terça-feira, 10 de setembro de 2019

Lituânia 1 x 5 Portugal - Deixa jogar, mister

IMPLACÁVEL Mais quatro para a conta (Ints Kalnins/Reuters)
A única preocupação portuguesa nesta partida deveria ser como jogar no gramado sintético de Vilnius. Só que Fernando Santos resolveu que seria fácil demais colocar Cristiano a sair da área e trazer os zagueiros com ele, ou então deixar Bernardo Silva e João Félix livres para jogarem entre as linhas muito espaçadas da defesa lituana. Então fez o que melhor sabe fazer, quando está à procura de ideias: abriu Bernardo Silva na ala, onde ele nunca rende; deixou João Félix sumido na ponta esquerda, onde ele nunca joga; e esperou que Bruno Fernandes fizesse com a camisa de Portugal o que ele faz no Sporting, o que ele nunca faz.


O primeiro gol foi obra do acaso, um pênalti discutível, que Cristiano tratou de abrir os trabalhos e anotar o seu 90º pela seleção. E acabou aí no primeiro tempo, justamente pela falta de repertório de um time talentoso mal escalado, como um rancho com as concertinas desafinadas, o bumbo frouxo e o cavaquinho a faltarem as cordas.

Com Bruno Fernandes perdido e William Carvalho errando até o nome, caso perguntassem, parecia que Portugal havia voltado ao fim dos anos 1980, era uma equipe trivial, sem talento. E até gol tomou, do grandão Andriuškevičius, que era marcado por João Félix. Ora, isso não daria certo.

Foi preciso jogar fora 55 minutos para o teimoso treinador perceber que não se toca um corridinho sem uma tocata bem composta. Então saiu Bruno Fernandes e entrou Rafa Silva. Mais que isso, a entrada do 15 permitiu que Cristiano, Félix e, sobretudo, Bernardo Silva (figura nula na primeira etapa) tratassem de ocupar o campo de ataque todo, com Cristiano revezando com Félix e Bernardo a ir pelo meio também. Tudo bem que o segundo gol de Cristiano na partida foi um troço difícil de escrever. O goleiro Šetkus, que fazia boa partida, conseguiu se enrolar num chute safado do CR7 e a bola quicou, bateu em suas mãos, subiu, bateu em suas costas - ou braços, ou cabeça, ou ombro, tanto faz - e foi para o gol.

O terceiro e o quarto, pra variar, saíram dos pés de Bernardo para os de Cristiano, que fechou a noite com 93 tentos anotados por Portugal. Nota-se o grande trabalho de João Félix, que atraiu dois marcadores para que Ronaldo recebesse livre, no quarto gol. Nota-se também que ele, Félix, já se soltou mais e a camisola das Quinas veste-o melhor a cada dia. E nota-se, por fim, que William Carvalho também deixou o dele.
Nem precisávamos sofrer tanto, mister.   

Em campo, um por um:
Rui Patrício: teve lá algum trabalho;
João Cancelo: esteve abaixo, mas a culpa é do mister, que abre Bernardo Silva e segura-o na defesa. Em todo caso, André Almeida deveria fazer-lhe sombra nos próximos jogos;
Rúben Dias: assistiu ao jogo de dentro do campo;José Fonte: fez-lhe companhia;
Raphael Guerreiro: chamem o Coentrão!
William Carvalho: passes errados aos montes e um golo. Nada mau;
Rúben Neves: só não foi o pior de Portugal porque Bruno Fernandes está aí pra isso;
Bruno Fernandes: a julgar por esta partida, se retira no Sporting (entrou Rafa Silva: foi o revolucionário do jogo);
Bernardo Silva: precisa fazer ouvidos moucos para quando Fernando Santos mandar abrir para a lateral (imaginam o lado direito com Cancelo, Bernardo e Pizzi? Não foi dessa vez, pois o 21 entrou no lugar de Bernardo. Deve ser para impedir que haja tanto talento em campo);
Cristiano Ronaldo: quatro gols. E só (entrou Gonçalo Guedes para fazer Cristiano ser aplaudido sozinho);
João Félix: calma, miúdo, que o golo vem.
Fernando Santos: ó mister, já sabes que o formato inicial não funciona, pá. Deixa lá a rapaziada a se divertir e a divertir toda a gente, pá! 

Foto: EPA

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