PELE CLARA O perfil do torcedor presente nos jogos do Brasil (Marcello Casal Jr./Agência Brasil) |
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
SELEÇÃO BRASILEIRA - Exclusão e desconexão: o aumento da desigualdade no acesso ao futebol brasileiro e o enfraquecimento do vínculo seleção/torcedor
terça-feira, 10 de setembro de 2024
PORTUGAL - Renovar ou garantir, mas e o futuro?
DUPLA INFERNAL Félix e Cristiano estiveram em grande (Profimedia) |
A versão portuguesa pré-competições voltou a dar as caras em Lisboa, para os dois primeiros jogos da Liga da Nações. E nem parecia aquele time sonolento e previsível que conseguiu ficar três jogos sem ir às redes, com as poderosas Geórgia e Eslovênia a anteceder a França, quando finalmente os de Martinez deram luta e justificaram a fama.
segunda-feira, 9 de setembro de 2024
Pílulas amadoras - 21
* Por Humberto Pereira da Silva
Cr7 e a inalcançável régua real (Fabrice Coffrini/Getty) |
Cristiano Ronaldo chegou, contra a Croácia, aos 900 goles. É o primeiro jogador de futebol a alcançar, oficialmente, essa marca. Claro, "todos" sabem que Pelé fez mais de 1200 goles. E não muitos, que o austríaco Josef Bican teria feito em torno de 1800 goles entre os anos 20 e 50 do século passado.
Números são números, pois não. Mas neles, além da frieza, não se deve ignorar o simbolismo. O mito do milésimo gole de Pelé simboliza um dos feitos do Rei. O que, justamente, oferece ponto de partida para qualquer feito posterior.
Ao milésimo gole agregam-se três Copas do mundo, 58 goles numa edição do Campeonato Paulista (aos 17 anos), parar uma guerra..., que fazem de Pelé o maior mito da história do futebol.
O feito de Cristiano Ronaldo, assim, ganha enorme poder simbólico porque tem como ponto de partida para que se ponha a régua à marca Pelé. Agora, entre a frieza dos números e o simbolismo, o futebol também é feito de circunstâncias e circunstâncias de momento.
Na conta dos quase 1300 goles do Rei, mais de 500 ajustados em jogos que causam constrangimento saber precisariam ser contados. Na frieza dos números, o mito Pelé, para ser Pelé, não precisa do registro de goles na Seleção do Exército (10 em 14 jogos), tampouco de goles contra equipas "amadoras" nas inúmeras excursões do Santos nos anos 60 para exibir a Majestade.
Certo. Nas circunstâncias e circunstâncias do futebol, o feito dos 900 goles de Cristiano Ronaldo se deve a um oportuno final de carreira no futebol árabe. Sua última passagem pelo Manchester United mostra que ele não atingiria essa marca no futebol europeu. Igualmente, Pelé não teria chegado a essa marca sem as convenientes contas para se ensaiar contra o Vasco da Gama o dia do mítico milésimo gole.
Aí, me faz questão de lembrar o editor deste blog, há o "problema" de ignorar goles marcados em partidas amistosas, mas contra grandes equipas do futebol mundial: nestas excursões para fazer um pé de meia que pudesse, além de preencher o calendário, pagar as contas - e manter o próprio Rei -, perdem-se tentos marcados contra Internazionale (8), Barcelona (4), Benfica (4), Juventus (2) e Real Madrid (1), esquadrões repletos de craques e donos de troféus internacionais. Pela América do Sul, 22 goles divididos entre River Plate (7), Boca Juniors (5), Racing (4), Independiente (2), Millonarios-COL (2) e Nacional-URU (2) viram fumaça.
Isso se não contarmos os grandes brasileiros: Atlético Mineiro (5), Cruzeiro (4), Bahia (2), Botafogo (2), Palmeiras (2), Corinthians (1), Flamengo (1), Grêmio (1) e Portuguesa (1). Eibares, Numancias, Al Qualquer Coisa e quetais, para ficar em termos do editor, não oferecem um átimo das dificuldades impostas pelos times citados neste parágrafo.
Ontem, Cristiano saiu do banco para desenroscar um jogo que exigiu a persistência lusitana até praticamente o último minuto para superar o ferrolho escocês. O gole da vitória do Tugas foi marcado aos 43 minutos do segundo tempo por ele, que já havia atirado duas vezes ao ferro, iniciando a contagem regressiva para o tal milésimo, que deve, se acontecer, sair quando a Terra de Cristiano estiver na 43ª volta em torno do Sol, justamente a idade em que Josef Bican deu seus últimos pontapés.
A título de comparação, o milésimo do Rei foi marcado aos 29 anos. Dito isso, o que resta? Números são... não mais que... números. Por isso, fico com Fernando Pessoa, para ter a dimensão do feito de CR7: "O mito é o nada que é tudo", primeiro verso do poema "Ulisses".
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
BENFICA - Procura-se um líder. Tratar no Estádio da Luz
Um ídolo indiscutível, pois.
Rui Manuel César Costa tem sido, inegavelmente, um dos dirigente de pulso mais molenga da história do futebol português. Tendo se tornado presidente "sem querer" em julho de 2021, quando foi alçado ao cargo após a renúncia ao cargo de um Luiz Filipe Vieira afundado em denúncias de corrupção numa altura em que era presidente da SAD e vice do Sport Lisboa e Benfica, Rui Manuel César Costa foi eleito três meses depois, e com 80% dos cerca de 40 mil votos. Era o casamento perfeito: o líder de dentro do relvado levando para o gabinete uma lufada de ar fresco em lugar das práticas que cheiravam a mofo - e a coisa pior.
"Mar calmo não faz bom marinheiro", diz o adágio. Tampouco faz bom presidente. O ídolo de dentro do relvado tem colecionado decisões ruins, como o prolongamento de contrato do técnico Roger Schmidt sem estar nas melhores condições para tomar uma decisão desta importância. Afinal, fazê-lo quando estava deslumbrado pelo futebol apresentado nos primeiros nove meses da primeira época, como o próprio assumiu quando anunciou o desligamento tardio do treinador, não é algo que se espere de um presidente de uma instituição como o Benfica.
Demitir o treinador, a quem confiou a montagem do elenco e a preparação que antecedeu uma das épocas mais importantes da história do clube, com a nova Champions e o Mundial de Clubes no horizonte, pode até indicar que tentou-se corrigir a tempo estes erros - ou tem outro nome manter um profissional que se mostrou incapaz de alterar a forma de jogar, ou mesmo perceber quando as coisas iam mal, preferindo duvidar da percepção da bancada a assumir que era preciso mais? -, mas tomar a atitude a dois dias do fechamento do mercado não é o que se espera de quem já anda nisso há tanto tempo.
Isso sem contar a incrível insatisfação de jogadores que preferem deixar o clube a lutar por um lugar. Manter Di María, tapando David Neres; deixar sair João Mário, mesmo este não fazendo lá muito esforço para contrariar as vaias de quem, justa ou injustamente, tem direito ao recurso do apupo, são outros sinais de que falta quem tenha força e moral para impedir episódios assim. A propósito, não fazia sentido algum esticar a segunda passagem do craque argentino, por mais identificado que ele seja com o clube e com os adeptos. Esta é uma das decisões que foram tomadas com o coração.
Foi difícil para mim escrever este texto, com críticas contundentes ao meu maior ídolo no futebol. Mas é preciso separar Rui Costa, o Maestro, do Rui Manuel César Costa, o dirigente. Espero que ele possa fazer o mesmo da agora em diante.