segunda-feira, 29 de junho de 2020

Marítimo 2 x 0 Benfica - a cloroquina de Bruno Lage

BIPOLAR De melhor a pior em seis meses, Lage de
costas à Luz (Patrícia de Melo Moreira)
O Benfica entrou em campo no estádio dos Barreiros para enfrentar o antepenúltimo colocado Marítimo bem modificado, com relação à equipe que perdeu para o Santa Clara. Eram cinco as mudanças de um time cujas ausências escalaram melhor o time que futuro ex-técnico Bruno Lage.

Sem Ruben Dias, Gabriel (suspensos), Grimaldo e Taarabt (lesionados), o ainda técnico Bruno Lage promoveu as entradas de Jardel, que se recuperou de lesão, Samaris, Cervi, Chiquinho e Carlos Vinicius, no seu estúpido rodízio de pontas de lança.

Assim, Bruno Lage teve que recorrer a Samaris, o renegado. Com ele em campo, o jogo começou bem, com movimentação, Chiquinho entre linhas, Pizzi mais solto e Weigl finalmente fazendo uma partida decente, o Marítimo mal passava do meio de campo. A explicação cobria todo o setor de marcação com o número 22 às costas.

Chances criadas, chances perdidas, o goleiro Amir pegando até pensamento e o placar seguia em branco, mas com o Benfica fazendo sua melhor partida pós-pandemia. Aí veio o segundo e, com ele, o Bailinho da Madeira era todo benfiquista. Até Bruno Lage mexer no time.

Cansado, Samaris saiu, mas quem entrou foi Rafa, que é atacante. Aí o equilíbrio acabou, o Marítimo matou o jogo em dois contragolpes nas costas de Nuno Tavares, que não contava com a cobertura do trinco grego - de ninguém, na verdade -, e em cima de uma dupla de zaga formada por um veterano que voltava de contusão e um jovem cujo vigor físico e velocidade nunca serão os motivos pelos quais ficará conhecido.

A partir daí, o time desmontou: Pizzi foi para o meio, onde não rende, para dar lugar a Rafa, que não costuma ir bem pela direita; Weigl, que fazia sua melhor partida desde que chegou da Alemanha, foi para a posição de Samaris, onde já mostrou que não produz também. Mas o pior ainda estava por vir:

Aos 73, Lage fez o que sempre faz e nunca dá certo: mandou a campo um extremo e um avançado, para ter dois na área, mesmo que a bola por lá não ande mais. Um minuto depois, Nanu, lateral do Marítimo, que sofria a cada investida encarnada pela esquerda, aproveitou a brecha justamente no buraco deixado pelo "treinador" do Benfica e deu o passe para o primeiro gol, de Correa. Mais cinco e o mesmo Nanu, em jogada praticamente idêntica, serviu para Rodrigo Pinho encerrar os trabalhos, praticamente tirando do Benfica a chance de ser campeão.

Pensando bem, quando o "treinador" parece não conhecer seu próprio plantel e age como um irresponsável que prescreve um medicamento que já se mostrou ineficaz, não é o Nanu ou outro qualquer o responsável pela derrota, ou pela pior sequência das águias desde 1904.

