quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Portugal 0 x 0 Espanha - meio jogo para lamentar, meio jogo para aplaudir



APLAUSOS O uniforme lindo de Portugal merece. E o craque da 7 também (foto: Mario Cruz/LUSA)

No 200⁰ jogo de Cristiano em todos os escalões da Seleção Portuguesa, que também foi o que deixou Pepe como o defensor com mais jogos pelas Quinas (111 contra 110 de Fernando Couto) e que fez Fernando Santos ombrear com Felipão no posto de técnico que em mais jogos esteve à frente da equipa nacional (74), Portugal e Espanha fizeram uma partida no mínimo divertida. O primeiro tempo foi uma aula espanhola, que mostrou por que vinha de uma sequência de 42 jogos sempre a marcar: tinha bola só para si, paciência e todo domínio do mundo contra um Portugal que parecia voltar ao início dos anos 90, quando era vulgarizado por qualquer time minimamente coordenado. Não fosse por Rui Patrício, os vizinhos de península chegariam ao intervalo com uns 3 a 0, por baixo

Um amistoso, afinal, serve para fazer testes: assim, diversos nomes que costumeiramente ocupam o 11 inicial estavam no banco de suplentes: Rúben Dias, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix, De Gea, Sérgio Ramos, Pau Torres. Do lado do português, Fernando Santos quis ver como reagia a equipa com o puramente técnico João Moutinho à trinco. Não funcionou porque, se queres alguém com leveza para ser o organizador de jogadas desde trás, é preciso que tenhas a bola, coisa que só quem a tinha era a Espanha, que, por sua vez, andou a ver como se saía seu 4-3-3 com os perigosíssimo Dani Olmo e Rodrigo abertos, mas voltando para recompor quando raramente a bola era perdida.

Só quando o ritmo espanhol diminuiu, perto do fim do primeiro tempo, e Fernando Santos mandou a campo um volante-volante para ser o responsável pela proteção no meio, já no intervalo, é que os campeões europeus equilibraram. Não a posse, que sempre foi espanhola, mas o domínio territorial. Desta forma, os campeões mundiais de 2010 retiveram a bola mais no campo de defesa do que perto da área de Portugal, que teve quatro chances gigantes para chegar à vitória (numa mostra do vasto repertório de Cristiano, que rematou à barra de perna esquerda e que serviu de trivela à Quaresma para Renato Sanches também acertar a barra de Kepa com violência), ao passo que a Espanha também criou o suficiente para reclamar um resultado melhor, principalmente a partir da entrada do estreante Adama Traoré, dono e senhor do flanco direito do ataque. 

Resultado por resultado, o jogo que marcou o reencontro com o clássico uniforme com calções verdes e camisolas vermelhas; com adeptos nas bancadas (só 2,5 mil no José Alvalade e serão 5 mil no próximo dia 14, com a Suécia); com Renato Sanches a titular depois de dois anos; e que marcou o lançamento da candidatura ibérica para a Copa de 2030 (tomara que não resulte) acabou bom para todo mundo: para a Espanha, Luís Henrique tem material para rodar a bola, para atacar pelos flancos, para se adaptar a qualquer adversário; para Portugal, Fernando Santos viu que não rende, contra adversários mais fortes, ter João Moutinho como um organizador desde trás, já que é preciso ter a bola para isso. Contra equipes menos fornecidas, será uma boa opção. Não era o caso. 

Foto: Mario Cruz/LUSA 

Rui Patrício: no reencontro com a Seleção contra quem estreou pela equipa principal, mais um nulo para a conta. Faltou aos rapazes da frente marcarem 4 para igualar àquela de 2010. Admito querer mais do que posso;
João Cancelo:
 deve ter dado um abraço no mister por não ter sido ele a ser deslocado à esquerda para marcar - ou tentar - o Traoré;
Pepe: não fez golos, nem mandou ninguém para os cuidados médicos. Uma atuação atípica (Rúben Dias: entrou para ir se acostumando ao que é jogar com o Rúben Semedo. Já jogas na Inglaterra, pá. Não dá para ser feliz o tempo todo);
Raphaël Guerreiro: saiu e não foi colocado sob o risco de ser atropelado pelo Adama Traoré (Nelson Semedo: um dias estás no Barcelona. No outro, tens que marcar seu colega de Wolverhampton, que mais parece dois. Ou três. Espero, para o seu bem, que sempre treine no mesmo time do Adama Traoré);
Rúben Neves
- Ó, mister, mete cá um trinco pra me ajudar, SFF! Achas que estamos a jogar com a Holanda?"
João Moutinho: como quem não quer nada, da próxima vez, fique ao pé do William Carvalho ou do Danilo. Pode ser que o mister perceba que queres jogar com um deles (William Carvalho: ao raio que os partam a todos os que falam mal de ti);
Renato Sanches: retorno em grande do Menino de Ouro da Euro 2016. Firme, com seriedade e tomando decisões corretas, que era como deveria ter saído de Portugal;
Trincão: não, não é um volante de 2,10m. O Trincão é um meia clássico, com um futuro brilhante, e que foi substituído antes que o Adama Traoré o matasse (Diogo Jota: ao menos um Jota é bem aproveitado em Portugal, não é mesmo?);
André Silva: percebi que entrou quando saiu (Bernardo Silva: joga na ponta, chega à linha de fundo, volta para a intermediária para organizar o jogo. Era capaz de ir marcar ao Adama Traoré sem reclamar);
Cristiano Ronaldo: não é todo dia que dá pra fazer três na Espanha, não é mesmo? Em todo caso, a bola no travessão e o passe de três dedos para o Renato Sanches já valeram o esforço dos 2,5 mil que foram ao campo do Sporting (João Félix: não seria bonito marcar o golo ao parceiro de candidatura no último minuto, quando toda a gente já estava a contentar-se com o empate. O Sérgio Ramos, mesmo, ficaria com que cara ao buscar a camisola que ganhou do Ronaldo? Deixe para a França, SFF. 

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