"Ó mar, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?", perguntou Fernando Pessoa, no imortal Mar Português. Certamente, à mesa do Café Martinho da Arcada com uma chávena de café ou um caneco de vinho à mão, ele notaria que as lágrimas dos adeptos teriam deixado o mar mais salgado após o prematuro adeus dos lusos às competições europeias.
O futebol português fez, possivelmente, o maior papelão em muitos anos ao ter todos os seus representantes eliminados na fase de 16 avos de final da Liga Europa 2019/2020. Isso mesmo: a segunda divisão europeia de clubes foi demais para o limitado poderio lusitano, que não ficava de fora ao menos das oitavas-de-final das competições europeias de clubes há mais de 40 anos.
QUARENTA ANOS!
E não é azar. O funil da Liga dos Campeões já havia sido apertado demais para o Porto, que nem chegou à fase de grupos, e para o Benfica, novamente aplacado antes dos mata-matas, então restava a Liga Europa, competição em que alinharam, de início, Sporting, Braga e Vitória de Guimarães, que não sobreviveu à fase de grupos.
Estes quatro são os ocupantes contumazes das quatro primeiras colocações da Primeira Liga, o que quer dizer que representam o que há de melhor do lado bigodudo da Península Ibérica. Não sei se, depois de ontem, podemos usar este adjetivo.
Nenhum deles enfrentou algum colosso do futebol europeu. Nenhum chegou ao jogo de volta sem chances de apuramento. Nenhum se classificou.
O Braga, time que pratica o futebol mais vistoso do campeonato nacional, foi neutralizado pelo Rangers, clube que faliu e chegou a disputar a quarta divisão da Escócia há poucos anos; no dia seguinte, o Sporting, claudicante, após vencer a primeira mão por 3 a 1 e jogando bem, conseguiu a proeza de ser eliminado pelo famosíssimo Istambul Basaksehir, que jogou mal nos dois jogos; simultaneamente, o FC Porto fez no Dragão o mesmo que havia feito em Leverkusen: ser dominado e perder de pouco; logo depois, o Benfica até chegou a fazer o placar que o classificaria no início da segunda etapa, mas suas mazelas defensivas foram desnudadas outra vez e, ao par de algumas decisões infelizes do mister Lage, caiu com estrondo, vaias e lenços brancos.
É óbvio que não dá para medir forças com os colossos de ligas milionárias, cujos orçamentos são inatingíveis aos pobres do restante do continente - e do mundo. No entanto, a incapacidade de superar escoceses, ucranianos, turcos e, vá lá, uma força secundária do futebol alemão, mostra que algo está errado.
Os principais candidatos ao título português trocam farpas semanalmente, tentam maquiar seus defeitos com acusações de "adulterações na verdade desportiva da prova", vendendo a versão de que só não foi campeão porque o campeonato foi manchado, quando é esse tipo de atitude que faz com que o futebol português seja, a despeito das boas vendas que faz, nada mais do que um mero fornecedor de talento para ligas maiores.
O rei está nu, mas nenhum deles quer ser o miúdo a gritar isso.
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