quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Números favoráveis não salvam ano pífio da Seleção Brasileira

NÚMEROS MENTEM Brasil venceu todos amistosos, mas fez uma Copa
 do Mundo bem abaixo do que poderia (Foto: Jewel Samad/AFP)
A Seleção Brasileira fechou o ano "positivamente". Foram 15 jogos, com 13 vitórias, um empate e uma derrota, com 28 gols marcados e apenas três sofridos e um aproveitamento de quase 90%. Números superlativos, que, em condições normais, mostrariam um trabalho com consistência, que atingiu o sucesso esperado por dez entre dez torcedores - nos quais não me incluo. Em condições normais, porém, os números mostram menos do que deveriam, apresentam meias verdades.

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Por que, Tite?

Trajando as vestes da modernidade, Tite abriu a temporada sob a confiança da torcida, que o via como o condutor ideal do hexa, o portador da boa nova após a trágica passagem de Dunga. E os números, sempre eles, fiavam a imagem de Midas do futebol nacional. Afinal, pegou a equipe em situação de extremo risco e a levou a uma incontestável classificação à Copa, com brilho, intensidade, competitividade. Enfim, "Titebilidade", como brincavam torcedores e mídia com o jeito de falar do treinador, idolatrado por grande parte da imprensa dita especializada.

E é aí que morou o problema. A unanimidade fez mal ao treinador, que chegou à Copa no pedestal da genialidade. As entrevistas do "Professor Adenor" mais pareciam o quadro do Profeta, do genial Ronald Golias, na Praça É Nossa. Nenhuma contestação, Neymar fazendo o que queria, jogadores rendendo abaixo do que era o necessário, sobretudo atuando em campeonatos de nível de competitividade quase nula. Outros, chegaram à Rússia na curva descendente do condicionamento físico e minguaram durante a competição, que era o único objeto do Brasil, que foi uma espécie de estudante que tirou nota máxima em todos os simulados, mas que bombou na prova porque chegou confiante demais e foi pra balada na noite anterior.

UÁLA! Entrevistas coletivas mas pareciam palestras. (Foto: Youtube)
15 jogos, 13 vitórias, um empate e uma derrota, sofrendo só três gols, mas justamente quando não podia, na Copa do Mundo em que jogou bem em apenas dois tempos, em partidas diferentes, durante toda a competição. Realmente, os números mostram quase tudo, mas escondem o essencial, como diria o Roberto Campos naquela analogia com o biquíni.

O lado bom é que agora o manto da inquestionabilidade não cobre mais o "Professor", nem sua primadona. Eis um passo necessário a ser dado para que o outrora país do futebol recupere, pelo menos, a decência de suas atuações em campo. Principalmente quando for valendo.

sábado, 7 de julho de 2018

Por que, Tite?

UAHLAH! O mestre Tite, tal e qual o Profeta de Ronald Golias


Um pecado a eliminação do Brasil. E o pecador atende pelo nome Adenor. Tite, o civilizador, montou o time parecido com o que não funcionou contra o México. William preso na ponta, Paulinho sem função alguma, e jogando com Fernandinho, que é lento, e precisava de ajuda para substituir Casemiro, que fez uma falta imensa. Fagner, um terror, não teve cobertura, que deveria ser feita por um dos volantes. Ninguém fez.


Roberto Martinez, por sua vez, desmanchou o sistema com cinco defensores que quase emperrou no Japão, reforçou o meio-de-campo e, favorecido não só pela ausência de Casemiro, mas também pela pavorosa atuação da dupla Fernandinho-Paulinho,encaminhou a vaga ainda no primeiro tempo, coisa que o México poderia ter feito caso tivesse um pé que pensasse o jogo.