Vlachodimos: um balde d'água só não teria a mesma serventia porque não pode ir à baliza pegar a bola que entrou;
André Almeida: reviveu, por quase 60 minutos, a dupla com Pizzi, que ajudou o Benfica a, dados os últimos resultados, somar pontos para não ser rebaixado ao fim da época;
Jardel: pergunta ao mister se foi pra isto que recuperou-se antes do previsto;
Ferro: sim, o nome na camisola do 97 é derivativo de Ferreira, seu sobrenome, mas poderia ser uma explicação vinda do peso que carrega nas pernas;
Nuno Tavares: se quiseres perder um bingo, entregue a cartela ao miúdo que substitui Grimaldo, já que ele não marca nada;
Samaris: o senhor do meio-campo. De tão senhor, saiu cansado (Rafa: ó Rafael Alexandre, aproveita a barba e mete lá uns algodões para usá-los nos ouvidos quando o "treinador" mandar que vás para a direita);
Weigl: andaste a estudar o Português durante a parada, Julian? Espero que tenhas aprendido uns bons insultos para dirigi-los ao mister;
Pizzi: voltou a fazer um grande jogo, até que o mister percebeu e mandou acabar logo com isto (Zivkovic: caro Andrinho, não pense que o mister gosta de ti porque voltaste a jogar. Ele está a castigar-te);
Chiquinho: voltou a fazer um grande jogo, até que o mister percebeu e mandou acabar logo com isto (Jota: no alfabeto, a letra J vem imediatamente  antes da letra K, comumente usada seguidas vezes para mostrar a risada de algum portista vendo o jogo. Deve ser por isto que o Jota entrou. Faz algum sentido);
Cervi: voltou a fazer um grande jogo, até que o mister percebeu e mandou acabar logo com isto (Dyego Sousa: ajudou a acabar logo com isto);
Carlos Vinícius: deve ter ido bem, pois não saiu no intervalo. (Seferovic: não é todo dia que sai do banco e marca. Bom, nem deveria sair do banco todo dia);
Bruno Lage: conheço um presidente que anda a insistir num remédio que não serve pro que ele diz que serve. Não tem dado certo. A diferença é que, quando esta crónica de pós-jogo estiver sendo publicada, o mister poderá não ser mais o treinador. Já o tal presidente estará no mesmo lugar.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Benfica 3 x 4 Santa Clara - a soma de todos os erros

ALGUÉM SABE LÁ O QUE É ISTO? Entre erros e mais erros,
faz-se um dos piores Benficas de sempre (Foto: Tiago Petinga)
Já perdi a conta de quantas vezes aqui critiquei o treinador Bruno Lage, de quantos pontos perdidos o têm como principal responsável. A última vergonha benfiquista, que marcou a quinta partida seguida sem vencer na Luz e foi a primeira derrota na história para o Santa Clara, tem as digitais do treinador, mas conta com a contribuição de boa parte dos comandados.

Ruben Dias, já chamado aqui de "o futuro melhor zagueiro do mundo", teve uma noite à David Luiz nos seus piores dias; Nuno Tavares foi de melhor em campo contra o Rio Ave a porteiro da desgraça ao conceder o primeiro tento aos açorianos; Ferro, Weigl, Pizzi... Bom, não se toma quatro golos em casa, mesmo sem torcida, em condições normais.

Ao comboio de culpados pelo infortúnio, há também quem entendeu que não era preciso reforçar o elenco com um zagueiro, mas que seria interessante torrar 20 milhões de euros em Weigl, tendo Florentino e Samaris à disposição, ou então, com Seferovic e Carlos Vinicius para atuar à 9, buscar um excedentário Dyego Sousa.

Quando somamos falhas individuais às escolhas infelizes do mister, não se espera outro resultado que não a queda estrondosa que, com a goleada do Porto no Derbi da Invicta, deixa os encarnados praticamente alijados da disputa do título: o presente de Nuno Tavares para o primeiro gol; a "marcação" de Dias/Weigl no segundo; a mão na bola de Ruben Dias no terceiro; o pé mole de Ferro (?) no quarto. Foram três finalizações no segundo tempo, três gols, três presentes. 

A responsabilidade de Lage tem limites, mas até atingi-los há um relvado quase todo de espaço, e podemos citar algumas decisões: não se decide pelo titular no comando de ataque, tendo escalado três diferentes no últimos três jogos; aposta num Zivkovic para reverter o resultado tendo concedido a ele, na temporada toda, 60 minutos num jogo de Taça da Liga. Ainda assim, ao pé dos outros, ele foi um dos poucos que tiveram um boa performance.

Mesmo com os erros individuais que deitaram ao solo um jogo que prometia ter um resultado diferente, Lage voltou a ministrar a medicação que não resulta, mas que sempre é dada, seja qual for a enfermidade: um extremo e um avançado.

Seja como for, o título só não está perdido porque o FC Porto é outro arremedo de time, como são praticamente todos os que disputam o pior Campeonato Português dos últimos anos. 

