Já faz mais de uma semana que a boate Kiss, da cidade gaúcha de Santa Maria, pegou fogo. Não é necessário descrever aqui neste blog o inferno que deixou, por ora, 238 pessoas mortas.
Não vou ficar falando de sonhos não realizados, de famílias destroçadas, de corações dilacerados ou vazios que nunca serão preenchidos. Isso já foi feito à exaustão, e da forma mais baixa possível, em troca de alguns pontos de audiência. Na verdade, é muito bonito, em um primeiro momento, mas não resolve nada. É como abraçar árvore.
Não resolve porque é normal, no Brasil, a indignação e a tristeza de quem não perdeu ninguém nesta ou em qualquer outra tragédia durarem até a próxima rodada, o próximo reality show. Ou até a missa de sétimo dia, se tanto.
Resolveria se, em vez de pedir orações pelas redes sociais ou compartilhar fotos das vítimas ainda vivas, sorrindo e felizes, a luta fosse para que as investigações fossem sérias e chegassem onde deveriam chegar. No caso da casa noturna, foram presos os donos e dois dos músicos que tocavam naquela noite. Eles, e só eles, estão pagando, sendo que o problema é mais embaixo, é mais rasteiro.
Se a boate estava sem o alvará, e funcionando, é porque alguém liberou. E recebeu para isso. É de praxe neste país-tropical-abençoado-por-Deus-e-corrupto-por-natureza que, ao fazer as leis, coloque-se dificuldades pra que se venda facilidades lá na frente. Depois vão culpar o empresário, que teve de dançar a música que tocaram pra ele, e o músico, que teve a infeliz e imbecil ideia de acender um sinalizador dentro da casa, mas na raiz do problema, na corrupção, não acontecerá nada.
No mesmo momento em que as prisões preventivas deles eram prorrogadas, Renan Calheiros tomava posse como presidente da Senado, cargo que teve que apear em 2007 para não ser cassado por relações espúrias com lobistas, sob as bênçãos de 56 dos 81 senadores da República.
Isso explica muita coisa.
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