quarta-feira, 31 de maio de 2017

Amor, profecia e festa. Nacional campeão!

Por Alessandro Yara Rossi*


O grande Nacional Atlético Clube sagrou-se campeão pela terceira vez na sua história quase centenária da Série A3 do Campeonato Paulista, ao vencer, em pleno Major Levy Sobrinho, a Inter de Limeira pelo placar de 2 a 0 e ratificar que realmente é um time que sabe muito bem jogar fora do Nicolau Alayon.

Os dois times já tinham garantido o tão sonhado acesso para a Série A2 do ano que vem, só que nada melhor do que com a taça em mãos. E como o Limeirão estava bonito ao receber 13 mil pessoas.


Desta vez, fui com 12 amigos torcedores da Almanac em uma van rumo à bela cidade de Limeira, onde fomos recebidos com festa pelos amigos da Leão Chopp. Um belo batuque foi feito, já que o Ministério Público proibiu a frente dentro do estádio. Afinal, é muito perigoso torcer pelo time que tanto gosta e fazer uma bela comemoração. Parabéns aos envolvidos, que sempre vão pelo lado mais fácil, em vez de combaterem com efetividade.

Deixando de lado este ponto, o jogo começou e o Naça apostou novamente em Laécio no comando de ataque e o artilheiro Leo Castro. Nos primeiros 20 minutos, porém, a Inter foi superior, dominando todas as ações de ataque e o Naça não acertava um passe.

Comentei na arquibacanda que estava adorando tudo aquilo e logo mais o Nacional acharia um gol para pressionar e desestabilizar o adversário.

Antes, Diego Caparroz, um amigo que estava ao meu lado, cravou: o gol do título seria feito por Negueba, que até então, não tinha balançado as redes em nenhuma partida da competição. Não acreditei, mas tudo bem, o importante era a vitória acima de tudo.

Depois de suportar a pressão do Leão, o Naça começou a se soltar mais em campo e conseguiu uma falta perigosa. Éder Loko cobrou com perigo e o goleiro Rafael espalmou pra escanteio. O próprio meia cruzou na área e novamente Laécio aos 28 minutos apareceu em um momento decisivo, para fazer de cabeça um belo gol.

Tudo que o Nacional precisava para chegar tranquilo ao intervalo e mudar a pressão para o lado do adversário.

Diferente de Olímpia, que vivi muita tensão a cada lance, este jogo fui bem mais sossegado e com muita confiança que o Naça faturaria o título, pois nas quartas fez 3 a 1 no Rio Branco em Americana e na semifinal eliminou o time de melhor campanha nos pênaltis.

Coração de torcedor é igual ao de mãe: não se engana.

Logo no começo da etapa final, o time da capital fez uma bela triangulação e após lançamento Negueba dominou, invadiu a área e chutou cruzado na saída do goleiro para confirmar a profecia do meu amigo: 2 a 0 Nacional e agora era só segurar a vantagem.

Após isso, voltamos à pressão da Inter de Limeira para chegar ao primeiro gol e tentar forçar ao menos os pênaltis, com muitos cruzamentos e jogadas rápidas pelo meio, mas a defesa do Naça estava firme e bem postada, sem dar espaço e fora o goleiro Felipe, que quando exigido foi bastante seguro.

O contra-ataque era todo nosso e algumas chances foram desperdiçadas, mas parecia que a Inter poderia ficar um tempão que não marcaria nenhum gol naquela noite. Se o jogo estivesse acontecendo ainda, haveria um zero no placar do Limeirão.

Nem mesmo os cinco minutos de acréscimo me tiraram a tranqüilidade, e logo vi os torcedores caindo em prantos pela conquista tão inesperada.

Com o apito final, a festa era nossa! Segundo título do Naça que presencio no campo e para coroar um primeiro semestre de muitas viagens, loucuras e amor por este esporte chamado futebol (terceira melhor invenção do homem).


Novamente muito obrigado, Nacional Atlético Clube, por esta alegria. Agora é descansar por um mês, já que em julho começa a caminhada na Copa Paulista, valendo uma vaga para a Série D do Brasileiro ou na Copa do Brasil!

*Alessandro Yara Rossi é jornalista, respira futebol e é fã de esportes alternativos. E tem orgulho de carregar o Naça no peito!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Por quem torcerá o brasileiro?


Uma das marcas mais fortes na cultura brasileira é a escolha do time para torcer. É razão de orgulho do pai passar o amor pelo time do coração para o filho. É quase um evento quando a previsão feita no nascimento se confirma e o pai passa a ter no herdeiro seu companheiro de arquibancada.