Vlachodimos: sem culpa nos golos, mas não dá pra eximir um goleiro que toma quatro do Santa Clara, mesmo tendo a própria defesa a jogar contra;
André Almeida: pobre Almeidinhos. O único do eixo defensivo que pode andar de cabeça erguida por Lisboa;
Ruben Dias/Ferro: o dia em que Ferro joga no nível do Ruben Dias ainda não chegou, mas o contrário já está;
Nuno Tavares: há crianças lendo, então vamos ao próximo;
GabrielWeiglPizzi: os três juntos para não perder tempo. Que vão todos ao inferno;
Taarabt: gosto de ti, Adel. Vou gostar mais se aprenderes a seguinte frase em Português: "Vá à merda, mister"; 
Seferovic: peça para entrar no segundo tempo, Haris;
Rafa Silva: além da barba, deixe juntar cera nos ouvidos para poder dizer que não ouvir as orientações do mister; 
Zivkovic: foi resgatado do limbo para estar em campo nesta desgraça de jogo. Nem James Wan e Leigh Whannell seriam tão sádicos;
Carlos Vinicius: da próxima vez, marque o gol da virada aos 95 para não dar tempo do time se perder em campo, sff;
Dyego Sousa: espero que ele esteja aproveitando as férias do futebol chinês para aprender um hobby, como cozinhar, tricô ou anotar golos;
Cervi: meu caro Franquito, tente não acertar o gajo que usa uma camisola igual à sua quando fores alçar uma bola na área.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Rio Ave 1 x 2 Benfica - que sorte a de Bruno Lage

PODE ACREDITAR O Benfica volta às vitórias, mas precisa de mais
 para manter o troféu na Luz (Foto: Jose Coelho/ POOL / AFP) 
"Que sorte a minha!", diz a música de José Malhoa, no estilo "pimba", que é o que há de pior na música portuguesa e que combina com o baixíssimo nível do futebol praticado em Portugal. Este blog começa a crônica do Rio Ave 1-2 Benfica desejoso que o trecho citado em sua abertura possa ter passado à cabeça de Bruno Lage após virar um jogo praticamente perdido e encerrar uma sequência de quatro empates na Liga Nós.

"Que sorte a minha!", poderá ter pensado o mister ao ver que o Porto conseguiu empatar com o último colocado na véspera, dando a oportunidade ao Benfica de igualar-se em pontos ao líder do campeonato cujo vencedor não terá merecimento algum ao fazê-lo. Se dependesse somente das ideias de Lage, porém, não estaríamos falando de sorte, mas de mais um tropeço.

Tendo sido adjunto de Carlos Carvalhal na Inglaterra, Lage conhece o seu gosto por começar as construções ofensivas desde o campo de defesa. Assim, armou o Benfica diferentemente do habitual: Taarabt mais aberto à direita, Rafa espetado à esquerda e Dyego Sousa, lançado no 11 pela primeira vez, entre os zagueiros. Funcionaria, não fosse por dois detalhes: Gabriel errava todos os passes que tentava e Rafa, do alto de seu 1,71 metro, jogava de costas para a defesa.

Ainda assim, a estratégia manteve os nortenhos longe da remendada defesa encarnada, que não contava com Jardel e Grimaldo, machucados, e o suspenso André Almeida. Mas tinha Ferro. E foi o desastrado 97 a cometer a falta desnecessária que deu origem ao gol do Rio Ave, mais um de bola parada, curiosamente marcado pelo time que menos tentos faz desta forma entre os 18 da Liga.

"Que azar o meu!", terá dito Lage se formos pensar numa uniformização de discurso dos postulantes à taça, que nunca admitem erros e preferem responsabilizar a pandemia, a arbitragem, o não retorno de Don Sebastião, do raio que o parta, pelos maus resultados, muito embora o técnico benfiquista possa reclamar da equipe comandada por Luis Godinho, que não viu o puxão de camisa que Dyego Sousa sofreu antes de passar a bola de cabeça para o iraniano Taremi abrir os trabalhos.

A partir, daí,  o Benfica se perdeu de vez.  Desordenado, não conseguia trocar meia dúzia de passes seguidos no campo de ataque, nem pressionar a saída de bola dos adversários, tampouco fazê-la chegar à área, onde Dyego Sousa tinha, como único mérito, segurar dois defesas com ele. 

