Hoje li no jornal que a Portuguesa iria estrear na Segunda Divisão do futebol paulista. Sim, foi no jornal. Ainda preservo alguns costumes, como o café na padaria do seu Antonio, luso e benfiquista como eu; como a cordialidade de um "bom dia" a quem eu sequer conheço; como a leitura do jornal. Admito que, às vezes, a minha saudação matinal não encontra retorno. Bom, o problema não é meu. Se querem ser amargos comigo, que este seja o meu café. E na padaria do seu Antonio.
Lá sou bem tratado. Não por vestir as mesmas cores que ele, mas porque é costume tratar bem a freguesia. Enquanto tomava minha xícara, li no rodapé de uma página qualquer que o jogo da Lusa seria às quatro da tarde. E em Monte Azul Paulista. A imprensa também mantém velhos hábitos. Largar a Portuguesa numa página qualquer é um deles. Enfim, terminei o desjejum e, com o impresso enrolado sob o braço direito, pus-me a andar de volta pra casa.
Fiz meus afazeres cotidianos um pouco mais cedo para poder estar livre no momento do jogo. Afinal de contas, além de a minha equipa debutar nesta época, alguns amigos fariam a transmissão. Como de costume, vesti minha camisola verde-e-encarnada e comecei a acompanhar o jogo. Jogo, aliás, marcado para um horário descabido, ainda mais num dia de semana, e numa cidade que faz calor o dia todo. Mas a Federação Paulista de Futebol tem a prática de pensar no adepto em último lugar, isso quando pensa.
Mas espera lá! Ainda na primeira parte a Lusa me toma um golo? Ah, ainda tem tempo para empatar e virar. Quem vai imaginar um desaire assim, de cara, contra o Monte Azul? É este mesmo o nome do time? Ah, sim, estava escrito no jornal. O intervalo chegou e nada de golo. Começou a segunda parte com a Lusa a carregar sobre o adversário, desperdiçando hipóteses de chegar à igualdade. Me distraí um bocado com alguma reclamação do meu pai, sobre o vizinho. Ele vive reclamando do gajo da casa do lado, que insiste em deixar o carro à nossa porta.
De repente o speaker grita uma grande penalidade. Deve ser pra nós, pensei. Mas não era. Era para o Monte Azul. Outra vez titubeei sobre o contrário. Difícil acreditar que um time chamado Monte Azul vai batendo a minha Lusa. Por falar em bater, eles bateram o pênalti contra o poste. No entanto, nem este falhanço foi suficiente para evitar a derrota.
Afinal, assim como eu, o seu Antonio da padaria, os jornais, a Federação Paulista de Futebol, meu pai e o vizinho, a Portuguesa também mantém um velho hábito: o de decepcionar seus torcedores.
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