*por Fabio Venturini
Impressionante como um jogador é mais lembrado do que o
próprio clube em que joga no humor de torcedores adversários (é o que se espera
deles) e motivo de escárnio da crônica esportiva (sem comentários). Todos, exceto
uma parte da torcida tricolor, pedem sua aposentadoria.
O motivo é simples: Rogério construiu esta repulsa com
méritos e louvor. Num país em que o trabalhador é bobão e o preguiçoso adepto
do jeitinho é admirável, daqueles que acabam ganhando a chefia de algum comitê espalhados
pela vida em língua ocidental moderna, é o que fatalmente ocorre.
Quando o garoto brasileiro se propõe a jogar futebol, lá na
infância, ninguém quer ser o goleiro, uma posição inferior reservada aos ruins
de bola. Na escola, se o guarda-metas joga bem, o evento é tratado mais como
humilhação para o ataque do que mérito do arqueiro. Um grosso consegue boas
atuações sob as traves e os comentários depreciativos são: “achou a posição”.
Levar um gol de goleiro, de um grande rival, é mais do que
um tento no placar, é humilhação coletiva, do time, da torcida, do goleiro
adversário. Todos os grandes clubes brasileiros tiveram tal desprazer. Os rivais
próximos foram mais castigados ainda: Santos levando gol em final de
campeonato, Palmeiras como uma das vítimas preferidas de um arqueiro, o simbólico
100º gol contra o Corinthians (o que fez os alvinegros contarem os gols
marcados, e forjarem risivelmente contas, para tentar devolver o tento centenário).
Rogério comemora o centésimo gol, diante do Corinthians (André Lessa/AE) |
A síntese do sentimento da crônica esportiva,
majoritariamente formada por profissionais que também são torcedores de rivais,
está na frase do narrador Milton Leite vazada em transmissão da Sportv:
“Rogério Ceni é chato prá caralho”.
Deveria ir embora
Sem exageros, Rogério é um monstro do futebol mundial de
todos os tempos. Craque com as mãos e os pés, não fosse odiado pelo afã
torcedor (com ou sem microfone), seria lembrado em nove de dez seleções
brasileiras de todos os tempos na crônica esportiva. Sem citar gols: Rogério
está no São Paulo há 23 anos, desde 1990, significando que em quase 30% da
existência do clube mais vencedor do País lá estava ele (e bem). Durante 16
anos, 20% da história do SPFC, foi não apenas o titular da camisa 1 ou 01, mas
também principal referência, capitão e um dos melhores (quando não o melhor)
atletas do plantel.
Raí ficou na França entre 1993 e 1998. Voltou ao São Paulo
decidindo final de campeonato, porém a faixa de capitão continuou no braço de
Rogério. Pouca gente sabe o que isso simboliza. Quem nunca viu Rogério no seu
time não tem – e não terá – ideia do que significa. Presente nas duas fases
mais vencedoras do clube, possui mais títulos do que alguns clubes adversários
e tem infinitamente mais importância do que as pessoas conseguem medir hoje,
com ele em atividade.
Tive o privilégio de ver os dois melhores times tricolores
em ação (1985-1987 e 1992-1993), além de outro que foi multicampeão (2005-2008).
Quando me perguntam quem foi o melhor jogador da história do São Paulo, respondo
Raí. Quando me perguntam que foi o melhor goleiro da história do São Paulo, respondo Zetti. Quando me perguntam quem foi o maior ídolo da história do São
Paulo, respondo Rogério. E ele não parou de jogar ainda.
Seria normal parar de jogar se estivesse mal técnica e
fisicamente. Obviamente não é o mesmo Rogério de 2005, ano em que fechou o gol
e fez marcou 21 vezes (mais do que muitos atacantes fazem numa temporada),
porém está melhor do que em 2006, quando foi campeão brasileiro. Comete algumas
falhas normais para um veterano, porém no geral mais salva o time do que erra.
E com uma linha displicente não há goleiro bom o suficiente para corrigir a
falha de atacante que não joga, volante que não marca, lateral que não fecha...
A defesa que valeu como um gol, na final do Mundial de 2005 (IG) |
Rogério sempre comentou a pessoas próximas o desejo de jogar
nos Estados Unidos. Tem lenha para queimar por pelo menos mais dois anos após
2013. Como torcedor tricolor, gostaria que ficasse, mas creio que deveria ir.
Além de ser revigorante, em duas temporadas seria o melhor goleiro da Major
League Soccer, faria alguns gols, ganharia muito dinheiro, tornar-se-ia mito
mesmo sendo estrangeiro numa cultura altamente preconceituosa e teria por lá o
respeito que por aqui foi menor do que o despeito dos humilhados.
Perderia o futebol brasileiro, mas ter um mito desta
enormidade é somente para quem merece.
*Fabio Venturini é jornalista
Mito é Pelé, Garrincha, Cruiff, Zidane, Maradona. O Rogério é ídolo do São Paulo. Um grande ídolo de uma só torcida. Não concordo com toda essa bajulação. Assim como tem muitos que gostam dele, tem muitos que não gostam e isso não deve ser menosprezado como se fosse somente uma questão de time. O texto é bom, mas está querendo colocar o Ceni num patamar maior do que a realidade mostra. Rogério não foi nem mesmo um dos grandes goleiros da história do futebol brasileiro, a maior prova disso é que nunca teve qualidade para ser titular da seleção. Se não batesse faltas e pênaltis, talvez não tivesse o destaque que sempre teve.
ResponderEliminarCaio Calazans, justamente por fazer gols que se tornou diferente dos outros. Antes dele achávamos o máximo ver o paraguaio Chilavert, mas quando começou um goleiro de uma equipe rival aí é ruim, é meia boca, só se destaca por isso, entre outras desculpas... Como disse o texto, só sabe realmente o que ele significa quem torce pelo São Paulo. Rogério Ceni é sim MITO e um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro.
ResponderEliminarUm dos maiores goleiros do futebol brasileiro, mas que nunca foi titular da seleção. Conta outra, amigo. Ele é um grande ídolo, um mito para a torcida do São Paulo, mas monstro do futebol brasileiro, aí é um pouco demais. Não está nem entre os maiores que eu vi jogar. Não tem nada a ver com o time, é uma questão de realidade. O maior goleiro brasileiro que eu vi jogar foi o Taffarel, e ele nunca jogou no meu time.
ResponderEliminarEu não disse que ele é o maior de todos os tempos e sim um dos maiores. Também não acho que um jogador precisa ser titular na seleção para estar entre os maiores. Eu sempre achei o Marcelinho Carioca um grande jogador, Raí foi monstro no São Paulo e PSG, Ademir da Guia então nem se fale, entre tantos outros que foram grandes jogadores e nunca foram bem na seleção. E pra mim o melhor que vi embaixo das traves foi o Marcos, que apesar de ter sido campeão mundial com o Brasil, não teve uma carreira de tantas glórias quanto a do Rogério Ceni. Questão de opinião.
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