quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Os craques dos jogos fáceis

Na semana passada, antes do espetáculo dantesco que a “seleção” nos proporcionou no Maracanã, frente à Colômbia, o meia Kaká foi homenageado, passando a ser o jogador mais novo a ter seus pés imortalizados na calçada da fama do maior do mundo. Na mesma ocasião, Robinho também foi homenageado, ao ver seu belíssimo drible contra o Chile registrado numa igualmente belíssima seqüência de fotos.

O curioso, pra não dizer lamentável, é que eles foram homenageados por absolutamente nada, ou pouco mais que isso. O que eles fizeram pela Seleção a ponto de receberem tal honraria? Nada!




Kaká brilha no Milan. Na equipe canarinho a única conquista dele foi estar no grupo que foi campeão do mundo em 2002. Recentemente, quando Dunga precisou dele pros Jogos Olímpicos, foi operado no joelho e ficou de fora dos jogos. Depois reconheceu que poderia esperar pra passar pela cirurgia.

E o Robinho? Além das firulas, pouca coisa. Aquele drible foi bonito, mas dar essa importância toda? Ainda mais pra um jogador que fugiu da Olimpíada? Alegou uma contusão e durante a competição já estava fagueiro e serelepe, já recuperado. Contra a Colômbia, se contundiu e pediu pra sair, mas após o jogo estava “atuando” num pagode com alguns amigos. E disse que estaria à disposição do seu time, o Manchester City.


Temos o péssimo hábito de cultuar ídolos instantâneos. Um drible mais sofisticado chama muito a atenção. Gols, então, meia dúzia basta pra render contratos milionários, e infelizmente a Seleção, que era o ápice da carreira profissional de um atleta, hoje nada mais é que um mero trampolim, uma simples etapa pra se ganhar dinheiro, muito dinheiro. Não que eles não mereçam. Que ganhem milhões, mas que deixem a “amarelinha” pra quem tem vontade de jogar, de verdade. E não querer aparecer somente em jogos fáceis.

O preço do bacalhau

O afastamento do árbitro Leandro Pedro Vuaden por ter prejudicado o Tricolor do Rio não soa bem, principalmente porque outros árbitros tiveram atuações igualmente desastrosas e nem por isso foram pra geladeira. O carioca Marcelo de Lima Henrique causou danos claramente o Santos no jogo contra o Grêmio. Na ocasião, Henrique não anotou um pênalti claríssimo a favor dos paulistas, além de expulsar o zagueiro Fabiano Eller após este sequer ter cometido a falta que lhe acarretou o cartão vermelho.

Outra arbitragem polêmica foi a do paranaense Evandro Rogério Roman, que apitou o jogo entre Portuguesa e Flamengo, quando validou dois gols em que houve o uso das mãos, ambos marcados pelo Flamengo.

Em comum nos três está o fato de que todos foram muito contestados, mas somente Vuaden foi punido. Foram usados, como reza o ditado, dois pesos e duas medidas. Fatos iguais existem aos cântaros, para justificar a preocupação da diretoria da Portuguesa, que, gato escaldado que é, já solicitou à Federação Paulista que envie observadores para acompanharem os próximos jogos da equipe, a começar já no próximo sábado, quando a Lusa vai a Recife encarar o Náutico. Aliás, os visitantes do Timbu não costumam encontrar um clima dos mais aprazíveis.

E a direção rubro-verde está certa, aliás, certíssima, pois enquanto continuarem vendendo o bacalhau de acordo com a cara do freguês, todo cuidado é pouco. Afinal de contas, como diz o velho Jorge Ben, ”canja de galinha não faz mal a ninguém”.

Sobre fantasmas

Essa semana, o ex-todo poderoso do Vasco da Gama, Eurico Miranda, reapareceu na mídia ao fazer ameaças diretas ao atual presidente do clube da colina, Roberto Dinamite. Entre outros impropérios, o que mais chama a atenção é o truculento Euricão querer imputar a Dinamite a péssima situação atual o clube, inclusive afirmando, em recado direto, que irá acabar não só com a vida política, mas também com a vida particular do dirigente caso o Vasco seja rebaixado para a segunda divisão do futebol brasileiro.

O que me estranha não é a atitude do ex-presidente e dublê do igualmente indigesto Hugo Chávez, aquele que se fez Rei da outrora democrática Venezuela. Isso é bem do seu feitio. Causa-me espécie mesmo é esse troglodita (que me perdoem os trogloditas) ainda encontrar espaço pra poder destilar seu veneno por aí. Nada contra o repórter da rádio Bandeirantes que fez a entrevista, mas eu não teria estômago para tanto.

