sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Benfica 3 x 3 Shakhtar - escolhas, fragilidades e lenços brancos

LENÇOS BRANCOS O descontentamento salta das algibeiras
 na Luz (Foto: Luiz Manuel Neves)
Aí está a dimensão europeia. O Benfica caiu em casa para o Shakhtar após ter alcançado um placar que chegava para passar e, desgraçadamente, ser o único representante português nas ligas europeias. Não conseguiu segurar a vantagem de dois golos que bastava para a apuração porque demonstrou novamente toda a fragilidade defensiva, potencializada desde que o mercado de transferências trouxe de "presente" o alemão Weigl. Um presente que custou 20 milhões de euros e que desequilibrou um time já deficiente atrás e que custou uma eliminação vergonhosa na véspera do aniversário de 116 anos do clube.

Uma prenda e tanto!


Aqui não cabe analisar as nuances do jogo, o primeiro tempo que acabou sob aplausos e que trouxe um início de segunda etapa alvissareiro, com um gol a nascer da pressão no campo ataque até recuperar a bola. Porque foi só o que aconteceu de bom.

Isso porque, com Weigl na cabeça de área, o Benfica perde na marcação, que fica toda às costas de Taarabt, homem de ligação de Bruno Lage e que acabou a partida somente com a alma no corpo. Ele e Taarabt formaram uma dupla incompatível, e muito da queda de rendimento do time neste ano deve-se à chegada dele da Bundesliga.

A impressão que dá é que não é permitido deixá-lo de fora para que um jogador que já estava no grupo jogue, pois assim se justificará um investimento que seria necessário para reforçar as opções de centrais, que diminuíram a duas com as lesões de Morato e Jardel. Com Samaris, o Benfica tinha poder de marcação e podia desafogar Taarabt, o que faria com que o time jogasse de um modo geral. 

Weigl não tem culpa. Não é um jogador de contato, de choque. E quem o trouxe sabia, ou deveria saber. Como Bruno Lage também deveria saber que é preciso Cervi para apoiar Grimaldo, que não tem a menor aptidão para marcar. Como desgraça pouca é bobagem, Ferro anda mal e o lado esquerdo da defesa é um convite. Querer que Rafa o faça é perder o melhor dele para ter o pior.

Ao fim do jogo, Bruno Lage disse vimos um "Benfica à Benfica", um time que buscou o gol, como se isso fosse algo que só o Benfica faz. Ele só se esqueceu de falar que as deficiências defensivas, que ele mesmo apontou durante a semana, é que determinaram a queda encarnada. E elas devem-se às escolhas do treinador.

Escolhas. É disso que se trata. Lage, que recolocou na rota das vitórias um time desmoralizado quando assumiu, precisa entender que a tal dimensão europeia passa por fazer grandes jogos também fora de Portugal. E isso passa exatamente pelas suas escolhas. As mesmas que deixaram o Benfica de fora da sequência da Liga dos Campeões em um grupo perfeitamente acessível.

É isso ou Luis Felipe Vieira terá que decidir entre Lage ou atender os adeptos que mostraram lenços brancos nas bancadas após o fim do jogo com o Shakhtar.

Vlachodimos: se não fosse ele, nem haveria eliminatória. Não agradeço por isso;
Tomás Tavares: engolido com batatas pelo Tison, o que era previsível;
Rúben Dias: tão bom quanto é azarado. Mais um autogolo para a conta do ainda "futuro melhor zagueiro do mundo";
Ferro: vá pro inferno e leve o Grimaldo junto;
Grimaldo: vá pro inferno e leve o Ferro junto;
Weigl: não tem culpa de ser tão insosso. Poderia buscar umas correspondências em Dortmund e ficar por lá;
Taarabt: acabou o jogo quase sem pernas para sair do relvado. Como fala mal o português, poderia decorar essa frase: "põe o car*** do Samaris, mister";
Pizzi: voltou a ser o velho Pizzi. Pena que o 
velho Pizzi não basta fora de Portugal (Jota: pffff!);
Rafa: um golaço. E só;
Chiquinho: alguém poderia esquecê-lo no hotel antes do jogo. SFF (Seferovic: é sério?);
Dyego Souza: graças a ele, o terceiro golo saiu. Não sei se agradeço (Vinicius: sai um avançado de presença de área e entra outro avançado de presença de área. Tinha tudo para dar certo).


