segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O Tricolor em tempos de cólera

por Leandro Marçal*

Fui chamado de pessimista quando, há quatro anos, dizia que o São Paulo corria a passos largos para um futuro rebaixamento. Há quase um ano e meio, previa um final infeliz que se aproxima neste mesmo blog, vendo o elenco similar a um funcionário de emprego estável que começa o expediente já pensando em bater o cartão ao fim do dia – nada contra a conduta, mas ela não cabe no futebol, sua paixão e competição. 

Eis que, pela segunda vez em quatro anos, o time do Morumbi luta, a duras penas, para não ser rebaixado no Brasileirão.

Se até há algumas semanas a torcida abusava do argumento “tem muito time pior, não cai não”, a situação fica desesperadora na reta final da competição.  A importantíssima vitória contra o tricolor carioca deixa o time com o nariz para fora da água, como um turista desengonçado que desconhece os perigos do mar quando não dá pé. 

Foram anos se apoiando na muleta de exemplo de gestão e profissionalismo, até o momento em que Juvenal Juvêncio se apropriou do clube como uma criança desligando o videogame e levando para casa após uma surra para os amigos no PES ou Fifa.

Quando JJ e Aidar romperam relações e o então presidente passou a tomar conta do clube de forma obtusa, estava escancarado o atraso de anos por quem tomou conta do clube diante de uma plateia de conselheiros amorfa, sem que houvesse oposição real a impedir erros grosseiros.

Os últimos anos no Morumbi têm lá sua semelhança com o país: anos de vacas gordas os fizeram acreditar que tudo podia e se aceitava, o bife macio demais para quem trabalhava em ambos cegou àqueles que deveriam pensar que a fase das vacas magras também chegaria junto com uma ruína de enormes proporções. A soberba precedeu a ruína. Até a troca de presidentes em meio ao mandato foi comum ao clube e à terra tupiniquim.

Junte-se a isso uma sucessão de elencos menos preocupados com resultados dentro de campo do que deveriam e a aposentadoria do único nome que representava alguma liderança em campo. Goste-se ou não de Rogério Ceni, é inegável que sua forte presença no time poderia dar um pouco de mais vontade a um time em que cada jogo mais parece uma sessão de tortura infinita para quem consegue manter-se acordado vendo os 90 minutos de tristeza tricolor.

Como cobertura e cereja desse bolo solado, o técnico não consegue resolver a insolúvel situação de um time em que a mera substituição do treinador pode ser mais um problema gigante de quem já teve essa condição.

Torcedor são paulino, lembre que um possível rebaixamento não foi construído de uma hora para outra e que os últimos anos da equipe que teve em participações medíocres na Libertadores e algumas boas classificações no Nacional a desculpa perfeita para jogar a sujeira por baixo do tapete.

O problema é que esse tapete está velho e sujo demais, a ruína precedida pela soberba de outrora pode ser ainda maior. E caso o time fuja de um fiasco humilhante nesse final, o ano começa como se nada tivesse acontecido e os mesmos erros reaparecem como em um looping eterno.

O fundo do poço é logo ali. E com medo da queda, o preço dos ingressos são cinicamente baixados para míseros 10 reais, pois agora lembram que o torcedor de massa é quem empurra o time e ele nem sempre - ou quase nunca - tem condições de pagar caro por isso.

Se esse já foi chamado de "O Time da Fé", só resta ao torcedor rezar muito pelo livramento da Série B de 2017.

*Leandro Marçal é um jornalista de 25 anos, torce pelo Tricolor paulista
 e por um mundo menos hipócrita e com mais bom humor, embora esteja
um tanto zangado com o seu Tricolor.
E, apesar do nome de sambista, é incapaz de tocar um reco-reco.
Ainda assim, é o Rei da Noite de São Vicente.

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