sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O suicídio do Jornalismo

Capa do jornal carioca do dia 09 de janeiro.
Periódico cortou 160 pessoas, 30 delas da redação

No mesmo dia em que O Globo chamou o abominável ataque aoCharlie Hebdo de "ataque à liberdade de expressão", anunciou a demissão de 160 pessoas do seu quadro de colaboradores. O Estado de Minas também ceifou dez profissionais. A editora Abril fecha revistas e entrega parte da sede.

Não foi o ataque extremista em Paris que feriu o Jornalismo, mas ele próprio se mutila dia a dia. Quando faz coberturas superficiais, o Jornalismo morre um pouco; quando aceita a pressão de grupos políticos ou anunciantes, o Jornalismo morre um pouco.

O jornalista Jorge Kajuru, que perdeu o emprego na Band por ter feito críticas
ao governo de Minas Gerais às vésperas de um Brasil x Argentina, em 2004
Quando entretém em vez de informar, o Jornalismo morre um pouco; quando um veículo cria um título dúbio para obter mais acessos, o Jornalismo morre um pouco. 

Quando o jornalista mostra-se preconceituoso, o Jornalismo morre um pouco; quando o aspirante a foca entra na faculdade para fazer o curso só porque gosta de futebol, o Jornalismo agoniza.

O Jornalismo de verdade, não essa coisa que é praticada por aí, dá voz a quem não tem; dá vez a quem dela precisa; é instrumento de justiça, não da justiça ou de justiçamento; é o enfrentamento da censura de onde quer que ela venha. É sacerdócio. É renúncia. É praticamente um franciscanismo, um voto de pobreza no qual se despe da vaidade pessoal pelo bem coletivo.

O Jornalismo morre porque nos falta paixão e nos sobra vaidade. O Jornalismo morre porque não damos a ele a importância que deveria ter, tampouco a dignidade que merece. Uma pátria que se diz educadora, mas não respeita seus professores, está doente, definha. E o Jornalismo sucumbe com ela.

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