* por Vinicius Carrilho
A antepenúltima rodada da J-League foi disputada e a briga
pelo título ficou ainda mais acirrada. Fora de casa, o Sanfrecce Hiroshima
visitou o Urawa Reds e não viu a cor da bola, perdendo por 2 a 0. A equipe só manteve a
liderança graças ao Vegalta Sendai, que visitou o Kashima Antlers, chegou a
abrir 3 a
1 no placar e nos minutos finais acabou levando o empate.
Mais emocionante do que nunca, a J-League parte para as suas
duas rodadas finais com o Sanfrecce Hiroshima na liderança, com 58 pontos,
seguido do Vegalta Sendai , com 57. Na parte baixa da tabela, o Albirex Niigata
está praticamente rebaixado, com 34 pontos. Já o Gamba Osaka, primeiro dentro
da degola, soma 37, podendo chegar aos 43 pontos, mesmo número do Júbilo Iwata,
11º colocado.
Como o campeão japonês tem vaga garantida no Mundial de
Clubes da FIFA, em dezembro, e pode cruzar o caminho do Corinthians, uma breve
análise do líder do campeonato, que teve sua partida televisionada ao vivo para
o Brasil, foi feita.
O Sanfrecce Hiroshima é uma equipe difícil de descrever. Ela
tem uma desorganização que provavelmente apenas seu treinador é capaz de
entender. Quando defende, duas linhas de quatro, que facilmente viram uma de
oito, são formadas. Para atacar, os laterais se tornam alas e um volante fica
guardando o sistema defensivo, transformando o time em um estranho 3-2-2-2-1.
Com a bola nos pés, os dois zagueiros ficam postados na área
e o volante recua, se transformando em mais um defensor. Dois jogadores ficam
responsáveis pelo setor de meio-campo, alimentando os dois alas, antes
laterais, que avançam até a posição dos pontas, sempre preparados para alçar
uma bola na área.
Ofensivamente, a jogada do Hiroshima é apenas uma: bola em Hisato Sato,
artilheiro do campeonato e estrela da equipe. Seja via ligação direta da zaga;
pelo meio-campo, principalmente com o camisa 7, Koji Morisaki; ou pelos pontas,
o camisa 11 é sempre procurado. Os pontas, aliás, parecem ser o melhor setor da
equipe. Pela esquerda atua Shimizu, que mesmo pouco acionado consegue levar perigo
com seus dribles curtos e bolas levantadas na área. Já pela direita, a criação
fica por conta do croata Mikic. Grandalhão, não é detentor de grande
habilidade, porém sabe usar sua velocidade e porte físico.
Defensivamente, o Sanfrecce Hiroshima é uma verdadeira
tragédia. O xerife da zaga é o camisa 5, Chiba. Com pouco mais de 1,80m, alterna
momentos de grandes jogadas e lances bizarros, como o carrinho que permitiu o
segundo gol do Urawa. Porém, claramente o jogador mais fraco do setor é o
camisa 4, Mizumoto. Em meio ao esquema estranho que adota seu time, ora o
jogador é lateral-esquerdo, ora é zagueiro central. O concreto é que o atleta não
é daqueles que chamam a bola de “meu bem”, como diziam os mais antigos. Por
isso, a jogada de desafogo de seus companheiros sempre acontece pelo lado
direito.
Na bola parada, o time também parece não causar muito temor
aos seus adversários. Chiba e Mizumoto sempre sobem ao ataque e esperam uma boa
cobrança de Koji Morisaki, que mostra ser bom neste fundamento. Em faltas na
lateral do campo, a equipe apresentou uma jogada combinada, já que “ensaiada”
seria um termo muito forte. A bola é erguida na ponta da área e encontra Chiba,
que cabeceia para o meio. Nada demais para os padrões normais, mas um grande
avanço para este time.
Infrações, aliás, é algo que o líder do campeonato parece
entender. O time claramente busca pressionar seu adversário no meio-campo,
porém não parece ter vergonha de utilizar faltas duras como forma de parar
jogadas, algo incomum no disciplinado modo japonês de jogar futebol. Não por
acaso, o jogo contra o Urawa foi marcado por alguns empurrões e até um
bate-boca envolvendo o camisa 10 do Red Diamonds, o brasileiro Márcio Richardes.
Em linhas gerais, o Sanfrecce Hiroshima, bem como o Vegalta
Sendai, não deve causar problemas no campeonato mundial. Chega a surpreender
ver a equipe na liderança da competição, mesmo com um sistema defensivo
assustador e uma desorganização tática imensa. No futebol, um adversário nunca
deve ser desprezado, mas o Sanfrecce não parece passar de uma singela biribinha
de Hiroshima.
* Vinicius Carrilho tem 21 anos, é estudante (quase formado)
de Jornalismo, morador de Osasco e gostaria de ganhar a vida
fazendo humor, mas escreve melhor do que conta piadas.