Liga Europa - a vergonha portuguesa


"Ó mar, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?", perguntou Fernando Pessoa, no imortal Mar Português. Certamente, à mesa do Café Martinho da Arcada com uma chávena de café ou um caneco de vinho à mão, ele notaria que as lágrimas dos adeptos teriam deixado o mar mais salgado após o prematuro adeus dos lusos às competições europeias.

O futebol português fez, possivelmente, o maior papelão em muitos anos ao ter todos os seus representantes eliminados na fase de 16 avos de final da Liga Europa 2019/2020. Isso mesmo: a segunda divisão europeia de clubes foi demais para o limitado poderio lusitano, que não ficava de fora ao menos das oitavas-de-final das competições europeias de clubes há mais de 40 anos.

QUARENTA ANOS!


E não é azar. O funil da Liga dos Campeões já havia sido apertado demais para o Porto, que nem chegou à fase de grupos, e para o Benfica, novamente aplacado antes dos mata-matas, então restava a Liga Europa, competição em que alinharam, de início, Sporting, Braga e Vitória de Guimarães, que não sobreviveu à fase de grupos. 

Estes quatro são os ocupantes contumazes das quatro primeiras colocações da Primeira Liga, o que quer dizer que representam o que há de melhor do lado bigodudo da Península Ibérica. Não sei se, depois de ontem, podemos usar este adjetivo.

Nenhum deles enfrentou algum colosso do futebol europeu. Nenhum chegou ao jogo de volta sem chances de apuramento. Nenhum se classificou.

O Braga, time que pratica o futebol mais vistoso do campeonato nacional, foi neutralizado pelo Rangers, clube que faliu e chegou a disputar a quarta divisão da Escócia há poucos anos; no dia seguinte, o Sporting, claudicante, após vencer a primeira mão por 3 a 1 e jogando bem, conseguiu a proeza de ser eliminado pelo famosíssimo Istambul Basaksehir, que jogou mal nos dois jogos; simultaneamente, o FC Porto fez no Dragão o mesmo que havia feito em Leverkusen: ser dominado e perder de pouco; logo depois, o Benfica até chegou a fazer o placar que o classificaria no início da segunda etapa, mas suas mazelas defensivas foram desnudadas outra vez e, ao par de algumas decisões infelizes do mister Lage, caiu com estrondo, vaias e lenços brancos. 
  
É óbvio que não dá para medir forças com os colossos de ligas milionárias, cujos orçamentos são inatingíveis aos pobres do restante do continente - e do mundo. No entanto, a incapacidade de superar escoceses, ucranianos, turcos e, vá lá, uma força secundária do futebol alemão, mostra que algo está errado.

Os principais candidatos ao título português trocam farpas semanalmente, tentam maquiar seus defeitos com acusações de "adulterações na verdade desportiva da prova", vendendo a versão de que só não foi campeão porque o campeonato foi manchado, quando é esse tipo de atitude que faz com que o futebol português seja, a despeito das boas vendas que faz, nada mais do que um mero fornecedor de talento para ligas maiores.

