terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - O inimigo íntimo

Foto: Divulgação/Portuguesa

O adversário era tão ruim quanto nós e vinha para buscar um ponto e rifar a sorte na última rodada, conforto que nós não tínhamos. Em situações assim, é necessário criar um ambiente hostil e isto se faz enchendo o estádio.

Existem outras formas, digamos, menos republicanas, que remeteriam aos anos 1980 e 1990, que não direi aqui porque não devem ser feitas e, honestamente, não servem para nada que não seja deixar o adversário com sangue nos olhos. E sangue, já bastava o nosso.

Promoção no preço do ingresso. Brigar para que o jogo seja disputado em um horário decente. Fazer o torcedor se sentir importante e peça fundamental na luta pela vitória, que poderia significar a sobrevivência.

Nada disso foi feito.

Nada disso foi tentado.

Nada disso foi passado ao torcedor.

Em vez disso, o ingresso continuou custando 60 mirréis e o recado foi dado: mais ajuda quem não atrapalha. Mas isso serviu ao São Bento, que, sem a pressão vinda das arquibancadas, que poderiam sim empurrar um time ruim, mas animicamente aditivado, não foi forçado ao erro.

Conforto. O São Bento mais parecia um cliente em uma loja de colchões, que chegou, foi atendido da maneira mais cordial, deitou-se, descansou e foi embora sem levar nada, além do ponto que lhe servia. Só faltou o cafezinho. 

E nós ficamos como o vendedor que despendeu tempo e atenção, mas não fez a venda que era necessária para bater a meta daquele dia. Como tem sido em quase todos os jogos, é bom que se diga.

Analogias e colchões à parte, a Portuguesa chega à última rodada dependendo de outros resultados para não voltar ao limbo da Série A2. Neste final de semana, quase todos os resultados que eram precisos aconteceram: a Inter de Limeira perdeu, o Ituano entrou pelo cano, a Ferroviária dançou.

Só faltou um, o nosso. 

No próximo domingo, torceremos por novos tropeços dos mesmos adversários, mas será preciso fazer a nossa parte, coisa que não fizemos até agora. Se cair, e tudo indica que sim, tudo o que restará será aquela mesma turma que é vista como entrave, empecilho, inimiga íntima. Que com ou sem colchão, confortável ou não, está lá.

Só não sabemos até quando, pois colchão ruim cansa.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

sábado, 25 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - O mito da semana cheia, o impossível e o incompreensível

Foto: Fernanda Luz/Ag Paulistão

Depois da humilhante, acachapante, depreciativa, pavorosa, medonha, horrorosa, e outros tantos sinônimos pouco abonadores que tentem explicar a goleada por 4 a 0 sofrida contra um dos piores times da história do Santos, o técnico Gilson Kleina está tendo a semana inteira para tentar tirar algum bicho improvável da cartola para fazer com que a Lusa some, em duas rodadas, o mesmo número de pontos que conseguiu em dez. Ainda assim, dependendo do que os outros concorrentes fizerem, talvez não seja o suficiente, embora isso seja mais improvável que quem ganhou um jogo em dez vença os dois que faltam.

Tendo à disposição um time formado de forma improvisada, com jogadores que passam a impressão de terem se conhecido cinco minutos antes de cada jogo, o treineiro luso se agarra à ideia de que em cinco dias terá a possibilidade de levantar a moral do elenco, que sabe-se lá como irá absorver as ideias que fazem onze gajos se movimentarem em campo de modo que formem algo próximo da ideia de equipe.

A verdade é uma só, e só não dói ainda mais porque todos já sabemos: só tem time ruim nessa briga para fugir da degola, que seria das mais divertidas caso não estivéssemos nela. Além de Portuguesa (6 pontos), Ferroviária (8), São Bento (9), Ituano (9), Internacional de Limeira (10) e Guarani (10) parecem fazer um esforço enorme para caírem e só não terão sucesso porque só caem dois.

