terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nossos hooligans, os cartolas e a imprensa: um triângulo nada amoroso

"...Após o jogo ocorreram incidentes lamentáveis: corre-corre, torcedores pisoteados, policiais feridos..."

Não, este intróito não se refere ao espetáculo dantesco ocorrido após o clássico do último domingo, entre São Paulo e Corínthians. Mas poderia ser. Aliás, encaixa-se perfeitamente numa porção de episódios semelhantes. E todos têm pontos em comum: a intolerância, a suposta onipotência desses marginais travestidos de torcedores, a impunidade.

Soma-se a isso o papel de parte da imprensa e dos dirigentes, que além de dar espaço pra marginália, fomentam o ódio já enraizado nessas facções. Deve-se salientar que as torcidas organizadas são formadas na sua maioria por pessoas de bem, mas a ação dos bandidos nelas infiltrados é tão forte e constante que é praticamente impossível desvincular as torcidas em si das barbáries.

Caso o leitor não concorde com a tese deste humilde escriba, explicarei usando os episódios que antecederam o jogo de domingo, já que foi o caso mais recente da barbárie promovida pelas quadrilhas, ou gangues, ou "torcidas organizadas", como queiram.

Durante a semana os dirigentes de ambos os clubes usaram a imprensa pra trocar farpas publicamente. O motivo era o número diminuto de ingressos destinados à torcida do Corínthians, que, na condição de visitante, receberia apenas 10% da carga total de ingressos, que é o limite mínimo determinado por lei.

Não satisfeitos com a postura adotada pelos dirigentes sãopaulinos, seus congêneres corintianos (leia-se Mário Gobbi e Andrés Sánches) desfiaram um verdadeiros rosário de baboseiras via imprensa, acusando-os de arrogantes, mesquinhos, elitistas e outros adjetivos pouco ou nada abonadores. Como isso dá audiência, já viu. A imprensa, ávida por um quiproquó, parecia urubu sobrevoando carniça, e os cartolas apareceram mais que aqueles que deveriam ser os protagonistas do clássico, os jogadores.

Semana de clássico é sempre recheada de polêmicas. Inclusive, clássico recebe essa alcunha por ser diferenciado, por si só. Como dizem os ditos populares, vai além dos noventa minutos, ou das quatro linhas. Ou seja, não precisa disso.

E isso acaba passando pras arquibancadas. Ou alguém, em sã consciência, é capaz de imaginar que aquela horda que se dirigia ao estádio sob os gritos de "a violência voltou" o fizera apenas para ver o jogo, civilizadamente?

Há muitos anos, lá pros idos da década de 40, o grande Thomaz Mazzoni, d'A Gazeta Esportiva, batizou o São Paulo x Corínthians de 'O Majestoso'. Pra não perder essa aura, sugiro que "importem", do Reino Unido, a Margaret Tatcher. Só ela pra dar jeito nos nossos hooligans.

Ah, antes que me esqueça, o sal-de-fruta continua por minha conta.

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