O rei está nu, mas nenhum deles quer ser o miúdo a gritar isso.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Braga 0 x 1 Rangers - um duro castigo ao melhor time português do momento

USO INTERNO Fazer o pleno contra os grandes em plano caseiro não foi suficiente para dar ao Braga o ânimo que precisava para superar os Rangers (Foto: Miguel Riopa)

Das frases de efeito de Muricy Ramalho, a que eu mais gosto é "a bola pune". Não vou dizer que se encaixa no triste fado cantado no Minho, justamente onde os bailaricos são mais alegres e o vira é mais rasgado, pela Liga Europa, mas quem melhor trata a bola em Portugal em 2020 ficou de fora da sequência da Liga Europa. 
A perda do jogo de ida, uma reviravolta dos comandados de Steven Gerrard por 3-2, foi um castigo a quem teve 60 minutos de Barcelona, abriu 2-0 podendo fazer 3 ou 4, mas pagou por ter virado um Sporting nos 30 minutos finais. Ou melhor, pagou por parecer o antigo Braga pré- Rúben Amorim. 

O caminho para os oitavos não era dos mais penosos, afinal uma vitória simples bastava, mas não bastou ter o jogo construído a partir do trio defensivo ou ter dois laterais enfiados campo de defesa escocês adentro, além dos extremos que gostam de flutuar entrelinhas, completando um avançado fixo e em estado de graça. Não bastou porque a antiga glória do Liverpool armou o Glasgow Rangers para tirar justamente o que os de Rúben Amorim mais gostam: espaço. 

Assim, com praticamente todo o time atrás da linha da bola, não havia construção de jogo prática no campo de defesa ou Ricardo Horta e Francisco Trincão (guardem este nome) a jogar entre a última linha de trincos e a primeira de defesas justamente porque este espaço não existiu. Era como tentar acender uma fogueira sem oxigênio no ambiente. 

E foi assim que os visitantes sufocaram os arsenalistas, apostando nos erros que quem tem a bola invariavelmente comete. Primeiro Raúl Silva, um dos três zagueiros,  perdeu uma bola na intermediária e Hagi, o filho do craque romeno, teve o gol à feição, mas perdeu. Matheus, irmão do ex-Portuguesa e Palmeiras Moisés, tentava livrar a cara de Silva, que cometeu pênalti em cima do intervalo, no qual o arqueiro aplacou o filho do craque, dando alento aos minhotos para a segunda parte. 

Mas não houve jeito. Em um contragolpe letal, Hagi lançou Kent e ele, às costas de Sequeira, não desperdiçou. No fim,  foi o Braga que tentou sufocar os adversários, mas a bola de Paulinho na trave não foi suficiente para tirar o ar de quem deu a bola, tirou os espaços e voltou para a Escócia com a vaga na mão. 

Um castigo e tanto para a melhor equipe portuguesa do momento. E um aviso para o trio dos grandes, a quem o Braga de Amorim venceu nas cinco vezes em que enfrentou um dos três, e que ainda está na prova: brilhar em Portugal talvez não baste.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Gil Vicente 0x1 Benfica - a volta às vitórias, mas não ao bom futebol

PREDADOR O olhar de quem mira a próxima presa (Foto: Miguel Riopa)
Conta a história que um peregrino estava passando por Barcelos a caminho de Santiago de Compostela, mas, acusado por um crime que não cometeu, foi condenado à morte. Ele garantiu que um galo já morto cantaria na mesa do juiz para provar sua inocência. E o milagre, obviamente, aconteceu, ou então não haveria história para ser contada.

Na entrevista antes do jogo da mesma Barcelos, contra o Gil Vicente, Bruno Lage disse que além de vencer para voltar à liderança perdida à condição para o Porto, era preciso também jogar bem. Sabemos que jogar bem é algo subjetivo e depende exclusivamente do gosto do freguês. E que milagres nem sempre acontecem, ou então não seriam milagres.

Contra uma equipe que permite ao adversário poucas chances de gol (somente os três grandes, Braga e Vitória de Guimarães têm números melhores neste quesito na Liga) e venceu Porto e Sporting em casa, além de ser a única a tirar pontos do Braga de Rúben Amorim, mais do que jogar bem, era importante fazê-lo com inteligência.