Todos têm confrontos diretos. A Inter, por exemplo, pega Guarani e Ferroviária. A Lusa tem o São Bento em casa já no próximo domingo e uma vitória por dois gols de diferença basta para que passe a turma de Sorocaba. Pelo que jogou – ou não – até aqui, nada além da fé sustenta essa possibilidade. Como desgraça pouca é bobagem, a diretoria teima em manter o preço do ingresso a 60 mirréis no momento em que mais é preciso haver gente que vista verde-e-vermelho ao pé do alambrado para ajudar os tais 11 gajos com a Cruz de Avis no peito a puxarem dos galões e se imporem contra outros 11 tão apavorados quanto com a possibilidade de cair.

E é aqui que ninguém entende. Ou melhor, aqui também. A disputa da Série A1, que deveria ser o clímax a partir da comunhão time/torcida que marcou a conquista da Série A2 do ano passado, tem sido um tormento, um casamento à beira do divórcio. Uma troca de acusações sobre a responsabilidade por vender o mando de campo no clássico com o Corinthians, aquele que foi disputado em Brasília. A justificativa era fazer caixa para pagar as contas, além de reforçar o time.

Pois bem! Trouxeram um lateral-esquerdo, mas como o Fabiano se recuperou da contusão da estreia, agora temos três, mas não há outro centroavante além do Paraízo, que já estava no plantel, e uma das vagas ficou aberta.

Ninguém entende. Ninguém se entende.

E ninguém cuja fé não seja inabalável vê a mais remota possibilidade de repetir aquele jogo com o Sport na Ilha do Retiro ou a última rodada da primeira fase do Brasileirão de 1996, que são as duas jornadas que vêm à mente, em que estávamos desenganados, como agora, mas momentos dignos de canonização aconteceram.

Milagres acontecem, mas não há milagre sem santo.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Trabalhem!

Foto: Fernanda Luz/Ag Paulistão

A Portuguesa nasceu da união de cinco clubes ligados à colônia portuguesa no último ano da década de 1910: Lusíadas FC, Sport Club Luzitano, Associação Atlética Marquês de Pombal, Portugal Marinhense e Associação 5 de Outubro. Era a Associação Portuguesa de Esportes.

De início, jogou como Mack-Port (parceria com o time do colégio Mackenzie College) porque não havia vaga para jogar o Estadual e o colégio já estava para ser retirar. O Mackenzie entrou com o nome e a Lusa, com uniforme e jogadores e foi assim até 1923.

Em 1940, a Lusa mudou seu nome para Associação Portuguesa de Desportos. A essa altura, já era bicampeã paulista (1935 e 1936). Na década de 1950, conquistou o Rio-S.Paulo duas vezes e tinha, em seu elenco, alguns dos melhores jogadores do mundo, como Julinho, Brandãozinho, Djalma Santos e Pinga.

Bom, o resto da história, os maiores craques, os campeões do mundo com a Seleção Brasileira, as goleadas nos clássicos, as grandes campanhas, tudo isso é conhecido e estou aqui falando de passado porque não quero falar de futuro. Não hoje. Não agora.

Faltam dois jogos para o fim dessa missa de corpo presente de 12 rodadas, que é o Campeonato Paulista de retorno da Lusa após sete anos. A ameaça de rebaixamento é palpável, é concreta, e somente um milagre nos manterá.

No entanto, não há terra arrasada. O clube, hoje, está em condições bem melhores, se comparadas à desgraça que a administração Castanheira encontrou e isso todos reconhecem. Só que há um problema, um detalhezinho: sem resultado em campo, o projeto vira água e, como desgraça pouca é bobagem, corre-se o risco de os mesmos parasitas que quase mataram o clube voltarem como salvadores de uma lavoura que eles mesmos envenenaram.

Que os responsáveis pelo patético time – se é que dá para chamar assim esse amontoado de pernas de pau – formado para a disputa da Série A1 entendam a merda que fizeram e trabalhem. Mas trabalhem direito. Trabalhem com profissionalismo.

Trabalhem deixando manias pessoais e superstições à margem. Trabalhem dando o seu melhor, com pessoas capacitadas e atualizadas trabalhando no futebol, que é o que puxa o resto.

Ou então nem o resto sobrará.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Lemniscata

Foto: Ronaldo Barreto/NETLUSA

Comentei aqui mesmo há algum tempo que o 8 deitado, que representa “infinito”, tem o nome de Lemniscata, mas não expliquei a origem. Bom, tem uma cacetada de definições e é usado em diversas áreas de conhecimento, como Álgebra, Geometria e também em algumas religiões. O que se sabe é que um matemático suíço chamado Jakob Bernoulli usou o Lemniscata para representar grupos numéricos infinitos no final do século XXVII.

