sábado, 16 de dezembro de 2017

O que sobrou de nós

MAIS UM Cristiano Ronaldo iguala Pelé como maior artilheiro
 do Mundial de Clubes ((Mike Hewitt - FIFA/Getty Images)

O pior Real Madrid possível pôs o Grêmio no bolso, dominou os gaúchos como quis. Jogou pro gasto. Ganhou como quis, mesmo parecendo, às vezes, que não queria. O Tricolor Gaúcho, pela terceira vez campeão sul-americano, se contentou em tentar uma bola, literalmente. Tivesse um balde d'água no lugar de Navas, o placar seria o mesmo.

É isso o que sobrou para os times da América do Sul no confronto com os europeus: tentar não passar vergonha, isso quando chegam à decisão. A disparidade é imensa, e não só em se tratando de talentos em campo. É na filosofia de jogo, na estrutura, na organização.

O Real Madrid, quando avançava, o fazia como faca na manteiga e só parava na monstruosa atuação de Geromel ou em Marcelo Grohe. Já o Grêmio parecia uma faca de rocambole cortanto um pão italiano a cada vez que tentava trocar três passes nos campo de defesa madridista.

Para definir de forma grosseira a diferença entre tricolores e merengues, basta imaginar que os de Madrid poderiam errar por atacado e, ainda assim, teriam enormes chances de ficarem com a sexta taça mundial. Aos comandados de Renato Portaluppi, porém, um erro poderia ser fatal.

E foi.

Falar que o problema não é perder, mas perder sem chutar uma bola ao gol, é ser simplista demais. Chegar à decisão com essa perspectiva é de doer. E está ficando normal enaltecer a raça, a entregar, o cair de pé, quando isso é o mínimo, não é mais que obrigação. Nos contentamos em jogar pela tal única bola e ganhar - ou perder - na raça, único parâmetro independente e qualidade técnica ou filosofia de trabalho.

Ano após ano, assistimos a um campeonato nacional de baixíssima qualidade e, por conseguinte, os parâmetros caem. Aí entram oito porcarias na farra de vagas da Libertadores e vestimos, brasileiramente, a capa de favoritos. Aí apanhamos e ficamos com cara de idiotas, tentando achar explicações onde elas não estão. É fácil: somos muito fracos.

Mas sabe o que incomoda? De verdade? É o otimismo de que, no fim, tudo vai dar certo. O Cássio vai pegar tudo; o Aloísio vai deixar o Mineiro na cara do gol; o Gabirú vai derrubar o Barcelona. Como se isso fosse regra, não exceção. Vivemos do herói cada vez mais improvável, quando o improvável mesmo é, cada vez mais, deixar de ser zebra. Inclusive jogando contra a pior versão do atual campeão do mundo, com seu melhor jogador em uma jornada apagada.

É o que sobrou de nós.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Cadê o cartão, juiz?

Torcedor do tricolor carioca comemora vitória
 no tapetão (Foto: Marcos de Paula/AE)
-Filho da puta!

Foi esse o grito que mais se ouviu quando o sibilar do apito combinou com a mão do árbitro apontando para a marca da cal. Pênalti claro, indiscutível.

– Mas ele se jogou!

O desespero era total, quase como a indignação contra quem teve a petulância de marcar a penalidade máxima contra os donos da casa no clássico. Total porque a violência triunfara e apenas a torcida do mandante pode entrar no estádio.

Seguiu-se um silêncio ensurdecedor, quebrado somente pelo grito solitário de quem converteu a infração em gol.

– Goleiro de merda! Esse bosta nunca acerta o canto!
– É só esperar, pular na bola e defender, caceta!
– Vendido! Frangueiro safado!

Especialistas se espalham nas cadeiras numeradas. Detratores também.

O ruído da intolerância ecoa nas mídias sociais, nas páginas daquele que detesta porque o alvo da sua ira ou joga no rival ou não defende as cores de sua equipe com o ânimo que deveria ter, segundo o tribunal das torcidas. E também no perfil de jornalistas-torcedores, representantes do próprio time, essa praga contemporânea, na crônica especializada.

Mas uma das regras que não constam nas 17 que regem o futebol é a da compensação, ainda mais se for a favor do mandante (alguns chamam de bom senso) e outro pênalti, nem tão claro assim, não tardou.

– Aê, caralhoooooooo! Cadê o cartão, juiz? Pênalti é cartão, tá na regra!

É óbvio que não está na regra, mas quem se importa?

Desta vez, o estardalhaço é geral e o gol, registrado por milhares de smartphones,que eternizam em bits o que antes era propriedade da retina, antecede o grito da torcida que percorre o gigante de concreto, vergalhão e tecnologia hightec.

A diferença entre o esfregar satisfeito das mãos e a ira incontrolável está somente no lado para onde aponta a mão do árbitro.

Ao fim da partida, o torcedor, que pagou caro pelo ingresso e foi achacado pelo flanelinha, vai embora feliz com o resultado, ávido por ouvir ou ler os jornalistas que bradam defendendo seu clube, tendo razão ou não. O que ele quer é um endosso, é um porta-voz do seu fanatismo, que tenta justificar como amor. Quem não servir-lhe de caixa de ressonância é parcial, jornalista-de-merda, torcedor do rival.

– Esse desgraçado é um vendido! Por isso que o jornalismo tá esse lixo! Enrustido de merda!

As canchas também formam especialistas em comunicação social.


Depois disso, estará pronto para encarar a semana, quando, com alguma sorte, receberá um troco a mais. E vibrará com isso como num pênalti inexistente a favor.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Silêncio e vingança. CBF veta amistosos da Chape na Europa

CBF NÃO DEIXA Clube teve que dizer não ao convite benfiquista
  para participar da festa de abertura da temporada
Em menos de uma semana, a Chapecoense recebeu duas facadas da CBF. O clube, que já havia declinado ao convite do Benfica para participar da Eusébio Cup, terá que abir mão também da disputa do Troféu Joan Gamper, do Barcelona.

A razão alegada pela entidade para impedir que a equipe se mostre no exterior e faça parte das tradicionais partidas em que os gigantes europeus apresentam seus times para a temporada é o calendário, já que há jogos pela Série A do Brasileirão e pela Sul-Americana, competições as quais a equipe catarinense disputa. Os jogos amistosos estavam marcados para os dias 22 de julho, no Estádio da Luz, e 7 ou 8 de agosto, no Camp Nou, com a Chape podendo escolher um dos dois dias.