Existem diversas maneiras de se cativar o novo torcedor, sendo duas as principais: influência da família e sucesso da equipe no período em que o futuro torcedor está decidindo que emblema cobrirá seu peito, além de outras, que são subjetivas, como um determinado jogador no time, a beleza ou as cores da camisa, uma partida histórica ou uma virada épica.

No entanto, um fenômeno recente pode ser observado. Agora existe a concorrência com o futebol da Europa. Colaboram para aumentar a torcida deles aqui a chegada de craques “puxadores de torcida”, além de títulos, muitos títulos, e a exposição da marca.

Leia também:
A tradição voltou e o Naça está na Série A2 depois de 10 anos

Por pura incompetência e falta de visão da CBF, que mal e porcamente dá atenção à Seleção, o Campeonato Brasileiro não é consumido fora do país, também pela falta de qualidade da competição. Quando um campeonato é transmitido e tem uma boa resposta, equipes menores, menos midiáticas ou que poucas vezes levantam taças acabam angariando torcedores longe de suas fronteiras, como acontece com o Tottenham ou o Borussia Dortmund. Assim, e também pelo calendário sufocante que impede que grandes equipes excursionem no exterior, mercados deixam de ser explorados pelos clubes brasileiros, que nunca jogam em pontos estratégicos e com potencial absurdo de serem desbravados, como China e Japão, países onde a Seleção Brasileira ainda é idolatrada. Mauro Cezar Pereira tem um relato interessante sobre isso, que foi publicado em meados de 2013 no seu blog no site da ESPN.


O marketing esportivo brasileiro está na idade da pedra lascada e, quando muito, limita suas ações a lançamentos de camisas e tours pelos estádios, programas de sócios-torcedores ou alguma ação de cunho social bem esporádica. Nem se compara com o que é feito no Velho Continente, inclusive com excursões para expor a marca, que é ativada constantemente.

Em 2012, o Sportingintelligence.com divulgou uma pesquisa com os 10 maiores vendedores da camisas do planeta. Nenhum, obviamente, era brasileiro, apesar de nenhum dos quatro países apontados no levantamento ter mais habitantes que este país-tropical-abençoado-por-Deus. 

No começo de 2017, o Datafolha fez uma pesquisa e quase 1/4 dos entrevistados se declarou sem time. Daniel Bortoletto, colunista do Terra, escreveu em sua coluna sobre o assunto: "Tenho dois filhos em casa, com 10 e 8 anos. Semanalmente, eles se encontram com os amigos e as amigas do condomínio para o "Futesunday". E maioria esmagadora veste camisas de clubes europeus e não apenas dos gigantes midiáticos. Há espaço para PSG (FRA), Borussia Dortmund (ALE), Roma (ITA), Atlético de Madrid (ESP). Nem sequer a Alemanha, aquela do 7 a 1 sobre o Brasil, passa em branco". 

CORRIQUEIRO Camisas de times europeus disputam espaço
 com as das equipes nacionais (Daniel Bortoletto/Terra)
Os ídolos dos brasileiros na faixa de 15 a 20 anos estão lá fora. O jogador permanece uma ou duas temporadas no clube e sai, não cria uma identificação. Nos anos 1980, os principais jogadores do país saíam após os 25 anos, isso quando saíam. Zico deixou o Flamengo após 13 temporadas; Enéas jogou quase 10 anos na Portuguesa; Careca foi para o Napoli depois de nove temporadas no Brasil; Sócrates já tinha 30 anos quando foi para a Fiorentina. Além do mais, muitos garotos nascidos aqui têm como ídolos os craques de fora porque no Brasil não há este apelo, porque Neymar é o único craque de uma geração inteira que jogou mais de três anos no Brasil, sem contar que, dos maiores jogadores do mundo, apenas um é brasileiro. Isso faz com que vejamos meninos que têm, como ídolos, Cristiano Ronaldo e Messi.

Há quem torcia para o Santos quando Neymar estava lá e depois parou de torcer quando ele saiu porque não houve tempo de maturação, outro fator importante para formar a torcida, principalmente no caso dos times que não conquistam grandes títulos frequentemente. Até clubes estrangeiros que tinham muitos admiradores em terras tupiniquins podem observar a diminuição de suas camisas circulando pelas ruas. O Milan é o maior exemplo deles. Potência mundial quando os euros de Berlusconi recheavam seus elencos de craques, os rossoneri perderam espaço a partir do momento que a torneira secou e a equipe ficar quase uma década longe das grandes conquistas.


