* por Vinícius Carrilho
Gilberto Gil, em 1984, já falava como uma profecia na
canção “Corintiá”, que ser corintiano é escolher que todo ano haveria
sofrimento. O tempo tornou a pressuposição em fato e não foi diferente no
emblemático 12/12/12, quando o alvinegro entrou em campo para sua primeira
partida na Copa do Mundo de Clubes da FIFA.
Frente ao Corinthians estava o Al-Ahly, do Egito. Experiente
em mundiais, jogava como franco atirador, sem se importar se seria vencido ou
vencedor. O campo de jogo era o impecável estádio de Toyota, transformado em
uma espécie de Pacaembu japonês. Nem os mais de 18 mil quilômetros foram
suficientes para impedir que cerca de 30 mil corintianos fossem acompanhar seu
objeto de devoção. Sofrendo com o frio congelante, a Fiel se enrolou no pano da
bandeira, cantou 90 minutos e surpreendeu aqueles que ainda não conheciam o
bando de loucos.
Gil, em sua música, também diz que a torcida vai reclamar se
o time não vencer. Desta vez venceu e, para variar, sofreu. Começou bem, apesar
da ansiedade, mas controlou o jogo no primeiro tempo, abrindo o marcador e
tendo chances de ampliar. A partir daí, veio o intervalo, o recuo corintiano,
o bom Mohammed Aboutrika e uma pressão inimaginável do Al-Ahly. Foram 45
minutos de puro sofrimento para o Corinthians, porém esse 2012 é ano santo e o
alvinegro está no céu. O time é forte, a sorte é grande e o axé está com a Fiel.
Os mais de 30 milhões de corações corintianos bateram na trave, no peito, na
garganta e aliviados, quando o péssimo árbitro mexicano deu por encerrada a
semifinal da Copa do Mundo de Clubes da FIFA.
Com ou sem brilho, o Corinthians está em sua segunda decisão
de um campeonato mundial e agora aguarda a definição do seu adversário, que sai
do confronto entre Chelsea e Monterrey. Sem se importar muito se o oponente
será o milionário inglês ou o eficiente mexicano, os loucos do bando já exaltam
o sofrimento na semifinal e projetam uma grande partida no domingo, em
Yokohama. Mas como ter boas perspectivas depois do que se viu? Ora, ser
corintiano é mergulhar no oceano da ilusão que afoga. Não importa o plano do
destino, cada jogo é o coração que joga.
Que no domingo a ilusão de toda essa gente bata na trave,
mas entre no gol. Que os jogadores chutem de novo, mais vezes, acalmando o já
tão maltratado e sofrido coração corintiano. Por fim, que o fiel torcedor,
louco de nascença, solte mais um grito de gol do Corintiá ou do Corintimão,
tornando-se assim, pela segunda vez, o dono do mundo.
Eis a música de Gilberto Gil.
* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
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