Pura conversa fiada!

Vamos agora aos compromissos do Verdão do Oeste que gerariam conflitos de datas: no dia 23 de julho, o time catarinense visitará o Vitória, em Salvador; já no dia 6 de agosto, o jogo é com o Coritiba, também na condição de visitante. A solução seria alterar as datas destas partidas, que, é importante frisar, compõem rodadas que ainda não foram desmembradas. Ou seja, faltou boa vontade por parte da cada vez mais antipática CBF, pois datas mesmo é que não faltam. Pela Sul-Americana, há o jogo da volta contra o Defensa y Justicia, aquele timeco que eliminou o São Paulo, dia 25 de julho, dois - preste atenção: DOIS  dias depois do jogo com o Vitória, que deve ser antecipado para a véspera.

Se não, vejamos: há uma semana entre as rodadas 11 e 12. A Chape enfrenta o Fluminense fora no dia 3 de julho e só volta a campo no dia 9, contra o Atlético paranaense. Entre estes jogos, poderia ser encaixada sem problema nenhum a partida contra o rubro-negro baiano, uma vez que nenhuma das equipes têm compromisso agendado entre estes dias.

O jogo com o Coxa, no encerramento do primeiro turno, poderia tranquilamente ser antecipado para o sábado, dia 5, já que a rodada seguinte acontece somente uma semana depois e tanto a Chape quanto o Coritiba jogam na quarta, pela rodada de número 18. Daria para jogar pelo Brasileirão, viajar para a Espanha (com todas as despesas pagas, além de uma prometida ajuda financeira por parte da equipe catalã), participar da festa blaugrana como convidada de honra e voltar a tempo da retomada do campeonato nacional. Neste caso, a CBF nem pode alegar que jogar na quarta e no sábado pode ser prejudicial às equipes, pois esta condição deverá ocorrer para que entre o jogo com o Vitória e com o Defensa y Justicia haja um intervalo de três dias (que seria o mesmo, caso ela remanejasse a partida contra os paranaenses).

Engana-se quem pensa que isso já não precisou ser feito. Quando, em 2013, o São Paulo solicitou que seus jogos fossem alterados para participar de torneios amistosos no exterior (inclusive a Eusébio Cup), a CBF não pensou duas vezes em viabilizar a viagem tricolor, quando, exceto pelo jogo contra o Benfica, só passou vergonha. Foram três as partidas, entre as rodadas 10 e 12: contra o Náutico, do dia 1º de agosto, foi adiado para 3 de setembro; em vez de enfrentar o Bahia no dia 4 de agosto, o fez bem antes, em 10 de julho, a exemplo do que acontecera contra o Internacional, antecipado do dia 12 de agosto para 24 do mês anterior.

Mais coincidências que não teriam sido percebidas caso a CBF quisesse: o jogo com o Internacional aconteceu quando houve um hiato de uma semana entre a oitava e a nona rodadas; o mesmo foi observado entre as rodadas 6 e 7, que foi quando o time do Morumbi pegou o Bahia. Para acomodar o jogo com o Náutico, o Tricolor fez três jogos em cinco dias, em 1, 3 e 5 de setembro. Mas aí a tabela não atrapalhou. Talvez por se tratar do São Paulo. Como também fez com o Santos, que teve as datas de duas partidas modificadas para que pudesse apanhar de 8 do Barcelona no mesmo ano.

Em menos de 15 minutos eu arrumei as datas possíveis para viabilizar a participação da equipe. Bastou cruzar datas e tabelas das duas competições com os amistosos, coisa que a CBF sequer cogitou em fazer, pois não há interesse em facilitar a vida da equipe, para quem já não havia movido uma caneta sequer para ajudar na questão da escalação irregular do zagueiro Luiz Otávio, que acabou eliminando o time da Libertadores da América. Vale recordar que Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol e que desapareceu no mesmo acidente aéreo que vitimou a Chape, era desafeto político de Marco Polo Del Nero (que apesar do nome não pode viajar para fora do país), e que só não foi conduzido ao cargo de presidente da CBF quando Del Nero se afastou, no auge das denúncias de corrupção na entidade, porque houve a mutreta que possibilitou que o obscuro e conveniente Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, presidente da Federação Paraense de Futebol, fosse eleito vice-presidente da região Sudeste. Sendo mais velho que Peixoto, Nunes assumiu o cargo durante a vacância deixada pelo capo di tutti capi Del Nero.

Com a inexplicável recusa em mudar as datas dos jogos com a Chapecoense, a CBF deixa claras duas coisas: não está nem aí para o notável trabalho de reconstrução da equipe catarinense, e não me venham apontar o amistoso que o Brasil disputou com a Colômbia; e, principalmente, que trata-se de uma entidade extremamente vingativa.

O fato é que a solidariedade demostrada no lamentável acidente aéreo que vitimou o clube teve prazo de validade, para não dizer que, em muitos casos, foi oportunismo. Os clubes que, no ápice da comoção, ofereceram ajuda, agora se calam. Colocaram distintivo em site, em perfil oficial ou na própria camisa, inseriram trechos do hino no uniforme. Tudo muito bonito, mas é como abraçar árvore e não serviu para porcaria nenhuma. Todos eles, sem exceção, merecem cada esculhambação que parte desde a Barra da Tijuca. 7 a 1, amigos, realmente foi pouco, bem pouco.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

O mundo é um moinho, Portuguesa

SOLIDÃO Pequeno torcedor durante o jogo em que a Lusa foi derrotada
 no Canindé por 5 a 0 pelo Botafogo (Fábio Soares/Futebol de Campo)
Domingo, 4 de junho de 2017. Neste dia, a Portuguesa perdeu para o Villa Nova por 2 a 1 e chegou à última posição de seu grupo na Série D do Campeonato Brasileiro. Bobagem falar que é o pior momento da quase centenária história do clube. Também é besteira apelar para o passado glorioso, de jogadores disputando Copas do Mundo, das goleadas contra rivais, dos craques como Enéas e Dener. Bobagem. Isso pode ser visto a partir de qualquer busca no Google.

