CRAQUE DA AVENIDA Neymar dá uma pausa na recuperação da lesão e curte o Carnaval no Brasil (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo) |
Sempre que eu escrevo fazendo críticas ao Neymar,
torço para que seja a última vez. Não por ele, nem me importo com isso e duvido que ele sequer suspeite da minha existência, mas faz
mal à gente ficar às voltas com críticas, críticas e mais críticas, e fica a
impressão de que quando o assunto é recorrente, é pessoal.
Não é.
O problema é que Neymar não se ajuda. Mal saiu –
se é que saiu – da crise mais séria sobre a sua imagem por causa do desempenho
patético na Copa do Mundo da Rússia, já se envolveu, deliberadamente, em uma
nova leva de críticas porque resolveu largar a recuperação da nova lesão no
dedinho para aproveitar o Carnaval no Brasil.
Aí o leitor poderá ponderar sobre a importância
da ausência do mimadinho craque na nem tanto inacreditável eliminação de sua
equipe na Liga dos Campeões, mesmo depois de vencer fora de casa por 2 a 0 e
ser superada por um adversário desfalcado de 10 jogadores, entre eles Pogba, o
principal nome do United.
Mas tem. E muita.
Neymar chegou a Paris para ser o líder, em campo
e fora dele, do projeto de conquista da Europa pelo Paris Saint Germain, um
time com alguma tradição doméstica, mas pequeno na Europa e com os cofres
abarrotados a partir de uma negociata que envolveu políticos graúdos franceses, fundos
de investimentos do Catar e compra de votos para a definição daquele país como
sede para a Copa de 2022. E na semana mais importante da
temporada, o craque-que-tem-tudo-e-não-é-cobrado-por-nada-em-Paris esteve
ausente, o que faz com que o clube seja exatamente do tamanho que é tratado
pela sua maior estrela.
Desde que chegou à França, Neymar desfalcou o PSG
em 45 de 98 jogos do time (quase a
metade das partidas, portanto). Em alguns destes compromissos, o camisa 10 não
jogou porque teria sido poupado. É verdade que ficou de fora em boa parte
graças às duas lesões mais sérias que sofreu, mas não há azar ou acaso nisso. A
celebridade Neymar Jr não conversa com o atleta Neymar Jr e, sabe-se, tem uma vida
social bastante agitada, o que não ajuda não só na recuperação física entre os jogos, como também atrapalha, e muito, o trabalho de prevenção de contusões.
Se quer ser levado a sério, o reizinho de Parc
des Princes tem que se levar a sério. Precisa entender que sua vida extracampo
atrapalha o rendimento dentro das quatro linhas. Precisa entender também que
todas suas atitudes repercutem muito mais por causa de sua condição de ídolo,
para o bem e para o mal. E precisa escolher entre ser responsável e assumir o
ônus que seu status exige, se concentrando no que pode dar em troca
dos milhões que recebe, ou aproveitar ainda na juventude tudo o que já
amealhou, mas sem esperar por grandes resultados e, consequentemente, ver seu
valor de mercado diminuir.
Os dois, não dá.
Mesmo considerando um absurdo imaginar a prima
donna no mesmo patamar de Cristiano Ronaldo e Messi, cabem algumas
comparações: Cristiano se machucou na final da Eurocopa e voltou ao gramado
para apoiar seus companheiros, e Portugal bateu uma França, mais forte e
jogando em casa. Neymar, que já havia ficado de fora do jogo de ida pelas
oitavas da Champions, deixou seus colegas em Paris e pediu para seguir o
tratamento da contusão no Brasil em um período que coincidiu com os festejos de
Momo, sem se furtar a largar as muletas e pular, literalmente, o Carnaval.
Esta é somente uma das diferenças.
Messi é o melhor jogador do mundo, o mais dotado
tecnicamente. Cristiano diminui a diferença entre eles ao trabalhar feito um
louco para ser melhor a cada dia, e se adaptou a uma nova função em campo. O
resultado é que, aos 34 anos, o português está longe do declínio físico e
técnico esperado nesta faixa de idade. Neymar, que é mais talentoso que o astro
lusitano e é sete anos mais jovem, ainda não chegou ao ponto em que a idade
pesa e o rendimento cai. Só que a fatura chegará de acordo com o seu
planejamento (ou falta de um). Aí restará o mercado brasileiro, que torra grana
sem parcimônia alguma, ou algum campeonato endinheirado, como o árabe e o
chinês.
Pouco para quem foi projetado para ser o melhor
do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário