terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Perdão, Boechat

Perdemos Ricardo Boechat. Mais uma vez, uma desgraça que poderia ser evitada, não fosse a cretina mania tupiniquim do “depois a gente vê”. Segundo reportagem de O Globo, o helicóptero em que estavam o jornalista e o piloto, Ronaldo Quattrucci, que também morreu, não tinha autorização para fazer o serviço de taxi aéreo. Se levantou voo, é porque alguém permitiu. Quattrucci era um piloto experiente e sócio da empresa dona da aeronave.

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Não pode

Falta fiscalização no Brasil. Falta tudo neste país que foi feito para dar errado desde o início. E é assim porque somos um bando de hipócritas, cuja indignação tem prazo de validade. Mariana, Boate Kiss, enchentes em Nova Friburgo e Niteroy,  ciclovia Tim Maia, Brumadinho, Voo 1907 da Gol (aquele que resvalou em um jatinho Legacy e caiu na floresta) , Voo 3054 da TAM, Morro do Bumba, voo da Chapecoense, Ninho do Urubu, sem contar outros casos que não causam repercussão. Em comum, a todos, o fato de alguém ter deixado, por omissão, incúria, desmazelo, ganância. Deem o nome que quiserem. Prefiro chamar de desprezo à vida alheia.

Por ironia, o último comentário de Ricardo Boechat, na Band News, foi sobre o quanto dura a comoção. A tragédia de Brumadinho já deixou, segundo ele, as capas dos jornais, ocupadas agora pela desgraça que matou dez meninos na base do Flamengo, clube de coração do jornalista, na última sexta-feira.

Ricardo Boechat era um âncora que não perdeu sua essência de repórter, que é, em suma, a parte mais importante, a matéria-prima do Jornalismo. Este jornalismo perdeu um dos seus melhores combatentes. Uma esposa perdeu seu marido, pai de seis filhos. O piloto deixou dois. E o Brasil chora, mais uma vez, um choro que tem hora para começar e terminar, que é a próxima tragédia anunciada. Anunciada e negligenciada, como tudo o que acontece neste país de merda.

Perdão, professor.

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