Ora muito bem! O Gil Vicente, ao cabo dos 90 e poucos minutos, finalizou mais e teve a bola mais do que qualquer adversário do Benfica teve, mas criou poucas situações em que incomodou concretamente a baliza de Vlachodimos. Muito em função da volta ao 11 encarnado de Samaris, o que impediu que a frágil defesa benfiquista fosse  pressionada como acontece com equipes com argumentos ofensivos mais sólidos.

A Bruno Lage, agora, compete fazer com que o jogo possa ser construído a partir dos centrais, ocupando os adversários com preocupações defensivas antes de marcar no que os analistas modernos chamam de primeiro terço do relvado. Se conseguir, veremos Taarabt a receber bolas limpas e fazer com que Rafa e Pizzi  estejam em grande novamente, o que significa dizer que não haverá adversário páreo em Portugal.

Na mesma coletiva pré-jogo citada no início deste texto, Lage disse que o Benfica precisava também reencontrar o equilíbrio, que é ser eficiente tanto no ataque quanto na defesa. O equilíbrio visto em Barcelos significou criar pouco, mas conceder ao adversário menos hipóteses ainda.

Milagres acontecem em Barcelos, como um galo morto salvar um inocente ou Lage reconduzir Samaris ao time titular. Contra o Shakhtar, na Luz, não há história de galos e peregrinos, mas será preciso vencer, o que,  a tirar pelos últimos jogos em competições europeias, será um milagre e tanto. 

Vlachodimos: mais três pontos na conta dele;
Tomás Tavares: não andes mais a testar o coração de toda a gente com passes como o que deste ao Rúben Dias aos 89 minutos. Ai, ai, ai!
Rubén Dias: voltou a merecer a alcunha de "futuro melhor zagueiro do mundo". Tudo bem que foi contra o Gil Vicente, mas deixem lá;
Ferro: ora viva! Tirou a fantasia de Ilori. Já não era sem tempo;
Grimaldo: vendo pelo lado do copo meio vazio, dois jogos seguidos sem causar pânico significa que a próxima fífia não tarda;
Samaris: como na época passada, ficou jornadas seguidas de fora, voltou como se nunca tivesse saído e arrumou o time. Só falta voltar a formar a dupla com Florentino (Chiquinho: cinco minutos mais para contar aos netos quando o assunto for o tempo em que jogou no Benfica);
Weigl: talvez os 20 milhões investidos para trazê-lo da Bundesliga façam o mister titubear em deixá-lo fora do 11, mas a adaptação ao nível superior da Liga Portuguesa poderia ser feita aos poucos, de preferência no banco às vezes (esperamos que entendam a ironia dessas linhas). De começo, alguém que fale alemão pode sugerir a ele que tente passes para a frente também. Nem precisa ser sempre, um ou dois por jogo bastam;
Taarabt: por pouco não deu tranquilidade à malta de vermelho quando dominou uma bola um tanto arredia com o peito, tirou um gajo da frente com um chapéu e catapimba! Quase deitou abaixo o travessão. Foi um lance típico de quem perdeu a paciência por ter que fazer quase sozinho o serviço de outros 10. Calma lá,  Adel, que o Samaris já voltou;
Pizzi: novamente abaixo do que já fez nesta época, mas já andou um bocadinho melhor do que nos últimos jogos, para não dizer neste mês quase todo;
Rafa: tende a jogar mais com o time equilibrado. Também tende a ir para o banco se não o fizer (Cervi: como é bom ter no banco um gajo que não reclama do tempo em que não joga e, quando entra, dá tudo o que tem em campo. Talvez precise melhorar a finalização? Sim, mas não podemos ter tudo, não é?);
Vinicius: ainda andou a tropeçar na bola, mas voltou aos golos. Pode também tentar caprichar na colocação, ficar um pouco menos impedido e voltar a marcar contra equipes fortes, como será o Shakhtar. Afinal, de adversários fracos, teremos quem até o fim da época? O Sporting? (Dyego Souza: vais a somar minutos em campo sem precisar se preocupar com os golos. Guarde-os para maio, no Jamor, sff);
Bruno Lage: já terminamos uma partida sem sofrer golos, professor. Que tal terminar uma a marcar dois ou três?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Shakhtar 2 x 1 Benfica - abominável