E o que isso tem a ver com a Portuguesa, afinal? 

Bom, vamos a isto! Ao fim do tempo regulamentar do terrível jogo de ontem, entre Lusa e Ferroviária, o quarto árbitro subiu a placa com os acréscimos. Estava lá o número 8, como que representasse a infinitude de um jogo que, para ser merecedor da alcunha medonho, precisaria melhorar muito. 

Sofrimento infinito.

Em campo, os infelizes e nada orgulhosos proprietários das duas piores campanhas do Campeonato Paulista, coroando uma sequência de acontecimentos que só explicam a situação em que se encontram. A Lusa divulgou em suas redes sociais uma promoção no valor dos ingressos para esta partida, a seguinte ao clássico que levou para Brasília, como se estivesse buscando uma reaproximação com o torcedor. Logo depois, voltou atrás.

Suspeito que a arte estava pronta, mas não havia a aprovação, e quando foi divulgada soltaram a imagem errada. Acontece. Eu mesmo já fiz bobagem parecida quando estava lá. 

O problema é que os erros têm acontecido em série, numa sequência sem fim.
Como a de ontem, quando vencia o jogo e isso significaria uma injeção de ânimo para as últimas rodadas, ainda mais sentenciando praticamente o adversário ao descenso. Recuamos demais e, mesmo tendo um adversário incapaz de trocar três passes certos, permitiu o empate em mais um erro infantil. Uma interceptação de passe, na entrada frontal da área, jamais pode ser feita sem força para a frente, ou então vira assistência. E foi o que aconteceu. 

Antes, um incontável número de oportunidades desperdiçadas para matar o jogo. No segundo tempo, uma incapacidade incrível para contra-atacar um adversário ruim e desesperado. A diferença entre retranca e recuo está no que se faz com os espaços que surgem quando o oponente é atraído. Mas aqui também mora outra questão que vai além da semântica: a Ferroviária foi chamada para o campo de defesa ou ela mesma empurrou uma Lusa incompetente com a bola e infeliz sem ela?

Sofrimento infinito.

Em quase todos os jogos, não nos defendemos bem, mesmo tendo um time montado para isso, e fomos incompetentes para usar o contragolpe. Honestamente, não sei se é possível usar as palavras “time” e “montado”, mas vamos lá. Nosso elenco não dá liga, é como misturar água e óleo. E o resultado é isso aí.

É um sofrimento infinito, simbolizado ainda na bola na trave na última chance da Lusa, e reforçado na posse de bola perdida faltando poucos segundos para o fim do jogo, como se já não tivesse sido o suficiente aquilo que foi mostrado neste jogo e em quase todos os outros.

Faltam três jogos. Na melhor das hipóteses, três confrontos diretos: um clássico com o Santos, na Vila Belmiro; o São Bento, no Canindé; e o Mirassol, fora de casa. Quem somou seis pontos em nove jogos, precisará de pelo menos sete em três e alguma dose de sorte.

Lemniscata.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Sobre a esperança

Foto: Ronaldo Barreto/Ag. Paulistão

Noutro dia, escrevi aqui que a esperança é como água que cai em terra fértil. Basta uma gota e um jardim floresce. Assim, e principalmente, é no futebol. Nos agarramos em dados, coincidências, pontos somados em jogos improváveis.

O empate no clássico com o Corinthians é um desses jogos. Lendo e ouvindo tudo o que foi dito pelos torcedores, havia um mar de desânimo. “Outra vergonha”; “Uma goleada, na certa!” Admito que eu estava entre os pessimistas. E não esperava nada mais que uma derrota honrosa, pois sim, há honra até, e sobretudo, nos revezes.

O empate, ao cabo, pode e deve ser festejado por tudo o que antecedeu a partida: a necessidade de fazer caixa a curto prazo, a montagem desastrada e desastrosa do elenco, as quatro derrotas seguidas, três das quais em confrontos diretos com quem tem pouco ou nada mais que a luta pela permanência.

