por Vinicius Carrilho*
Vivemos em um país onde ídolos são tratados como produtos
descartáveis. Na verdade, muitos deles só são lembrados a partir do momento que
deixam este mundo. Também há muitos outros que sequer ganham uma respeitosa
recordação depois que cumprem sua missão na Terra. Porém, não é em todos os
países que as coisas funcionam assim.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a
cultura com os ídolos parece ser a mesma cantada por Nelson Cavaquinho, em seu
esplendoroso samba “O dia em que eu me chamar saudade”:
"Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer que eu tinha
um bom coração
Alguns até hão de chorar, querer me
homenagear
Fazendo de ouro um violão.
Mas depois que o tempo passar, sei
que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora.
Por isso é que eu penso assim: Se
alguém quiser fazer por mim
Que faça agora."
Oscar
Daniel Bezerra Schmidt, um dos maiores jogadores de basquete que esse país já
teve, alcançou no último domingo (8) um patamar onde poucos tiveram a honra de
chegar: entrou para o hall da fama do basquete. A homenagem, realizada por americanos, aconteceu em Springfield, berço
do esporte.
Durante
seu discurso, o Mão Santa – que na verdade de santa não tem nada. É treinada
mesmo, como afirma Oscar – arrancou risadas da plateia e, em inglês, recordou
quando deixou de assinar um contrato com o New Jersey Jets, da NBA, para
defender a Seleção Brasileira: “Me ofereceram um contrato para jogar no New
Jersey Jets e eu disse: “Muito obrigado, mas se eu fizer um jogo aqui, nunca
mais jogarei na minha seleção”. Essa era a regra na época. (...) Três anos
depois, em 1987, ganhamos dos americanos nos Estados Unidos. Me desculpem
(risos)”.
No fim de sua fala, que durou pouco menos de 15 minutos, as
risadas se transformaram em lágrimas de emoção quando ele agradeceu Cristina,
sua esposa: “Você é a melhor pessoa que já conheci. Se você não estivesse
comigo, eu não estaria aqui, tenho certeza. Eu te agradeço por tudo. Já estamos
juntos há 38 anos e eu espero ficar com você até o dia em que eu morrer”.
Único estrangeiro entre os 12 homenageados da solenidade,
ninguém do país de Oscar Schmidt pode acompanhar o momento, já que não houve transmissão
do evento. Aliás, tal feito pouco foi falado e divulgado. A preferência nos
últimos tempos foi por informações sobre o estado de saúde do ex-jogador – que
luta contra um câncer no cérebro - e sua opinião sobre a Seleção Brasileira de
Basquete, que recentemente passou vergonha na Copa América, perdendo, pela primeira vez, a vaga no mundial.
Porém, com ou sem reconhecimento, a dedicação de Oscar Schmidt pelo esporte
brasileiro jamais será apagada. Que um dia, de preferência enquanto ele ainda
estiver por aqui, seja realizada em seu país, por seus compatriotas, uma
cerimônia tão grandiosa como a feita no domingo. É um dever do esporte
brasileiro retribuir, seja lá de que forma for, tudo que Oscar fez por ele
durante muitos anos.
Enquanto
isso não acontece, nos resta apenas torcer para que o ídolo nacional consiga
vencer mais esse jogo, dessa vez contra a doença que o acomete. Sabendo da sua
valentia e garra, fica a certeza que a vitória será tão fácil quanto era um
lance livre para o Mão Santa.
Por
tudo, obrigado, Oscar!
“Vocês já viram muitos jogadores melhores que eu.
Mas não vão ver nenhum que tenha treinado mais e que tenha tanta obstinação
pelo basquete quanto eu” - Oscar Schmidt
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
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