Neymar, abaixo do mais baixo que já jogou pela Seleção, foi uma figura patética no primeiro tempo. Apático, errou tudo o que tentou e saiu do Mundial com a imagem de chorão, mimado e ídolo que ninguém deveria ter. Marcelo, depois de uma temporada estonteante, foi um fiasco maior do que já havia sido em 2014, e ainda teve problemas físicos. Nem Coutinho foi bem, e Gabriel Jesus, em noite para ser esquecida, não terá quem o defenda. No segundo tempo, sem a nulidade da camisa 19, com Douglas Costa querendo jogo e com Firmino mais à frente, o Brasil funcionou um pouco melhor.

Quando Renato Augusto entrou para igualar numericamente o jogo, já que Paulinho era, para variar, praticamente menos um em campo, o Brasil melhorou. Neymar entrou no jogo, embora sem brilho, mas minimamente efetivo. Coutinho, mesmo mal, achou um passe fantástico para Renato Augusto diminuir. E quase o mesmo Renato empatou, se aproveitando de um raro momento de desarranjo belga.

A Bélgica, que abriu a vantagem com De Bruyne jantando o apavorado e injustificável Fagner, Lukaku ganhando tudo sobre todos no primeiro tempo e Hazard como o dínamo do time, sentiu o gol e se fiou no imenso Courtois, que brilhou quando um desesperado Brasil mandava no jogo, à base do bumba-meu-canarinho. Pena para o Brasil Douglas Costa não ter tido mais chances em campo, assim como Renato Augusto.

Tite, como sempre calmo, sereno e irritantemente professoral na coletiva post-mortem, teria muito o que explicar, caso a imprensa presente não bebesse de sua inquestionável sabedoria. Por que Fred? Por que Taison? Por que Fagner? Por que Alisson titular? Por que insistir tanto com Fernandinho? Por que Gabriel Jesus? Por que Marcelo voltou? Por que Paulinho? Por que, Tite?

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Passou quem teve coração. E não foi Portugal


A VIDA PELA VAGA O que faltou a Portugal sobrou
 ao imenso Cavani (Facebook.com/FIFA)
 
Desde o início da Copa eu tenho reclamado da convocação, da postura e das escolhas de Fernando Santos. Hoje, Portugal caiu por causa da falta de opções para fazer a bola chegar à frente. Sem essa de cair em pé. Perdeu para um grande time, uma camisa gigante, mas perdeu, e poderia ter feito mais. Não com o grupo que foi convocado. Não com João Moutinho no banco quando era o único com passe qualificado. Não com Gonçalo Guedes em campo. Não com Guerreiro sendo engolido por Cavani, com João Mario errando o que podia e o que não podia. Não com Bernardo Silva jogando torto na direita e órfão do apoio do grotesco Ricardo Pereira.


O Uruguai, ciente de suas limitações, deu campo, bola, fechou a defesa e apostou nos imensos Cavani e Suárez. Não tem um elenco numeroso, mas Óscar Tabarez extraiu o melhor do que tinha em mãos e anulou Cristiano, que mal viu a bola e, quando a teve e só tiha o chute como opção, tinha à frente Torrera, Laxalt, Cavani e outros 3 milhões de uruguaios se matando a cada bola.

Uma pena a única partida monstruosa feita por Bernardo Silva, melhor jogador português em campo, ter sido a última. Guerreiro, Guedes e João Mário, por sua vez, foram pesos mortos em campo num jogo em que era preciso estar no máximo do desempenho, num jogo em que era inadimissível ter tantos escanteios que morreram antes mesmo de chegarem à área.

Fernando Santos, a quem devemos agradecimento eterno pelo título da Eurocopa, terá que renovar não só a Selecção das Quinas, como seus conceitos e modo de jogar. Portugal deve perder Pepe depois de três Eurocopas e outras tantas  Copas do Mundo, além de Fonte, João Moutinho e Quaresma, que podem ter cumprido seus derradeiros serviços com a Cruz da Ordem de Cristo ao peito, ao passo que Cristiano ainda deve ter um ciclo completo pela frente.

Voltando ao jogo, passou quem mereceu passar.

Pegou no breu

GIGANTE Neymar se estica para, se sola, cravar seu nome na
história (Alexandre Schneider/Inovafotos/Gazeta Press)


Soberba a atuação do Brasil. Com um Neymar gigante, como se espera dele, sem firula, jogando para o time e sem simular faltas, e tendo Paulinho, recuado, mais ou menos como fez na sua maior partida pelo Brasil, na final da Copa das Confederações de 2013, contra a Espanha, que finalmente fez um grande jogo em Copas.

O México surpreendeu pelo ímpeto do primeiro tempo e só não fez a vantagem pela falta de inteligência de seus homens de frente. Se tivesse um pé só que pensasse o jogo, o time de Juan Carlos Osorio poderia ter criado problemas sérios ao Brasil, que foi encurralado durante boa parte do primeiro período de jogo.


No segundo, com Paulinho preso e William com o diabo no corpo, aproveitando o espaço deixado por Coutinho, que esteve abaixo, mas se doou para completar a marcação,no espeço deixado pelo volante do Barcelona, o Brasil mandou no jogo. O pouco que passou ficou na excelente dupla Thiago Silva e Miranda, que tiveram um desempenho perfeito, sobretudo o primeiro, que está tendo sua redenção pela equipe canarinha.

Com a bola do segundo tempo, com Neymar centrado como foi e com a defesa bem posta, o Brasil tem bola para ser campeão. A saber, apenas, sem Casemiro, outro que faz uma Copa absurda, mas, punido por ter acumulado cartões amarelos, será rendido por Fernandinho, que tem cumprido uma boa temporada, mas não tem o peso do madridista.

Pai Marcola Copa da Rússia 2- Palpites para as quartas de final

Já que errei mais do que acertei nas oitavas, vamos às previsões do Pai Marcola para os quartos-de-final da Copa:
Brasil x Bélgica - jogo chato, complicado, que envolve quem ainda tem que provar seu valor contra a camisa mais pesada do futebol mundial. A Bélgica só será respeitada quando cumprir uma grande campanha, como chegar às semi-finais, por exemplo, ou eliminar um gigante (ou os dois juntos). Terá a chance amanhã, mas o Brasil se encontrou durante a Copa e, embora com o elenco enxuto pela teimosia do técnico/civilizador Tite, tem camisa, time e bola (também graças ao Adenor, diga-se) para passar. Ficará para a a próxima, Bélgica.
França x Uruguai - primeiro jogo realmente grande dos gauleses no Mundial (o Exército de Brancaleone albiceleste não conta), e não terão Matuidi contra o gigante Uruguai, que sentirá muito mais a lesão na panturrilha do Cavani que o próprio. Aos cisplatinos, resta colocar o coração charrua na ponta da chuteira outra vez, morrer a cada bola disputada e torcer para que Suárez seja ainda maior do que é. Na pior das hipóteses para os orientais, este jogo renderá outro texto brilhante do Nicolás Bianchi. Mesmo sem brilhar até aqui (e com Mbappé voando), a França deve passar.
Rússia x Croácia - ninguém, nem mesmo os russos, sabem como chegaram até aqui. A Croácia fez um jogo medonho contra a Dinamarca, no qual seu fabuloso meio-de-campo não funcionou. Pode ser este o caminho para que falte ainda mais vodka e a expectativa de vida do cidadão russo diminua consideravelmente. Em condições normais, os enxadrezados passariam o carro por cima dos donos-da-casa, mas esta não e uma Copa normal. Ainda assim, a Croácia deve aparecer novamente na semifinal.
Inglaterra x Suécia - depois de negar o carimbo nos passaportes italianos e holandeses e quase engasgar com o chucrute alemão, a Suécia tem outro "gigante" (mais ou menos, né? Baita futebolzinho supervalorizado o dos três leões) para tombar. Sem Ibra, o conjunto ganhou força e o sistema defensivo, posto à prova em jogos de grande envergadura, como diz o Rogério Centrone, é duro feito rocha. Do outro lado, a "ótima geração inglesa", que viu a vaca deitar contra a Colômbia, terá seu mais duro teste nesta Copa, que ainda não será deles (talvez as próximas 300 também não, mas é um time talentoso). Aposto um blodpudding (puta troço bom. Recomendo) na Suécia, mas sem muita convicção.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Pai Marcola Copa da Rússia 1- Palpites para as oitavas de final