O que deveria ser visto, e é simples, é o espiral para baixo em que se meteu o clube do Canindé. Nem preciso falar da escalação de Héverton. Foi o clímax de uma morte anunciada, uma crônica de uma doença crônica chamada, como dizem os antigos, de desmazelo. À época, eu era o assessor de imprensa do clube (permaneci até agosto de 2015) e quando o Coritiba tentou fazer com que pontos fossem tirados por uma suspeita de haver mais jogadores emprestados do que permitia o regulamento, alertei: é só o começo. Vão procurar até encontrar.

E encontraram.

Quem não se encontra desde então é a própria Portuguesa. A briga contra a CBF, na qual não passava de um Exército de Brancaleone. A trágica retirada do time de campo na estreia da Série B, quando dominava completamente o Joinville em Santa Catarina, foi a pá de cal na sepultura, de onde uma mão rubro-verde buscava força para sair, após um Paulistão heroico, em que não cair foi um título e tanto.


Quando o técnico Argel recebeu a ordem para chamar seus comandados de volta ao vestiário, de onde não mais sairia, foi decretada a paixão lusitana. Era a Sexta-Feira Santa de 2014, mas não houve ressurreição. Houve, sim, um lento e agoniante velório de 38 rodadas e de corpo presente, um féretro do qual o cadáver insepulto resolveu se levantar e, desde então, vaga sem rumo, como os mortos na Antares de Érico Veríssimo.

A sequência foi aterrorizante: rebaixamentos, cassino clandestino estourado dentro do clube (e com a presença do presidente), penhora de rendas, processos na justiça, o mesmo presidente garantindo ter a informação de quem pagou para que o jogador fosse escalado e depois indo pedir desculpas sob a alegação de ter tomado um vinho forte. Falta de pagamento de parcelas de acordos trabalhistas, dívidas em forma de bola de neve, greve de jogadores, de funcionários. Perda da dignidade humana. Deterioração.

VINHO MUITO FORTE Ao lado de Peter Siemsen, Ilídio Lico foi
 pedir desculpas por acusações feitas sobre o Caso Heverton (ESPN)
Quatro ou cinco técnicos durante o mesmo campeonato. 60 e poucos jogadores contratados em menos de 12 meses. Vi três treinadores sendo acertados no mesmo dia: um pelo diretor de futebol, outro pelo vice e outro pelo presidente (ficou o que se desligou do clube onde estava para acertar com a Lusa). E vi Rei do Acesso. E o milagreiro da Ilha do Retiro. Hipnólogo. Imagem de Nossa Senhora de Fátima jogada no lixo. Vi atletas disputando para ver quem levaria o pão com frios que sobrou na bandeja para casa. Ganhou o que disse que tinha filhos para alimentar. Vi renúncia atrás de renúncia, presidente-jornalista que criticou no ar o time que ele mesmo havia montado. “Competitivo”. Este era o mantra da gestão em um certame no qual o time quase foi despromovido ao terceiro escalão do futebol estadual, com direito à derrota em casa para o Botafogo por 5 a 0. Consultor famoso a custo zero, mas que não era consultado para nada. Falácia. Mixórdia. Morte lenta de dolorosa.

E vi gente abnegada, tentando erguer, ou salvar, o que restou do clube. A eles, alguns até amigos, meu respeito.

Não se enganem; faça o que fizer, a Portuguesa só começará a sair do limbo em que se encontra no dia em que exorcizar seu maior fantasma. No dia em que terminar de uma vez por todas o ano de 2013. Até lá, empresa nenhuma quererá ligar sua marca à imagem de um clube destruído de fora para dentro, frágil como uma construção haitiana ante o terremoto que a destruirá.

Só depois disso é que será possível retomar alguma coisa. Até lá, virar Juventus terá sido lucro. Até lá, o samba do mestre Cartola cairá como uma luva para o fado lusitano: “Em cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares, estás à beira do abismo. Abismo que cavaste com seus pés”.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Prenda-me se for capaz


No território autônomo da FIFA, esse país situado em Zurique, algumas moedas sustentam poder e a longevidade: venda de ingressos, de pacotes de hospitalidade (aqueles pacotes com diária de hotéis, translado até os estádios e ingressos, que eram na teoria proibidos de serem vendidos juntos) direitos de TV, organização de campeonatos de diversas categorias (o que dá acesso irrestrito aos cofres públicos dos países que têm a “felicidade” de gastar aos borbotões, mesmo não tendo dinheiro nem para saneamento básico) e uso das marcas registradas pela entidade.

Pelos direitos de comercialização da transmissão, segundo os livros do jornalista escocês Andrew Jennings (o único jornalista do mundo banido dos eventos que a FIFA organiza), a dupla Havelange e Teixeira fez fortuna através de propina. Foi o propinoduto que dava nas contas de sogro e genro que, ainda segundo o britânico da BBC, levou a ISL, parceira da FIFA, à bancarrota. Propina, aliás, que entrava como comissão e não era proibida pelas bondosas leis suíças. Não por acaso, FIFA e COI têm sede naquele país.


Nem a pulada de cerca de Teixeira, que resultou no fim do casamento com a filha de Havelange e que pode ser lida logo no primeiro capítulo do livro O Lado Sujo do Futebol, de Amaury Ribeiro Jr, Leandro Cipolini, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, foi capaz de estremecer a parceria dos dois. O conteúdo do primeiro capítulo está disponível no blog do Juca Kfouri.

Outra fonte de renda, esta mais democrática, já que está ao alcance de todos os membros votantes do Comitê Executivo, é a venda do voto na eleição do país-sede. A candidatura inglesa para 2018 naufragou graças à reportagem feita por Jennings para o programa Panorama BBC, que pegou no pulo alguns “vendedores de convicção” que negociavam seus votos com jornalistas que se passaram por intermediários. Eles foram severamente punidos, não pelo ato em si, e sim por terem sido descobertos.

Por muito tempo, alguns membros, sobretudo de países como Camarões e Nigéria, foram parceiros de delito dos posseiros de Zurique, nomeadamente Havelange e Blatter. Quando quiseram, em vez das rebarbas, o filé mignon, foram expulsos do clube, sob alegação de corrupção. Viraram bode-expiatório e exemplos do que aconteceria com que se atrevesse a querer um quinhão maior das benesses da bola.

