SOMENTE CAUSAS NOBRES? Corintianos protestam em Itaquera (André Lucas Almeida/Futura Press) |
Uma cena chamou a atenção durante o Majestoso do último
domingo, na Arena Corinthians. No início do segundo tempo, o capitão
corintiano, Felipe, atravessou o campo todo e começou a gesticular para a
torcida. Ele pedia, por solicitação do árbitro Luis Flávio de Oliveira, para
que membros da Gaviões da Fiel enrolassem algumas faixas de protesto.
Os alvos eram claros: Rede Globo, CBF, FPF, a diretoria do próprio Corinthians e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB). Tudo muito bonito, ainda mais se pensarmos na gênesis da própria Gaviões, que nasceu no fim dos anos 1960, em meio aos Atos Institucionais que cassavam os direitos individuais dos brasileiros, para protestar contra o então presidente corintiano Wadih Helu.
Os alvos eram claros: Rede Globo, CBF, FPF, a diretoria do próprio Corinthians e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado estadual Fernando Capez (PSDB). Tudo muito bonito, ainda mais se pensarmos na gênesis da própria Gaviões, que nasceu no fim dos anos 1960, em meio aos Atos Institucionais que cassavam os direitos individuais dos brasileiros, para protestar contra o então presidente corintiano Wadih Helu.
Mas não é bem assim.
O protesto contra a diretoria do clube é justo: o ingresso é
muito caro e está restringindo o acesso do povo às arquibancadas. O Corinthians
é o que é (e só é o que é) porque veio do povo, emana povo, e o
esbranquiçamento do estádio o afasta de suas raízes. Logo, se este processo não
for revertido, se tornará um time comum; quem quiser ver o jogo, que adira ao
programa de ST do clube, que é mais seletivo ainda com seu sistema de pontuação
que determina que, quanto mais ingressos forem adquiridos, mais próximo da
prioridade na venda dos ingressos para os chamados jogos grandes o torcedor
estará, o que cria categorias de corintiano: o que tem grana pra torrar nos
jogos sem importância e os que não vão conseguir ir aos jogos.
A Globo foi alvo também por causa dos horários das partidas.
Esta é uma demanda que já deveria ter sido discutida há tempos. A detentora
paga uma miséria se comparado a outros campeonatos nacionais e faz o que quer
com estas competições, seja no horário ou interferindo nas escalações.
Agora acaba o romantismo: a
torcida resolveu bater na FPF porque esta a suspendeu por 60 dias por causa dos
sinalizadores na semifinal da Copinha. Só por isso. Sobre o deputado Capez, a
faixa só apareceu porque o deputado, que é acusado de participar do esquema de
desvio da verba da merenda, trabalhou (e usou como trampolim eleitoral) pela
extinção das organizadas, entre elas a própria Gaviões. Ou seja, o problema, no
caso, nem é o suposto crime, mas sim o suposto criminoso. Acreditem, ninguém
ali está interessado no dinheiro da merenda. Ou será que somente este escândalo é digno de protesto?
Em todo caso, devemos lamentar a tentativa de coibição do
protesto. Sendo pacífico, deve ser respeitado. O pedido feito pelo árbitro, que certamente partiu de cima, mostra na mão de quem o futebol está. São os mesmos que comandavam o país quando a Gaviões da Fiel foi criada. Só não vejo a “pureza na
resposta das crianças” da organizada ou a politização do ato em si.