Uruguai x Portugal - Os da Província Cisplatina não tomaram gol até agora, mesmo tendo Muslera como guarda-vala (e porque não enfrentaram Golçalo Guedes!), e tem Godin em altíssimo nível, além da dupla de ataque mais mortífera da Copa. Portugal tem Cristiano Ronaldo e Willam Carvalho. E só. Por isso (e porque eu quero), passa Portugal.
França x Argentina - O melhor elenco contra um catado, um Exército de Brancaleone. Ambos não têm técnico, mas o que sobrou da Argentina tem tem o que sobrou do Mascherano e Messi. Já a França, com excelentes jogadores em todos os setores, não tem protagonistas (nem venham falar do Pogba, por gentileza, ou do Mbappe). Passa Argentina (porque eu torço por isso e para termos CR7 vs Messi nas quartas (mas que serão numa sexta).
Brasil x México - Cresceu ao longo da competição, mas também, pelo que jogou antes, se diminuísse, desapareceria em campo, assim como o William tem feito. O México é um time muito bem treinado, mas que negou fogo quando não podia e só não foi se afogar na Tequila porque a Alemanha conseguiu perder para Coreia. Passa o Brasil, mas não será fácil.
Bélgica x Japão - A Rafaela Kinoshita que me desculpe, mas a ótima geração belga (como sempre diz Vinícius Carrilho) é a maior favorita nesta fase, contra o disciplinado até demais Japão, que só eliminou Senegal porque mostrou menos a língua para o juiz. Passa o Japão para que a Rafa fique feliz.
Espanha x Rússia - Com ou sem técnico, com ou sem tiki-taka, a Espanha passa o carro no medonho time russo, que goleou a inexistente Arábia (pra ferrar meu bolão) e ganhou do Salah. Um pecado! A coisa ficará russa para o Wladimir, que ficará Putin (não poderia desperdiçar a oportunidade) com a classificação da Fúria.
Croácia x Dinamarca - Os maiores herdeiros dos "Brasileiros da Europa" terão alguma dificuldade contra os escandinavos, mas devem confirmar o favoritismo sem sustos. Têm a melhor linha de meio de campo da Copa e, para mim, foi o melhor time da primeira fase (a Bélgica bateu em bêbados). Os ótimos Eriksen e Schmeichel, que deve ter um filho que cata muito também), ficam por aqui.
Suécia x Suíça - 0 a 0 no tempo normal, na prorrogação e nos pênaltis. Como tem que passar um, passa a Suécia.
Colômbia x Inglaterra - Se não fizer bobagens como perder jogador por expulsão no primeiro minuto, a Colômbia pode dar trabalho aos súditos da rainha. Tiveram uma primeira fase arrastada como quase todo mundo e agora tem o time-que-será-eliminado-nas-semi-finais-em-2022-e-2026 pela frente. Pelo potencial e pelo James meia-bomba (e porque o Andre Gandolph me falou que serão campeões), passa o English Team.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Classificação à lusitana

REI DA TRIVELA Quaresma decidiu com
 golaço em noite de pouco brilho
Ufa! Portugal está classificado às oitavas de final da Copa do Mundo. Como nas outras partidas que antecederam a esta contra o Irã, Portugal pecou pela escalação malfeita, efeito direto da convocação errada promovida por Fernando Santos, que privilegiou passadores, mas nenhum gancho, de fato.