Eurico deve ter se acostumado aos tempos de deputado, quando assistido pela im(p)unidade parlamentar fazia e dizia o que bem lhe conviesse. Agora os tempos são outros, embora a justiça seja a mesma. O que ele reluta em admitir é que está morto. Sua morte política foi decretada nas urnas, há dois anos, quando não conseguiu se reeleger. Sua morte esportiva se deu quando o grupo do Dinamite assumiu o poder no Vasco.

O ápice do desespero é atirar pra tudo o que é lado, querendo se esquivar da culpa por ter deixado um clube tão grande, como é o Vasco, na penúria em que está. Os tiros, porém, só acertarão seu próprio pé, mas ele nem sentirá. Afinal, fantasmas não sentem.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nada como um fim-de-semana gordo

Nesse fim-de-semana gordo, esportivamente dizendo, eu estava chato. Principalmente sábado. Sabe aquele dia em que se puder, você sequer sai da cama? Pois é, era um dia daqueles.

Tempo encoberto, Lewis Hamilton cravando a poli-position na Fórmula 1, campeonato português sem rodada, início de horário de verão (não estamos na primavera?), um tédio só! Enfim, um dia daqueles! Pra não falar que nada se aproveitaria do sábado, tinha um churrasquinho pra ir à noite. Mas à noite, choveu, e muito...

Mas como tudo na vida tem remédio, o sábado chegou ao fim. Após assistir com minha esposa a um filmaço na madrugada, acertei o despertador pra poder acordar às 5 horas, pois queria “secar” o Hamilton.

Pois bem, acordei às 6:45, e só vi a festa do inglês, já no pódio. Pelo visto o domingo seria “tão bom” quanto o dia anterior. E o pior é que a Lusa ainda jogaria com o Grêmio, o líder do campeonato, e sabe como é, né? Como dizem os espanhóis, “lo que empéza mal...”

Nem fiz questão de assistir à final do Mundial de futsal, mas me disseram que Brasil e Espanha fizeram um jogo contra-indicado para cardíacos, até as últimas conseqüências, ou melhor, disputa de tiros-livres, e o Brasil levou a melhor.

Na hora do almoço assisti maravilhado ao banho de bola que o Manchester United deu no West Bromwich, pelo Campeonato Inglês. Que maravilha! Sem contar que o público foi de 75 mil pessoas, na oitava rodada. Raro um clássico que atraia tanta gente no Brasil atual.

Era um sinal de que o domingo poderia ser bom. Tinha “Choquei-Rei” no Morumbi, e o clima antes do jogo já estava carregado por conta das declarações de ambos os lados, principalmente por parte do presidente são-paulino, Juvenal Juvêncio, useiro e vezeiro em criar factóides antes de jogos dessa envergadura. Ou seja, prenúncio de um jogão.

E foi mesmo! Teve tudo que um clássico de verdade deve ter: rivalidade, lances ríspidos, expulsões, gols e polêmica, muita polêmica. No fim o empate traduziu muito bem o que foi o jogo. Mas faltava o prato principal: o jogo da Lusa! E que jogo! Fazia tempo que a Portuguesa não jogava com tanta frieza e inteligência. Torcida cantando o tempo todo, futebol raçudo, vistoso... Teve maior volume de jogo, mais tranqüilidade e paciência para esperar o momento certo para “dar o bote”, sem deixar possibilidades para o líder.

Enfim, um desfecho perfeito para um fim-de-semana gordo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Triste sina

Após ver uma evolução no time da Lusa nos últimos jogos, sábado passado resolvi conferir de perto a quantas andavam as coisas pelos lados do Canindé, principalmente após ouvir dos próprios jogadores lusos que a nossa casa seria o principal trunfo na reta final do certame nacional, para que permaneçamos na elite.

Ledo engano. O que eu vi foi um time acuado dentro de sua própria casa, por um adversário que veio com o intuito de voltar pro Sul com 1 ponto na bagagem, pois se quisesse mais, certamente conseguiria.

Não faltou raça, em momento algum. O sempre questionado Dias foi um guerreiro, o Jonas correu feito maluco e saiu cuspindo marimbondos ao ser substituído. Faltou inspiração. Os únicos lampejos de lucidez couberam ao lateral Athirson, ainda assim pouquíssimas vezes acionado.

Quando o Estevam Soares quis mexer no time, fê-lo muito mal. Sacou um volante (Rai) para a entrada de um meia (Fellype Gabriel), fazendo permanecer em campo o meia Preto, mas a bola sequer passava pelos seus pés. Tirou o atacante que mais lutava em campo (Jonas), para pôr o inoperante Vaguinho, que não fez uma única jogada que prestasse. A nossa sorte é que o garoto Keirrisson fez uma das piores partidas da sua vida, o Carlinhos Paraíba só ciscou e o argentino Ariel Nahuelpan é muito ruim.