Jack Warner era o operador do esquema de desvio dos pacotes de hospitalidade da Copa do Mundo e demais eventos promovidos pela FIFA. Diversas vezes ele foi “punido” por causa da prática, com suspensões e afastamentos. Foi graças aos esquemas encabeçados por Jack que a Coréia do Sul chegou às semifinais da Copa de 2002, pois era necessário vender os ingressos encalhados. Portugal, Itália e Espanha caíram no apito e os coreanos só pararam nas semifinais. O português Luís Aguilar conta com detalhes no livro Jogada Ilegal.

Warner estendeu seus tentáculos até sobre a política de seu país, Trinidad e Tobago, onde foi deputado entre 2007 e 2013, quando renunciou. Também era ele o responsável por cooptar e aglutinar os votos da região nas eleições para a presidência da entidade máxima do futebol mundial ou para definir as sedes das competições, que é a ocasião em que o vil metal mais corre nos lados de Zurique.

Entre outras peripécias do dirigente, estava o desvio da verba destinada ao projeto Goal, que fomenta (ou fomentaria) o desenvolvimento do futebol em países pobres e/ou lugares sem tanta tradição no esporte. A Concacaf, convenhamos, encaixa-se nos dois casos. E o Centro de Treinamentos que seria construído nas Ilhas Cayman nunca saiu do papel.

Warner foi um dos dirigentes presos em um hotel na Suíça, em 2015, na véspera da eleição vencida por Joseph Blatter, e também foi acusado de ter abiscoitado doações para as vítimas do terremoto que devastou o Haiti em 2010. Um santo homem, portanto.

Para amenizar um pouco o tamanho da porrada, Warner prometeu colaborar com as investigações, naquele sistema tão familiar a nós, a delação premiada. Aí, amigo, não teve perdão e foi banido pela FIFA, “horrorizada” com os atos contínuos de corrupção e o desvio de conduta de Warner.

Charles Blazer, norte-americano ex-secretário geral da Concacaf quando esta era presidida por Warner, seu parceirão de tramoias, foi banido também após tornar-se o principal delator do esquema. O glutão Chuck foi preso pelo FBI e também caiu na malha fina da receita americana. Aí era escolher entre entregar os parceiros ou ir para a cadeia. Fácil, né?

Outro expurgado pelo íntegro e arauto da moralidade Comitê de Ética foi o catariano Mohammed Bin Hammam, que presidiu a Federação Asiática de Futebol e foi parceiro de longa data (e de longa ficha) da dupla Blatter/Havelange. Até que resolveu disputar a eleição à presidência da FIFA contra Blatter, em 2011. Com o cofre e a disposição cheios para agradar os delegados votantes, era uma ameaça real ao império de Blatter à frente do grande negócio futebol. Aí teve sua candidatura impugnada e foi expulso pela ética entidade.

O castelo de cartas dos antigos dirigentes da entidade caiu após a entrada do FBI na parada, mas, no Brasil de Havelange/Teixeira/Del Nero, nenhuma investigação conseguiu colocar as mãos em ninguém. E o principal motivo é a relação espúria que a CBF tem com muitos parlamentares brasileiros, que formam um grupo conhecido como Bancada da Bola. São deputados e senadores que, além de cargos nas federações estaduais, ainda tiveram parte de suas campanhas financiada com polpudas doações da entidade.

As torneiras da entidade costumam ser generosas nas campanhas eleitorais. Em 2002, R$ 1,180 milhão foram destinados a candidatos a deputado e a senador. Em 2004, para as eleições municipais, as doações atingira as cifras de R$ 280 mil. Quatro anos mais tarde, a confederação deu R$ 345 mil em contribuições para candidatos. A prática é antiga: em 1998, segundo o Estadão, R$ 5,1 milhões abasteceram os cofres de candidatos de diversos partidos.

Parceiros da entidade também o fazem, como o caso da AmBev, que injetou mais de R$ 200 mil na campanha de Candido Vacarezza, líder do governo na Câmara na época em que era discutida a Lei Geral da Copa. Vacarezza indicou para relator ninguém menos que Vicente Cândido, ex-sócio de Marco Polo Del Nero em um escritório de advocacia em São Paulo e vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, playground de Del Nero. No caso da holding de cervejarias, a Lei Geral da Copa era estratégica porque poderia permitir a comercialização de cerveja nos estádios durante a Copa do Mundo, possibilitando a venda de uma de suas marcas, que patrocinava a FIFA.

Um dos grandes parceiros de Teixeira é o ex-presidente do Barcelona e ex-homem forte da Nike no Brasil, Sandro Rosell, picareta de longa ficha e que recentemente foi engaiolado por suspeita de desvio e lavagem de dinheiro na Espanha envolvendo direitos de TV dos jogos da Seleção na época em que Teixeira, O Genro, era o todo-poderoso. Quando viu o cerco fechando, o ex-genro de Havelange tratou de vender suas casas nos Estados Unidos e voltou para o Brasil, de onde não sai nem carregado e tem fieis escudeiros no Congresso.

Assim, qualquer tentativa de moralização do futebol brasileiro morre ainda no berço.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Amor, profecia e festa. Nacional campeão!

Por Alessandro Yara Rossi*


O grande Nacional Atlético Clube sagrou-se campeão pela terceira vez na sua história quase centenária da Série A3 do Campeonato Paulista, ao vencer, em pleno Major Levy Sobrinho, a Inter de Limeira pelo placar de 2 a 0 e ratificar que realmente é um time que sabe muito bem jogar fora do Nicolau Alayon.

Os dois times já tinham garantido o tão sonhado acesso para a Série A2 do ano que vem, só que nada melhor do que com a taça em mãos. E como o Limeirão estava bonito ao receber 13 mil pessoas.


Desta vez, fui com 12 amigos torcedores da Almanac em uma van rumo à bela cidade de Limeira, onde fomos recebidos com festa pelos amigos da Leão Chopp. Um belo batuque foi feito, já que o Ministério Público proibiu a frente dentro do estádio. Afinal, é muito perigoso torcer pelo time que tanto gosta e fazer uma bela comemoração. Parabéns aos envolvidos, que sempre vão pelo lado mais fácil, em vez de combaterem com efetividade.

Deixando de lado este ponto, o jogo começou e o Naça apostou novamente em Laécio no comando de ataque e o artilheiro Leo Castro. Nos primeiros 20 minutos, porém, a Inter foi superior, dominando todas as ações de ataque e o Naça não acertava um passe.

