sexta-feira, 31 de maio de 2013

É, rapaz, pintou o campeão!

Começo a escrever este texto exatamente dez minutos após o fim dessa fantástica partida entre Clube Atlético Mineiro e Tijuana. E esses dois times protagonizaram um dos momentos mais emocionantes do futebol mundial nas últimas temporadas. A defesa do Victor na penalidade máxima cobrada pelo colombiano Riascos, já nos minutos finais, emocionou qualquer apaixonado pelo futebol.

E para chegar tão perto de eliminar a melhor equipe da Libertadores, o Tijuana demonstrou um futebol típico de um grande time. Pressionou o Atlético desde os primeiros segundos (aos 12, Victor já fazia bela defesa) e assim ainda com certa catimba e malandragem conseguiu enervar o já apressado Atlético Mineiro.

Com isso, a maravilhosa torcida do Atlético ficou preocupada e os cantos otimistas, positivos e animados começaram a dar lugar a um clima de insegurança. A coisa ficou pior depois que o mesmo Riascos marcou um belo gol.

A situação ficou feia, mas foi com uma das principais jogadas do Galo desde que o técnico Cuca assumiu o time há a aproximadamente dois anos atrás, que veio o alívio: a bola parada. Cruzamento de Ronaldinho, falha da zaga mexicana e o gol do zagueiro-artilheiro Réver. 

Os últimos 45 minutos foram nervosos e tensos. Um lá e cá daqueles que mostram o quanto essa tal Libertadores consegue ser sensacional. Bernard caiu de rendimento, Luan entrou em campo e teve a oportunidade matar o jogo e não o fez. E veio o castigo: chutão para frente, bola sobra dentro da área e Leonardo Silva, afobado, comete pênalti no atacante mexicano.

Confesso que me revoltei, não era justo um time tão aliado a sua torcida, com um futebol tão vistoso e vibrante, ser eliminado de uma forma tão deprimente. Eis que o deuses do futebol mostraram que a história ainda teria um último herói.

“PEGOOOOOOOOOOOOOOU!” todos que torciam pelo Galo gritaram. A defesa de Victor fez as lágrimas de atleticanos, no Independência ou não, caírem de uma forma copiosa. Foi coisa do outro mundo, fantástica e histórica.



O Tijuana conseguiu valorizar ainda mais a classificação do Atlético Mineiro. Dessa vez o perdedor não morreu no horto como diz o canto da torcida. Caiu de pé. O futebol venceu, o Brasil venceu e essa torcida maravilhosa do Clube Atlético Mineiro venceu.

E se tem um time que está vivo, aliás vivíssimo, esse time é o Galo. Um time com cara de vencedor. Uma legião de apaixonados que sabem que esse é o Clube Atlético Mineiro, o Galo forte, vivo e, é claro, vingador.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O ministro ensaboado

Ministro Rebelo é sabatinado por blogueiros (Ministério do Esporte) 

A segunda-feira paulistana outonal foi típica para a época do ano. A temperatura era de amena para baixa, causada pelos ventos gelados que cortavam a garoa que ensaboava as ruas da capital paulista. Foi neste cenário que o ministro Aldo Rebelo esteve em São Paulo.

Rebelo esteve na maior cidade do Brasil para participar de uma sabatina com representantes de alguns dos mais conceituados blogs esportivos do estado. No cardápio, além do saboroso café da manhã servido aos convidados, os investimentos e planos do governo a partir dos mega-eventos esportivos que terão o país como sede: Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, este a realizar-se no Rio de Janeiro.

O ministro é um homem bem articulado. Sabe o momento de falar mansamente e de elevar o tom de voz. Respondeu na base do olho no olho cada um dos interlocutores, com paciência. Os inúmeros dados apresentados a cada resposta mostravam uma pessoa bem preparada para o evento. Citou seu time do coração, o Palmeiras, em diversas vezes, e mostrou-se preocupado com a elitização do esporte, sobretudo o futebol, levantada por um dos blogueiros, que deu como exemplo o jogo de despedida do santista Neymar, no qual o ingresso mais "barato" custara a bagatela de 160 reais.

