Eu tenho ceratocone. Na verdade não tenho, mas sou portador. Esta é uma doença degenerativa que pode levar à cegueira. Há duas formas de resolver isso: transplante de córnea e o implante do Anel de Ferrara. Ambas são simples, mas o transplante, além de não garantir uma eficácia total, traz no pacote todas as complicações de um procedimento assim, como a possibilidade de rejeição, o uso de medicamentos e de lentes corretivas. O SUS cobre, mas sabe Deus o tamanho da fila.
O Anel de Ferrara é mais garantido. Meia horinha de cirurgia e a córnea estará de volta ao seu lugar, e com cem por cento de acuracidade e a volta ao trabalho depois de outra meia hora. Nem fila de espera tem. Coisa linda! No entanto, este o SUS não cobre e custa, por baixo, oito mil reais.
Enquanto isso, uma cirurgia de troca de sexo, que sai perto da casa de trinta mil reais - sim, você leu R$ 30 mil! -, o governo banca. Ou melhor dizendo, com o dinheiro que deveria ser destinado para cuidar da saúde pública. Ou seja, se eu quiser enxergar direito para poder trabalhar direito e fazer algo que preste, tenho que me coçar. Agora, se meu desejo for mudar meu nome pra Suzy, Keyla ou outro qualquer que a travecaiada adora, consigo no Vasco, na faixa.
Vai ver é porque enxergar bem, em vez de aderir às causas defendidas nas novelas, não dá voto. Além de não dar, muda voto, o que seria desastroso para governantes (e governantas. E antas também) populistas, aqueles que jogam pra torcida.
Esses dias, no Jornal do SBT (não foi na novela), passou o caso de um senhor que precisava de uma operação, mas o hospital não tinha como fazer por falta de recursos. Não me recordo qual era a cirurgia, mas sairia mais barata do que se lhe arrancassem os colhões. Como minha memória é visual, devo ter esquecido porque não vi. Eu tenho ceratocone.
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