Comentei na arquibacanda que estava adorando tudo aquilo e logo mais o Nacional acharia um gol para pressionar e desestabilizar o adversário.

Antes, Diego Caparroz, um amigo que estava ao meu lado, cravou: o gol do título seria feito por Negueba, que até então, não tinha balançado as redes em nenhuma partida da competição. Não acreditei, mas tudo bem, o importante era a vitória acima de tudo.

Depois de suportar a pressão do Leão, o Naça começou a se soltar mais em campo e conseguiu uma falta perigosa. Éder Loko cobrou com perigo e o goleiro Rafael espalmou pra escanteio. O próprio meia cruzou na área e novamente Laécio aos 28 minutos apareceu em um momento decisivo, para fazer de cabeça um belo gol.

Tudo que o Nacional precisava para chegar tranquilo ao intervalo e mudar a pressão para o lado do adversário.

Diferente de Olímpia, que vivi muita tensão a cada lance, este jogo fui bem mais sossegado e com muita confiança que o Naça faturaria o título, pois nas quartas fez 3 a 1 no Rio Branco em Americana e na semifinal eliminou o time de melhor campanha nos pênaltis.

Coração de torcedor é igual ao de mãe: não se engana.

Logo no começo da etapa final, o time da capital fez uma bela triangulação e após lançamento Negueba dominou, invadiu a área e chutou cruzado na saída do goleiro para confirmar a profecia do meu amigo: 2 a 0 Nacional e agora era só segurar a vantagem.

Após isso, voltamos à pressão da Inter de Limeira para chegar ao primeiro gol e tentar forçar ao menos os pênaltis, com muitos cruzamentos e jogadas rápidas pelo meio, mas a defesa do Naça estava firme e bem postada, sem dar espaço e fora o goleiro Felipe, que quando exigido foi bastante seguro.

O contra-ataque era todo nosso e algumas chances foram desperdiçadas, mas parecia que a Inter poderia ficar um tempão que não marcaria nenhum gol naquela noite. Se o jogo estivesse acontecendo ainda, haveria um zero no placar do Limeirão.

Nem mesmo os cinco minutos de acréscimo me tiraram a tranqüilidade, e logo vi os torcedores caindo em prantos pela conquista tão inesperada.

Com o apito final, a festa era nossa! Segundo título do Naça que presencio no campo e para coroar um primeiro semestre de muitas viagens, loucuras e amor por este esporte chamado futebol (terceira melhor invenção do homem).


Novamente muito obrigado, Nacional Atlético Clube, por esta alegria. Agora é descansar por um mês, já que em julho começa a caminhada na Copa Paulista, valendo uma vaga para a Série D do Brasileiro ou na Copa do Brasil!

*Alessandro Yara Rossi é jornalista, respira futebol e é fã de esportes alternativos. E tem orgulho de carregar o Naça no peito!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Por quem torcerá o brasileiro?


Uma das marcas mais fortes na cultura brasileira é a escolha do time para torcer. É razão de orgulho do pai passar o amor pelo time do coração para o filho. É quase um evento quando a previsão feita no nascimento se confirma e o pai passa a ter no herdeiro seu companheiro de arquibancada.

Existem diversas maneiras de se cativar o novo torcedor, sendo duas as principais: influência da família e sucesso da equipe no período em que o futuro torcedor está decidindo que emblema cobrirá seu peito, além de outras, que são subjetivas, como um determinado jogador no time, a beleza ou as cores da camisa, uma partida histórica ou uma virada épica.

No entanto, um fenômeno recente pode ser observado. Agora existe a concorrência com o futebol da Europa. Colaboram para aumentar a torcida deles aqui a chegada de craques “puxadores de torcida”, além de títulos, muitos títulos, e a exposição da marca.

Leia também:
A tradição voltou e o Naça está na Série A2 depois de 10 anos

Por pura incompetência e falta de visão da CBF, que mal e porcamente dá atenção à Seleção, o Campeonato Brasileiro não é consumido fora do país, também pela falta de qualidade da competição. Quando um campeonato é transmitido e tem uma boa resposta, equipes menores, menos midiáticas ou que poucas vezes levantam taças acabam angariando torcedores longe de suas fronteiras, como acontece com o Tottenham ou o Borussia Dortmund. Assim, e também pelo calendário sufocante que impede que grandes equipes excursionem no exterior, mercados deixam de ser explorados pelos clubes brasileiros, que nunca jogam em pontos estratégicos e com potencial absurdo de serem desbravados, como China e Japão, países onde a Seleção Brasileira ainda é idolatrada. Mauro Cezar Pereira tem um relato interessante sobre isso, que foi publicado em meados de 2013 no seu blog no site da ESPN.


O marketing esportivo brasileiro está na idade da pedra lascada e, quando muito, limita suas ações a lançamentos de camisas e tours pelos estádios, programas de sócios-torcedores ou alguma ação de cunho social bem esporádica. Nem se compara com o que é feito no Velho Continente, inclusive com excursões para expor a marca, que é ativada constantemente.

Em 2012, o Sportingintelligence.com divulgou uma pesquisa com os 10 maiores vendedores da camisas do planeta. Nenhum, obviamente, era brasileiro, apesar de nenhum dos quatro países apontados no levantamento ter mais habitantes que este país-tropical-abençoado-por-Deus. 

No começo de 2017, o Datafolha fez uma pesquisa e quase 1/4 dos entrevistados se declarou sem time. Daniel Bortoletto, colunista do Terra, escreveu em sua coluna sobre o assunto: "Tenho dois filhos em casa, com 10 e 8 anos. Semanalmente, eles se encontram com os amigos e as amigas do condomínio para o "Futesunday". E maioria esmagadora veste camisas de clubes europeus e não apenas dos gigantes midiáticos. Há espaço para PSG (FRA), Borussia Dortmund (ALE), Roma (ITA), Atlético de Madrid (ESP). Nem sequer a Alemanha, aquela do 7 a 1 sobre o Brasil, passa em branco". 