CORRIQUEIRO A camisa de Cristiano Ronaldo disputa a preferência
 dos jovens torcedores brasileiros (Arquivo pessoal)
Tenho quase 40 anos. Minha geração decorava as escalações, que eram mantidas por uma ou duas temporadas, e criava-se o vínculo com o ídolo. O baixo nível do futebol praticado por aqui também não favorece a formação de uma nova torcida nos mesmos moldes de como era, ainda mais com facilidade para acompanhar o futebol do exterior, que aumentou demais nos últimos anos com a velocidade da internet e a alta exposição nos canais de TV fechados. Quando garoto, acompanhava o futebol do Velho Mundo pela Revista Placar ou quando algum campeonato era transmitido na TV Bandeirantes, como era o fantástico Campeonato Italiano nos anos 1980, ou a Bundesliga na Cultura, isso já nos anos 1990, mas eram ações isoladas. Campeonatos como o inglês, que engatinhava como liga e era terrivelmente ruim, e o espanhol nem sonhavam em ser transmitidos no Brasil.

Hoje é tão fácil assistir a um jogo do Barcelona quanto a um do Corinthians. A única diferença é que fisicamente o novo torcedor não está no estádio, mas qual é o problema nisso? Ele aprendeu a torcer de um jeito diferente, com internet, pelas redes sociais, em que o gramado concorre pela sua atenção com a tela do celular.

Proporcionalmente, ainda é pequeno o número de adeptos que preferem levar um emblema estrangeiro no peito, mas é uma tendência a ser vista com cuidado, pois daqui a 20 anos pode ser que o menino que escolha torcer pelo time do pai, que é o mais bonito dos mundos, será filho de um torcedor de um Manchester City.

terça-feira, 16 de maio de 2017

A tradição voltou e o Naça está na Série A2 depois de 10 anos

Por Alessandro Yara Rossi* 


Em 2014 este que vos escreve presenciou o acesso do tradicional Nacional Atlético Clube para a Série A3 do Paulistão. Isso mesmo, o time se encontrava no fundo do poço e foi diante do Olímpia no Teresa Breda com um empate por 1 a 1. No domingo de Dia das Mães sofri demais e a recompensa foi a melhor possível: vitória no tempo normal por 1 a 0 e 4 a 2 na dramática disputa por pênaltis.

A saída para a distante Olímpia aconteceu às 3h de sábado pra domingo ao lado de mais três corajosos (leia-se Bruno Morelli, Murilo Sarro e Claudio Nascimento, este último presidente da Almanac) em um carro alugado.

Depois de percorrer tantos quilômetros e controlar a ansiedade, chegamos ao local da decisão e a missão não era fácil, porque o Naça tinha perdido na ida, em pleno Nicolau Alayon, pelo placar de 2 a 1 e agora era preciso vencer por um gol de diferença ao menos para forçar os pênaltis.

Faltando meia hora pra começar a peleja já estávamos no lugar da torcida visitante, amarrando as faixas da Almanac e o que mais houvesse para incentivar os jogadores em busca de tal façanha.

O jogo teve início e a tensão era algo abissal, como reverter a desvantagem e sair com a vaga contra o time de melhor campanha do certame. A pressão foi normal ainda mais com o incentivo de mais de 5 mil torcedores e, mesmo assim, o Naça segurava e se segurava.


Eu não conseguia puxar um cântico ou algo do tipo de tão nervoso, apenas assistia a um jogo típico de A3: muita briga no meio de campo e força de vontade de cada atleta.

Pensei que precisava achar um gol de qualquer maneira no primeiro tempo para deixar o Olímpia nervoso e, no último lance, Ricardinho cruzou rasteiro, Eder Loko furou, Laécio dominou, virou como um bom pivô e chutou rasteiro! Fui ao delírio, sem acreditar que o Naça marcou e empatava a semifinal!

No ato que poderia final, o Galo Azul queria fazer logo o tento de empate para confirmar a classificação, mas a trave maravilhosa do Teresa Breda impediu duas vezes, fora as defesas do monstro Felipe, que salvou novamente em momentos cruciais.

O Naça teve duas chances para fazer 2 a 0 e liquidar a fatura, mas parou no bom goleiro Igor que cresceu na frente de Laécio e no artilheiro Leo Castro.