Neste caso, ele disse do perigo de o futebol brasileiro se transformar em uma Espanha, onde dois times brigam pelo título e o restante não passa de meros figurantes. Falou também da necessidade de dar suporte aos clubes menores, para que o abismo que separa os times de massa dos outros não aumente a ponto de inviabilizar a existência dos menos favorecidos.

Entre um café e outro, defendeu a concessão do Maracanã à iniciativa privada e o uso do dinheiro público para o financiamento do esporte brasileiro; garantiu que os estádios erguidos longe dos grandes centros não se tornarão elefantes brancos e afirmou que as obras de infraestrutura, necessárias não só para a realização dos eventos, mas para levar o desenvolvimento aos lugares mais afastados, ficarão como legado ao Brasil.

Vê-se que Rebelo, como era de se supor, não se furtou de falar de temas espinhosos, além de mostrar que tem as melhores intenções. No entanto, o titular da pasta dos esportes no Governo Federal se esquivou de diversas questões espinhosas, como explicar os mecanismos que seriam usados para garantir que o futebol não seja apenas para uma elite mais abastada ou como fazer para que todos os palcos do Mundial sejam rentáveis a longo prazo.

No fim, todos os participantes trocaram contatos e (alguns deles) dividiram a impressão de que não era apenas o asfalto da Pauliceia que estava liso naquela gélida manhã paulistana. 

O ministro com o time de 11 blogueiros (Ministério do Esporte)
  

domingo, 19 de maio de 2013

Foi, Corinthians!

*por Vinicius Carrilho
Danilo, um dos símbolos da conquista e autor do gol do título (Miguel Schincariol/AFP)
O Campeonato Paulista chegou ao fim e, pela 27ª vez, a taça teve como destino a Rua São Jorge, nº 777. Uma conquista pequena perto dos últimos resultados do Corinthians, porém enorme para quem já ficou 23 anos com o grito de campeão preso na garganta.

No estadual de 2013, o favoritismo pendia para o lado santista. Sem jogar a Copa Libertadores e apenas com as primeiras fases da Copa do Brasil pela frente, o time da Baixada nutria o objetivo de conquistar um inédito tetracampeonato paulista na era profissional. Porém, Muricy Ramalho teve muitos problemas para encontrar sua formação ideal e ainda contou com um Neymar pouco inspirado em alguns momentos.

A grande verdade é que o Paulistão 2013 premiou o melhor elenco da competição. A diferença dos comandados por Tite para o restante dos escretes paulistas é colossal. Prova disso é que o treinador conseguiu utilizar todo seu elenco durante o torneio e em nenhum momento conviveu com uma ameaça de eliminação precoce.

Agora, o alvinegro foca todas as suas atenções para o Campeonato Brasileiro, onde entra como franco favorito ao hexacampeonato. Peças importantes, como o volante Paulinho, devem seguir seus rumos mundo afora. Outras devem chegar, a fim de manter a espinha dorsal da equipe intacta. Uma reformulação, mais do que necessária, é inevitável e o Corinthians tem feito com maestria tal processo ao longo dos últimos cinco anos.

Quem não deve se reformular é o Campeonato Paulista, que, apesar de mais enxuto, deve continuar com as maçantes 19 rodadas de primeira fase em 2014. A fórmula da competição ainda não está fechada, porém a probabilidade é a de que o formato se mantenha o mesmo, apenas com a eliminação dos jogos de quartas de final. Resumindo: continuará um campeonato cansativo, que interessa apenas para o vencedor.

Porém, encerremos falando de coisa boa: com o título, Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, se tornou vencedor de todos os campeonatos que disputou em sua segunda passagem pelo Corinthians. E mais: em todos venceu como gosta, seguindo sua filosofia: “vencer não a qualquer custo. Vencer ao custo de ser melhor!”.

Vai, Corinthians! Vai comemorar seu 27º título paulista!

Maior campeão paulista, Corinthians ergue mais uma taça (Marcos Ribolli/Globoesporte.com)
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Derrotas que doem mais

REAÇÃO DE EXTREMOS Jorge Jesus, após golo do Porto,
nos acréscimos (Paulo Esteves/ASF)
Os últimos dias tinham tudo para ser especiais para toda a gente benfiquista. Nas três competições das quais tomava parte com enormes possibilidades de título, duas tinham seus estertores se aproximando: o Campeonato Português e a Liga Europa.

