PARA O GASTO Deu para superar o gramado, o adversário e o pragmatismo, mas é preciso mais para revalidar o título europeu (Foto: Catherine Steenkest) |
Já está! Portugal garantiu a presença na Eurocopa pela oitava vez, a sétima consecutiva, como era de se esperar. O que não era lá tão previsível assim foi o custo para garantir a possibilidade de defender o estatuto de campeão dentro de um grupo acessível, olhando à partida.
Ou melhor, era sim. Ou pior. Ao menos contra Luxemburgo, ainda mais depois que o 11 inicial foi divulgado. Tudo bem que o relvado do estádio Josy Barthel mais parecia um campo de batatas, mas o histórico de partidas irritantes pela pouca ousadia do treinador mais vitorioso da história da Selecção Portuguesa faz com que dividamos a culpa pela partida difícil de se assistir entre o verde e marrom campo de jogo e as escolhas do mister. E foi justamente o futebol irritante e arrastado de outros jogos que se viu novamente.
Antes da partida, Santos havia alertado que Luxemburgo é um time melhor que a terrível Lituânia e que o gramado seria outro obstáculo a ser superado, mas que os jogadores achariam o caminho. Isso explica o retorno de Danilo Pereira, excelente na cobertura dos alas e na marcação, mas de passe burocrático e previsível. Portugal tinha mais segurança, mas os espaços criativos diminuíram consideravelmente. Mas é preciso, contra Luxemburgo, tantos dedos? Tantos cuidados? As outras mudanças iniciais foram André Silva no lugar de Gonçalo Paciência, de grande atuação contra os lituanos, mas que sequer saiu do banco; e Raphael Guerreiro no lugar de Mário Rui. Aqui, melhor seria uma caixa de madeira com rodas e alguém a empurrá-la no lugar de qualquer um dos dois.
Marcação alta dos da casa, jogo amarrado e a Sérvia ganhando à Ucrânia logo de cara. Tudo para dar cores dramáticas à jornada, mas havia Bernardo Silva. E o melhor jogador de Portugal nestas Eliminatórias tratou de tirar o coelho da cartola e dar um passe milimétrico de mais de 40 metros, digno de Tom Brady, para Bruno Fernandes dominar com rara beleza e bater seco, rasteiro, para acalmar as coisas e recolocar Portugal na rota da Eurocopa.
O segundo tempo foi um exercício de paciência para o torcedor. Luxemburgo queria jogo, mas não conseguia; Portugal queria o fim do jogo e nada fazia para espantar a possibilidade de ser surpreendido, o que poderia deitar por terra o apuramento direto, já que os sérvios novamente estava à frente e dependiam de um golito de Luxemburgo. E assim foi até quase ao cabo da partida, quando Bernardo Silva, só para não variar, deu outro passe teleguiado, achando Diogo Jota no segundo pau. Domínio bonito, chute torto mas feliz o suficiente para tirar o goleiro Moris da jogada e, já dentro do gol, literalmente, Cristiano Ronaldo, em má jornada, puxar dos galões para colocar o pé na bola e marcar o seu gol de número 99 a serviço da Equipa das Quinas.
Dos males o menor: não foi num jogo insosso desses que Cristiano marcou o centésimo tento, até porque não teve lá muitas chances para isso. Além do gol, que deveria ser anotado para Diogo Jota, pois Ronaldo tocou na bola após esta passar a linha completamente, teve mais dois remates, ambos perigosos. Em compensação, foi uma vitória duplamente histórica: a de número 300 de Portugal (coincidentemente contra o mesmo freguês das vitórias 100, 200 e 250) e também o triunfo que garante a Fernando Santos o status de treinador com mais vitórias à frente dos Tugas: 43, uma a mais que Felipão.
ANDA LÁ ÀS REDES, Ó, MIÚDA! Cristiano beija a bola, mas gol 99 só foi sair no fim do jogo (Foto: Soccrates Images) |
Alternando bons e maus momentos, Portugal se classificou, o que era sua obrigação. Porém, terá que jogar mais para superar equipes melhores, o que raramente consegue, apesar do excelente elenco que tem, levando em conota ainda a hipótese clara de estar no pote 3 do sorteio do próximo dia 30, o que pode colocar os lusos em um grupo com outros dois tubarões. Ser campeão, então, será praticamente um milagre. A não ser que sejamos merecedores de dois. O primeiro milagre já aconteceu em 2016.
Rui Patrício: dois jogos, nenhuma defesa, mas passou bastante frio.
Ricardo Pereira: ao menos o calor que tomou de Gerson Rodrigues aqueceu sua alma - e gelou a nossa.
José Fonte: após a folga de dentro do campo que teve contra a Lituânia, trabalhou um bocado.
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo nos livrou de tomar o golo que poderia nos mandaria para a repescagem e nos jogar ao pote 4 na melhor das hipóteses.
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo nos livrou de tomar o golo que poderia nos mandaria para a repescagem e nos jogar ao pote 4 na melhor das hipóteses.
Raphael Guerreiro: será este o irmão gêmeo daquele lateral seguro que nos ajudou a conquistar o Euro?
Danilo Pereira: erra passes com a mesma facilidade com que destrói sonhos de armardores adversários.
Pizzi: gastou a bola contra a Lituânia. Gastou tanto que ficou sem para hoje (João Moutinho: entrou, mas foi como se não tivesse entrado).
Bruno Fernandes: a felicidade ao comemorar o gol contrastou com a tristeza ao se lembrar de que, na segunda, volta ao Sporting (Rúben Neves: três minutos em campo só para justificar o aquecimento).
Bernardo Silva: brilhante até mesmo quando não quer ser. O suficiente para me fazer voltar a gostar de futebol.
André Silva: ficou sem jeito de chutar ao gol quando viu que Cristiano Ronaldo estava livre, mesmo pior colocado. Como avançado vive de golos - ok, Tite e Bruno Lage discordam -, perdeu terreno na briga por um lugar no Euro (Diogo Jota: teve seu primeiro golo pela Seleção "roubado" por Cristiano Ronaldo, mas não reclamou de nada, nem fez cara feia. Deve ter garantido assim o lugar no Euro). Bernardo Silva: brilhante até mesmo quando não quer ser. O suficiente para me fazer voltar a gostar de futebol.
Cristiano Ronaldo: os golos que sobraram no Algarve faltaram hoje, mesmo o gol que "marcou".
Fernando Santos: foi o velho Fernando Santos que conhecemos: burocrático, chato, e foi assim que nos deu o Euro 2016. Para 2020 será preciso mais.
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