A tensão continuava na arquibancada, agora de ambos os lados, e quando o juiz assoprou para o término do jogo, não acreditei que a vaga para a A2 seria decidida nos pênaltis. Tudo menos isso, a Almanac sofreu demais ao longo do campeonato e agora mais essa? Pelo jeito era outro teste para o coração.

A decisão seria bem na minha frente e apenas fiquei sozinho sem ninguém ao meu lado, como se o mundo parasse naquele momento. Logo na primeira cobrança, o experiente Luiz Henrique desperdiçou. Isto foi o suficiente para já bater o pessimismo de falar um palavrão e emendar o famoso ‘já era’.

No entanto, o Olímpia também desperdiçou e agora é só o Naça não errar mais e depender de mais um erro deles.

Dito e feito: na segunda cobrança, o Naça converteu e o Olímpia errou! Isto foi o suficiente até chegar nos pés de Leo Castro, que deslocou Igor e foi para a torcida! Mais um acesso conquistado na terra do famoso Thermas dos Laranjais e o Nacional vai estar na A2 de 2018 ao lado de Portuguesa e Juventus!


Eu frequento estádios há mais de 20 anos e pela segunda vez na minha vida chorei e fiquei emocionado depois de um jogo!


Muito obrigado por tudo, Nacional Atlético Clube! Este dia, 14 de maio de 2017, jamais esquecerei e contarei enquanto estiver vivo!

*Alessandro Yara Rossi é jornalista, corneteiro e fã de esportes alternativos. E este texto mostra que, acima de tudo, é um forte!

Ah, se fosse outro técnico

Por Alessandro Yara Rossi*

NOVO FIASCO O Tricolor foi eliminado em casa pelo fraco Defensa y Justicia (Nelson Almeida/AFP)
O São Paulo parece que está levando ao pé da letra o trecho do seu hino, que diz: “As suas glórias vem do passado”, porque ultimamente o que acontece no Tricolor Paulista é uma sucessão de vexames, como o da noite do último dia 11 pela Copa Sul-Americana, na eliminação em casa para o modestíssimo Defensa y Justicia, que nunca tinha jogado fora da Argentina.

Rogério Ceni só não foi demitido ainda porque tem um senhor nome e muita moral entre a torcida, mas se fosse outro técnico, 100% de certeza que já teria pego o boné e um abraço.

Desde que virou treinador do São Paulo, o ex-goleiro-artilheiro ainda não conseguiu sequer consolidar um padrão tático; o sistema defensivo é um desastre e o time fica todo espaçado no campo, sem nenhuma aproximação. Parece que os treinos táticos com os auxiliares europeus não estão surtindo o efeito esperado.

As goleadas impostas no Campeonato Paulista contra equipes fracas foram ilusórias ao torcedor, que se empolgou um pouco e achou que tudo seria diferente dos anos anteriores. Porém, as fracas atuações continuam, os resultados desapareceram e as três eliminações seguidas no primeiro semestre tendem a deixar qualquer um preocupado.

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A máquina de triturar treinadores

Ceni falou na entrevista coletiva concedida depois do empate por 1 a 1 contra os argentinos que a desclassificação em um torneio de nível técnico fraco, mas com uma grande possibilidade de título e vaga na Libertadores do ano que vem não foi um vexame. Ora, então o que precisa ser feito de pior para ser um?

Está na hora de ele ajustar o time, que antes jogava no 3-4-3, mas que logo largou mão para ficar no 4-3-3 todo esparramado, sem uma jogada e isolando o seu centroavante. As substituições não mudaram em nada o panorama e mostraram certo desespero, como colocar dois atacantes enfiados e sem cruzar uma bola sequer na área.


O Brasileirão começou com derrota para o algoz da vez na Copa do Brasil, o Cruzeiro. Mesmo tendo um retrospecto favorável contra a parte azul de Minas Gerais, a derrota em si por 1 a 0 não foi nenhuma surpresa, mas serve para reforçar o sinal amarelo que já está ligado. Será a única competição que o São Paulo vai jogar no segundo semestre, enquanto os seus principais adversários estarão preocupados com pelo menos mais um torneio. Esta é a hora de o Tricolor fazer alguns pontos e não se complicar para não chegar a uma vergonha ainda maior, a consumação de um flerte que foi perigosamente feito em temporadas recentes.

Rogério tem todo o respaldo, carta branca e idolatria que o mantêm firme e forte no comando técnico, mas um Brasileirão também ruim deixará a situação bem complicada, pois o momento é refletir e admitir que o time precise melhorar muito se pretende brigar na parte de cima da tabela.


