sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Fechar portões não basta

A bola da vez de dez em dez discussões sobre futebol nesta semana, e possivelmente nas próximas, é o lamentável incidente que aconteceu em Oruro, na estreia do Corinthians pela Taça Libertadores, contra o boliviano San Jose, quando um torcedor de 14 anos morreu ao ser atingido por um sinalizador que partiu da torcida corintiana.

A resposta da até então omissa Conmebol foi, através do recém-criado Comitê Disciplinar da entidade, punir o clube brasileiro vetando a entrada de seus torcedores em todos os jogos pela competição, seja em casa ou fora. Uma atitude polêmica, como tudo o que envolve o futebol.

Todas as conversas, desde as mais ponderadas até às mais acaloradas, têm como mote se a punição foi exagerada, pois todos os torcedores não poderiam pagar por uma dúzia de maus elementos que foram ao estádio. No entanto, um aspecto deve ser observado: o regulamento da Conmebol. De acordo com ele, o clube é responsável pelo comportamento de seus torcedores, seja ele o Corinthians, o San Jose ou o Coronel Bolognesi. Isso por si só já abaliza a medida tomada.

Mas não é suficiente. Basta ver o que aconteceu nos anos 1980, quando todos os clubes ingleses foram banidos por cinco anos das competições europeias por conta do ocorrido em Heysel, na Bélgica, durante a final da Copa dos Campeões da Europa, em 1985. Na ocasião, morreram 39 pessoas, na sua maioria torcedores da Juventus, pisoteadas pelos hooligans do Liverpool.

Mesmo com a punição, outros eventos semelhantes aconteceram, como na semifinal da Taça da Inglaterra de 1989, entre o mesmo Liverpool e o Nottingham Forrest, quando 95 scouses morreram e mais de 700 ficaram feridos, no estádio Hillsborough, em Sheffield. E foi aí que o governo interveio, com um documento que ficou conhecido como o Relatório Taylor, que, entre outras medidas, extinguiu o uso de alambrados nos estádios e propôs penas duras aos envolvidos em confusões, além da adequação das pocilgas, como a de Oruro, onde os jogos eram realizados.

Ou seja, de nada adianta a Conmebol punir agora se não houver um conjunto de medidas que envolva entes de todos os âmbitos, sobretudo governamental, com leis duras e eficazes. Se não for assim, a proibição não será mais que jogar para a torcida. No caso as outras, menos a do Corinthians.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

La revolución de los otros

Há alguns dias a blogueira cubana Yaoni Sanchez desembarcou no Brasil para participar de alguns eventos sobre como é ser oposicionista ao regime cubano. Ela conseguiu autorização de Raúl Castro, o presidente daquele país, para deixá-lo. E assim que chegou já foi logo sendo vaiada, apupada, achincalhada, no Recife e em Salvador.

Viram quantos foram aos aeroportos protestar contra a chegada da blogueira? Uns 15 ou 20, se muito? Representam o quê? Uma esquerda recalcada e vingativa, um punhado de stalinistas obtusos, que "pensam" pela cabeça de outros recalcados e vingativos.

Protestavam contra o que, exatamente? Pelo fato de ela, Yaoni, discordar? Seriam os irmãos Castro intocáveis, imaculados nas suas convicções? Alguma maldição recairá contra os que pensam diferentemente? Ou ao menos contra os que pensam? Yaoni quer liberdade. Eles vão perguntar para o irmãos Castro o que querem.

Manifestantes protestam contra a blogueira cubana
Ah, mas é mais fácil gritar de longe. Aí, quando o problema está perto, é um tal de "não é comigo!". Ser comunista no Brasil da Era de Aquário virou cult, cool. Mesmo que estes comunas sequer saibam que a União Soviética não existe mais. Os que sabem talvez passem férias na Disney, ao lado dos ianques imperialistas.
                      
Neo-esquerda vagabunda! Não sabem nada, nem de civismo, nem de porcaria nenhuma. Essa escumalha elegeu quem elegeu o Renan Calheiros. E tá tudo certo. É mais útil encher o saco de quem quer o que eles tanto quiseram e agora têm, que é vez e voz. Mas não dá para dar asa a cobra. Deram e deu no que deu.

Afinal de contas, o Brasil já está bem, não tem problema nenhum e a Copa será aqui, sob as bênçãos da dupla Lula-Ricardo Teixeira. Então vamos ayudar nuestros hermanos cubanos, que estão sendo cerceados no direito de cercear. Quanta petulância dessazinha, não?

Quem ela pensa que é? Vir aqui falar de liberdade? Exibir e se exibir em um documentário sobre sua pretensiosa intenção de pensar por si só? Não mesmo! O Partido Comunista não deixa.