Mas foi justamente o camisola 20, que substituía o artilheiro Carlos Vinicius, barrado pela terrível fase que atravessa, a estar no centro de outro lance polêmico, ainda na primeira parte, impedindo o empate quando, em impedimento, tentou alcançar a bola passada por Taarabt, o melhor benfiquista em campo (outra vez), na melhor jogada do primeiro tempo, que acabou no gol invalidado de Rafa Silva, numa das poucas ações em que houve um rompimento de linhas e o 27 pode aparecer de frente, na área.

Mas que sorte ter no banco o artilheiro da temporada passada, a quem tem sido dados poucos minutos em campo. Seferovic entrou no intervalo, acertou uma bola na trave, perdeu um gol feito, mas anotou o empate quando recebeu passe precioso de Nuno Tavares, aos 19 minutos, depois de boa tabela com Gabriel. Aos 17, o Rio Ave perdeu o volante Al Musrati por acúmulo de cartões. No mesmo momento, Taarabt deixou o campo sabe-se lá porque para Carlos Vinicius ser o segundo avançado na área, quando na verdade o problema, mais uma vez, era a falta de jogo na zona de criação.

O mesmo de sempre: a bola não circula por ser trabalhada por um time engessado e, mesmo em superioridade numérica, ainda estava exposto a sustos, como quando a bola bateu no braço de Ferro dentro da área, mas a arbitragem considerou ter sido um toque involuntário de um braço que não estava tão junto assim do corpo. Poderia ter sido marcado, mas que sorte a de Lage.

A sorte pode mascarar a falta de juízo de um treinador que viu seu time ter um jogador a mais e não conseguir transformar isso em hipóteses de gol; que demorou intermináveis oito minutos para reforçar a zona criativa estando com dois a mais, depois que Nuno Santos deu com a sola da chuteira no peito de Pizzi e que o VAR, desta vez com correção, avisou Godinho, que deu o vermelho direto ao 11 da casa. 

Com Chiquinho no lugar de Gabriel, o Benfica passou a ter bola, criatividade e, com espaço no relvado, passou a rondar a meta de Kieszek, mesmo sem lá muita objetividade. E foi com Chiquinho que a equipe chegou duas vezes, pela direita. Na primeira, a cabeçada de Seferovic parou no goleiro; na segunda, surgiu o canto que Pizzi, em péssima jornada (novamente), colocou na medida na cabeça de Weigl, que jogava o mesmo de sempre, o que não é muito, mas marcou o gol da vitória benfiquista, seu primeiro pelo clube, seu primeiro de cabeça na carreira.

"Que sorte a minha!", poderá dizer Bruno Lage. Só se espera que ele saiba que não é todo dia que a sorte sorri e que o futebol apresentado tem sido tão ruim quanto a música de José Malhoa.  



quarta-feira, 10 de junho de 2020

Portimonense 2 x 2 Benfica - Não há problema algum

PELOS ARES: Vantagem do Benfica foi para o espaço após o intervalo (Foto: Luis Forra/Pool/EPA)

Após o jogo em que o Benfica foi ajudado pelo terrível Carlos Xistra a não perder para o penúltimo colocado Portimonense, empatando em 2 a 2, o distribuidor de coletes Bruno Lage foi perguntado sobre o futuro e respondeu:

- Já falei sobre isso. Falei com o presidente, fomos ver o mar, está tudo tranquilo, não há problema nenhum.

Ok, não há problema nenhum. Exceto que o time não joga, não tem padrão e é incapaz de não ser dominado por uma equipe que deverá descer ao segundo escalão na próxima temporada. 

Tudo bem, não há problema algum. Isso se não considerarmos que a única jogada bem trabalhada, que resultou no tento de Pizzi (o segundo gol é fruto de uma falha medonha do zagueiro Lucas) no Algarve saiu do pé de um defesa, Ruben Dias, porque ninguém no meio rompe linhas. Weigl passa para o lado eTaarabt avança com a bola. E só. 