CORRIQUEIRO Camisas de times europeus disputam espaço
 com as das equipes nacionais (Daniel Bortoletto/Terra)
Os ídolos dos brasileiros na faixa de 15 a 20 anos estão lá fora. O jogador permanece uma ou duas temporadas no clube e sai, não cria uma identificação. Nos anos 1980, os principais jogadores do país saíam após os 25 anos, isso quando saíam. Zico deixou o Flamengo após 13 temporadas; Enéas jogou quase 10 anos na Portuguesa; Careca foi para o Napoli depois de nove temporadas no Brasil; Sócrates já tinha 30 anos quando foi para a Fiorentina. Além do mais, muitos garotos nascidos aqui têm como ídolos os craques de fora porque no Brasil não há este apelo, porque Neymar é o único craque de uma geração inteira que jogou mais de três anos no Brasil, sem contar que, dos maiores jogadores do mundo, apenas um é brasileiro. Isso faz com que vejamos meninos que têm, como ídolos, Cristiano Ronaldo e Messi.

Há quem torcia para o Santos quando Neymar estava lá e depois parou de torcer quando ele saiu porque não houve tempo de maturação, outro fator importante para formar a torcida, principalmente no caso dos times que não conquistam grandes títulos frequentemente. Até clubes estrangeiros que tinham muitos admiradores em terras tupiniquins podem observar a diminuição de suas camisas circulando pelas ruas. O Milan é o maior exemplo deles. Potência mundial quando os euros de Berlusconi recheavam seus elencos de craques, os rossoneri perderam espaço a partir do momento que a torneira secou e a equipe ficar quase uma década longe das grandes conquistas.


CORRIQUEIRO A camisa de Cristiano Ronaldo disputa a preferência
 dos jovens torcedores brasileiros (Arquivo pessoal)
Tenho quase 40 anos. Minha geração decorava as escalações, que eram mantidas por uma ou duas temporadas, e criava-se o vínculo com o ídolo. O baixo nível do futebol praticado por aqui também não favorece a formação de uma nova torcida nos mesmos moldes de como era, ainda mais com facilidade para acompanhar o futebol do exterior, que aumentou demais nos últimos anos com a velocidade da internet e a alta exposição nos canais de TV fechados. Quando garoto, acompanhava o futebol do Velho Mundo pela Revista Placar ou quando algum campeonato era transmitido na TV Bandeirantes, como era o fantástico Campeonato Italiano nos anos 1980, ou a Bundesliga na Cultura, isso já nos anos 1990, mas eram ações isoladas. Campeonatos como o inglês, que engatinhava como liga e era terrivelmente ruim, e o espanhol nem sonhavam em ser transmitidos no Brasil.

Hoje é tão fácil assistir a um jogo do Barcelona quanto a um do Corinthians. A única diferença é que fisicamente o novo torcedor não está no estádio, mas qual é o problema nisso? Ele aprendeu a torcer de um jeito diferente, com internet, pelas redes sociais, em que o gramado concorre pela sua atenção com a tela do celular.

Proporcionalmente, ainda é pequeno o número de adeptos que preferem levar um emblema estrangeiro no peito, mas é uma tendência a ser vista com cuidado, pois daqui a 20 anos pode ser que o menino que escolha torcer pelo time do pai, que é o mais bonito dos mundos, será filho de um torcedor de um Manchester City.

terça-feira, 16 de maio de 2017

A tradição voltou e o Naça está na Série A2 depois de 10 anos

Por Alessandro Yara Rossi* 


Em 2014 este que vos escreve presenciou o acesso do tradicional Nacional Atlético Clube para a Série A3 do Paulistão. Isso mesmo, o time se encontrava no fundo do poço e foi diante do Olímpia no Teresa Breda com um empate por 1 a 1. No domingo de Dia das Mães sofri demais e a recompensa foi a melhor possível: vitória no tempo normal por 1 a 0 e 4 a 2 na dramática disputa por pênaltis.

A saída para a distante Olímpia aconteceu às 3h de sábado pra domingo ao lado de mais três corajosos (leia-se Bruno Morelli, Murilo Sarro e Claudio Nascimento, este último presidente da Almanac) em um carro alugado.

Depois de percorrer tantos quilômetros e controlar a ansiedade, chegamos ao local da decisão e a missão não era fácil, porque o Naça tinha perdido na ida, em pleno Nicolau Alayon, pelo placar de 2 a 1 e agora era preciso vencer por um gol de diferença ao menos para forçar os pênaltis.

Faltando meia hora pra começar a peleja já estávamos no lugar da torcida visitante, amarrando as faixas da Almanac e o que mais houvesse para incentivar os jogadores em busca de tal façanha.

O jogo teve início e a tensão era algo abissal, como reverter a desvantagem e sair com a vaga contra o time de melhor campanha do certame. A pressão foi normal ainda mais com o incentivo de mais de 5 mil torcedores e, mesmo assim, o Naça segurava e se segurava.


Eu não conseguia puxar um cântico ou algo do tipo de tão nervoso, apenas assistia a um jogo típico de A3: muita briga no meio de campo e força de vontade de cada atleta.

Pensei que precisava achar um gol de qualquer maneira no primeiro tempo para deixar o Olímpia nervoso e, no último lance, Ricardinho cruzou rasteiro, Eder Loko furou, Laécio dominou, virou como um bom pivô e chutou rasteiro! Fui ao delírio, sem acreditar que o Naça marcou e empatava a semifinal!

No ato que poderia final, o Galo Azul queria fazer logo o tento de empate para confirmar a classificação, mas a trave maravilhosa do Teresa Breda impediu duas vezes, fora as defesas do monstro Felipe, que salvou novamente em momentos cruciais.

O Naça teve duas chances para fazer 2 a 0 e liquidar a fatura, mas parou no bom goleiro Igor que cresceu na frente de Laécio e no artilheiro Leo Castro.

A tensão continuava na arquibancada, agora de ambos os lados, e quando o juiz assoprou para o término do jogo, não acreditei que a vaga para a A2 seria decidida nos pênaltis. Tudo menos isso, a Almanac sofreu demais ao longo do campeonato e agora mais essa? Pelo jeito era outro teste para o coração.

A decisão seria bem na minha frente e apenas fiquei sozinho sem ninguém ao meu lado, como se o mundo parasse naquele momento. Logo na primeira cobrança, o experiente Luiz Henrique desperdiçou. Isto foi o suficiente para já bater o pessimismo de falar um palavrão e emendar o famoso ‘já era’.

No entanto, o Olímpia também desperdiçou e agora é só o Naça não errar mais e depender de mais um erro deles.