ROTINA NAS NOITES EUROPEIAS (Foto: Sergey Supinsky / Getty)

Cá estamos nós outra vez a falar sobre o que o Benfica fez - ou pior, não fez - em mais uma desastrosa noite europeia. Seria bom alguém com acesso perguntar ao Béla Guttmann se a maldição, que era a de não ganhar títulos na Europa, passou a sequer fazer um joguinho só que preste, mesmo ao segundo escalão. 

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Desta vez não vou me ater a esquemas táticos, movimentos deste ou daquele jogador - muito embora até Rúben Dias, o futuro melhor zagueiro do mundo, teve uma noite à Ferro, e ao lado do próprio, o que é bem pior - ou reclamar das escolhas do mister durante o jogo. Basta dizer que o Shakhtar, a quem bastou quatro brasileiros pouco celebrados em campo e um goleiro (Pyatov) que em três jogos contra portugueses (dois pela seleção) só foi vazado em cobranças de pênaltis, não jogava há dois meses e ainda assim foi superior tática e fisicamente. 

Um assombro.  

Pensando bem, há um mês o Benfica não joga. Até mais, se calhar.

Vlachodimos: só pelo Ody é que ainda há vida para a segunda mão. Não sei se fico feliz com isso. Podia ter jogado o Zlobin ou o Svilar que já acabava com isso;
Tomas Tavares: devo-lhe a jogada do golo que mantém a discussão em aberto. Também alguns cabelos brancos;
Rúben Dias: aproveitou o Entrudo para se fantasiar de Ilori. Não precisava caprichar tanto;
Ferro: ninguém poderá dizer que nunca jogou ao nível do Rúben Dias;
Grimaldo: tentou, ao menos;
Florentino: alegria de pobre dura pouco, é o que dizem. No caso, a alegria de pobre era a posse de bola quando o Tino a roubava;
Taarabt: já deve estar se perguntado se o futebol é mesmo um desporto coletivo;
Pizzi: o bom humor acaba quando a gente vê que nem o Luis Miguel fez algo digno de nota. Ok, converteu a grande penalidade, mas isso um Seferovic faria. Ok, talvez não; (Samaris: cinco minutos em campo para garantir a derrota por só um golo fora de casa. Espero não me arrepender por concordar);
Cervi: foi o melhor jogador encarnado no quarto de hora decente do abominável futebol nas neves da turma do Bruno Lage;
Chiquinho: quando é que o Pedrinho vem? (Rafa: já está, Rafael Alexandre! Essa sua imitação do Caio Lucas é excelente, mas já fartou toda a gente);
Seferovic: certamente foi ele quem pediu para usar o equipamento branco, pois ninguém o notaria no meio da neve. Descansa, Haris, no relvado o efeito foi o mesmo (Vinicius: espero que tenha feito as pazes com a bola. Para o Gil Vicente será preciso);
Bruno Lage: já não sei o que dizer, mas eu espreitaria, como quem não quer nada, se o Ivo Vieira não quer fazer umas fotos ao pé da estátua do Eusébio. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Força, Marega!


GIGANTE Marega mostra a pele para os racistas
 vimaranenses (Divulgação/FC Porto)
O Estádio Dom Afonso Henriques foi palco novamente de um espetáculo dantesco, provocado por torcedores do Vitória de Guimarães na partida contra o Porto. Marega, maliano que defendeu as cores vimaranenses na temporada 2016/17, foi vítima de ofensas racistas durante boa parte do duelo.


