Casillas, histórico goleiro campeão do mundo e bicampeão europeu como capitão da Espanha, cobrou a renúncia e classificou como vergonhosa a declaração do dirigente; o atacante Borja Iglesias declarou que não vestirá mais a camisa roja enquanto o dirigente não sair, pelas próprias pernas ou não. De Gea foi enfático (“Meus ouvidos sangram“). Enrique Cerezo, presidente do Atlético de Madrid, e Carlo Ancelotti pediram sua destituição imediata. Alexia Putellas, uma das maiores da história e talvez a maior jogadora espanhola de todos os tempos, disse que “acabou“, colocando-se ao lado da vítima.
Todas as 23 jogadoras que sagraram-se campeãs do mundo assinaram um manifesto no qual se negam a voltar a defender a seleção enquanto Rubiales estiver no cargo. Inclusive jogadoras que se recusaram a defender a seleção Espanhola na Copa do Mundo exigiram medidas drásticas. Vejam, abriram mão da chance de entrar para a história porque queriam a queda do técnico Jorge Vilda, um dos que aplaudiam o assediador, em vez de defendê-la. É bom lembrar que Vilda foi flagrado apalpando o seio de um dos membros da Comissão Técnica durante a final da Copa. Luis de La Fuente, treinador da seleção masculina, estava presente e também prestigiou o dirigente.
Dos clubes, vários se posicionaram. O Barcelona foi ameno, classificando como “imprópria a atuação do presidente”. Seu vizinho, Espanyol, e outros, como Real Sociedad, Getafe e Osasuna, exigiram sua destituição. Já o Sevilla se colocou ao lado da atleta. Mas ainda é preciso mais. O Real Madrid, que teria um peso gigantesco, fez ouvidos de mercador e nem tchum, exceto pelo posicionamento de seu treinador. Bom, não dá para esperar muito de quem é incapaz de defender veementemente um de seus principais jogadores, Vini Jr, vítima reiteradamente de racismo. A demissão de Luís Rubiales, que é necessária e imprescindível, seria uma resposta muito mais forte e contundente – e única à altura – ao cenário grotesco que foi visto na Cidade do Futebol, sede da Real Federação Espanhola de Futebol.
É bom lembrar também que um amistoso entre Brasil e Espanha, visando “celebrar a luta antirracista dos dois países” – como se houvesse alguma -, está marcado para o mês de março do ano que vem, com direito a camisa preta e tudo. Seria pedir demais que a CBF, que vai dar de bandeja a camisa mais importante do mundo para promover o país onde um de seus mais importantes jogadores no momento é agredido estando ou não em campo, solicitasse explicações sérias sobre o ocorrido. Ou então irá desrespeitar também um de suas principais causas na atualidade, que é o apoio ao futebol feminino. Se não fizer, e duvido que fará, mostrará que defender causas abraçando árvore ou jogando de camisa preta é fácil. Difícil mesmo é colocar isso em prática.
Pós edit.: entre a produção (27) e a publicação deste texto no Ludopédio.com.br, muita coisa aconteceu, como o pedido de demissão de quase toda a comissão técnica campeã do mundo. "Quase" porque o técnico Jorge Vilda foi o único a permanecer. Ele, que foi boicotado por diversas jogadoras antes da Copa, aplaudiu o pronunciamento de Rubiales e lamentou, posteriormente, mais que o assunto tenha sido o beijo [FORÇADO], que ele classificou como fruto de um "comportamento impróprio", e não a conquista; a RFEF, de onde Rubiales está afastado por 90 dias por imposição da FIFA, subiu o tom e ameaçou Hermoso de processo, além de afirmar que tomaria ações legais necessárias contra quem se negasse a representar o país, pois "jogar pela Seleção Nacional é obrigação de qualquer membro da federação chamado a fazê-lo"; os membros da comissão técnica que se demitiram informaram que foram coagidos pela RFEF a participar da assembleia na qual Rubiales declarou que ficaria. Inclusive, segundo os 11 demissionários, as mulheres componentes do staff teriam sido obrigadas a se sentarem na primeira fila, em sinal de apoio ao dirigente; o simples afastamento do presidente de suas funções ou de qualquer outra atividade esportiva não terá efeito algum se, além da proibição de manter contato com Hermoso ou qualquer pessoa ligada à atleta, a proibição não se estender a qualquer membro da RFEF, ou então toda ação promovida pela própria Real Federação Espanhola de Futebol contra as jogadoras e demais pessoas que, estando ao alcance de sanções da entidade, a apoiarem, levantará suspeitas de que o afastamento é só protocolar.