Dito e feito: na segunda cobrança, o Naça converteu e o Olímpia errou! Isto foi o suficiente até chegar nos pés de Leo Castro, que deslocou Igor e foi para a torcida! Mais um acesso conquistado na terra do famoso Thermas dos Laranjais e o Nacional vai estar na A2 de 2018 ao lado de Portuguesa e Juventus!


Eu frequento estádios há mais de 20 anos e pela segunda vez na minha vida chorei e fiquei emocionado depois de um jogo!


Muito obrigado por tudo, Nacional Atlético Clube! Este dia, 14 de maio de 2017, jamais esquecerei e contarei enquanto estiver vivo!

*Alessandro Yara Rossi é jornalista, corneteiro e fã de esportes alternativos. E este texto mostra que, acima de tudo, é um forte!

Ah, se fosse outro técnico

Por Alessandro Yara Rossi*

NOVO FIASCO O Tricolor foi eliminado em casa pelo fraco Defensa y Justicia (Nelson Almeida/AFP)
O São Paulo parece que está levando ao pé da letra o trecho do seu hino, que diz: “As suas glórias vem do passado”, porque ultimamente o que acontece no Tricolor Paulista é uma sucessão de vexames, como o da noite do último dia 11 pela Copa Sul-Americana, na eliminação em casa para o modestíssimo Defensa y Justicia, que nunca tinha jogado fora da Argentina.

Rogério Ceni só não foi demitido ainda porque tem um senhor nome e muita moral entre a torcida, mas se fosse outro técnico, 100% de certeza que já teria pego o boné e um abraço.

Desde que virou treinador do São Paulo, o ex-goleiro-artilheiro ainda não conseguiu sequer consolidar um padrão tático; o sistema defensivo é um desastre e o time fica todo espaçado no campo, sem nenhuma aproximação. Parece que os treinos táticos com os auxiliares europeus não estão surtindo o efeito esperado.

As goleadas impostas no Campeonato Paulista contra equipes fracas foram ilusórias ao torcedor, que se empolgou um pouco e achou que tudo seria diferente dos anos anteriores. Porém, as fracas atuações continuam, os resultados desapareceram e as três eliminações seguidas no primeiro semestre tendem a deixar qualquer um preocupado.

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A máquina de triturar treinadores

Ceni falou na entrevista coletiva concedida depois do empate por 1 a 1 contra os argentinos que a desclassificação em um torneio de nível técnico fraco, mas com uma grande possibilidade de título e vaga na Libertadores do ano que vem não foi um vexame. Ora, então o que precisa ser feito de pior para ser um?

Está na hora de ele ajustar o time, que antes jogava no 3-4-3, mas que logo largou mão para ficar no 4-3-3 todo esparramado, sem uma jogada e isolando o seu centroavante. As substituições não mudaram em nada o panorama e mostraram certo desespero, como colocar dois atacantes enfiados e sem cruzar uma bola sequer na área.


O Brasileirão começou com derrota para o algoz da vez na Copa do Brasil, o Cruzeiro. Mesmo tendo um retrospecto favorável contra a parte azul de Minas Gerais, a derrota em si por 1 a 0 não foi nenhuma surpresa, mas serve para reforçar o sinal amarelo que já está ligado. Será a única competição que o São Paulo vai jogar no segundo semestre, enquanto os seus principais adversários estarão preocupados com pelo menos mais um torneio. Esta é a hora de o Tricolor fazer alguns pontos e não se complicar para não chegar a uma vergonha ainda maior, a consumação de um flerte que foi perigosamente feito em temporadas recentes.

Rogério tem todo o respaldo, carta branca e idolatria que o mantêm firme e forte no comando técnico, mas um Brasileirão também ruim deixará a situação bem complicada, pois o momento é refletir e admitir que o time precise melhorar muito se pretende brigar na parte de cima da tabela.


Depois de tanto tempo, o torcedor são-paulino sente que a perspectiva não é nada boa e a época de ficar sem uma taça perdurará.

*Alessandro Yara Rossi é jornalista corneteiro e fã de esportes alternativos

segunda-feira, 8 de maio de 2017

A máquina de triturar treinadores

Por Alessandro Yara Rossi*


JOGO PARA A TORCIDA A ultima vítima da inconstante
 diretoria alviverde (GazetaPress)
Sei que vários textões já foram feitos sobre a demissão de Eduardo Baptista do Palmeiras, mesmo com apenas 20 jogos e com um aproveitamento próximo de 70%, mas vou falar na visão de um torcedor sensato (sim, é possível) o que achei disto tudo.

Novamente, a diretoria do Palmeiras erra feio no planejamento para uma temporada ainda promissora em termos de títulos, mas que ficou refém na tentativa de frustrada de convencer Cuca a renovar o contrato e deixar de lado a sua família.

Cuca, além de ser um profissional ímpar, é também humano e não abdicou de sua querida família. Isso foi um soco na cara do diretor Alexandre Mattos e do sucessor na presidência.

Depois que Mauricio Galliote foi eleito para suceder Paulo Nobre, o objetivo era escolher o substituto do campeão brasileiro e a demora em definir O Nome ideal fez com que Eduardo Baptista, estudioso, mas sem nenhuma grife, fosse contratado para comandar o time em 2017, tendo a Libertadores como obsessão.

O investimento capitaneado pela "cheque em branco" do Palmeiras, a tia Leila da Crefisa, foi algo abissal em termos de Brasil. Desde os tempos em que dinheiro da Parmalat jorrava feito leite em teta de vaca gorda, o Verdão não tinha um elenco tão caro.

Logo na apresentação, o filho do Nelsinho Baptista mostrou que mudaria o esquema de jogo, adotando o que deu muito certo na Ponte Preta. No entanto, este choque de filosofia não foi bem aceito por parte do elenco alviverde, que se acostumou com o estilo contundente e de jogadas em velocidade.

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A ampulheta de Cristiano

Eduardo gosta de ficar mais com a bola e não se expõe tanto ao adversário, mas, para isso, é preciso treinar muito e, claro, que todos os jogadores entendam a ideia para colocá-la prática. Porém, nas primeiras partidas, a impressão era que o time regrediu. Parecia um bando, um amontoado de jogadores de verde em campo.