No nacional, a confortável vantagem de quatro pontos que o invicto Benfica manteve para o Porto durante boa parte do certame se transformou em dois pontos de folga graças ao inesperado empate diante do insosso Estoril, no estádio da Luz. Na penúltima jornada, no entanto, um empate no Dragão, no clássico com o Porto, deixaria a equipa da camisola encarnada com o título bem encaminhado, já que bastaria uma vitória contra o praticamente rebaixado Moreirense, em casa, na última rodada.

Neste ínterim, havia a decisão da Liga Europa em Amsterdã, diante do Chelsea. Esta, com ingredientes adicionais, emocional e historicamente falando. Além de ser a primeira decisão continental desde a final da Copa dos Campeões da Europa de 1990, a possibilidade de acabar de uma vez por todas com a maldição do húngaro Béla Guttmann, que sentenciou que o Benfica, sem ele, não ganharia taças europeias por cem anos.

É dispensado descrever como foi o andamento dessas duas partidas, contra Porto e Chelsea, o que já foi difundido em profusão pelos meios de comunicação. Em ambas, o Benfica foi melhor, dominou as ações em boa parte das partidas. Não se acovardou, desperdiçou um comboio de golos, mas teve o mesmo fado: perdeu com golos depois do minuto 90. 

IVANOVIC SOBE: segundo golo nos acréscimos,
em dois jogos (Graham Chadwick)
A possibilidade de ser campeão português e evitar o tricampeonato do Porto (e o 20º título nos últimos 30 anos) ainda existe, mas é remota. Caberá a um time moralmente esfacelado, que tinha só duas derrotas na temporada inteira, vencer e torcer pelo desáire do rival invicto na competição, que atuará fora de casa contra o terceiro colocado Paços de Ferreira, o que poderia ser motivo de esperança para a gente encarnada. No entanto, o time da Capital do Móvel tem vaga assegurada na próxima Liga do Campeões e já não aspira nada no certame.

Depois virá a decisão da Taça da Portugal, contra o Vitória de Guimarães, no final deste mês. O que tinha tudo para ser a coroação de uma temporada quase perfeita, pode ser o prêmio de consolação para uma equipa que lutou muito e merecia que a sorte não fosse madrasta..

Mesmo “caindo de pé”, como disseram os benfiquistas mais ponderados, não há orgulho nisso. Derrotas são derrotas, e doem. Todas elas, mas algumas doem mais. O amor é incondicional; o orgulho, não. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Mito é para quem merece


*por Fabio Venturini

O começo de 2013 não foi dos melhores para Rogério Ceni, assim como os primeiros semestres não têm sido as boas épocas de sua carreira desde 2006. Em mais um de tantos anos em que o comodismo do restante do time e a direção do clube não ajudaram, o goleiro são-paulino virou novamente o grande alvo de piadas e críticas.

Impressionante como um jogador é mais lembrado do que o próprio clube em que joga no humor de torcedores adversários (é o que se espera deles) e motivo de escárnio da crônica esportiva (sem comentários). Todos, exceto uma parte da torcida tricolor, pedem sua aposentadoria.

O motivo é simples: Rogério construiu esta repulsa com méritos e louvor. Num país em que o trabalhador é bobão e o preguiçoso adepto do jeitinho é admirável, daqueles que acabam ganhando a chefia de algum comitê espalhados pela vida em língua ocidental moderna, é o que fatalmente ocorre.

Quando o garoto brasileiro se propõe a jogar futebol, lá na infância, ninguém quer ser o goleiro, uma posição inferior reservada aos ruins de bola. Na escola, se o guarda-metas joga bem, o evento é tratado mais como humilhação para o ataque do que mérito do arqueiro. Um grosso consegue boas atuações sob as traves e os comentários depreciativos são: “achou a posição”.

Levar um gol de goleiro, de um grande rival, é mais do que um tento no placar, é humilhação coletiva, do time, da torcida, do goleiro adversário. Todos os grandes clubes brasileiros tiveram tal desprazer. Os rivais próximos foram mais castigados ainda: Santos levando gol em final de campeonato, Palmeiras como uma das vítimas preferidas de um arqueiro, o simbólico 100º gol contra o Corinthians (o que fez os alvinegros contarem os gols marcados, e forjarem risivelmente contas, para tentar devolver o tento centenário).