Tudo bem, não há problema algum. Levem em conta o horizonte contemplado por Vieira e Lage. À beira do Mar Mediterrâneo, que tem uma vista linda, Lage poderia se lembrar que tem Gabriel e Florentino à disposição. E  Chiquinho, avançado capaz de jogar à 6, à espreita de achar um espaço para enfiar uma bolita que fosse para aproveitar o fôlego de Rafa. Ou até Samaris, que de solução anda à margem do relvado. 

Tudo bem, não há problema algum. Ao menos até o fim da mais tranquila do que vistosa primeira parte. Na segunda, o Portimonense subiu as linhas, o técnico Paulo Sérgio lançou logo Aylton Boa Morte e Fali Candé, alargando o time, forçando o Benfica a jogar pelo meio e ficando com a bola. Fez dois em bolas paradas, quando Ruben Dias e Ferro ficaram a olhar para cima, em vez de cuidarem para que o adversário não chegasse para o cabeceio.

Tudo bem, não há problema algum. Mas com o plantel que tem, se Lage tivesse optado por não esperar 35 minutos para renovar o fôlego e refrescar as ideias, talvez o resultado fosse outro. Ou não, já que as soluções são sempre as mesmas, já testadas, como um remédio que não tem eficácia comprovada, mas que é usado mesmo assim: mete lá dois avançados na área. E daí que o jogo não flui no meio? Quem liga, não é mesmo? Ainda mais quando vão ao mar do Algarve. 

Está tudo tranquilo, afinal, este grupo está a fazer história: pela primeira vez, o Benfica empata cinco jogos seguidos e, nos últimos 40 anos, é a segunda vez que chega a uma vitória em dez jogos. Como se vê,  não há problema algum. 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Benfica 0 x 0 Tondela - Ó, tempo, volta pra trás

PERSEGUIÇÃO Gabriel corre atrás de Richard, simbolismo de um
Benfica que precisa correr para a frente em busca do passado
 que teima em não voltar (Foto: Gualter Fatia)
Ó, tempo, volta pra trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi
Ó, tempo, volta pra trás
Mata as minhas esperanças vãs
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs
A antiga canção de Antonio Mourão pede para o tempo voltar para trás e devolver as alegrias de quem as viveu, mas já não as tem. Certamente os adeptos benfiquistas cantariam os versos que abrem a velha marchinha no Estádio da Luz se lá estivessem.
Quem viu o jogo nem terá notado diferença entre o time que fez a última partida antes da parada de quase 90 dias da Liga (1-1 com o Vitória de Setúbal) e o que esteve em campo na retomada, apesar das alterações no 11 inicial. Segue a previsibilidade, a dificuldade em explorar os corredores e para achar espaços em defesas fechadas, como têm sido as encontradas pelos de Bruno Lage.
Não significa, porém, que chances tenham faltado. Com menos talento à disposição, é normal que os do Norte tenham sofrido mais os efeitos dos quase três meses com trabalhos condicionados. Ainda assim, o grande responsável pelo empate que travou o ataque à liderança da Liga após a derrota do Porto pode atender pelo mesmo nome de sempre: Bruno Lage.
Os três minutos que bastaram para que Rafa Silva colocasse Cláudio Ramos para trabalhar deram a impressão de que a sorte sorriria para os mais de 20 mil cachecóis nas bancadas da Luz, mas foi só impressão. O time segue travado, lento, com a presença de Weigl obrigando praticamente todo o setor criativo a mudar o comportamento, nem sempre favorecendo as características de cada um.
O retorno de Gabriel poderia significar que os passes rompedores de linha apareceriam com frequência. Com o alemão, porém, ele teve que compor mais atrás a marcação. Assim, Pizzi seguiu isolado à beira do campo, impedindo o 21 de andar à espreita de um passe ou ele mesmo a fazê-lo ao pé da área. Do outro lado, Rafa Silva até é opção constante, mas a bola mal chega porque quem poderia acioná-lo estava mais preocupado em não deixar Weigl sobrecarregado. Desta forma, os dois melhores jogadores do time, Pizzi e Rafa, não rendem o que poderiam.
Mesmo quando Weigl saiu, o time seguiu mal. Sem a frescura inicial nas pernas, o time passou a contar com dois centroavantes, quando o problema não era não ter a referência na área, já que Vinicius estava lá. Com Dyego Sousa a compor a dupla de torres na área, o problema passou a ser abrir uma defesa postada toda atrás, e que mal arriscava um contragolpe.
No fim, coube a Jota tentar dar amplitude ao ataque, mas a bola seguiu rondando mais pelo meio. E, apesar das duas bolas atiradas à trave e o sem número de hipóteses que, quando não eram travadas pelo goleiro, havia uma anca ou um pé salvador, poucas vez houve um placar tão fácil de adivinhar quanto o 0 a 0, resultado previsível para um time cuja previsibilidade impediu que deixasse o relvado na liderança, ainda mais quando Vinicius e Pizzi, que juntos somam 29 golos, já estavam no banco, com máscaras à fuça e o coração à garganta, como estariam os donos dos 21.116 cachecóis que, sem lá muito sucesso anímico e visual, fizeram as vezes na Catedral da Luz.

