terça-feira, 12 de março de 2019

Sobre Neymar, PSG e o desmazelo com a imagem

CRAQUE DA AVENIDA Neymar dá uma pausa na recuperação da lesão e
 curte o Carnaval no Brasil (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo)

Sempre que eu escrevo fazendo críticas ao Neymar, torço para que seja a última vez. Não por ele, nem me importo com isso e duvido que ele sequer suspeite da minha existência, mas faz mal à gente ficar às voltas com críticas, críticas e mais críticas, e fica a impressão de que quando o assunto é recorrente, é pessoal.

Não é.

O problema é que Neymar não se ajuda. Mal saiu – se é que saiu – da crise mais séria sobre a sua imagem por causa do desempenho patético na Copa do Mundo da Rússia, já se envolveu, deliberadamente, em uma nova leva de críticas porque resolveu largar a recuperação da nova lesão no dedinho para aproveitar o Carnaval no Brasil.


Aí o leitor poderá ponderar sobre a importância da ausência do mimadinho craque na nem tanto inacreditável eliminação de sua equipe na Liga dos Campeões, mesmo depois de vencer fora de casa por 2 a 0 e ser superada por um adversário desfalcado de 10 jogadores, entre eles Pogba, o principal nome do United.

Mas tem. E muita.

Neymar chegou a Paris para ser o líder, em campo e fora dele, do projeto de conquista da Europa pelo Paris Saint Germain, um time com alguma tradição doméstica, mas pequeno na Europa e com os cofres abarrotados a partir de uma negociata que envolveu políticos graúdos franceses, fundos de investimentos do Catar e compra de votos para a definição daquele país como sede para a Copa de 2022. E na semana mais importante da temporada, o craque-que-tem-tudo-e-não-é-cobrado-por-nada-em-Paris esteve ausente, o que faz com que o clube seja exatamente do tamanho que é tratado pela sua maior estrela.

Desde que chegou à França, Neymar desfalcou o PSG em 45 de 98 jogos do time (quase a metade das partidas, portanto). Em alguns destes compromissos, o camisa 10 não jogou porque teria sido poupado. É verdade que ficou de fora em boa parte graças às duas lesões mais sérias que sofreu, mas não há azar ou acaso nisso. A celebridade Neymar Jr não conversa com o atleta Neymar Jr e, sabe-se, tem uma vida social bastante agitada, o que não ajuda não só na recuperação física entre os jogos, como também atrapalha, e muito, o trabalho de prevenção de contusões.

Se quer ser levado a sério, o reizinho de Parc des Princes tem que se levar a sério. Precisa entender que sua vida extracampo atrapalha o rendimento dentro das quatro linhas. Precisa entender também que todas suas atitudes repercutem muito mais por causa de sua condição de ídolo, para o bem e para o mal. E precisa escolher entre ser responsável e assumir o ônus que seu status exige, se concentrando no que pode dar em troca dos milhões que recebe, ou aproveitar ainda na juventude tudo o que já amealhou, mas sem esperar por grandes resultados e, consequentemente, ver seu valor de mercado diminuir.

Os dois, não dá.

Mesmo considerando um absurdo imaginar a prima donna no mesmo patamar de Cristiano Ronaldo e Messi, cabem algumas comparações: Cristiano se machucou na final da Eurocopa e voltou ao gramado para apoiar seus companheiros, e Portugal bateu uma França, mais forte e jogando em casa. Neymar, que já havia ficado de fora do jogo de ida pelas oitavas da Champions, deixou seus colegas em Paris e pediu para seguir o tratamento da contusão no Brasil em um período que coincidiu com os festejos de Momo, sem se furtar a largar as muletas e pular, literalmente, o Carnaval.

Esta é somente uma das diferenças.

Messi é o melhor jogador do mundo, o mais dotado tecnicamente. Cristiano diminui a diferença entre eles ao trabalhar feito um louco para ser melhor a cada dia, e se adaptou a uma nova função em campo. O resultado é que, aos 34 anos, o português está longe do declínio físico e técnico esperado nesta faixa de idade. Neymar, que é mais talentoso que o astro lusitano e é sete anos mais jovem, ainda não chegou ao ponto em que a idade pesa e o rendimento cai. Só que a fatura chegará de acordo com o seu planejamento (ou falta de um). Aí restará o mercado brasileiro, que torra grana sem parcimônia alguma, ou algum campeonato endinheirado, como o árabe e o chinês.

Pouco para quem foi projetado para ser o melhor do mundo.

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