Em todo caso, Zé Dirceu (o mensaleiro que um dia disse que iria esmagar seus oponentes) está contente, pois seus filhotes aprenderam. ¡Y viva la revolución!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Por um futebol mais justo

Depois que a Ponte Preta venceu o badalado Santos por 3 a 1 pelo Paulistão, o técnico do time de Campinas, Guto Ferreira, deu uma declaração interessante. Mais que isso, foi um desabafo pela condição do futebol do interior paulista.

‎"No começo, quando ninguém prestava atenção na gente nem via nossa dificuldade em contratar, treinar e arranjar dinheiro, éramos só mais um. Agora, depois de tirar leite de pedra, viramos favoritos. Se cairmos, seremos decepção. É sempre assim. Ninguém falará que ganhamos muito menos do que os grandes. Que não temos o apoio que eles têm. Estão ocupados demais para ver que o dinheiro não é distribuído como devia. Estou em um dos 20 clubes da primeira divisão. Mas somos tratados como um dos da última. Não sei se seremos campeões. E nem me importo. Mas o sonho do título e a esperança de que continuaremos incomodando e forçando os riquinhos a nos respeitar, isso TV ou dinheiro nenhum vai nos tirar. É o que mantém vivo o futebol brasileiro. Essa paixão e perseverança. Seria fácil para os 15 mil que vieram aqui hoje torcer pra um dos quatro. Mas não teria graça. É por eles que temos de ganhar. Não pra uma TV que nunca pensa na gente dizer que o título é caipira".

Guto coloca o dedo na ferida, sem dó. Fala das distorções causadas pela péssima distribuição dos recursos da TV, que irá explorar ao máximo o fato de o lado preto-e-branco de Campinas liderar o campeonato, para depois jogar o bagaço fora. Também fala, indiretamente, da Federação Paulista de Futebol, que está instalada num suntuoso prédio do valorizado bairro da Barra Funda, na Zona Oeste da capital, enquanto seus filiados estão à míngua. É assim desde os tempos do presidente Farah, que sucateou o futebol do interior. O que Marco Polo Del Nero faz é continuar com o trabalho. Mais que isso: é aumentar o abismo entre os quatro queridinhos da mídia e o resto.

Mas que o dirigente não se iluda. Isso é como dar tiro no pé. É só ver pelo seu Palmeiras. Alguns dos grandes ídolos da gloriosa história palestrina foram buscados no interior. O Luis Pereira veio do São Bento; o Leão, do Comercial; o Dudu, da Ferroviária. Onde estão esses times? E onde está o próprio Palmeiras? Será que é saudável matar os estaduais em beneficio de meia dúzia de times com grandes torcidas?

Não se enganem! Se matarem os times pequenos, condenarão o Brasil a ser um país continental com quatro times grandes e um monte de zumbis servindo de sparrings

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Duelo de pentacampeões mundiais


O jogo por si só já chama a atenção: clássico brasileiro já na estreia da fase de grupos na Taça Libertadores da América. Mas, existem outros ingredientes que também não poderão ficar de fora do jogo de hoje entre Atlético-MG e São Paulo, no estádio Independência, às 22h00.

Para quem não se lembra, quatro jogadores que defendem hoje o Atlético-MG e São Paulo foram campeões com o Brasil em 2002: Rogério Ceni, Lúcio, Gilberto Silva e Ronaldinho Gaúcho. Chato isso, não?

De 2002 para cá muita coisa mudou, jogadores conquistaram títulos, trocaram de clubes, (a não ser para Rogério Ceni, que não troca o São Paulo Futebol Clube por nada nesse mundo). Mas fora isso, Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, hoje defendendo o Galo, foi duas vezes eleito o melhor jogador do mundo (2004 e 2005); campeão da Liga dos Campeões (2005-2006), todos defendendo o Barcelona-ESP.

Tem o Gilberto Silva, também defendendo as cores preto e branco, com passagens por Arsenal-ING e Panathinaikos-GRC, conquistando títulos como a Premier League: 2003/2004 e o Campeonato Grego, em 2010, e que volta a disputar o torneio Sul-Americano, o último pelo próprio Galo, em 2000.

Outro jogador que disputará pela primeira vez a competição é o xerifão Lúcio, do São Paulo. Para quem já disputou campeonato alemão, italiano, conquistou a Liga dos Campeões com a Inter de Milão (2009-2010), será interessante vê-lo jogar, já que o mesmo sempre demonstra raça em campo, o que é preciso ter na Libertadores.