Se o sistema de jogo era o correto, com três jogadores à frente e Ronaldo e André Silva trocando de posições, Quaresma sobrava, na pior interpretação possível do termo. Esquecido na ponta, passou a maior parte do jogo à parte, aparecendo somente no golaço que marcou, obra e graça apenas da sua capacidade técnica. O meio era um amontoado de marcadores e passadores de lado, como um caranguejo, quando precisava mesmo era de um jogador capaz de passes em profundidade.

Ao Irã, coube o papel de especulador, um cormorão vivendo dos restos deixados por Portugal, como no lance do pênalti, que nasceu num passe desastroso do desastrado André Silva, no momento de mais controle português da partida, que já se encaminhava para o fim.

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E Cristiano? Diferentemente dos outros jogos, ele esteve abaixo em todos os sentidos: paciência, sorte, juízo. Poderia ser expulso quando deixou o braço no peito do adversário, que acusou uma agressão. Foi inconsequente, juvenil, parecendo acusar o golpe de ter desperdiçado a grande penalidade que deixaria a nau lusitana a navegar em águas calmas, em vez da tormenta de cinco minutos que foi o final do jogo.

De primeiro colocado quase garantido a por pouco não eliminado, o fato é que Portugal fez o que se esperava dele, que era se classificar. Com brilho? Nunca tivemos. Com luta? Muita, mas não precisava ser assim tão difícil.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

A vitória e o craque dispensável

NÃO ME TOQUEM Até onde vai a necessidade de
 ter Neymar no time titular? (Reuters)
O Brasil que venceu a Costa Rica pode ser dividido em duas análises distintas, uma para cada tempo. Na primeira parte, foi um time apático, com poucas ideias, um lado direito nulo com o pouco inspirado William e o injustificável Fagner, que teve a sorte de não haver um Overmars em campo, como foi com Zé Carlos em 98. No meio, Paulinho (não) fez o de sempre, Casemiro não tinha a quem marcar e Coutinho era uma ilha de talento cercada por cabeças-de-bagre. Não rendeu. Gabriel Jesus se esforçou, roubou bolas, teve um gol anulado, mas não justifica ainda estar em campo enquanto Firmino esquenta o banco. 

Na etapa complementar, com Douglas Costa melhor na frente, a render o badalado atacante do Chelsea, e com o inútil Paulinho um pouco mais aberto para auxiliá-lo (e plantar Fagner atrás, onde não atrapalhava tanto), o Brasil melhorou, mas ainda assim era pouco. Finalmente, com Firmino e sem a nulidade da camisa 15, o time do Tite teve cara de time. Bem pouco, mas o suficiente para alcançar a vitória, ainda mais com o virtuose Coutinho resolvendo outra vez. Ele é o craque do time.

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Notem que não falei do Neymar. Ele fez uma de suas piores apresentações pelo Brasil e, intocável que é, não faz a menor questão de mudar isso. Prendeu bola, se jogou, poderia ter sido expulso por indisciplina e conseguiu que um pênalti (que não foi) fosse desmarcado. Apareceu nos acréscimos, fazendo graça com o jogo ganho e marcando um gol que só serviu para que eu acertasse o bolão. No fim, chorou, como se estivesse sentindo a injustiça da pressão de quem não reconhece seu talento, sua magnitude, sua importância. Quanta perseguição ao gênio que nasceu para brilhar.

Vitória no sufoco escancara defeitos lusos na Rússia


Se Cristiano Ronaldo fosse espanhol, Portugal teria dado adeus hoje à Copa. Tendo o desempenho sofrível da estreia como parâmetro, Fernando Santos escalou mal, mexeu pior ainda e tem que dar graças a Deus pela defesa sobrenatural do Rui Patrício no momento que Marrocos mais pressionava.