Rogério comemora o centésimo gol, diante do Corinthians (André Lessa/AE)

Para parte da crônica esportiva brasileira qualquer insucesso de Rogério é uma deliciosa alegria raivosa. Ele fala bem, não fica no discurso padrão do tipo “a gente jogamos bem” e “o grupo está unido”. Não ouve calado injúrias, não hesita em processar repórter que fala bobagem sem pensar para polemizar e não promove eventos-jabá. Ter comportamentos coerentes custou até vagas na Seleção Brasileira.

A síntese do sentimento da crônica esportiva, majoritariamente formada por profissionais que também são torcedores de rivais, está na frase do narrador Milton Leite vazada em transmissão da Sportv: “Rogério Ceni é chato prá caralho”.

Deveria ir embora

Sem exageros, Rogério é um monstro do futebol mundial de todos os tempos. Craque com as mãos e os pés, não fosse odiado pelo afã torcedor (com ou sem microfone), seria lembrado em nove de dez seleções brasileiras de todos os tempos na crônica esportiva. Sem citar gols: Rogério está no São Paulo há 23 anos, desde 1990, significando que em quase 30% da existência do clube mais vencedor do País lá estava ele (e bem). Durante 16 anos, 20% da história do SPFC, foi não apenas o titular da camisa 1 ou 01, mas também principal referência, capitão e um dos melhores (quando não o melhor) atletas do plantel.

Raí ficou na França entre 1993 e 1998. Voltou ao São Paulo decidindo final de campeonato, porém a faixa de capitão continuou no braço de Rogério. Pouca gente sabe o que isso simboliza. Quem nunca viu Rogério no seu time não tem – e não terá – ideia do que significa. Presente nas duas fases mais vencedoras do clube, possui mais títulos do que alguns clubes adversários e tem infinitamente mais importância do que as pessoas conseguem medir hoje, com ele em atividade.

Tive o privilégio de ver os dois melhores times tricolores em ação (1985-1987 e 1992-1993), além de outro que foi multicampeão (2005-2008). Quando me perguntam quem foi o melhor jogador da história do São Paulo, respondo Raí. Quando me perguntam que foi o melhor goleiro da história do São Paulo, respondo Zetti. Quando me perguntam quem foi o maior ídolo da história do São Paulo, respondo Rogério. E ele não parou de jogar ainda.

Seria normal parar de jogar se estivesse mal técnica e fisicamente. Obviamente não é o mesmo Rogério de 2005, ano em que fechou o gol e fez marcou 21 vezes (mais do que muitos atacantes fazem numa temporada), porém está melhor do que em 2006, quando foi campeão brasileiro. Comete algumas falhas normais para um veterano, porém no geral mais salva o time do que erra. E com uma linha displicente não há goleiro bom o suficiente para corrigir a falha de atacante que não joga, volante que não marca, lateral que não fecha...

A defesa que valeu como um gol, na final do Mundial de 2005 (IG)
Num país em que se esquecem jogadores como Zico, Sócrates, Careca e Evair, somente para citar alguns, em detrimento de popstars que frequentam menos a grande área adversária do que festas de agências de modelos e diferentes departamentos médicos em pelo menos dois continentes, o normal é a crônica esportiva tentar forçar a aposentadoria de Rogério Ceni. Esta imprensa de marketing e entretenimento consegue aplausos de torcedores adversários ansiosos pelo fim do tormento humilhante de tomar gol de goleiro e ainda ressoa na parte menos pensante da própria torcida tricolor.

Rogério sempre comentou a pessoas próximas o desejo de jogar nos Estados Unidos. Tem lenha para queimar por pelo menos mais dois anos após 2013. Como torcedor tricolor, gostaria que ficasse, mas creio que deveria ir. Além de ser revigorante, em duas temporadas seria o melhor goleiro da Major League Soccer, faria alguns gols, ganharia muito dinheiro, tornar-se-ia mito mesmo sendo estrangeiro numa cultura altamente preconceituosa e teria por lá o respeito que por aqui foi menor do que o despeito dos humilhados.

Perderia o futebol brasileiro, mas ter um mito desta enormidade é somente para quem merece.

*Fabio Venturini é jornalista

domingo, 12 de maio de 2013

O rio que corta a minha aldeia

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia". É assim que Alberto Caeiro abre o poema "O Rio da Minha Aldeia". 