Mas não posso deixar de citar o arqueiro Rogério Ceni. Se o mesmo não possui experiência jogando em times fora do Brasil, essa ele tem na Libertadores. Já levantou dois canecos em 1993 e 2005, amargou o vice em 2006, sabe como se comportar em partidas Sul-Americanas com catimbas e discussões. Dos quatros citados, de longe o goleiro tricolor sai na frente no quesito Libertadores da América.

                 Campeões do Mundo com o Brasil em 2002 (Montagem Globoesporte.com)

Duelos a parte, é um jogo que tem tudo para encantar o torcedor mineiro e tricolor, com belas jogadas, belas defesas e belos desarmes. Difícil será um empate hoje, e mesmo perdendo, ambos devem se classificar para a próxima fase do campeonato. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Investimento indo por água abaixo

Por Thiago Albino

Foram R$ 24 milhões pela contratação de Paulo Henrique Ganso. Todos achando que o então futuro camisa 10 da Seleção Brasileira retornaria com o ótimo futebol demonstrado no ex-clube, o Santos (antes de começar as briguinhas com a diretoria santista). Com a negociação fechada, os são paulinos foram ao delírio. Novamente a equipe teria um camisa 10, algo que não acontecia desde 2005 com Danilo, agora no Corinthians.

Porém, não é isso que os olhos dos torcedores do Morumbi estão vendo. O Ganso de atualmente não chega nem perto daquele de 2010 e 2011, até mesmo do ano passado, com passes precisos deixando os companheiros na cara do gol, belos dribles e chamando a responsabilidade da partida junto com Neymar, fazendo dele um excelente camisa 10, o que não é muito visto não só no futebol brasileiro, mas mundial.

O que acontece com Ganso? Depois do San-São no último final de semana, o meia teve novamente uma partida pífia, tanto que já perdeu a vaga de titular para o argentino Cañete, que vem tendo boas atuações, é bem verdade. Aliás, o armador não fez nenhuma partida de destaque, isso desde quando estreou pelo São Paulo, no BR-2012 contra o Náutico, no Morumbi, perante os 62.207 torcedores (maior público do campeonato) que foram vê-lo.

                        (Fernando Dantas/Gazeta Press)
                                    
Talvez seja ignorância desse que vos escreve, mas no decorrer das partidas do jogador ainda no Santos, sempre citava que o mesmo seria mais jogador que Neymar, que não era comum ver um jogador da qualidade do Ganso todos os dias.

Neymar, sem dúvida, se tornou um craque. Já Paulo Henrique parece não querer ser esse craque, pode estar tentando, mas sem sucesso e falta de vontade. Fato é: o camisa 8 não está suando em campo e não vai demorar muito para a torcida começar a pegar no pé dele, pois paciência tem limite.

Mas e aí?

Já faz mais de uma semana que a boate Kiss, da cidade gaúcha de Santa Maria, pegou fogo. Não é necessário descrever aqui neste blog o inferno que deixou, por ora, 238 pessoas mortas. 

Não vou ficar falando de sonhos não realizados, de famílias destroçadas, de corações dilacerados ou vazios que nunca serão preenchidos. Isso já foi feito à exaustão, e da forma mais baixa possível, em troca de alguns pontos de audiência. Na verdade, é muito bonito, em um primeiro momento, mas não resolve nada. É como abraçar árvore.

Não resolve porque é normal, no Brasil, a indignação e a tristeza de quem não perdeu ninguém nesta ou em qualquer outra tragédia durarem até a próxima rodada, o próximo reality show. Ou até a missa de sétimo dia, se tanto.

Resolveria se, em vez de pedir orações pelas redes sociais ou compartilhar fotos das vítimas ainda vivas, sorrindo e felizes, a luta fosse para que as investigações fossem sérias e chegassem onde deveriam chegar. No caso da casa noturna, foram presos os donos e dois dos músicos que tocavam naquela noite. Eles, e só eles, estão pagando, sendo que o problema é mais embaixo, é mais rasteiro.

Se a boate estava sem o alvará, e funcionando, é porque alguém liberou. E recebeu para isso. É de praxe neste país-tropical-abençoado-por-Deus-e-corrupto-por-natureza que, ao fazer as leis, coloque-se dificuldades pra que se venda facilidades lá na frente. Depois vão culpar o empresário, que teve de dançar a música que tocaram pra ele, e o músico, que teve a infeliz e imbecil ideia de acender um sinalizador dentro da casa, mas na raiz do problema, na corrupção, não acontecerá nada.