Depois de tanto tempo, o torcedor são-paulino sente que a perspectiva não é nada boa e a época de ficar sem uma taça perdurará.

*Alessandro Yara Rossi é jornalista corneteiro e fã de esportes alternativos

segunda-feira, 8 de maio de 2017

A máquina de triturar treinadores

Por Alessandro Yara Rossi*


JOGO PARA A TORCIDA A ultima vítima da inconstante
 diretoria alviverde (GazetaPress)
Sei que vários textões já foram feitos sobre a demissão de Eduardo Baptista do Palmeiras, mesmo com apenas 20 jogos e com um aproveitamento próximo de 70%, mas vou falar na visão de um torcedor sensato (sim, é possível) o que achei disto tudo.

Novamente, a diretoria do Palmeiras erra feio no planejamento para uma temporada ainda promissora em termos de títulos, mas que ficou refém na tentativa de frustrada de convencer Cuca a renovar o contrato e deixar de lado a sua família.

Cuca, além de ser um profissional ímpar, é também humano e não abdicou de sua querida família. Isso foi um soco na cara do diretor Alexandre Mattos e do sucessor na presidência.

Depois que Mauricio Galliote foi eleito para suceder Paulo Nobre, o objetivo era escolher o substituto do campeão brasileiro e a demora em definir O Nome ideal fez com que Eduardo Baptista, estudioso, mas sem nenhuma grife, fosse contratado para comandar o time em 2017, tendo a Libertadores como obsessão.

O investimento capitaneado pela "cheque em branco" do Palmeiras, a tia Leila da Crefisa, foi algo abissal em termos de Brasil. Desde os tempos em que dinheiro da Parmalat jorrava feito leite em teta de vaca gorda, o Verdão não tinha um elenco tão caro.

Logo na apresentação, o filho do Nelsinho Baptista mostrou que mudaria o esquema de jogo, adotando o que deu muito certo na Ponte Preta. No entanto, este choque de filosofia não foi bem aceito por parte do elenco alviverde, que se acostumou com o estilo contundente e de jogadas em velocidade.

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A ampulheta de Cristiano

Eduardo gosta de ficar mais com a bola e não se expõe tanto ao adversário, mas, para isso, é preciso treinar muito e, claro, que todos os jogadores entendam a ideia para colocá-la prática. Porém, nas primeiras partidas, a impressão era que o time regrediu. Parecia um bando, um amontoado de jogadores de verde em campo.

A torcida que canta e corneta logo clamou por Cuca já no segundo jogo do Paulistão, contra o São Bernardo. Realmente, a vida de Eduardo não seria nada fácil e se não evoluísse logo, seu descarte aconteceria mais cedo ou tarde.

O time não conseguia estabelecer um padrão tático, mostrando pouca criação de jogadas, tão previsível quanto as substituições feitas. A diretoria já estava monitorando Cuca, que ainda cuidava da família, que a qualquer momento seria chamado para novamente fazer o Palmeiras ser consistente dentro de campo e, claro, agradar a exigente e mal acostumada torcida.

A vitória de virada contra o Peñarol pela Libertadores e a entrevista cheia de raiva disparada contra a imprensa (tendo Juca Kfouri como alvo principal) fizeram com que o treinador ganhasse uma sobrevida, mas a eliminação do jeito que foi para a Ponte Preta no Paulista mostrava que os dias dele estavam perto do fim. A gota d'água foi a derrota para o medonho Jorge Wilstermann na Bolívia.

A perdida diretoria do Palmeiras precisou de 20 jogos para finalmente achar que Eduardo Baptista não era O Nome para comandar um time tão badalado pela imprensa. Planejamento? Nenhum. Competência? Menos ainda, o que é normal em se tratando de Palmeiras.

Para tapar o sol com a peneira e acalmar a torcida, Alexandre Mattos foi pedir de joelhos - e com a grana da Crefisa na mão - para Cuca aceitar voltar ao Palmeiras depois de cinco meses. Aí sim a resposta foi positiva.


O novo contrato vai até fim de 2018 e parece que todo mundo já se esqueceu da frustrada passagem de Eduardo Baptista à frente do Palmeiras. Mesmo porque, diferentemente de Gareca, Marcelo Oliveira e Baptista, Cuca parece estar imune à máquina verde de triturar treinadores. 