O título de campeão paulista da Série A2 é o rio que corta a minha aldeia. Não é o Brasileirão, tampouco tem a pompa de uma Libertadores da América, que são mais importantes, mas aos olhos alheios. Como não são o rio que corta a minha aldeia, também não são mais importantes que a Série A2.

"Toda a gente sabe isso, mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia. E por isso, porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia".

Valdomiro ergue o troféu de campeão paulista (Divulgação/Portuguesa)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A verdadeira Noite do Galo Bravo


Na noite de 13 de setembro de 1972, a Portuguesa perdeu para o Santa Cruz por 1 a 0, no Parque Antártica, pelo Campeonato Brasileiro. Desiludido, o então presidente da Lusa, Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, reuniu a imprensa e anunciou o desligamento de seis jogadores. O episódio ficou conhecido como a Noite do Galo Bravo.

Na manhã de 10 de maio de 2013, o presidente do São Paulo reeditou o evento. Ou melhor, fez uma cópia mal acabada depois que o Tricolor levou uma lavada de outro galo. A diferença é que, no caso da Portuguesa, o eterno O.T.D. mandou embora  Hector Silva, Lorico, Samarone, Ratinho, Piau e Marinho Perez, quase todos titulares. Já o ultrapassado posseiro da Vila Sônia resolveu culpar jogadores que nem estavam jogando.

Ao dispensar ídolos da torcida, como Marinho Perez e Piau, Teixeira Duarte chorou, pois lhe doeu o coração ter que cortar na própria carne. Juvenal Juvêncio, por sua vez, mostrou a sua peculiar arrogância ao segregar meninos como Henrique Miranda e João Filipe. J.J. não teve colhões para peitar o centroavante do salário grande e dos gols pequenos, só para ficar num exemplo.

Juvenal foi um grande diretor de futebol, responsável pela montagem do timaço que ficou conhecido como "Menudos do Morumbi", em alusão à boy band porto-riquenha que era verdadeira febre nacional nos anos 1980. Foi com ele na presidência que o São Paulo conquistou o tricampeonato brasileiro entre 2006 e 2008. De lá pra cá, no entanto, perdeu a mão. 

Desfez a equipe que tinha profissionais como Turíbio Leite de Barros e Carlinhos Neves,   passou a contratar jogadores sem o perfil do "clube diferenciado", de acordo com o próprio presidente e alterou o estatuto do clube para se perpetuar no comando. 

Não soube a hora de parar. Juvenal passou. Só ele não viu.

Abaixo, o trecho do programa Jogando Em Casa, da TV Esporte Interativo (12/04/2013), com o pronunciamento do presidente Oswaldo Teixeira Duarte, da Portuguesa. Um dirigente de verdade.




quarta-feira, 8 de maio de 2013

Dividir para conquistar


A nomeação do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD-SP) para a Secretaria das Micro e Pequenas Empresas, que tem status de Ministério (o 39º do Governo Federal), vai além da escolha do titular da pasta pelo seu conhecimento na matéria. O uso da chamada máquina administrativa e o loteamento de cargos dos diversos escalões são práticas comuns na política brasileira.
Afif era do PL (atual PR), que tinha ligações umbilicais com a Direita, e agora faz parte dos quadros do PSD, não o do JK, mas o de Kassab, que era do DEM, antigo PFL. O PFL, por sua vez, nasceu de uma dissidência do PDS, atual PP, insatisfeita com a indicação de Paulo Maluf para a disputa da sucessão do presidente Figueiredo. Sabe-se que o PDS herdou o espólio da Arena, o braço político do regime militar, contra quem a presidente Dilma Rousseff e seus correligionários lutaram.
O que está em discussão não é a competência de Afif para o cargo. A própria criação do ministério, que tem um orçamento anual de apenas R$ 100 milhões, o seu alcance e – por que não? – o seu propósito é que são discutíveis.  A título de comparação, a fatia do bolo destinada ao Ministério da Saúde para o exercício de 2013 é de mais de R$ 5 bilhões, o que mostra que a nova pasta mais parece uma forma de atrair novos aliados, e é aí que entra o partido do ex-prefeito de São Paulo.
Criado sob o discurso de “não pertencer à Esquerda, Direita ou Centro”, o PSD é aliado do PSDB no governo do estado de São Paulo, o último dos territórios ainda impenetráveis para o PT. Então qual é a estratégia petista? Avançar sobre a base de sustentação do governo paulista, e, como já foi dito, o PSD é declaradamente simpático a alianças com quem está no comando.
O problema é que esta prática é a mesma que, em nome da “governabilidade” do país, tão defendida desde os tempos do presidente Lula, possibilita que nomes como os de José Sarney e Renan Calheiros continuem arrastando suas correntes pelos porões do Palácio do Planalto. Sarney e Renan são do PMDB, maior partido da base de sustentação do governo Dilma, como já foi com Lula, FHC e Itamar Franco.
Guilherme Afif, ao aceitar um cargo sem se desvincular do outro, passa a servir dois senhores. É lícito? Sim, é. É legítimo? Talvez seja. Agora, é moral? Não, não é, mas isso são outros quinhentos. 
Ministro, Afif faz o beija-mão, sob os aplausos de Renan Calheiros