No mesmo momento em que as prisões preventivas deles eram prorrogadas, Renan Calheiros tomava posse como presidente da Senado, cargo que teve que apear em 2007 para não ser cassado por relações espúrias com lobistas, sob as bênçãos de 56 dos 81 senadores da República.

Isso explica muita coisa.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pra festa ser grande

Nas festas de família, a tia Aurora sempre falava que era pra gente comer devagar, pois assim a festa duraria mais tempo. Mesmo nos tempos de maior dificuldade, o bom humor, assim como o amor, nunca nos faltou. 

(Arquivo pessoal)
Minha mãe, quando lutou contra um câncer no intestino, mantinha o seu intacto, imaculado. Dizia, no hospital, que estava de férias num spa. Sempre, claro, finalizando com uma sonora e deliciosa gargalhada. Apesar de todos os tombos que a vida lhe causou (e não foram poucos), o sorriso nunca lhe faltou. Não fosse por isso, por essa alegria, não sei se ela passaria pelo que passou.

A vida nos prega peças. Traz pessoas, as leva, outras nós deixamos pelo caminho, seja por necessidade ou por omissão, mas este é o andar natural deste andor que, por mais enfeitado que seja, carrega um santo de barro. Deve-se levá-lo com cuidado, sob pena de quebrar. Ainda assim, algumas flores caem. Sempre caem.

Meu pai e o andor enfeitado por si (arquivo pessoal)

Meu pai, mesmo. É forte como um cavalo, teimoso feito uma mula e negligente como todos nós. Cuida de tudo e de todos, menos de si próprio. E em algum momento o tempo manda a fatura. Mas ele está pagando direitinho e, obviamente, terá muito andor pra carregar ainda.

É sempre assim. Temos que ter calma pra não faltar o ar. Pra não sobrecarregar o coração. Pra festa ser grande.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Poder e pudor

Há alguns anos, o Senado Federal, casa outrora ocupada apenas por pessoas de reputação ilibada, era presidido pelo senador alagoano Renan Calheiros. Renan fora Ministro da Justiça durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele, Calheiros, é um dos fundadores do PSDB, opositor ferrenho do governo Lula e, agora, de Dilma Roussef, e de tantos outros  que vierem do PT.

José Sarney, por sua vez, era membro da Aliança Renovadora Nacional, ARENA, partido criado durante a década de 1960 para dar sustentação à ditadura militar, e chegou à sua presidência. No fim da década seguinte, a ARENA virou o PDS (atual PP, o partido do Maluf), que rachou durante o processo de sucessão do presidente Figueiredo.  

Renan Calheiros foi um dos mentores da candidatura de Fernando Collor à presidência, de quem era opositor em Maceió. Sarney era o presidente da República, cargo que herdou com a morte de Tancredo Neves, eleito pelo colégio eleitoral. Tancredo precisou dos votos dos dissidentes do PDS para derrotar Maluf, e foi aí que Sarney embarcou.

O alagoano chegou à presidência do Senado, cargo que ocupou até renunciar em 2007, devido a denúncias de que tinha contas pessoais pagas por um lobista ligado a empreiteiras. Sarney, por sua vez, foi acusado de promover uma série de medidas no mínimo questionáveis, os chamados "Atos Secretos", que não resultaram em absolutamente nada. Sarney contou com a blindagem do governo federal. Tudo em nome da governabilidade "deste país". 

Hoje, primeiro dia de fevereiro, mês do Carnaval, Renan é reconduzido à presidência da casa, sucedendo José Sarney. Em seu discurso de posse, elogiou o bigodudo antecessor,  a quem se referiu como condutor do país no processo de redemocratização. Para ele, Sarney promoveu a transparência na política nacional e o fim da censura. Para quem não sabe, o jornal O Estado de São Paulo está proibido de divulgar fatos sobre a operação Boi Barrica, que tem como um dos investigados Fernando Sarney, primogênito do velho Sarney, o arauto da moralidade e da transparência.

É grave? Sim, é muito grave. O Senado Federal, assim, será presidido por alguém que está sob suspeita de corrupção, e isso é público e notório, tanto que o PMDB, seu partido, só anunciou sua candidatura um dia antes da eleição, para evitar o desgaste do agora presidente e segundo nome na linha sucessória da presidente Dilma, logo abaixo do vice-presidente Michel Temer, também do PDMB, não por acaso partido de Sarney.

Se antes havia a necessidade se ser honesto, hoje nem é preciso ao menos parecer. Faz-se tudo sob a luz, já que ninguém liga mesmo. É como disse o senador pedetista Cristovam Buarque: "Já havíamos perdido o poder; agora, perdemos o pudor". Mas tudo bem, em fevereiro tem Carnaval.