Os Leões do Atlas, com sua marcação sob pressão e impressionante superioridade física, mandaram no meio, ainda mais porque Bernardo Silva erraria até o nome dele, caso perguntassem. Com menos gente no setor, seria interessante começar com Bruno Fernandes, na falta de outro, para soltar um pouco João Moutinho, mas abrindo mão do sistema com três jogadores de frente, uma vez que isso deixa o meio pouco criativo e sobrecarrega William Carvalho, único marcador a rigor em campo. 

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Não fez uma coisa, nem outra. Pior que isso, mandou a campo Gélson Martins, que é condutor de bola, quando era preciso um organizador, e não aconteceu nada, obviamente, exceto pelas tentativas bisonhas de sair driblando no meio de quatro adversários. A própria entrada do camisa 16, Bruno Fernandes, se deu de forma errada, pois manteve o desenho tático equivocado do início do jogo.

Outro problema foi o vareio que Rafael Guerreiro levou do tanque Amrabat. E Ronaldo, olha, voltou a apresentar o comportamento irritante de querer resolver sozinho quando viu que a vaca bigoduda poderia deitar.

Diferentemente do que houve em Alcáver Qbir (e em 1986), Marrocos foi superado. Passa pelo Irã? Acredito que sim, mas não aposto dois pastéis de Belém que seja um jogo tranquilo.

VAR à parte, Brasil decepciona no arranque da Copa


O Brasil fez uma estreia abaixo da crítica contra a Suíça. O time do Tite deu a impressão de que nunca jogou junto na vida. Dois dos protagonistas, senão os principais, fizeram um jogo para esquecer. Ou melhor, para lembrar de que, desde 2014, Neymar e Paulinho não fizeram uma só partida que prestasse com a camisa do Brasil em mundiais. É cedo? Talvez, mas já entra para a conta. O volante, inclusive, perdeu a posição para Fernandinho durante a Copa do Mundo de 2014.

Neymar, novamente, não jogou absolutamente nada. É verdade que falta ainda ritmo de jogo ao atacante, que fez apenas uma partida inteira desde que foi submetido a uma cirurgia no dedinho, mas não foi por causa de alguma precaução inconsciente que o camisa 10 jogou mal. Ele prendeu a bola, se jogou, cavou faltas, encenou dores improváveis e foi mais um peso a ser carregado do que o condutor da equipe. De fato, apenas Phellipe Coutinho, que fez um golaço, teve atuação digna de nota.
É certo que nenhum favorito jogou bem na primeira rodada, mas a impressão que ficou é que o Brasil regrediu dois anos, mesmo não tendo o VAR usado para apontar a clara irregularidade no gol suíço, além de um pênalti discutível a ser marcado no nulo Gabriel Jesus. No entanto, não dá para notar que o desempenho foi muito abaixo do esperado. O hexa, amigos, pode acontecer, mas a Seleção precisa progredir demais, demais. E Neymar precisa estrear em Copas.

Sobrou emoção e Ronaldo. E só.

TRÊS VEZES CRISTIANO Melhor do mundo evitou desaire
 pesado na estreia (Getty Images/FIFA)

Esperava mais do clássico ibérico. No que diz respeito à emoção, o jogo no estádio Olímpico de Sochi já pode ser considerado um dos maiores da história das Copas, mas as duas seleções pecaram quando não podiam. Portugal abriu o placar em um pênalti muito, mas muito duvidoso (para não dizer inexistente) e poderia ter ampliado não fosse a falta de tamanho de Gonçalo Guedes, que desperdiçou dois contragolpes muito promissores, para um jogo desses. Era praticamente um jogador a menos em campo (dois, se formos considerar o péssimo B
runo Fernandes também).

Tendo em Guedes praticamente um adversário em campo e Bruno Fernandes sendo um grande nulo no meio, Portugal jogava praticamente com 9 contra uma Espanha com um meio de campo absolutamente fantástico e com Diego Costa, braços e faltas no primeiro gol à parte, letal, e Iniesta em sua melhor versão.
A virada espanhola deveria ter acontecido já no primeiro tempo, mas um desafortunado De Gea devolveu a vantagem aos lusos, mostrando que a estrela de Ronaldo estava acesa.