terça-feira, 7 de maio de 2013

Sobre blá-blá-blás e chororôs

*por Fabio Venturini


Quando o jogo de futebol é visto no estádio, a impressão de tudo o que ocorre em campo é bruscamente distinta da que se tem quando assistido em casa, mediada por uma transmissão televisiva. No campo se sente a temperatura do jogo, percebe-se o comportamento de quem não aparece na tela e até as nuances da relação entre a arbitragem e os demais personagens.

A pior sensação para alguém que sai do estádio é se deparar com esta mediação pós-jogo absolutamente voltada a criar realidades paralelas ou desviar a atenção. Quando a arbitragem obviamente decidiu os resultados de uma partida ou de um campeonato, os esforços para isentá-la ou desviar a atenção são grotescos.

O conceito pronto é: quem perde sempre reclama e isto é chororô.

Nenhum comentário posterior altera resultado de partida. Porém a cobertura, em qualquer área, molda comportamento e alimenta ignorância.

Se alguém se sente prejudicado no futebol é tolhido do direito à contestação (lusitanos e botafoguenses entendem bem disso), tornando-se o bobo da vida real pela virtualidade criada. Tal estrago é feito especialmente pelo jornalismo esportivo brasileiro, ou pelo menos o que se chama com esse nome por aqui no que é na realidade marketing de entretenimento voltado ao desporto.

Quando arbitrar é jogar                                                          
Juiz de futebol erra como todo ser humano, mas ganha bem para não errar. Um árbitro de campeonato de primeira divisão nos centros mais ricos do Brasil junta vencimentos mensais oriundos do apito maiores do que os salários e direitos de imagem de 90% dos jogadores de todo o País do Futebol. É dever se preparar física e tecnicamente. E eles se preparam.

Nos maiores e melhores campeonatos europeus, o inglês e o alemão, os juízes não são profissionalizados e também erram. O tema é tratado como variável do jogo pela imprensa (de sensacionalismo os britânicos conhecem). Atletas e comissão técnica não reclamam.

Então o que gera o “chororô” dos perdedores daqui?

A diferença está na natureza do erro e no processo em que ele ocorre. O juiz de futebol deste lado do Equador é orientado a jogar o jogo, sem se limitar à aplicação de regras. Tal prática se escancara nas falas dos ex-árbitros e hoje comentaristas, errantes contumazes de outrora, que afirmam sem o menor constrangimento que o juiz tem que controlar a partida adotando critérios variáveis para marcação de faltas e aplicação de cartões.

Aberto está, portanto, o portal da manipulação. Como juiz de futebol, uma espécie de poder executivo, polícia ostensiva e judiciário, concentrados em uma única pessoa, o cidadão pode usar critérios diferentes em lances semelhantes.

Pode ser leniente com o retardo do jogo no primeiro tempo e aplicar cartão somente para não pendurados aos 40 do segundo. Pode marcar faltas inexistentes e parar a partida quando uma equipe pressiona a outra. Escolhe-se o momento de usar ou não lei da vantagem. Pode deixar de punir uma agressão com cartão vermelho porque está no começo do espetáculo ou expulsar algum atleta mais visado em lance bobo para não perder o controle. Pode tudo o que o próprio critério mandar para dar emoção à partida ou qualquer outra coisa que o valha. É o 23º jogador.

