mas foram oito pontos sonegados. Oito pontos que colocariam a Portuguesa na sexta posição, e que certamente farão falta no frigir dos ovos, seja qual for a colocação da Lusa no final do campeonato.   

sábado, 11 de agosto de 2012

A Cesar o que é de Cesar

Não foi desta vez que o Brasil conseguiu a medalha de ouro no futebol. No feminino, a Seleção parou nas quartas, longe da disputa pelo ouro. Pelo que é investido e pela "preparação", se é que podemos chamar de preparação o que a CBF fez, chegou longe. Não há incentivo, nem renovação, nem campeonatos. Títulos, só os Pan-Americanos da vida, e olhe lá.

No masculino, porém, havia a expectativa da conquista inédita, ainda mais quando a atual bicampeã Argentina não apurou-se para os jogos. Time para isso o Brasil tinha, tanto que boa parte da seleção principal esteve em Londres, com Neymar, Thiago Silva, Ganso, Pato, Sandro e Lucas, só para exemplificar. Até a comissão técnica principal estava lá. 

Como de hábito, as trombetas, cornetas, vuvuzelas e afins soarão para o lado dos jogadores, que serão taxados de pipoqueiros e outros termos pouco elogiosos. No entanto, faltou um detalhezinho, bem besta para os nossos padrões, que a arrogância tupiniquim sempre despreza: planejamento.

Mais uma vez os comandantes do futebol nacional confiaram na camisa. O Brasil tinha tudo, menos um time. A preparação começou tardia, não houve prioridade para a seleção olímpica. Como praxe. Foram cometidos erros primários, como a troca da comissão técnica para o torneio. Quem classificou o Brasil não foi Mano Menezes, foi Ney Franco, que conhecia melhor o grupo, mas assistiu daqui a insossa campanha brasileira.

Contra adversários extremamente fracos o Brasil não sobrou, mesmo nos 3 a 0 das meias-finais contra a Coréia do Sul. Mais uma vez era bola no Neymar e ele que se virasse. Contra um time forte, minimamente organizado, o Brasil sofreria. E foi assim contra o México, que jogou a final sem seu principal jogador, Giovani dos Santos, mas se preparou por dois anos para a competição. O resultado foi um passeio dos mexicanos. Por parte do Brasil, nenhuma organização, alguma técnica e muita, mas muita, marra de alguns jogadores, como o bisonho Rafael.

Os atletas devem ser cobrados? Sim, devem. Assim como a comissão técnica, embora ela tenha feito o que sabe. Esperar algo diferente do treinador é desconhecer seu pragmatismo e sua visão estreita. Ele convocou mal, sujeitou-se a ser marionete do pseudo-diretor de Seleções da CBF e não deu padrão algum para o time.

Mas eles são apenas parte de uma engenhoca chamada CBF, que está enferrujada, ultrapassada. Que parou no tempo e não percebeu que o futebol do Brasil está na Segunda Divisão do futebol mundial.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Enquanto isso, no país do Pode Tudo...

Talvez pouca gente nas terras tupiniquins não tenha se apercebido disso. Simultaneamente à realização dos Jogos Olímpicos, que têm todos os holofotes virados para si, segue o julgamento do, segundo o PT e os advogados de defesa dos acusados, fictício mensalão. Alegam que o que houve foi recurso não contabilizado para financiamento de campanha, o popular Caixa 2. Ora, isso é crime tributário e fiscal. É CRIME!

Eles, os advogados, querem vender a ideia de que a destinação do dinheiro é apenas um pecadilho, que com uma confissão e duas Ave Marias se resolve. E a origem desse dinheiro não é levada em consideração, como se não houvesse importância. Não só importa como explica muita coisa.

É esse dinheiro "por fora" que faz com que politiqueiros trabalhem em prol dos seus financiadores. No que diz respeito ao ex-presidente Lula, aquele que nada sabia e nada viu, farão de tudo para desvinculá-lo do esquema. Claro que, sob as bênçãos da maciça aprovação popular do seu mandato, a tarefa fica mais fácil.

Tendemos a ser tolerantes com quem gostamos, ainda mais depois do episódio do câncer, quando foi praticamente canonizado em vida. E no país da esquerda-cada-vez-menos-esquerda recalcada e vingativa que por ora ocupa o p(h)oder, o PT ganhou outro significado: Pode Tudo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Tribunal dos Cento e Quarenta


Quando a judoca brasileira Rafaela Silva foi eliminada por causa de um golpe irregular na Olimpíada de Londres, não demorou para que críticas aparecessem nas redes sociais, sobretudo no twitter. Pior que isso, no microblog a atleta sofreu ofensas raciais e teve sua competência e honra postas em dúvida.
A resposta no mesmo nível não tardou, mas não vem ao caso a reação destemperada de Rafaela, principalmente no calor de quem acabara de perder a chance de chegar ao ápice da carreira de um atleta, materializado na medalha olímpica, por conta de um erro tolo, que ela mesma admitiu ter cometido.
Medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e quarta colocada no ranking mundial da categoria leve, Rafaela desembarcou em Londres como esperança brasileira, ao menos entre os entendidos no judô, para chegar ao pódio. De uma hora para outra, porém, virou lixo.
Rafaela foi criticada por quem nem sabia da sua existência antes da competição. Foi julgada à revelia no tribunal de cento e quarenta caracteres e condenada, graças à ação de imbecis que julgam poder vomitar sua intolerância e deitar por terra o trabalho honesto de uma pessoa que não conhecem, de um esporte que sequer entendem ou acompanham, mas cobram assim mesmo. E só encontram eco porque existe gente sugestionável o suficiente para serem influenciados por qualquer cretino que escreve o que quer, gratuitamente, só pelo prazer de ofender e apontar o dedo. 
O pecado? Perder. Cobram como se a vitória fosse obrigação. Cobram como se do outro lado não houvesse uma pessoa preparada lutando pelo mesmo objetivo. Este é o mal da cultura futebolística do brasileiro. Somos acostumados às vitórias e não aceitamos outro resultado diferente deste. Não gostamos de esporte, gostamos de vencer.
Os “automagistrados” do Tribunal dos Cento e Quarenta caracteres não toleram o fracasso de um esportista, tendo ele apoio ou não. Isso não tem a menor importância. Da mesma forma que fazemos vistas grossas para políticos que metem a mão no nosso dinheiro, sob as bênçãos da nossa passividade. E o Brasil seguirá sendo o país do futebol, da mulata, do carnaval e da corrupção. Por culpa nossa.