quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

PORTUGUESA - As dores do crescimento

Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Na marra, na garra, do jeito que o torcedor forjado no cimento da arquibancada gosta. Foi assim que a Portuguesa, que jogou com um a menos por 83 minutos e teve que se aguentar por 16 minutos com nove em campo,
 
venceu o confronto direto com o Juventus, no Canindé.

O jogo desta quarta-feira é daqueles que serão contados aos netos por quem foi ao estádio como talvez a parte mais dramática de um cada vez mais palpável acesso. A empolgação é justificável, pois em sete jogos a Portuguesa já tem mais vitórias do que nas 15 rodadas da primeira fase da temporada passada (seis a cinco), quando se classificou na sétima colocação, com 22 pontos, só três a mais do que já somou quase na metade dos jogos disputados.

Seria motivo só de festa, como foi; de comunhão entre arquibancada e gramado, numa sinergia que há muito tempo, talvez desde 2011, não se via. E foi uma demonstração justa de carinho, confiança e apoio que, em condições normais, pode fazer a diferença a favor da Lusa lá na frente, quando o funil estreitar e começarem os mata-matas.

E é, mas não só.

Trata-se de causa e efeito. O Canindé pulsa cada vez mais porque o time tem empurrado a torcida, que retribui e serve como mola propulsora para que o elenco se sinta motivado, capaz e feliz. Quem não reage assim após uma epopeia como a que vimos, não tem coração e alma, e, como diria Eduardo Galeano, as canchas têm alma sim!

Mas essa energia toda também foi gerada pela dificuldade que a própria Lusa causou ao perder dois jogadores de forma completamente despropositada. Tudo bem que na expulsão do Eduardo, a sopradora de apito poderia ter mantido o cartão amarelo, pois não ficou clara a intenção de pisar no adversário – o que ocorreu também no pisão que Daniel Costa tomou no tornozelo depois de ele mesmo ter dado um carrinho temerário numa disputa de bola -, mas a expulsão também cabia. A outra, do Luizão, não tem nem discussão.

“Grandes conquistas são forjadas na dificuldade”, há de dizer o mais entusiasmado, mas os obstáculos já são grandes o suficiente, como enfrentar fora de casa o Linense, segundo colocado, sem parte importante da base de sustentação do coeso time de Sérgio Soares, que conta com muita gente já no estaleiro. Além dos dois expulsos, o ótimo Marzagão recebeu o terceiro cartão amarelo – e andou de mãos dadas com o perigo durante boa parte do Derbi dos Imigrantes – e também não irá enfrentar o Elefante da Noroeste.

Vitórias podem maquiar alguns erros, mas é melhor que sejam detectados com os três pontos ganhos do que com a torcida maldizendo as próximas 10 gerações dos envolvidos ali, atrás do túnel dos vestiários. Se Fernando Pessoa disse que quem queria passar o Bojador deveria ir além da dor, essas são as dores do crescimento que a Portuguesa precisa sentir para voltar a ter a sua dimensão histórica. Só não precisa doer tanto.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

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