quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Obrigado, baianinho

Alex Alves marca o segundo da Lusa contra o Atlético, de Taffarel
Estou atrasado, eu sei. Afinal, o bom baiano Alex Alves, vice-campeão brasileiro pela minha Portuguesa, pereceu aos 37 anos na quarta-feira, em Jaú, após uma luta de quase cinco anos contra uma doença rara no sangue. Nem o transplante coma a medula doada pelo seu irmão foi capaz de evitar sua partida. Mas não me importo com padrões. Não os seguirei.

Assim foi a vida dele, Alex, desde que despontou no Vitória igualmente vice-campeão nacional de 1993. Ao lado de outros meninos à época, como Paulo Isidoro, Dida e Vampeta, foi difícil segurar aquele time. Só o Palmeiras, máquina bancada pela multinacional italiana do leite, para aplacar o futebol e os sonhos dos meninos baianos.

Aí ele, Alex, veio para São Paulo defender as cores verde e branca do seu algoz. Pelo time do Palestra Itália, levantou o Campeonato Brasileiro no ano seguinte, embora sem se firmar entre os titulares. Alternando momentos memoráveis com atos lamentáveis de indisciplina (chegou a ser detido por desacato a autoridade), foi emprestado para  o Juventude, equipe gaúcha cuja co-gestora do futebol também era a gigante dos laticínios, para desembarcar, cheio de desconfiança, no Canindé, em 1996.

Foi pela Portuguesa que ele finalmente, explodiu, se firmou. Com a cabeça no lugar, foi um dos destaques da equipe que perdeu o título nacional a cinco minutos do final, contra o poderoso Grêmio, no estádio Olímpico. E foi justamente no início da fase de mata-mata que o bom baiano despertou: dois golos contra o Cruzeiro, na vitória por 3 a 0 no primeiro jogo; o golo da vitória contra o Atlético Mineiro, pelas meias-finais, e também o segundo, o da virada, que permitiu à Lusa ainda poder sofrer o golo de empate no 2 a 2 que a conduziu à decisão diante do Tricolor Gaúcho.

Ainda defendeu a Lusa no ano seguinte, até ter o passe comprado pelo mesmo Cruzeiro que eliminou no ano anterior. Era o ano de 1997, época em que jogadores com roupas estranhas e cabelos igualmente extravagantes eram tão raros quanto chuteiras pretas hoje em dia. Alex Alves foi um precursor. Sim, podia ser estranho - e realmente era -, mas o fato é que ele não imitava ninguém ou se prendia aos padrões, fossem eles quais fossem. 

Como eram formosos os campos onde o baiano de Campo Formoso jogou! Com a camisa da metade azul de Minas Gerais, além de levantar a Libertadores daquele ano, Alex foi um dos responsáveis pela campanha do vice-campeonato (seu terceiro) de 1998. Quis o destino que, nas meias-finais, ajudasse a eliminar a mesma Portuguesa a quem classificara dois anos antes, como se pedindo desculpas aos torcedores cruzeirenses. Só pra eles, pois da nossa parte nem precisaria, estava previamente perdoado pelos serviços prestados.

Das Alterosas, rumou para a Alemanha, para defender o Hertha Berlim com algum sucesso, mas os problemas disciplinares voltaram a atrapalhar. Não fosse isso, teria sido muito maior, pois talento ele tinha de sobra. Alex Alves foi mais uma vítima não do próprio ego, mas da complacência de dirigentes que, em vez de lapidarem talentos, mimam os garotos, pensando em resultados imediatos.




De volta ao Brasil, defendeu Atlético Mineiro, Vasco, Fortaleza, novamente o Vitória,  e teve outra passagem pela Europa, num clube pequeno da Grécia, o Kavala. Ainda defendeu Boavista, do Rio de Janeiro, e União Rondonópolis, seu último clube. Não me recordo a ordem correta das camisolas que envergou. Não tem problema. Assim como o bom baiano, a quem agradeço nessas poucas linhas, não seguirei padrões. 

Obrigado, Alex, mas você merecia muito mais.  

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