Foto: Dorival Rosa/Portuguesa |
"Contra tudo e contra todos". Este tipo de frase, que coloca quem a diz como alguém antissistema, o forasteiro a ser evitado, o corpo estranho indesejado. Quem repete isso, geralmente, vê todos os méritos na sua vitória, mas é incapaz de reconhecer a capacidade do adversário, que o terá vencido só porque alguém de fora decidiu que assim seria.
Enfim, um saco.
No entanto, a torcida da Portuguesa poderá, após a vitória contra a Inter de Limeira, lançar mão do chavão: estreia fora de casa contra um adversário direto, uma arbitragem terrível e os erros técnicos e táticos comuns do início da temporada. E ainda assim a Lusa somou três pontos preciosíssimos para suas modestas pretensões no Paulistão, que são evitar a queda e garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem.
Não há limites para o sonho, mas mais que isso é lucro e exigir algo além será um delírio.
Diferentemente do que aconteceu na temporada passada, quando um time que sequer pode ser chamado disso foi "montado" e só não caiu porque os anjos e os santos estavam de plantão - não há outra explicação - naquela memorável tarde de Mirassol, e que podemos chamar de milagre, houve critério nas contratações e o nível do elenco, somado aos garotos que subiram graças ao estupendo trabalho de dupla Alan Dotti e César, respectivamente treinador e auxiliar-técnico do Sub-20, é melhor que aquilo que nos representou no certame estadual, o primeiro depois de sete anos no purgatório da Série A2.
Vimos, trajando rubro-verde, um time que quer sair para o jogo, construindo desde os centrais e apostando na velocidade no campo de ataque, também em função das características de quem estava em campo. Com o volante Zé Ricardo voltando para uma saída a três, com o apoio também dos laterais, pôde ser natada uma versatilidade inesperada pelo pouco tempo de trabalho.
Claro que a aposta da Inter, parecida na velocidade com a qual atacava, transformou o jogo em um autêntico lá-e-cá, mas os da casa eram mais felizes ao fechar espaços e apostar em um jogo menos sofisticado e mais direto. A proposta lusitana requer um time mais compacto, coeso, com jogadores próximos e isso exige que a linha defensiva atue mais longe da própria área para negar um eventual espaço entre os setores, o que faz com que erros na intermediária adversária possam proporcionar contra-ataques.
Os dois gols sofridos foram assim, com a defesa desarrumada após perdas de bola que resultaram em finalizações depois de poucos passes trocados. É bom ligar o sinal de alerta, mas é natural que isso aconteça no início da temporada, quando todos os times que disputam a competição ainda buscam padrão e têm muito o que arrumar.
No entanto, há muitos aspectos positivos. Mesmo em desvantagem e com poucos minutos a serem jogados, os de Dado Cavalvanti não cederam à sensação do velho expediente do chuveirinho em busca do centroavante. Em vez disso, buscaram trocar passes, encontrar espaços. Nem sempre dá certo, mas é um sinal de que há crença no que se faz, como quando renovou o fôlego tendo a vitória como necessidade, em vez de segurar um empate que, dadas as circunstâncias, não seria visto como um mau resultado. Nem mesmo a desastrosa prestação da equipe de arbitragem, que deixou de assinalar um pênalti (VAR para quê?) minutos antes de a Lusa empatar o jogo pela primeira vez, ou que não exibiu o cartão vermelho quando Victor Andrade foi atingido por trás em um lance no qual a bola não estava em disputa e o uso de força foi exagerado, foi capaz de mudar o rumo do jogo e o estado de ânimo lusitano.
Obviamente, há muito o que melhorar. Nem sempre teremos um adversário tão mansinho e que ataque pouco, mesmo jogando em casa. Nos 11 próximos jogos, nove adversários são das Séries A e B do Brasileirão, mas os indícios dados na estreia são animadores e permitem, ao menos, uma estreia que nos permite esperar por uma campanha além de esperar por um milagre. E milagres, sabemos, não acontecem todos os dias.