por Vinicius Carrilho*
“Ouvi dizer que este é um país de ladrões. Que
Ali Babá se babava de inveja de nós. Quem é que já viu tantos ladrões,
alegremente, roubando outros tantos ladrões? Ouvi dizer que aqui se rouba
beijo, rouba cena, rouba grana...”.
Os versos iniciais deste texto são os mesmos cantados na
música “A baba do Ali Babá”,
gravada por Zé Geraldo, um dos grandes cantores deste país, que, talvez por
fazer música de extrema qualidade, não tem o reconhecimento que merece. A
canção não é nova – bem como as falcatruas feitas por aqui -, mas serve muito
bem como tema para os acontecimentos recentes envolvendo os “legados ilegais”
construídos para as competições esportivas.
O mais novo caso é o do Estádio Olímpico João Havelange, o
popular Engenhão. Seis anos após sua inauguração, descobriu-se que o estádio é
frágil como um Galho Seco e precisará passar por reformas que durarão cerca de
um ano e meio. Sim, o estádio, construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007,
que custou cerca de 380 milhões de reais aos cofres públicos, durou menos que
seu homenageado (com todo o respeito que o distinto senhor não merece).
Rachadura na cobertura do Engenhão. Estádio custou R$ 380 milhõese está interditado (Marcelo Sayão/EFE) |
Esse é mais um daqueles fatos que Nem Pink Floyd Explica,
mas que infelizmente são corriqueiros por aqui. Engana-se quem pensa que o
Engenhão é o único “legado inútil” deixado por essas bandas.
Para o mesmo Pan-Americano foi construído o Velódromo.
Orçado em 134 milhões de reais e com pompas de o “melhor e mais moderno do
país” - papos corriqueiros do Terceiro Mundo -, o local nunca mais
foi utilizado para nenhuma competição e, para encerrar sua história com chave
de ouro, acabou demolido não Muitos Janeiros Depois de sua
inauguração. A justificativa é simples: as instalações não eram adequadas para
a utilização nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Entre os inúmeros
problemas, figuram coisas bizarras como número insuficiente de lugares,
inclinação inadequada e colunas que bloqueiam a visão de árbitros e público.
Outro local que vive em obras é o Estádio do Maracanã. Vira
e mexe ele é fechado para a realização
das chamadas - Abre Aspas - “obras de modernização” – que, até a última
reforma, não haviam resolvido o velho problema do campo de jogo em dias de
chuva. A tal “modernização”, neste quesito, nunca foi Nada Além de Um Sonho -.
Para a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014, o local
passou por novas reformas e o custo, sempre de verbas públicas, ultrapassou – e
muito – o valor de 1 bilhão de reais.
O interminável Maracanã: estádio novo em folha, mas que precisará ser reformado para os Jogos Olímpicos de 2016 (Cristophe Simon/AFP) |
Como desgraça pouca é bobagem, no último mês de abril, em um
excelente trabalho de reportagem feito por Gabriela Moreira e Eduardo Tironi,
da ESPN Brasil, descobriu-se que o “Novo Maracanã” não atende as exigências do
Comitê Olímpico e necessitará de novos ajustes para as Olimpíadas. O governo do
Rio de Janeiro nega que uma nova reforma irá acontecer, mas, como sabemos,
neste país qualquer estrangeiro endinheirado usa a boa e velha tática do Ou Dá
ou Desce, e nós, como em uma cena entre O Pastor e o Rebanho,
aceitamos tudo.
Maracanã, Velódromo e Engenhão são só alguns capítulos dessa
novela, aparentemente eterna, que vivemos neste país. Diante dos fatos, a
projeção para o que acontecerá pós Copa do Mundo e Jogos Olímpicos só pode ser
a pior possível: a gastança de dinheiro público em inutilidades continuará
desenfreada; os bolsos dos poderosos continuarão se enchendo; e o povo
continuará aqui, neste Mundo ‘Véio’ Cansado, acreditando em
toda aquelas Promessas de um Idiota às Seis da Manhã feitas por quem quer –
ou precisa – tapar o sol com a peneira.
A grande verdade é a que o Cidadão, verdadeiro
financiador de todas essas obras – e que provavelmente nem perto destes locais
irá passar durante os eventos–, continuará passivamente assistindo todo esse Banquete
de Hipócritas, enquanto se ocupa em atividades, para muitos, mais
importantes, como, por exemplo, dar Milho aos pombos.
Ps: Todas as partes grifadas são nomes de canções gravadas
pelo genial Zé Geraldo. Ele, ao contrário de todos os fatos citados no texto, é
uma das coisas que o brasileiro deve se orgulhar.
* Vinicius Carrilho tem 22 anos, é jornalista,
morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.
Este é um símbolo de uma geração, com certeza é. Eu tenho um petshop e vendo brinquedos para cachorro com a imagem de muitos ídolos da música.
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