Por Humberto Pereira da Silva*
Primeiro, o futebol praticado
por seleções africanas. Nessa Copa, cinco representam o continente: Argélia,
Camarões, Gana, Costa do Marfim e Nigéria. A primeira rodada não foi nada
favorável a essas seleções. Já a segunda, mudou de figura. O continente corre o
risco de ter até três seleções nas oitavas de final.
O futebol praticado do
continente africano, com ocasionais participações em copas do mundo de África
do Sul, Tunísia e Egito, é dominado por essas seleções. Mas quando se fala em
futebol “africano”, inadvertidamente se toma o todo pela parte, como se a
Nigéria, por exemplo, fosse o continente, não o contido.
Mas, então, por que declínio? E
o que isso tem a ver com a relação entre o todo e a parte?Até a Copa de 1990, o futebol
praticado fora da Europa e América do Sul, exceção a México, praticamente era
ignorado, mera figuração. Justamente em 1990, na Itália, Camarões vendeu caro a
eliminação nas quartas de final para a Inglaterra: perdeu de 3x2 na
prorrogação.
Acreditou-se numa evolução do
futebol praticado no continente. A Nigéria despontou em seguida, mas não foi
mais longe que Camarões. E assim, em 2010, na primeira Copa disputada na
África, Gana repetiu a situação de Camarões e foi eliminada nas quartas de
final pelo Uruguai, nos pênaltis, num jogo para lá de dramático.
Ocorre que, passados vinte e
quatro anos da Copa de 90, apesar de poder ter três seleções nas oitavas de
final dessa Copa de 2014, poucos apostam que, agora, uma seleção “africana”
finalmente chegará a uma semifinal. A evolução que muitos esperavam não
ocorreu. Mesmo as que passem para a próxima fase, caso alguma se classifique, jogarão
sob suspeita.
De fato, o futebol praticado
por seleções africanas não vingou. Para isso, algumas... suspeitas. A primeira,
e talvez mais notória, é aquela que decorre de se tomar o todo pela parte.
Futebol “africano”? Ora, futebol camaronês, ou nigeriano, assim ficaria mais
fácil.
Mas, o que é Camarões ou
Nigéria num continente em que não há unidade de nação? Num continente cujas
fronteiras dos países foram traçadas com régua pelas potências colonialistas
europeias no século XIX?
Não há então, no mesmo sentido
em que pensamos Itália e Alemanha, Camarões, Nigéria ou Gana e sim um punhado
de jogadores talentosos que saíram desses países, foram para a Europa, onde se
consagraram, e depois retornaram, se reuniram com outros que nasceram nas
mesmas fronteiras para disputar uma Copa do Mundo.
Não há, portanto, declínio do
futebol “africano”, simplesmente porque, apesar da crença numa evolução, nunca
houve uma seleção, uma escola de futebol praticada num país africano. Questões
de natureza extra-campo impedem que se forme uma escola, que o futebol
praticado por seleções da África vá além do encontro de um punhado jogadores
talentosos ao lado de semi-amadores.
É o que se vê em Gana, Costa do
Marfim ou Nigéria. Talentos individuais dessas seleções, em razão de circunstâncias
e situações improváveis numa Copa do Mundo, podem levar uma delas a uma
semifinal; sendo mais otimista, a uma final. Mas isso não significa evolução ou
declínio, pois não há no continente africano o sentido de nação que se forjou
na Europa.
O futebol praticado por
jogadores de qualquer país da África, para o imaginário ocidental, permanecerá
sendo futebol “africano”. Mas um país, uma seleção desse continente que
eventualmente chegue a uma semifinal de Copa do Mundo, pode deixar de existir
de uma hora para outra.
Em 1974, na Copa da Alemanha, o
Brasil venceu o Zaire por 3x0. O que era o Zaire, hoje é a República
Democrática do Congo.
*Humberto Pereira da Silva, 50 anos, é professor
universítário de Filosofia e Sociologia e crítico de
cultura de diversos órgãos de imprensa.
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