Nada de novo. De novo.

Mas tão abominável quanto a ofensa racista sofrida por ele foi o cartão amarelo que recebeu do árbitro Luis Godinho por retardar o reinício da partida, como se isso fosse o mais importante. Sons imitando macacos foram ouvidos desde o aquecimento, segundo o jornal A Bola, e não houve nenhuma atitude por parte de Godinho, nem de ninguém. Ao fazer o gol da vitória portista, Marega respondeu aos insultos e foi advertido. O racismo estrutural é mais pernicioso que o racismo descarado. Não que este possa ser tolerado, mas ao menos mostra a cara. 

Companheiros tentaram demovê-lo quando deveriam fazer o mesmo. Exceto Marega, todos erraram. Quem não o apoia incondicionalmente, se coloca ao lado dos desgraçados das bancadas. Quem defende que ele deveria ter ficado até o fim é tão culpado quanto os criminosos racistas. Tivesse feito isso, ninguém estaria falando disso e existem coisas mais importantes do que três pontos. Orgulho, decência e respeito, por exemplo.

Depois de sete minutos de paralisação, o atacante pediu para ser substituído. Perdemos todos com isso.

EDIT. O treinador do Porto, Sérgio Conceição, não falou do jogo na coletiva depois da partida. Limitou-se a falar do tema: "Aquilo que tenho a dizer: o jogo passa para segundo plano quando acontece algo deste gênero. Estamos completamente indignados. Somos uma família independentemente da nacionalidade, da cor da pele, da altura, da cor do cabelo.Somos uma família. Nós somos humanos, precisamos de respeito. O que aconteceu aqui é lamentável". Seria perfeito, caso ele mesmo não tivesse dito, em 2019, que não via racismo em Portugal, quando parte criminosa da torcida do Porto ofendeu, com gritos racistas, o camaronês Nsame, então jogador do Young Boys.  

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Benfica 0x1 Braga - defeitos a nu e apagões em noite cinzenta na Luz

NOITE CINZENTA Segunda derrota seguida, vantagem na tabela quase acabada e incertezas quanto à validação do título. Benfica de 2020 é um time fácil de parar (Imagem: Patricia de Melo Moreira/Getty)

Segundo Bruno Lage, o Benfica tapou seus defeitos por um ano. Entendo tais defeitos como a falta de aptidão para a marcação de Grimaldo e o excesso de jogos dos centrais, sobretudo sobre Ferro, cujo vigor físico não acompanha a durabilidade sugerida pelo nome. 

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Uma vez desnudas, as falhas servem para que aqueles que podem delas tirem proveito. O Porto pode, por duas vezes; o Braga também, por uma. Dos nove jogos sob Ruben Amorim, os minhotos venceram oito. Nestes, Porto e Sporting caíram duas vezes cada. Faltava o Benfica. Faltava. 

A estratégia era ter a bola no início para trazer nervosismo a quem poderia ver sua vantagem de sete pontos cair para um, dependendo do fado portista contra o bom Vitória de Guimarães. Associe isso ao apagão de Pizzi, Rafa e Weigl, além do desastre da rodovia Ferro/Grimaldo.

O Benfica não funciona porque Rafa e Pizzi sumiram ou é o contrário? A vaca lisboeta não deitou por completo porque os próximos adversários são ruins e é pouco provável que, em condições normais, vençam. No entanto, as individualidades precisam voltar a resolver. 

Ps1: Bruno Lage terá que fazer o time funcionar com três centroavantes ou então desistir da ideia,  o que nos leva a perguntar: por que diabos foram atrás do Dyego Souza, quando era preciso reforçar a defesa?

Ps2: ergamos as mãos ao céu para agradecer que Trincão jogou só meia hora. 

Ps3: como quem não quer nada, perguntem ao Napoli se eles têm visto os jogos este ano. Se não, vejam se ainda querem o Grimaldo, e aproveitem para incluir Ferro no pacote. 