A torcida que canta e corneta logo clamou por Cuca já no segundo jogo do Paulistão, contra o São Bernardo. Realmente, a vida de Eduardo não seria nada fácil e se não evoluísse logo, seu descarte aconteceria mais cedo ou tarde.

O time não conseguia estabelecer um padrão tático, mostrando pouca criação de jogadas, tão previsível quanto as substituições feitas. A diretoria já estava monitorando Cuca, que ainda cuidava da família, que a qualquer momento seria chamado para novamente fazer o Palmeiras ser consistente dentro de campo e, claro, agradar a exigente e mal acostumada torcida.

A vitória de virada contra o Peñarol pela Libertadores e a entrevista cheia de raiva disparada contra a imprensa (tendo Juca Kfouri como alvo principal) fizeram com que o treinador ganhasse uma sobrevida, mas a eliminação do jeito que foi para a Ponte Preta no Paulista mostrava que os dias dele estavam perto do fim. A gota d'água foi a derrota para o medonho Jorge Wilstermann na Bolívia.

A perdida diretoria do Palmeiras precisou de 20 jogos para finalmente achar que Eduardo Baptista não era O Nome para comandar um time tão badalado pela imprensa. Planejamento? Nenhum. Competência? Menos ainda, o que é normal em se tratando de Palmeiras.

Para tapar o sol com a peneira e acalmar a torcida, Alexandre Mattos foi pedir de joelhos - e com a grana da Crefisa na mão - para Cuca aceitar voltar ao Palmeiras depois de cinco meses. Aí sim a resposta foi positiva.


O novo contrato vai até fim de 2018 e parece que todo mundo já se esqueceu da frustrada passagem de Eduardo Baptista à frente do Palmeiras. Mesmo porque, diferentemente de Gareca, Marcelo Oliveira e Baptista, Cuca parece estar imune à máquina verde de triturar treinadores. 

SÓ ELE? Cuca volta com status de único possível para
 comandar o Palmeiras (Cesar Creco/Agência Palmeiras)
*Alessandro Yara Rossi é jornalista, corneteiro e fã de esportes alternativos

terça-feira, 2 de maio de 2017

A ampulheta de Cristiano

Há uma espécie de ampulheta imaginária que é virada todos os anos. Ela marca o início do declínio de um dos jogadores mais absurdos, possivelmente o maior atleta do futebol, de todos os tempos. 

Sim, falo de Cristiano Ronaldo.

Após a temporada praticamente perfeita de 2016, quando venceu os dois troféus mais importantes do ano (a Liga dos Campeões pelo Real Madrid e a Eurocopa por Portugal), houve um declínio natural que, normalmente, sucede o ápice.

Este fato, combinado com a virada sobrenatural do Barcelona sobre o pouco respeitável time do PSG, na qual Neymar só não fez chover nos últimos oito minutos, fez os donos da ampulheta, mais uma vez, vaticinarem: é o começo do fim! Mais que isso, finalmente, chegou a vez de Neymar!

Mesmo que tenha sido por um jogo. Ok, um grande jogo, mas ainda assim um jogo, e contra um adversário de grandeza questionável. Estávamos apenas em fevereiro, mas já tínhamos o melhor do ano. Deve ser outra a ampulheta neste caso. 




E daí que Cristiano, com o passar do tempo, começa a mudar o posicionamento em campo? "Mas ele fez pouco mais de 30 gols na temporada".

Realmente, para os padrões de Ronaldo, 30 gols em uma temporada é pouco. Ele é o primeiro - e único, por ora - a romper os 50 gols em seis temporadas consecutivas. 

O prêmio de melhor do mundo tem suas peculiaridades, e desde que surgiram Cristiano e Messi pode ser resumido a Melhor da Dupla, e por mais que a pachecada de plantão esperneie, não haverá espaço para Neymar tão cedo, mesmo porque a Liga dos Campeões tem um peso absurdo (principalmente o mata-mata) e quem chega mais longe entre os dois coloca uma mão e meia na honraria. Para azar do craque brasileiro, se pensarmos na possibilidade de ser eleito, Messi está no seu time e Neymar precisará fazer chover para superar o argentino, o que, honestamente, não vejo ser possível simplesmente porque ele é muito melhor.

Nem deveríamos discutir isso.

Mas discutimos. E a ampulheta que contém a areia lusitana já estava mais cheia da metade para baixo. Neymar despachou o PSG e Cristiano se limitou a dar passes para gol contra o Napoli. Messi, por sua vez, que tinha feito 11 gols na fase de grupos da Liga dos Campeões, passou em branco nas oitavas e nas quartas, mas acabou com El Clasico e voltou a ser o melhor de todos os 
tempos. 

OITO MINUTOS Neymar foi o melhor do mundo
no fim do jogo com o PSG (Getty Images)
Há uma ampulheta relativamente mais apertada para o gênio argentino. De quebra, chegou a 500 gols só com a camisa blaugrana em uma partida que Neymar não jogou por estar suspenso de forma estúpida. Mesmo assim, os oito minutos de fantasia pura ainda lhe mantinham no topo de melhor-do-mundo-de-2017-ainda-estando-em-abril. 

Nos jogos contra a Juventus, Neymar e Messi não jogaram absolutamente nada, mas mantiveram-se intactos. O mesmo tratamento não teve o português pelo desempenho pífio no jogo com o Barcelona, mesmo que este valha menos, embora seja um dos maiores clássicos do mundo. A areia do portuga quase não era vista na parte de cima.

Mas da mesma forma que os 500 gols de Messi pesaram, Cristiano passar de 100 em competições europeias, depois chegar - e passar - a 100 só pela Liga dos Campeões e desandar a fazer gols decisivos (cinco dos seis contra o Bayern nas quartas de final e os três do primeiro jogo das semifinais contra o Atleti) também devolveram ao português o status de semideus (como se isso tivesse sido construído em apenas um jogo ou em uma temporada).

IMPARÁVEL Três gols e atuação de gala na
Liga dos Campeões (Getty Images)
Frases prontas como "o pior momento desde que chegou ao topo", "declínio físico aos 30 e poucos anos chegou" ou "só faz gol de pênalti" (mesmo sendo só 11, dos 103 na Champions, dessa forma) voltam para a gaveta, ou ao menos até a final da competição, quando sua ampulheta poderá ser zerada outra vez e estará acabado ou no topo do mundo.

Como em todos os anos.