SÓ ELE? Cuca volta com status de único possível para
 comandar o Palmeiras (Cesar Creco/Agência Palmeiras)
*Alessandro Yara Rossi é jornalista, corneteiro e fã de esportes alternativos

terça-feira, 2 de maio de 2017

A ampulheta de Cristiano

Há uma espécie de ampulheta imaginária que é virada todos os anos. Ela marca o início do declínio de um dos jogadores mais absurdos, possivelmente o maior atleta do futebol, de todos os tempos. 

Sim, falo de Cristiano Ronaldo.

Após a temporada praticamente perfeita de 2016, quando venceu os dois troféus mais importantes do ano (a Liga dos Campeões pelo Real Madrid e a Eurocopa por Portugal), houve um declínio natural que, normalmente, sucede o ápice.

Este fato, combinado com a virada sobrenatural do Barcelona sobre o pouco respeitável time do PSG, na qual Neymar só não fez chover nos últimos oito minutos, fez os donos da ampulheta, mais uma vez, vaticinarem: é o começo do fim! Mais que isso, finalmente, chegou a vez de Neymar!

Mesmo que tenha sido por um jogo. Ok, um grande jogo, mas ainda assim um jogo, e contra um adversário de grandeza questionável. Estávamos apenas em fevereiro, mas já tínhamos o melhor do ano. Deve ser outra a ampulheta neste caso. 




E daí que Cristiano, com o passar do tempo, começa a mudar o posicionamento em campo? "Mas ele fez pouco mais de 30 gols na temporada".

Realmente, para os padrões de Ronaldo, 30 gols em uma temporada é pouco. Ele é o primeiro - e único, por ora - a romper os 50 gols em seis temporadas consecutivas. 

O prêmio de melhor do mundo tem suas peculiaridades, e desde que surgiram Cristiano e Messi pode ser resumido a Melhor da Dupla, e por mais que a pachecada de plantão esperneie, não haverá espaço para Neymar tão cedo, mesmo porque a Liga dos Campeões tem um peso absurdo (principalmente o mata-mata) e quem chega mais longe entre os dois coloca uma mão e meia na honraria. Para azar do craque brasileiro, se pensarmos na possibilidade de ser eleito, Messi está no seu time e Neymar precisará fazer chover para superar o argentino, o que, honestamente, não vejo ser possível simplesmente porque ele é muito melhor.

Nem deveríamos discutir isso.

Mas discutimos. E a ampulheta que contém a areia lusitana já estava mais cheia da metade para baixo. Neymar despachou o PSG e Cristiano se limitou a dar passes para gol contra o Napoli. Messi, por sua vez, que tinha feito 11 gols na fase de grupos da Liga dos Campeões, passou em branco nas oitavas e nas quartas, mas acabou com El Clasico e voltou a ser o melhor de todos os 
tempos. 

OITO MINUTOS Neymar foi o melhor do mundo
no fim do jogo com o PSG (Getty Images)
Há uma ampulheta relativamente mais apertada para o gênio argentino. De quebra, chegou a 500 gols só com a camisa blaugrana em uma partida que Neymar não jogou por estar suspenso de forma estúpida. Mesmo assim, os oito minutos de fantasia pura ainda lhe mantinham no topo de melhor-do-mundo-de-2017-ainda-estando-em-abril. 

Nos jogos contra a Juventus, Neymar e Messi não jogaram absolutamente nada, mas mantiveram-se intactos. O mesmo tratamento não teve o português pelo desempenho pífio no jogo com o Barcelona, mesmo que este valha menos, embora seja um dos maiores clássicos do mundo. A areia do portuga quase não era vista na parte de cima.

Mas da mesma forma que os 500 gols de Messi pesaram, Cristiano passar de 100 em competições europeias, depois chegar - e passar - a 100 só pela Liga dos Campeões e desandar a fazer gols decisivos (cinco dos seis contra o Bayern nas quartas de final e os três do primeiro jogo das semifinais contra o Atleti) também devolveram ao português o status de semideus (como se isso tivesse sido construído em apenas um jogo ou em uma temporada).

IMPARÁVEL Três gols e atuação de gala na
Liga dos Campeões (Getty Images)
Frases prontas como "o pior momento desde que chegou ao topo", "declínio físico aos 30 e poucos anos chegou" ou "só faz gol de pênalti" (mesmo sendo só 11, dos 103 na Champions, dessa forma) voltam para a gaveta, ou ao menos até a final da competição, quando sua ampulheta poderá ser zerada outra vez e estará acabado ou no topo do mundo.

Como em todos os anos.