Como o campeonato é nivelado por baixo, e muito por baixo, ainda há tempo, embora faltem apenas 9 rodadas para o seu término. Apenas 2 pontos nos separam, momentaneamente, da permanência na elite.

O próximo adversário é o líder Grêmio, novamente no Canindé, e não há mais margem para erro. Ou ganha ou terá que buscar pontos fora de casa, onde, aliás, somou apenas 4 até o momento. Hoje ficou provado que apenas transpiração não será suficiente. E se cair, a impressão que eu tenho, cada vez mais forte, é que não subirá tão cedo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A inversão dos valores

No ano passado, após a derrota contra o Sport, pelo Campeonato Brasileiro da Série A, os “torcedores” do Corinthians protagonizaram novas cenas de revolta e indignação devido ao caos que se instalou no Parque São Jorge. Foram cobrar “raça” e “determinação” por parte dos atletas da equipe, responsabilizando-os pela fase tenebrosa a qual o clube vem atravessando de uns tempos para cá. O mesmo aconteceu no Rio de Janeiro com a “torcida” do Botafogo, depois que o time foi incrivelmente eliminado da “importantíssima” Copa Sul Americana pelos argentinos do River Plate, estando com um jogador a mais e podendo perder por um gol, após estar ganhando por 2 a 1!

Durante a semana passada foi preciso uma viatura de polícia para que os jogadores do Vasco pudessem treinar. Com tanta pressão, é óbvio que o resultado em campo não foi dos mais satisfatórios: derrota vexatória frente ao Figueirense, em pleno São Januário. E queda livre rumo ao rebaixamento.

É compreensível que o amor incondicional pelo time do coração somado ao fanatismo leva o indivíduo a tomar atitudes que em condições normais não tomaria. É certo afirmar que num país de tantas injustiças sociais e negociatas políticas o futebol é usado como válvula de escape para as agruras do dia-a-dia. Políticos populistas se aproveitam de conquistas desportivas para distrair a atenção do povo. Em Portugal, por exemplo, durante a ditadura de Oliveira Salazar criou-se a figura dos 3 Fs (futebol, fado e Fátima), o que consistia na idéia de que enquanto o povo tivesse diversão, sentimento e fé, não precisaria de mais nada. Progresso? Esse verbete soa como um palavrão numa ditadura. O problema é que isso funciona. E é aí que mora o perigo.

Se não, vejamos: 15 dias antes, o Presidente do Congresso Nacional, o Senador Renan Calheiros, foi vergonhosamente absolvido pelos colegas (ou seria melhor “comparsas”?) de Senado, e qual foi a reação imediata das pessoas? Revolta, indignação e todos os sinônimos que as valham.

Perfeito, mas apenas num primeiro momento. Depois, tudo voltou ao normal. Enquanto isso o Corinthians se preparava para outro jogo do Brasileirão e, como num jogo de roleta-russa, qualquer resultado que não fosse a vitória desencadearia reações intempestivas por parte dos torcedores profissionais.

Outro exemplo: no fim da década de 1980, quando o Palmeiras já amargava 13 anos de jejum de títulos, sua torcida se enchia de esperança ao ver o time dirigido por Telê Santana chegar à fase decisiva do Campeonato Paulista de forma invicta. Aí veio o jogo contra o Bragantino em Bragança Paulista, a derrota por 3 a 0, a eliminação e o fim da esperança alviverde, e, juntos, esses ingredientes se transformaram em nitroglicerina pura, o que culminou com a depredação do patrimônio do clube, que teve a sala de troféus destruída pela ira desses “torcedores”. No ano seguinte, a caderneta de poupança foi confiscada pelo governo Collor, em tempos de inflação desenfreada, e adivinhe qual foi a reação do povo (incluindo os que destruíram a sala de troféus)? Estupefação momentânea, apenas isso.

Mas, caro leitor, antes de se "orgulhar", saiba que isso não é exclusividade do Brasil. Pedro Santana Lopes, ex-Primeiro-Ministro de Portugal, dava uma entrevista a uma rede de TV, quando foi interrompido pela sua interlocutora para que fosse mostrada a chegada de José Mourinho, o super vencedor ex-técnico do Chelsea e considerado - pasmem - herói nacional (!) pelo povo português, ao país. Foi então que Santana Lopes se recusou a continuar com a entrevista e disparou: “O pais ficou doido”. Realmente, quando vemos a derrota do time do coração ou o destino da heroína da novela importar mais que o futuro do país, devemos refletir. O técnico italiano Arrigo Sacchi certa vez declarou que “o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Amém.