segunda-feira, 25 de março de 2019

Preocupante, mas com melhoras - Portugal 1 x 1 Sérvia

Imagem: Reuters
Portugal martelou, tentou, errou, mas apenas empatou com a Sérvia pelas Eliminatórias para a Euro 2020. Segundo empate em casa e o sinal amarelo já ligado. 



O time das Quinas começou bem o jogo, achando espaços para se aproximar do gol adversário, mas errando o último passe que, sabe lá Deus por que, normalmente é um cruzamento desproposital na área. William Carvalho quase abriu os trabalhos aos 4 minutos, mas a finalização, além de fraca, desviou na defesa, apesar de o árbitro ter marcado tiro de meta, na sua primeira decisão equivocada da noite.  

Falando em primeira, a Sérvia apareceu no ataque e já fez movimentar o jogo, com o pênalti marcado, de Rui Patrício, no atacante Gacinovic, após passe primoroso de Tadic, o mais perigoso dos jogadores da turma dos Balcãs. Mesmo com o gol marcado cedo por Tadic, o jogo seguiu no ritmo que seria mesmo no 0 a 0: Portugal buscando espaços e a Sérvia, que até dava campo, contando com os inúmeros erros portugueses no último terço do campo ou, quando precisou, o goleirão Dmitrovic esteve muito bem, e apostou em contragolpes perigosíssimos. E foi o goleiro que impediu que o empate saísse pelos pés de Cristiano Ronaldo, por duas vezes, e de Rafa Silva, o melhor dos lusos em campo.


Aí saiu Cristiano Ronaldo, que sentiu a coxa. Curiosamente – ou não – Portugal melhorou a partir do momento em que teve que se virar sem seu principal jogador, Entenda-se este "se virar" como "liberar Bernardo Silva da prisão da ponta e deixá-lo jogar também pelo meio". Ainda assim, o gol, ou melhor, golaço de empate, saiu em jogada individual e de rara felicidade de um improvável Danilo.


E assim foi também durante o segundo tempo: Portugal atacando, a Sérvia defendendo e o árbitro, que já marcara um pênalti discutível aos sérvios, deixou passar um claro para Portugal (que foi até marcado, mas impugnado por uma anotação equivocada do bandeira), e outro, mais discutível, no Pepe. Aí a Sérvia abdicou do jogo e Portugal teve posse, campo, vontade e um comboio de bolas a passar na frente do gol sérvio, sem nenhum pé lusitano para desviá-las para o gol, mas um azar desgraçado com as hipóteses desperdiçadas e com os erros do árbitro.


Como desgraça pouca é bobagem, o time de Fernando Santos folga nas próximas duas rodadas, em junho, por causa da Liga das Nações, e volta com a faca nos pescoço, embora com boas perspectivas, desde que, claro, Fernando Santos abandone o jogo de ligação direta de nada para ninguém e aposte em um meio criativo, onde os benfiquistas Pizzi e Rafa e o leonino Bruno Fernandes, além de Bernardo Silva, claro, possam aparecer.

Rui Patrício: uma bola no gol e um gol (de pênalti);
João Cancelo: se fosse uma raça de cachorro, já teria desaparecido por não saber 
cruzar;

Pepe: valentia que beirou a irresponsabilidade;
Rúben Dias: gosta de emoções fortes;
Raphael Guerreiro: precisa entender que a linha de fundo não morde;
Danilo Pereira: muito luta e um golaço. Pode ter ganho a posição de titular no lugar de Rúben Neves, o que não é necessariamente uma boa notícia;
William Carvalho: o dono do meio de campo;
Rafa Silva: foi responsável por fazer a ligação que faltou no primeiro jogo e foi bem (entrou Gonçalo Guedes, que mal sujou o uniforme);
Bernardo Silva: mais sumido que o Fabrício Queiroz até a lesão de Cristiano;
Dyego Sousa: seguiu à risca a tradição de centroavantes ruins na Seleção (entrou André Silva, tirou um gol de Raphael Guerreiro, como grande zagueiro que deveria ser se fosse zagueiro);
Cristiano Ronaldo: enquanto esteve em campo, foi perigoso como sempre (deu lugar a Pizzi, que ajudou a aumentar o índice de cruzamentos errados).

sexta-feira, 22 de março de 2019

Estreia para esquecer - Portugal 0 x 0 Ucrânia

Imagem: Reuters

Quer ver Portugal se enrolar? Dê a bola e feche-se na intermediária. Falta um pé que pense melhor o jogo, que encoste e faça Bernardo Silva ser efetivo. Fernando Santos imagina este ser o João Moutinho, como já pensou ser o João Mário e o André Gomes. Errou sempre. Talvez Pizzi pudesse ser, jogando na ala, um bom auxiliar para o meia do City.