É a tal esperança que gotejou com a entrega em campo, não só pelo ponto, como pela disposição apresentada.

O próximo jogo é daqueles em que a derrota é proibida para os dois lados. Até um empate pode significar o abraço da morte. Só que será um jogo com características diferentes das apresentadas pelo duelo no Mané Garrincha. Não dá para ficar esperando.

A evolução da equipe depois da substituição do treinador é nítida, mas as condições atuais não permitem que haja uma melhora gradativa. Precisamos vencer, seja como for. E para quem venceu somente uma partida em oito, ganhar duas em quatro não é tão simples, e talvez nem dê, mas é o que temos e é o que tentaremos fazer.

Só assim ainda haverá com o que esperançar daqui até o fim do certame, quando será preciso identificar os erros, entender o que foi feito e corrigir a rota para não termos que ficar outras e outras e outras vezes repetindo discurso do amor incondicional.

Todos sabemos disso. O que não sabemos é o que restará do clube se vier mais um rebaixamento.  

Aí, malta, não haverá SAF que dará jeito. Não em curto prazo.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Por morrer uma andorinha



Peço permissão ao grande Carlos do Carmo para atrelar seu mais belo fado ao fado que a Portuguesa insiste em cantar. Vamos logo a isto!

Se deixaste de ser a minha, Portuguesa - aquela Lusa que impunha respeito a quem quer que fosse -, agora mal reconheço-te em ti mesma,
Não deixei de ser quem era. Sigo aqui, torcendo, pois é disso que se trata. Seja como for, são suas cores as que eu visto, é o seu nome o que eu grito.
Por morrer uma andorinha, ou cair em mais um campeonato,
Não acaba a primavera. Outras flores virão, afinal. Elas sempre vêm.
Por morrer uma andorinha, 
Não acaba a primavera.

Como vês não estou mudado, sigo aqui a alentar, como sempre fiz.
E nem sequer descontente. Na verdade, me aborrece um bocado passar por isso outra vez, mas vamos lá.
Conservo o mesmo presente, que mais se parece com o passado recente,
E guardo o mesmo passado, pois é nele que eu fio um futuro que - mas que caraças! – ainda há de vir.
Conservo o mesmo presente,
E guardo o mesmo passado.

Eu já estava habituado
A que não fosses sincera, mas admito que desta vez esperava mais de ti.
Por isso eu não fico à espera
De uma ilusão que eu não tinha,
mas a esperança é um negócio de loucos, não? Basta cair uma gota d’água no campo das ilusões, que elas florescem.
Se deixaste de ser minha
Não deixei de ser quem era.
Se deixaste de ser minha
Não deixei de ser quem era.

Vivo a vida como dantes, esperando por um milagre que não vem.
Não tenho menos nem mais, a não ser mais uma noite mal dormida. Mas é somente isso: é só mais uma noite mal dormida.
E os dias passam iguais
Aos dias que vão distantes, pois os dias de alegria estão mais longe ainda.
E os dias passam iguais
Aos dias que vão distantes

Horas, minutos, instantes
Seguem a ordem austera. Isso não muda, como também é sempre a mesma a sua capacidade de desperdiçar oportunidades de fazer feliz quem te ama.
Ninguém se agarra à quimera
Do que o destino encaminha, mas ainda o dobraremos e iremos nós mesmos fazê-lo. A fé é isso e torcer pela Portuguesa é uma profissão de fé, mais do que torcer por qualquer outro.
Pois por morrer uma andorinha
Não acaba a primavera.
Pois por morrer uma andorinha
Não acaba a primavera.

(Letra de Francisco Viana e Frederico de Brito)

Texto originalmente publicado no NETLUSA

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Não foi o Thomazella

Foto: Jhony Inácio/Ag. Paulistão

“É uma situação complicada e delicada que estamos vivendo, mas só o trabalho vai fazer a gente reverter. A gente pede desculpas para o nosso torcedor, que sempre está nos apoiando.”

declaração é do goleiro Thomazella, dada logo após mais uma derrota da Portuguesa, a terceira seguida e quarta em seis jogos. Pior que isso, a segunda contra adversários diretos na luta pela permanência na elite do futebol paulista.