FOTO: Patricia de Melo Moreira/Getty

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Famalicão 1 x 1 Benfica - ao menos reconhecem que algo vai mal

DESFOCADO Benfica passou aperto nos dois jogos, mas garantiu
a vaga à decisão da Taça de Portugal (Foto: Hugo Delgado/EPA)  

Foi assim que o autor deste blog terminou a análise do clássico com o Porto. E ainda bem que foi dito antes para que ninguém o chamasse de mentiroso. João Pedro Sousa, excelente técnico do Famalicão, armou sua equipe à imagem e semelhança do FC Porto no que diz respeito a anular as boas valias benfiquistas na segunda mão da Taça de Portugal. E conseguiu, durante quase todos os 90 e poucos minutos que determinaram o retorno do Benfica - e a primeira vez de Bruno Lage - ao Jamor.

Diogo Gonçalves, emprestado pelo próprio Benfica, a passear pela Avenida Grimaldo, Fabio Martins não deixando Tomás Tavares respirar, e o espanhol Toni Martinez, ora entre os zagueiros, ora entrelinhas, atrás de Taarabt e Florentino e à frente de Ruben Dias e Ferro (em outra noite infeliz), foram os responsáveis por empacar outra vez os encarnados, que só chegaram ao gol (na única bola enquadrada da equipe) graças a um erro de saída de bola.

O segundo tempo foi um terror. Com cinco minutos, o Famalicão já havia finalizado quatro vezes. Florentino, que não jogava desde dezembro, não tinha ritmo e era presa fácil para o numeroso meio-campo dos donos da casa. Taarabt, outra vez sozinho na tarefa de municiar tudo o que os encarnados tentavam, tinha a bola, mas não encontrava caminhos para achar alguém de cinza com espaço. Nem a entrada de Chiquinho, que também pode atuar na sua faixa de campo, ajudou o marroquino na tarefa. Cinza, inclusive, combinou muito bem com o nível de jogo apresentado pelos líderes da Primeira Liga, tanto que, em boa parte do jogo, o Benfica tratou que não houvesse...jogo. 

No fim das contas, Vlachodimos garantiu mais uma vez. Curiosamente, há muito se fala na necessidade de contratar outro goleiro, quando o time precisa mesmo de mais nomes para poder dar um refresco a Ferro, que caiu vertiginosamente de rendimento e que não tem um substituto para poder dar-lhe descanso. 

Lage disse, após a derrota para o Porto, que o Benfica escondeu seus defeitos por um ano. Ele tem razão. Para a Liga, como diziam os antigos, bacalhau basta, como diziam os antigos. Para a Europa, porém, o prato deverá ser mais servido.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Porto 3 x 2 Benfica - o domínio do Dragão e a passividade encarnada

CORRIQUEIRO Benfiquista a olhar a festa portista, algo comum nesta
 época quando ambos se encontram (Foto:Manuel Araújo/Lusa)
É incrível o que será dito aqui,  mas um time que, de 20 jogos, ganhou 18 e perdeu somente dois, que tem o artilheiro, o jogador que mais passes para gol deu,  o melhor ataque e a melhor defesa da competição, está longe ainda de garantir a taça. Mais que isso: sai do clássico com seu principal adversário moralmente derrotado porque não conseguiu se impor. Pior: foi subjugado, obrigado a jogar conforme o desejo do oponente. 

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Por duas vezes nesta Liga, o Porto obrigou o Benfica a jogar na bola longa, que é a condição em que é mais forte. Aí o Benfica perdeu a criação a partir do campo de defesa por causa da marcação sob pressão do Porto, e era esse justamente o ponto de dominação do time: ter a bola enquanto os extremos atacam os espaços na diagonal para receber os passes quebradores de linhas do marroquino Taarabt ou de um dos centrais. Com eles marcados, tinha que i) recuar o Pizzi; ii) centralizar o Rafa; iii) começar com o Cervi para dar largura e impedir que o Corona fizesse o que fez com o Grimaldo, que não marca nem cartela de bingo. Ou ao menos pô-lo em campo quando as dificuldades começaram a ser claras. 

