* Por Humberto Pereira da Silva
Cr7 e a inalcançável régua real (Fabrice Coffrini/Getty) |
Cristiano Ronaldo chegou, contra a Croácia, aos 900 goles. É o primeiro jogador de futebol a alcançar, oficialmente, essa marca. Claro, "todos" sabem que Pelé fez mais de 1200 goles. E não muitos, que o austríaco Josef Bican teria feito em torno de 1800 goles entre os anos 20 e 50 do século passado.
Números são números, pois não. Mas neles, além da frieza, não se deve ignorar o simbolismo. O mito do milésimo gole de Pelé simboliza um dos feitos do Rei. O que, justamente, oferece ponto de partida para qualquer feito posterior.
Ao milésimo gole agregam-se três Copas do mundo, 58 goles numa edição do Campeonato Paulista (aos 17 anos), parar uma guerra..., que fazem de Pelé o maior mito da história do futebol.
O feito de Cristiano Ronaldo, assim, ganha enorme poder simbólico porque tem como ponto de partida para que se ponha a régua à marca Pelé. Agora, entre a frieza dos números e o simbolismo, o futebol também é feito de circunstâncias e circunstâncias de momento.
Na conta dos quase 1300 goles do Rei, mais de 500 ajustados em jogos que causam constrangimento saber precisariam ser contados. Na frieza dos números, o mito Pelé, para ser Pelé, não precisa do registro de goles na Seleção do Exército (10 em 14 jogos), tampouco de goles contra equipas "amadoras" nas inúmeras excursões do Santos nos anos 60 para exibir a Majestade.
Certo. Nas circunstâncias e circunstâncias do futebol, o feito dos 900 goles de Cristiano Ronaldo se deve a um oportuno final de carreira no futebol árabe. Sua última passagem pelo Manchester United mostra que ele não atingiria essa marca no futebol europeu. Igualmente, Pelé não teria chegado a essa marca sem as convenientes contas para se ensaiar contra o Vasco da Gama o dia do mítico milésimo gole.
Aí, me faz questão de lembrar o editor deste blog, há o "problema" de ignorar goles marcados em partidas amistosas, mas contra grandes equipas do futebol mundial: nestas excursões para fazer um pé de meia que pudesse, além de preencher o calendário, pagar as contas - e manter o próprio Rei -, perdem-se tentos marcados contra Internazionale (8), Barcelona (4), Benfica (4), Juventus (2) e Real Madrid (1), esquadrões repletos de craques e donos de troféus internacionais. Pela América do Sul, 22 goles divididos entre River Plate (7), Boca Juniors (5), Racing (4), Independiente (2), Millonarios-COL (2) e Nacional-URU (2) viram fumaça.
Isso se não contarmos os grandes brasileiros: Atlético Mineiro (5), Cruzeiro (4), Bahia (2), Botafogo (2), Palmeiras (2), Corinthians (1), Flamengo (1), Grêmio (1) e Portuguesa (1). Eibares, Numancias, Al Qualquer Coisa e quetais, para ficar em termos do editor, não oferecem um átimo das dificuldades impostas pelos times citados neste parágrafo.
Ontem, Cristiano saiu do banco para desenroscar um jogo que exigiu a persistência lusitana até praticamente o último minuto para superar o ferrolho escocês. O gole da vitória do Tugas foi marcado aos 43 minutos do segundo tempo por ele, que já havia atirado duas vezes ao ferro, iniciando a contagem regressiva para o tal milésimo, que deve, se acontecer, sair quando a Terra de Cristiano estiver na 43ª volta em torno do Sol, justamente a idade em que Josef Bican deu seus últimos pontapés.
A título de comparação, o milésimo do Rei foi marcado aos 29 anos. Dito isso, o que resta? Números são... não mais que... números. Por isso, fico com Fernando Pessoa, para ter a dimensão do feito de CR7: "O mito é o nada que é tudo", primeiro verso do poema "Ulisses".
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