Não, Thomazella. Você não deve desculpas a ninguém. Nem você, nem os outros jogadores. Quem deveria vir a público e admitir o monte de barbaridades cometidas na montagem do elenco é o ex-técnico, é o executivo de futebol.

Não foi o Thomazella o responsável pela contratação de um dos piores treinadores da centenária história da Portuguesa.

Não foi o Thomazella ou qualquer outro atleta que dispensou jogadores sem ter a certeza de encontrar substitutos à altura, como foi com Carlos Henrique, Gustavo França, Luan e Caio Mancha.

Nenhum dos vinte e poucos jogadores elaborou um elenco que não dá liga, que não consegue defender sem deixar espaços ou atacar nas poucas oportunidades que tem; que comete erros técnicos inimagináveis em uma competição como esta.

Neste jogo contra o limitadíssimo time da Internacional de Limeira, foi inaugurado o moderno sistema de iluminação do Canindé, que mereceu – ou não – até vídeo de divulgação.

E teve apagão. Nada mais apropriado para simbolizar a escuridão na qual o projeto se meteu justamente no ano do retorno à elite.

Mas há diferenças: o apagão de ontem veio de fora e foi resolvido em nove minutos. O outro apagão, o de ideias, vem de longe e, pelo que parece, não haverá luz tão cedo.

Texto originalmente publicado no NETLUSA

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

PORTUGUESA - Ó, tempo, volta pra trás

“Ó, tempo, volta pra trás,
Dá-me tudo o que eu perdi.
Tem pena e dá-me a vida,
A vida qu'eu já vivi.
Ó, tempo, volta pra trás,
Mata as minhas esperanças vãs.
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs.”

A antiga canção de Antonio Mourão (1935-2013) pede para o tempo retroceder e devolver as alegrias de quem as viveu, mas já não as tem. Certamente, quem torce pela Lusa e já teve o prazer de ouvir a marcha que abre este texto, já deve tê-la cantarolado, mesmo subconscientemente.

Este torcedor, entre um fado e outro, adoraria voltar ao tempo em que a Portuguesa disputava títulos, vencia clássicos, cedia jogadores à Seleção Brasileira ou a times de campeonatos mais endinheirados. E este tempo só voltará quando a Lusa fizer o que fazia, por exemplo, nos anos 90. Nem falamos dos anos 1950 ou 1960, quando algumas das grandes estrelas do futebol brasileiro vestiam a camisa da Lusa.

Sim, este colunista sabe que os tempos são outros e que as condições também, mas só se percorre um caminho quando o conhece ou quando há pernas para isso.

Para o tempo voltar para trás, é preciso não tomar um cartão amarelo aos 30 segundos de jogo e outro aos 20 minutos, e em lances nos quais nem era preciso fazer falta. Quem quer o que queremos não pode estar sujeito a ter o apito contra em todos os lances discutíveis e isso é feito com um trabalho nos bastidores. Usando um dos chavões mais surrados da bola, não é ser beneficiado; é não ser prejudicado. Ou anos menos contar com o respeito de quem apita.

Para o sol voltar na manhã seguinte, seria prudente não se desfazer de jogadores importantes antes de ter quem os substitua. Sem atrativos como um bom salário e uma boa vitrine que seja exposta durante toda a temporada, o trabalho de montagem do elenco é essencial e não permite erros.

O autor deste blog pede para o tempo dar-lhe tudo o que eu perdeu, mas ter um time capaz de vencer concorrentes diretos da parte de baixo da tabela não é pedir muito. Da mesma forma, a vida que já viveu era bem mais que perder um clássico sem dar um raio de um chute contra o gol adversário.

Não é muito.

Passar sete anos enfiado no inferno da Série A2 e alguns destes, como agora, sem calendário nacional, faz das horas dias e dos dias anos, como é cantado por Antonio Mourão, Tony de Matos (1924-1989), Roberto Leal (1951-2019) e quem mais tiver gravado. A diferença é que, agora, faltando sete jogos para o término da primeira fase do Paulistão, tempo é o que a Portuguesa menos tem para acertar a rota e impedir mais uma tragédia

E se algo em comum há entre o tempo e a bola, é que eles não têm pena de ninguém.

Texto originalmente publicado no NETLUSA