Nada disso foi feito. 

Já o Porto teve o domínio do jogo porque forçou, sem oposição alguma, o Benfica a errar ao sair da zona de conforto e enfiou o tanque Marega entre o Ferro e o Grimaldo e o inspirado Sérgio Oliveira entre os volantes e os zagueiros, diminuindo o espaço de manobra para eles. Aí Luiz Diaz abriu do outro lado, impediu o André Almeida de descer para apoiar o Pizzi e o Taarabt ficou praticamente sozinho tentando achar um espaço para acionar Chiquinho, Pizzi, Rafa ou quem mais se mexesse, o que não aconteceu. No fim, o Porto recuou, o Benfica enfiou três centroavantes em campo (Seferovic, Dyego Souza e Vinicius), mas sem quem jogasse por baixo, justamente quando o posicionamento do Porto permitia, mas Taarabt já tinha saído (para evitar ser expulso, o que deveria ter acontecido, é bom que se diga) e Gabriel, com um problema ocular ainda por ser detectado, não jogou, não havendo quem pudesse fazer a bola chegar aos corredores. 

Azares.

É certo que o golo logo cedo condicionou um bocado as coisas, mas menos teria sido se o tento de empate marcado ainda antes do minuto 20 não tivesse sido um lance isolado. Há também a justa reclamação sobre a atuação do VAR no pênalti que originou o segundo gol portista, já que a análise é feita somente sobre o claro e flagrante toque da bola do braço aberto do mais uma vez desastrado e desastroso Ferro, quando havia a reclamação por parte dos benfiquistas por um suposto deslocamento com o braço de Soares nas costas do zagueiro, causando seu desequilíbrio e o consequente toque na bola. No entanto, o time de Bruno Lage foi passivo ante o domínio territorial dos donos da casa. Pior que isso, aceitou dançar o malhão tocado pelas concertinas de Sérgio Conceição, que deu ao jogo o ritmo que quis e quando o quis. O terceiro gol, este contra de Ruben Dias, mas com a participação de Vlachodimos, também nasceu do parque de diversões que foi o lado esquerdo da defesa lisboeta. 

Três gols pelo mesmo lado do campo, com um intervalo de mais de 35 minutos entre o primeiro e o último. Não é possível que só Sérgio Conceição viu que o caminho era por ali. 

A sequência de jogos que se avizinha promete ser a mais complicada até o fim da época, incluindo as meias-finais da Taça de Portugal, os dois jogos dos 16 avos-de-final da Liga Europa e a recepção ao Braga, que venceu sete dos oito jogos que fez desde que Rúben Amorim rendeu a Sá Pinto. E, neste meio tempo, um refresco contra o Gil Vicente, mas que pode muito bem ter um sabor um tanto azedo à turma de Lage.

● Famalicão, pela Taça de Portugal (ganhou o primeiro jogo em casa de virada por 3 a 2, nos acréscimos, mas só o fez com os titulares em campo);
● Braga (que ganhou 7 dos 8 jogos com o Rúben Amorim, incluindo o Porto e o Sporting por duas vezes cada)
● Shakhtar Donetsk (fora de casa)
● Gil Vicente (único a tirar ponto do Braga com o Rúben Amorim e um dos dois a ganhar do Porto);
● Shakhtar Donetsk (na Luz).

São cinco jogos em 17 dias. A sorte do Benfica é que o Porto só é encontrado em campo duas vezes pela Liga. Bruno Lage pode erguer as mãos para o céu pelos demais adversários não terem material humano para causar estragos semelhantes aos que os Dragões fizeram. Por duas vezes.