segunda-feira, 15 de novembro de 2021

PORTUGAL 1 X 2 SÉRVIA - o gajo da anedota da casca da banana

(Foto: Pedro Nunes/Reuters)

Já ouviram a piada do português que estava andando na rua e, resignado, ao ver uma casca de banana à frente, diz "ai, Jesus, outro tombo"? Certamente, Fernando Santos não. Se tivesse ouvido, não teria caído na mesma armadilha do jogo com a Irlanda, quando a saída de bola foi sufocada e Portugal teve que quebrar a todo instante. Mesmo o gol madrugador de Renato Sanches, no segundo minuto de jogo, não tirou da Sérvia a ideia de não dar espaço para os portugueses tentarem a construção desde os centrais. 

Assim, a bola batia e voltava. E tome a Sérvia com a bola. E tome Tadić, Kostić e Milinković-Savić encontrando espaços entre as linhas de marcação de Portugal e Živković tocando o terror pra cima de um apavorado Nuno Mendes. 

Assim, o time comandado pelo cracaço Dragan Stojković adiantou a marcação, matou a saída de bola dos donos da casa e obrigou Portugal a quebrar, tirando o time de Fernando Santos da sua zona de conforto, que é o jogo no meio com a bola no chão. O gol de empate, que teve a sorte nos pés de Tadić e o azar no desvio em Danilo, foi fruto dessa desarrumação lusitana, que permitiu a troca de passes na entrada da área até o chute torto do camisa 10. Antes, uma bola de Vlahović na trave foi o aviso que deveria ser sido notado.

Para o segundo tempo, Fernando Santos poderia sacar Nuno Mendes, passar João Cancelo para o seu lado e acabar com a graça de Živković, ou tirar Cristiano Ronaldo da área para fazer fluir o jogo. Ou esperar o time sérvio cansar, o que viria a acontecer. Só que, neste momento, Portugal seguiu afoito, tentando resolver a partida em dois ou três passes, em vez de jogar com o tempo a favor e tirar da Sérvia a única opção que havia sobrado, a bola longa pelo alto. A única chance de gol digna de nota esteve nos pés de Renato Sanches, um dos melhores jogadores lusos em campo em um jogo em que, pela característica de muito combate e pouca lucidez com a bola, sequer deveria começar no onze titular. 

Isso diz muito sobre o que foi o jogo. 

Fora isso, nenhum jogador de Portugal conseguiu segurar a bola e só havia um pingo de lucidez quando ela chegava em Cristiano Ronaldo ou em Bernardo Silva, que teve que sair quando faltaram-lhe pernas. Com o jogo morno, o negócio seria colocar o capitão aberto e ir de André Silva. Aí teria um centroavante segurando os zagueiros e um jogador capaz de manter a bola na frente, atrair adversários para a marcação e, de quebra, abrir espaço para Bruno Fernandes ou Bernardo Silva, caso este não tivesse saído, deixar o jogo à feição de Portugal. 

Era preciso desacelerar o jogo, coisa que Portugal jamais teve a capacidade de fazer, muito em função da incapacidade de Fernando Santos em ler o jogo, o que já havia acontecido na Eurocopa. Não tirar da Sérvia a possibilidade de ter a bola e jogar pelo alto tornou previsível o gol de Mitrović, já ao pé do minuto 90. Não o tento em si, mas a forma como foi marcado. 

Em vez de fazer valer a maior capacidade técnica de sua equipe, Fernando Santos resolveu defender o resultado que bastava. Desceu Danilo para fazer uma linha de três zagueiros quando o melhor seria buscar superioridade no meio-campo. Dessa forma, quando deveria condicionar as ações do jogo - porque time para isso ele tem -, permitiu à Sérvia fazer o jogo que lhe interessava. 

Não era difícil prever.

Agora, vem o purgatório da repescagem, um caminho que Portugal já fez e se classificou nas três vezes em que por lá esteve, mas não no formato demoníaco que se avizinha: três grupos com quatro seleções (as 10 segundas colocadas de cada chave mais os dois melhores da Liga das Nações que não terminarem entre os dois de seus grupos), com duas semifinais e uma final, sempre em jogo único dentro de cada grupo para apontar os três que vão ao Catar. O mando de campo na semifinal será do melhor ranqueado e Portugal, que é o sexto, só jogaria fora se o adversário fosse a Itália, único país à frente que ainda não se classificou, mas a condição de cabeça de chave tira desde já os transalpinos do caminho, assim como o outro dos três de melhor campanha. O mando da final, porém, será definido por sorteio.

Esta pode ser a única boa notícia para Portugal. A má é que o treinador pode muito bem ser o gajo da anedota, aquele incapaz de desviar da casca da banana.

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