segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O Time dos Sonhos

O tricampeão mundial Félix bateu o tiro de meta assim, curtinho, logo para a lateral da sua área. Tiro de meta curto pode, escanteio, essa invencionice do futebol moderno, não! Além do mais, um Time dos Sonhos que se preze sai jogando, não rifa a bola, ainda mais quando ao lado do guarda-redes está o maior de todos os tempos. Santos, o Djalma, evitou o contrário e acionou Brandãozinho, recuado para o miolo da zaga para que Capitão pudesse dominar, como em mais de 500 vezes, a cabeça-de-área. 

Cabeça de área, inclusive, tão ocupada por tantos cabeças-de-bagre. Não é o caso do Time dos Sonhos, em que Capitão orienta o passe do lendário filho do mítico Brandão, contratação mais cara até então no país, a jogar com Marinho Peres, sobrevivente da Noite do Galo Bravo, que sequer existiu. 

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Zé Roberto, jovem e ainda careca, recolhe e afunila o jogo porque a lateral não é suficiente para ele. Foge da marcação e toca para Capitão, e o eterno cinco já chama o maior oito do mundo, Enéas, mais acordado do que nunca. Não, ele não dorme. Os outros é que estão em transe. Enéas percebe a passagem do genial Dener e só olha o Reizinho do Canindé passar por um, dois, três, o mundo. No Time dos Sonhos, Dener não dormia e a própria morte aplaude o drible que leva.  

O estilista da bola, efêmero como o tempo, esse senhor injusto, mas imortal como o Time dos Sonhos, passa a bola depois de desmoralizar quem a tentou tomar-lhe. Do Reizinho para o Príncipe, e a corte do futebol rende-se ao majestoso Time dos Sonhos. Bola de Ivair na direita, onde Julinho cala 100 Maracanãs lotados e avança impávido e, no fundo, deixa Pinga na cara do gol, habitat natural do maior goleador do Time dos Sonhos.

Oto Glória, glória maior entre todos os treinadores, olha para o banco com a serenidade de quem encontra Orlando Gato Preto, Zé Maria, Noronha, Ditão, Servílio, Henrique Frade, Dicá, Cabinho, Edu, Toninho, Rodrigo, Leandro, Paulinho MacLaren, Simão... Oswaldo Teixeira Duarte sorri - o Time dos Sonhos está em campo.

O Time dos Sonhos desperta raiva, medo, respeito. Ninguém sente pena e não há tribunal ou administração ruim capaz de derrubá-lo.

O Time dos Sonhos é imbatível. 

Não quero acordar.