O jogo de estreia nas Eliminatórias da Eurocopa, em que Portugal entra defendendo o título, lembrou demais o jogo com o Uruguai na Copa, mas como a Ucrânia não tem Cavani e Suarez (graças a Deus), o jogo ficou 0 a 0.

Cristiano Ronaldo entregou o que dele se esperava: movimentação, finalizações e foi o jogador mais perigoso da equipe de Fernando Santos, não tendo dado a vantagem a Portugal somente porque o goleiro Pyatov esteve em excelente plano. O mesmo não se pode afirmar de Bernardo Silva, mas, neste caso, a responsabilidade cabe ao treinador português, que teima em desperdiçar seu talento ao deixá-lo preso à ponta, em vez de aproveitar de sua visão de jogo e movimentação na zona de criação, como bem faz Guardiola no Manchester City.

No fim, o empate só não se transformou em desastre porque Pepe, como de costume, fez uma partida exemplar e salvou um gol certo do pé de Júnior Moraes quando este teve o gol aberto após sobressalto de Rui Patrício.  

Rui Patrício: um balde d'água teria o mesmo trabalho que ele.
Cancelo: bem na defesa, medonho no apoio;
Pepe: ganhou metade das jogadas na sua área (e salvou Portugal no fim do jogo);
Rúben Dias: ganhou a outra metade;
Raphael Guerreiro: assistiu ao jogo de dentro do campo;
William Carvalho: o único que se salvou do meio pra frente;
Rúben Neves: tentou de tudo e errou tudo (saiu para dar lugar a Rafa, que não tentou e não errou);
João Moutinho: praticamente um a menos em campo (entrou João Mário e manteve o nível do titular);
Bernardo Silva: deve ligar para o Guardiola à noite e dizer que sente saudade;
André Silva: um bom chute e só (em seu lugar, Dyego Sousa pelo menos se movimentou mais, o que não quer dizer muita coisa);
Cristiano Ronaldo: tentou, acertou, parou em Pyatov, tentou, errou, tentou, tentou e tentou, mas, sozinho, não consegue sempre fazer a diferença.


quinta-feira, 21 de março de 2019

Messi ou Ronaldo? Pelé!

(Fotos: Getty Images. Montagem: Placar)

Vira e mexe, aparecem polêmicas que tentam comparar jogadores diferentes, de épocas diferentes, e vaticinam que este é melhor que aquele e pronto. A mais nova é sobre o melhor jogador de todos os tempos – ou GOAT (Greatest Of All Times, de acordo com o estrangeirismo comum das redes sociais): Messi, Cristiano Ronaldo ou Pelé.

O estopim foi a fase de oitavas-de-final da Liga dos Campeões, quando Cristiano passou por cima do Atlético de Madri e fez os três gols que classificaram sua Juventus aos quartos da competição. Um luxo! A resposta de Messi foi uma atuação de gala (mais uma) no passeio sobre o Lyon, completada na soberba partida feita na goleada sobre o Bétis, pelo Campeonato Espanhol. 


Nada de novo, portanto, do que ambos já vêm fazendo há quase uma década e meia.

O duelo entre eles é o que há de mais bonito no futebol mundial e ninguém, atualmente, sequer está próximo do nível dos dois. O português é o maior artilheiro da Liga das Campeões da UEFA, torneio que conquistou em cinco oportunidades, o mesmo número de Bolas de Ouro que possui. Cinco também tem o argentino, que venceu a maior competição de clubes do mundo quatro vezes. Isso fora o que fazem semana após semana, o que não é pouco, ainda mais se considerarmos os seus feitos, com marcas superadas aos montes, hat-tricks empilhados e atuações monumentais nos principais palcos do mundo.

Aí vem a questão: já superaram o Rei? Bom, vamos a alguns fatos: Pelé, na maior competição do futebol, a Copa do Mundo, tem três títulos em quatro disputadas, o mesmo número de copas que tiveram Messi e Cristiano em campo. Messi, finalista em 2014, tem seis gols pelo torneio, todos na primeira fase; Cristiano, semifinalista em 2006, quando foi um jovem coadjuvante do time que tinha Figo e Rui Costa como principais expoentes, tem um a mais, e nenhum a partir das oitavas. Pelé, que fez 12, só na Copa de 58 anotou seis, três deles na semifinal com a França e dois na final, sobre a Suécia, que sediava aquela edição, a primeira vencida por um país de outro continente. Pelé, então coroado Rei, tinha 17 anos. É verdade que ele teve companheiros de seleção bem melhores ao longo da vida, mas ele era o melhor entre eles.

