terça-feira, 10 de setembro de 2013

A mão que balança a cesta

por Vinicius Carrilho*

Vivemos em um país onde ídolos são tratados como produtos descartáveis. Na verdade, muitos deles só são lembrados a partir do momento que deixam este mundo. Também há muitos outros que sequer ganham uma respeitosa recordação depois que cumprem sua missão na Terra. Porém, não é em todos os países que as coisas funcionam assim.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a cultura com os ídolos parece ser a mesma cantada por Nelson Cavaquinho, em seu esplendoroso samba “O dia em que eu me chamar saudade”:

"Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar, querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão.
Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora.
Por isso é que eu penso assim: Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora."

Oscar Daniel Bezerra Schmidt, um dos maiores jogadores de basquete que esse país já teve, alcançou no último domingo (8) um patamar onde poucos tiveram a honra de chegar: entrou para o hall da fama do basquete. A homenagem, realizada por americanos, aconteceu em Springfield, berço do esporte.

Durante seu discurso, o Mão Santa – que na verdade de santa não tem nada. É treinada mesmo, como afirma Oscar – arrancou risadas da plateia e, em inglês, recordou quando deixou de assinar um contrato com o New Jersey Jets, da NBA, para defender a Seleção Brasileira: “Me ofereceram um contrato para jogar no New Jersey Jets e eu disse: “Muito obrigado, mas se eu fizer um jogo aqui, nunca mais jogarei na minha seleção”. Essa era a regra na época. (...) Três anos depois, em 1987, ganhamos dos americanos nos Estados Unidos. Me desculpem (risos)”.

No fim de sua fala, que durou pouco menos de 15 minutos, as risadas se transformaram em lágrimas de emoção quando ele agradeceu Cristina, sua esposa: “Você é a melhor pessoa que já conheci. Se você não estivesse comigo, eu não estaria aqui, tenho certeza. Eu te agradeço por tudo. Já estamos juntos há 38 anos e eu espero ficar com você até o dia em que eu morrer”.

Único estrangeiro entre os 12 homenageados da solenidade, ninguém do país de Oscar Schmidt pode acompanhar o momento, já que não houve transmissão do evento. Aliás, tal feito pouco foi falado e divulgado. A preferência nos últimos tempos foi por informações sobre o estado de saúde do ex-jogador – que luta contra um câncer no cérebro - e sua opinião sobre a Seleção Brasileira de Basquete, que recentemente passou vergonha na Copa América, perdendo, pela primeira vez, a vaga no mundial.

Porém, com ou sem reconhecimento, a dedicação de Oscar Schmidt pelo esporte brasileiro jamais será apagada. Que um dia, de preferência enquanto ele ainda estiver por aqui, seja realizada em seu país, por seus compatriotas, uma cerimônia tão grandiosa como a feita no domingo. É um dever do esporte brasileiro retribuir, seja lá de que forma for, tudo que Oscar fez por ele durante muitos anos.

Enquanto isso não acontece, nos resta apenas torcer para que o ídolo nacional consiga vencer mais esse jogo, dessa vez contra a doença que o acomete. Sabendo da sua valentia e garra, fica a certeza que a vitória será tão fácil quanto era um lance livre para o Mão Santa.

Por tudo, obrigado, Oscar!


Vocês já viram muitos jogadores melhores que eu. Mas não vão ver nenhum que tenha treinado mais e que tenha tanta obstinação pelo basquete quanto eu” - Oscar Schmidt

* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista, 
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida 
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.

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