sexta-feira, 7 de junho de 2013

Símbolo de uma geração

* por Fabio Venturini

Luis Fabiano é expulso por reclamação após o fim do jogo no empate
contra o 
Arsenal (ARG). O atacante desfalcaria a equipe por quatro jogos
na Libertadores 
de 2013 (Marcelo Machado de Melo/Foto Arena)

Marcos Teixeira, o editor do Bola de Bigode, provocou-me um dia após a eliminação do São Paulo Futebol Clube na Libertadores de América 2013 a escrever sobre o avançado Luís Fabiano, futebolista muito amado e igualmente contestado nas arquibancadas do Morumbi.

Fui obrigado a aguardar para não deixar a emoção do momento (estava puto mesmo) me induzir a injustiças. Depois de algumas semanas vamos direto ao assunto: o camisa 9 tricolor é sim pipoqueiro e o artilheiro dos gols inúteis. Ponto.

Quem quiser discordar, por favor, relembre um único jogo grande em que Luís Fabiano Clemente foi fundamental para a vitória. Por outro lado poderia mostrar milhões de contusões a lá Valdívia, suspensões estúpidas, expulsões cavadas e apatia associada a icterícia no São Paulo, no Porto, no Sevilla e na Seleção Brasileira.

Juro, torci muito por ele e tentei ser paciente na última década, mas desisti. É o que este rapaz construiu em mais de dez anos de carreira, não apenas em 2013. Mas também devo ser justo: ele é apenas mais um numa geração inteira de pipoqueiros de brilho em partidas inúteis.
 

Contra o River Plate, outra vez após o final do jogo, nova expulsão. 
O jogador não pode bater o pênalti na decisão, e o São Paulo seria
eliminado na Copa Sul-Americana de 2013 (Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)


Desde quando a bola se tornou redonda sobre os gramados brasileiros, as gerações de craques se sucederam, conheceram-se e ajudaram os novos talentos que surgiram posteriormente. Leônidas conheceu a geração de 1950, que conheceu Pelé, que conheceu Rivelino, que conheceu Zico, que conheceu Careca, que conheceu Romário, que conheceu Ronaldo, que conheceu Kaká, Robinho, Adriano, Ronaldinho, Diego e Luís Fabiano, que não conseguiram conhecer ninguém.

A um ano da próxima Copa do Mundo, em casa, o mister Luís Felipe precisa remendar um time cujo protagonista é um rapaz tão habilidoso no futebol quanto nos saltos ornamentais, de apenas 21 anos e sem nenhum experiente para dar respaldo, dividir experiência dentro do relvado e chamar a responsabilidade.

Pelé e Garrincha foram para a Copa de 1958 para serem reservas.

Os veteranos, aqueles que seriam o elo de ligação entre Romário, Ronaldo, Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos com a geração de Neymar, Oscar, Lucas e Leandro Damião estão todos em uma espécie de aposentadoria ativa sem terem em seus currículos grandes e decisivas atuações. São tão ricos e competitivos quanto Rubens Barrichello.

O único desta geração com poder de decisão, mas que jogou a carreira (de futebol) fora foi Adriano. Os demais têm, no máximo, uma atuação decisiva quando ainda tinham alguma ambição.

Robinho decidiu a final do Brasileirão de 2002, e vive das pedaladas sobre Rogério até hoje.

Kaká foi protagonista em uma partida contra o Manchester United na UEFA Champions League de 2007 e, por ser educado e disciplinado, tem mais reconhecimento pelo título do que os experientes e decisivos Seedorf, Pirlo, Shevchenko, Nesta, Maldini, Dida, Gattuso e Cafu.

Ronaldinho decidiu contra a Inglaterra na Copa de 2002 e nada mais fez nos onze anos seguintes a não ser imitar uma foca com a bola contra adversários pequenos e sumir na hora agá.

Diego decidiu um jogo ganho nas semi do Brasileirão de 2002.

Luís Fabiano, por azar (ou mérito) conseguiu ser inútil em absolutamente todas as decisões que disputou, isso quando o fez, por isso é mais perseguido até pela própria torcida da camisa que defende.

Todos eles saíram brigados dos clubes que os revelaram, cuspindo nos pratos que comeram.

O merecido azar de não possuir no currículo aquele solitário embate que faz seus defensores terem um mísero argumento para apoiar a sua defesa fez com que, injustamente, Luís Fabiano Clemente sofresse sozinho pelo rótulo de pipoqueiro.

Em vez de ser reconhecido como o artilheiro dos gols inúteis deveria ostentar o cetro real de majestade e símbolo de uma geração talentosa, rica, idolatrada, mimada, ingrata e inútil.

* Fabio Venturini é jornalista.

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