Era a oportunidade de Fernando Santos arrumar a casa, sacando as nulidades da primeira etapa e mandando a campo já Quaresma, para desafogar Ronaldo, e até um balde d'água no lugar de Bruno Fernandes, sem função em campo.

Quando a representação lusa acordou, a Fúria já tinha virado o jogo e encaminhava uma vitória até tranquila, mas resolveu sentar no placar ao tirar o gigantesco Iniesta, condutor de tudo de bom que a Espanha tinha em campo. De perdido em campo, Portugal se salvou tal e qual o peregrino que garantiu que o Galo de Barcelos cantaria já morto, à mesa do juiz, no golaço de falta de Cristiano, como há muito tempo não se via. Com curva, colocado, inapelável.

Mesmo assim, a falta que originou o gol aconteceu mais em virtude da injustificável afoiteza de Piqué do que por mérito dos de vermelho, embora a experiência de Ronaldo tenha contado muito para reter a bola e praticamente implorar pela falta. Depois, Quaresma, que entrou bem no jogo, quase deu aos lusos uma vitória em um jogo no qual poderia ter sido goleado, não fosse seu espetacular camisa 7, que, enfim, mostrou seu tamanho em um jogo de Copa do Mundo.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Um sopro de dignidade

Duas décadas depois, Zé Roberto volta a vestir-se de
rubro-verde (Fernando Dantas/Gazeta Press)
E Zé Roberto cumpriu sua promessa de dar seus últimos chutes com a camisa que usou nos primeiros. Uma volta tardia? Talvez. Uma esperança efêmera para uma torcida que virou alvo de chacota, piedade. Uma torcida que escolheu a difícil missão de apoiar um clube que por quase um século lutou para ser reconhecido como grande. Um clube que sucumbiu ante os próprios erros e a crueldade de um futebol que não dá espaço para quem não oferece grandes cifras, audiência ou nada além que a própria história ou o próprio orgulho por nunca desistir e que, nos dias que correm, trocou a luta por teimosia, agonia.

Particularmente, sempre esperei que o Zé voltasse ainda capaz de que seu canto do cisne durasse uma competição, pelo menos. Cheguei a praguejar, duvidar que sua gratidão não passasse de discurso vazio, mas como voltar tendo tanto a dar a quem não estava preparado para receber?

A cada descenso anterior à hecatombe de 2013, um lamento. "Ele poderia vir." Mas não viria assim. Decepção. Raiva. Como a vida muda, não sou capaz de julgar. Não mais.

Sua volta, enfim, aconteceu. Aos 43 anos, 20 após ter decolado para voos mais altos. Por dois jogos, num torneio amistoso de pré-temporada, mas por mais paliativo que possa ser, seu retorno faz a malta rubro-verde reviver, mesmo que por um momento, a sensação de grandeza que se perdeu quando a nau Portuguesa ficou à deriva, sem rumo, sem norte.

Como um Dom Sebastião que volta de Alcácer Quibir, Zé Roberto veste, talvez pela última vez neste domingo, a camisa que permitiu que sonhasse alto, grande. Grande como o sonho de uma torcida machucada, magoada, mas que voltou, na lágrima do velho Zé, a se sentir querida por um instante.

Talvez amanhã a realidade seja dura como a Quarta-Feira é de cinzas após a passageira alegria do Carnaval, como é triste o estádio, aos olhos de Eduardo Galeano, agora vazio quando o torcedor deixa de ser nós é passa a ser eu na volta para casa. 

Talvez o futuro seja negro como o xaile que descansa sobre os ombros da fadista que, com olhos fechados, enxerga com o coração e canta com a alma, a mesma alma que se sentiu grande e que por ela tudo vale a pena.


Mesmo que somente por dois jogos.

(Foto: Rafael Ribeiro)