Há quem diga que Pelé enfrentou jogadores menos capazes do que a dupla de antagonistas do Século XXI, que “o Paulistinha nem se compara com com La Liga ou com a Champions”. Ora, entre os anos 1950 e 1960 – que concentram as três primeiras conquistas mundiais pela Seleção, fora o bicampeonato mundial de clubes do Santos, em 62/63 –, os melhores estavam aqui. Todos os campeões das Copas de 58 e 62 disputavam o Rio-S.Paulo, torneio em que Pelé deitava e rolava, como fazia em todos. Nem na Copa de 70 havia um forasteiro sequer (somente cinco dos 22 vestiam camisas de clubes de fora do chamado eixo Rio-São Paulo). Eis as listas:

1958:
Goleiros: Castilho (Fluminense) e Gylmar (Corinthians);
Laterais: De Sordi (São Paulo), Djalma Santos (Portuguesa), Nilton Santos (Botafogo) e Oreco (Corinthians);
Zagueiros: Bellini (Vasco), Mauro (São Paulo), Orlando (Vasco) e Zózimo (Bangu);
Meio-campo: Dida (Flamengo), Didi (Botafogo), Dino Sani (São Paulo), Moacir (Flamengo) e Zito (Santos);
Atacantes: Garrincha (Botafogo), Joel (Flamengo), Mazzola (Palmeiras), Pelé (Santos), Pepe (Santos), Vavá (Vasco) e Zagallo (Botafogo).  


1962:
Goleiros: Castilho (Fluminense) e Gylmar (Santos);
Laterais: Altair (Fluminense), Djalma Santos (Palmeiras), Jair Marinho (Fluminense) e Nilton Santos (Botafogo);
Zagueiros: Bellini (São Paulo), Jurandir (São Paulo), Mauro (Santos) e Zózimo (Bangu);
Meio-campo: Didi (Botafogo), Mengálvio (Santos), Zequinha (Palmeiras) e Zito (Santos);
Atacantes: Amarildo (Botafogo), Coutinho (Santos), Jair da Costa (Portuguesa), Garrincha (Botafogo), Pelé (Santos), Pepe (Santos), Vavá (Palmeiras) e Zagallo (Botafogo).


1970:
Goleiros: Ado (Corinthians), Felix (Fluminense) e Leão (Palmeiras);
Laterais: Carlos Alberto (Santos), Everaldo (Grêmio), Marco Antonio (Fluminense) e Zé Maria (Portuguesa);
Zagueiros: Baldocchi (Palmeiras), Brito (Flamengo), Fontana (Cruzeiro) e Joel Camargo (Santos);
Meio-campo: Clodoaldo (Santos), Gerson (São Paulo), Rivelino (Corinthians) e Piazza (Cruzeiro);
Atacantes: Edu (Santos), Dario (Atlético Mineiro), Jairzinho (Botafogo), Paulo Cesar Caju (Botafogo), Pelé (Santos), Roberto Miranda (Botafogo) e Tostão (Cruzeiro).


Ou seja, este argumento, que tenta colar que os campeonatos europeus eram mais fortes que o Paulista e o Carioca, não se sustenta.

Há os que dizem que o futebol era muito mais fácil, que os sistemas táticos não eram tão fechados e que o futebol não era tão físico e veloz como é hoje. Não deixa de ser verdade, mas a tal facilidade é discutível: o esporte, como tudo no mundo, evoluiu. Se há menos espaços, e não há folga em campo mesmo, as condições são bem melhores. Pelé pegou gramados ruins, equipamentos rústicos, bola pesada e uma época em que a medicina esportiva era incipiente, além do fato de o jogo ser mais violento, sem tantas câmeras pegando as pancadas que os jogadores trocavam. Messi e Cristiano, por sua vez, têm à disposição uma equipe de profissionais,  tratamentos e aparelhos que atenuam o desgaste físico e aceleram a recuperação entre as partidas, programas de computador que ajudam a analisar o desempenho, bolas que começam e terminam o jogo com o mesmo peso, gramados em perfeitas condições, uniformes que não retêm suor, não terminam o jogo empapados ou, como a pelota, com uma parcela da chuva que eventualmente tenha caído.

Alguns fatores favoreceram o Rei, é bom pontuar. O principal deles é que ele, assim como Messi, vestiu a mesma camisa durante toda a carreira (a passagem pelo Cosmos aconteceu após a despedida oficial pelo Santos), não precisando se adaptar a novas formas de jogo e à vida em outros sítios. Nos dias de hoje, e isso é um ponto a favor do argentino, é praticamente inimaginável que Pelé permanecesse no Santos.

Da mesma forma, não resta dúvida de que o Rei seria um jogador ainda mais completo, uma vez que o talento é nato. Pelé, que media 1,72m (achou que fosse mais alto, né?), provavelmente seria mais alto e mais forte, considerando o resultado da sua aplicação, combinada com a evolução humana e os avanços em todas as áreas, incluindo a esportiva.