Em nenhum campeonato nacional transparente ou nas competições internacionais mais badaladas voltam-se cobranças de pênaltis porque o goleiro adiantou (nem mesmo na Copa do Mundo ou na UEFA Champions League). O motivo é simples: a regra diz que o arqueiro deve estar com os dois pés sobre a linha do gol na hora da cobrança, mas nenhum guardametas do planeta os mantém lá onde deveriam estar. Se forem adiantadas de 30 centímetros ou dois metros, ambas são infrações à regra. Sendo impossível cumprir, a isenção é universal.

No Brasil adotou-se a regra da tolerância a critério do árbitro. Novamente ele, o homem do apito, faz mais uma jogada e decide quem merece uma segunda chance. Numa partida pode ser um passão, na outra um passinho, em outra somente se forem seis passos após nove cobranças com goleiros adiantando pelo menos um metro... O comentarista valida, o espectador distraído ou propositadamente tendencioso concorda.

Conveniência
Não existe padrão ou cumprimento claro da regra na arbitragem brasileira, até porque, ao contrário do que se diz na TV, a regra não é tão clara assim se estiver condicionada à cabeça de uma pessoa. Tudo está na conta da interpretação do árbitro, mesmo em lances não interpretativos. Pode isso Arnaldo? No Brasil pode. Destroem-se todas as formas de identificação se os erros são gerados por má fé ou incompetência. Nenhuma delas é combatida. Reclamação é chororô. A resposta é um irônico blá blá blá.

Seria ótimo se ficasse tudo no mero âmbito futebolístico, mas o mesmo critério alimentado pela ignorância e conveniência de quem tem o alcance da opinião pública vai ser usado para debater pena de morte, maioridade penal, verbas para educação e isenção de IPI.

Nas ligas desportivas em que o desempenho dos atletas define o resultado, erros não são tolerados, motivo pelo qual há um trabalho imenso para evitá-los. Talvez o melhor exemplo seja a National Football League, aquele campeonato dos Estados Unidos em que se joga um esporte também chamado futebol, mas com as mãos e uma bola oval.

Na NFL os árbitros são profissionalizados, com obrigação de conhecer e estudar o espesso livro de regras absolutamente claras e objetivas. Têm ajuda de vídeo para analisar lances dos quais não têm certeza da marcação e jamais tomam uma decisão sozinhos. A falibilidade humana é atenuada dentro do jogo para não influenciar resultados de partidas ou de campeonatos.

Este nível de profissionalização eleva salários. Tanto que no início da temporada de 2012 da NFL houve uma greve dos juízes por melhores rendimentos diante do aumento das entradas da liga, girando na casa dos bilhões de dólares. A paralisação fez com que a direção da NFL escalasse amadores para arbitrar as partidas.

Os muitos erros cometidos pelos substitutos despreparados permitiram que jogadores encenassem lances e algumas partidas terminassem melhor do que o merecido desportivamente e dentro das regras para times da casa ou de mais badalação. A credibilidade da liga foi abalada. A incompetência cheia de boas intenções deu lugar novamente à coibição do erro processual e os milionários salários pedidos pelos juízes profissionais foram pagos para não lesar a imagem da liga e a veracidade de seus resultados.

No futebol da bola redonda a credibilidade é o que menos preocupa, tudo fica como está. Erros se justificam natural e cinicamente com a incompetência, mesmo quando há má fé. Os meios de comunicação de rede nacional usam concessão pública para institucionalizar o jeitinho ou a desonestidade. O marketing de entretenimento esportivo travestido pela linguagem jornalística valida e o expectador com preguiça mental aplaude.


Como incansavelmente dizia o Sócrates, ora em sua excelente coluna na Carta Capital, ora no Cartão Verde, da TV Cultura, a direção do futebol não muda as regras e não organiza decentemente a arbitragem para poder escolher resultados e vencedores. Se o Doutor, provavelmente o maior jogador da história do Corinthians e que conhece o futebol por dentro, dizia categoricamente o que dizia, quem sou eu para lançar blá-blá-blás sobre chororôs quando um jogo e um campeonato são decididos pelo apitador?

*Fabio Venturini é jornalista