Famalicão 2 x 1 Porto - sobrou disposição, faltou inteligência

NEM QUERO VER A lamentação pela derrota que
 pode custar o título (José Coelho/Reuters)
A Liga Portuguesa voltou ontem depois de 87 dias da última rodada antes da parada por conta da pandemia e o líder da prova esteve em campo com a mesma disposição demonstrada até a interrupção, quando o coronavírus entrou em campo. Contra o Famalicão, que liderou a competição nas oito primeiras rodadas, até perder a liderança para o próprio time de Sérgio Conceição, a estratégia foi a mesma usada naqueles 3 a 0: sufocar a saída de bola da turma do João Pedro Sousa, um time que gosta de construir desde trás. 

Teria funcionado se Marega não fosse Marega ou o pé de Sérgio Oliveira estivesse em um dia normal. Ou então se as soluções para render os ausentes Alex Telles (suspenso) e Marcano (lesionado) não fossem, respectivamente, Manafá e Pepe, destros que tiveram que atuar pela esquerda. No caso do primeiro, nem à direita resolve. 

O Porto é um time objetivo, mas que sofre de falta de imaginação. Para completar, quase três meses sem jogar, com treinos condicionados às limitações impostas pelo distanciamento social deixaram o time sem pernas e pulmões para reagir depois que o quase sempre seguro Marquesín saiu jogando errado e deu o primeiro gol aos donos da casa, pelos pés do ótimo Fábio Martins. A partir daí, o 4-4-2 com as linhas altas para tomar o campo de defesa adversário se transformou num negócio sem números que possam descrever e algo só aconteceria na marra, ou na falta de gás dos contrários, que fatalmente aconteceria. E aconteceu faltando pouco mais de 20 minutos para o fim, quando o cruzamento preciso de Sérgio Oliveira achou um Corona (sem piadas aqui) que já se arrastava em campo, tanto que precisou ser atendido por causa das inevitáveis câimbras logo após ter empatado o jogo. 

Só que a noite não era dos líderes. Três minutos depois, o que faltou de fôlego aos portistas sobrou de espaço para Pedro Gonçalves avançar por duas dezenas de metros sem ser incomodado e soltar a tamanca da entrada da área. 

Faltavam 12 minutos ainda para o 90, e Conceição já contava com fôlego novo no relvado cercado pelo vazio das bancadas, embora houvessem membros da Super Dragões reunidos do lado de fora. Só que, se o fôlego esteve renovado com as entradas de Aboubakar e Zé Luiz, faltava oxigenar também as ideias, coisa que nenhum dos dois pode proporcionar. 

Como rescaldo do retorno, Sérgio Conceição, que reclamou da arbitragem ao fim do jogo, mas não levou em consideração que houve um pênalti claro a ser marcado para cada lado, terá que explicar por que, numa partida em que, além das ideias para abrir uma defesa nem tão fechada assim, fez apenas duas das cinco substituições possíveis. Afinal, apontar o dedo sem levar em consideração os próprios erros é tão claro quanto, em um país em que morrem 15 pessoas por dia por causa do Covid-19, a volta do futebol ser absolutamente questionável.