Temporada após temporada, Messi e Cristiano se reinventam, tornam-se melhores porque Messi é e Cristiano faz de tudo para ser, e consegue. Um é arte pura. O outro, obstinação. E a pergunta inevitável é a seguinte: como seria um jogador com o talento de Messi e a determinação de Cristiano? 

A resposta é simples: este é Pelé.

terça-feira, 12 de março de 2019

Sobre Neymar, PSG e o desmazelo com a imagem

CRAQUE DA AVENIDA Neymar dá uma pausa na recuperação da lesão e
 curte o Carnaval no Brasil (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo)

Sempre que eu escrevo fazendo críticas ao Neymar, torço para que seja a última vez. Não por ele, nem me importo com isso e duvido que ele sequer suspeite da minha existência, mas faz mal à gente ficar às voltas com críticas, críticas e mais críticas, e fica a impressão de que quando o assunto é recorrente, é pessoal.

Não é.

O problema é que Neymar não se ajuda. Mal saiu – se é que saiu – da crise mais séria sobre a sua imagem por causa do desempenho patético na Copa do Mundo da Rússia, já se envolveu, deliberadamente, em uma nova leva de críticas porque resolveu largar a recuperação da nova lesão no dedinho para aproveitar o Carnaval no Brasil.


Aí o leitor poderá ponderar sobre a importância da ausência do mimadinho craque na nem tanto inacreditável eliminação de sua equipe na Liga dos Campeões, mesmo depois de vencer fora de casa por 2 a 0 e ser superada por um adversário desfalcado de 10 jogadores, entre eles Pogba, o principal nome do United.

Mas tem. E muita.

Neymar chegou a Paris para ser o líder, em campo e fora dele, do projeto de conquista da Europa pelo Paris Saint Germain, um time com alguma tradição doméstica, mas pequeno na Europa e com os cofres abarrotados a partir de uma negociata que envolveu políticos graúdos franceses, fundos de investimentos do Catar e compra de votos para a definição daquele país como sede para a Copa de 2022. E na semana mais importante da temporada, o craque-que-tem-tudo-e-não-é-cobrado-por-nada-em-Paris esteve ausente, o que faz com que o clube seja exatamente do tamanho que é tratado pela sua maior estrela.

Desde que chegou à França, Neymar desfalcou o PSG em 45 de 98 jogos do time (quase a metade das partidas, portanto). Em alguns destes compromissos, o camisa 10 não jogou porque teria sido poupado. É verdade que ficou de fora em boa parte graças às duas lesões mais sérias que sofreu, mas não há azar ou acaso nisso. A celebridade Neymar Jr não conversa com o atleta Neymar Jr e, sabe-se, tem uma vida social bastante agitada, o que não ajuda não só na recuperação física entre os jogos, como também atrapalha, e muito, o trabalho de prevenção de contusões.

Se quer ser levado a sério, o reizinho de Parc des Princes tem que se levar a sério. Precisa entender que sua vida extracampo atrapalha o rendimento dentro das quatro linhas. Precisa entender também que todas suas atitudes repercutem muito mais por causa de sua condição de ídolo, para o bem e para o mal. E precisa escolher entre ser responsável e assumir o ônus que seu status exige, se concentrando no que pode dar em troca dos milhões que recebe, ou aproveitar ainda na juventude tudo o que já amealhou, mas sem esperar por grandes resultados e, consequentemente, ver seu valor de mercado diminuir.

Os dois, não dá.

Mesmo considerando um absurdo imaginar a prima donna no mesmo patamar de Cristiano Ronaldo e Messi, cabem algumas comparações: Cristiano se machucou na final da Eurocopa e voltou ao gramado para apoiar seus companheiros, e Portugal bateu uma França, mais forte e jogando em casa. Neymar, que já havia ficado de fora do jogo de ida pelas oitavas da Champions, deixou seus colegas em Paris e pediu para seguir o tratamento da contusão no Brasil em um período que coincidiu com os festejos de Momo, sem se furtar a largar as muletas e pular, literalmente, o Carnaval.

Esta é somente uma das diferenças.

Messi é o melhor jogador do mundo, o mais dotado tecnicamente. Cristiano diminui a diferença entre eles ao trabalhar feito um louco para ser melhor a cada dia, e se adaptou a uma nova função em campo. O resultado é que, aos 34 anos, o português está longe do declínio físico e técnico esperado nesta faixa de idade. Neymar, que é mais talentoso que o astro lusitano e é sete anos mais jovem, ainda não chegou ao ponto em que a idade pesa e o rendimento cai. Só que a fatura chegará de acordo com o seu planejamento (ou falta de um). Aí restará o mercado brasileiro, que torra grana sem parcimônia alguma, ou algum campeonato endinheirado, como o árabe e o chinês.

Pouco para quem foi projetado para ser o melhor do mundo.