quarta-feira, 29 de julho de 2020

Flamengo - o bom juízo de Carlos Carvalhal ao permanecer em Portugal

(Imagem: SC Braga/Divulgação)

O Sporting Braga, consolidado como quarta força do futebol português, anunciou a contratação do técnico Carlos Carvalhal, de brilhante trabalho no Rio Ave. Carvalhal, como se sabe, estava na lista de possibilidades para assumir o Flamengo, no lugar aberto com o regresso de Jorge Jesus a Portugal.

É necessário destacar uma situação: não houve proposta oficial do campeão brasileiro e da Libertadores para o treinador, o que faz com que seja injusto e mentiroso afirmar que ele disse não ao convite. Ora, não se nega ou se confirma nada quando a pergunta sequer é feita. Não significa, porém, que não havia interesse da parte do clube, como bem alertou o jornalista Mauro Cezar Pereira.

Isto posto, vamos ao que interessa. Como o Carlos Carvalhal resolveu fechar com o Braga, houve as vozes de sempre gritando que ele desprezou o clube, que ele precisa mais do Flamengo que o Flamengo dele e outros que tais.

Mas é isso mesmo? Vejamos o que ele encontraria por aqui:

Quem fechar com o Flamengo herdará um time forte, talvez o melhor da América do Sul, mas o pacote vem com a pressão de manter o nível do que fazia o antecessor, o que não é pouca coisa. Teria tempo de colocar em prática suas ideias de jogo? O futebol brasileiro não é lá muito conhecido no mundo por proporcionar aos técnicos o período necessário para que sua metodologia de trabalho seja absorvida pelo elenco. Em outras palavras, o resultado é que manteria seu emprego.

Em contraponto, o que pode ter pesado na decisão de voltar ao Minho? Motivos não faltam:

Ele era um dos nomes estudados pelo Flamengo, sem garantias de que, ao fim e ao cabo, receberia uma proposta para vir ao Brasil, ao passo que o interesse do Braga era mais que real, era oficial. O treinador fez a melhor campanha da história do Rio Ave, classificando os vilacondenses à Liga Europa (e os arsenalistas estão garantidos na fase de grupos da mesma competição) e, ao fim do Campeonato Português, disse nunca ter em mãos tantas propostas e resolveria o que fazer com a família. Foi em Braga que ele nasceu, é em Braga que ele mora e foi no Braga que ele iniciou sua carreira como futebolista, como apontou o Diogo Pombo na Tribuna Expresso

Diferentemente do Brasil, onde não passa de um desconhecido, em Portugal ele é respeitado e, salvo algo fora da normalidade, terá respaldo dos Gverreiros para desenvolver seu trabalho. Além do mais, existe a possibilidade de que um grande trabalho abra outras portas também dentro de Portugal. O Braga costuma "ceder" treinadores aos três grandes: Jorge Jesus (na primeira passagem), Sérgio Conceição e Ruben Amorim dirigiram a equipa da Cidade dos Arcebispos antes de rumarem ao trio-de-ferro do futebol português.

Pode ser, e aí é uma suposição longe de ser absurda, que Carlos Carvalhal também se fie num bom trabalho no Minho para abrir uma dessas portas. Aí, considerando ter mesmo uma proposta do Flamengo em mãos, ou ao menos essa expectativa, teria duas opções: 1) vir para um lugar cuja característica das mais marcantes é ser uma máquina de moer treinadores e pegar o rojão que JJ deixou ou 2) seguir em Portugal, onde é respeitado por torcedores e pela imprensa, assumir um clube teoricamente mais tranquilo para trabalhar e com a Liga Europa no calendário. 

Isso tudo pensando exclusivamente na parte desportiva. Em termos pessoais, pesou também o estágio de descontrole da pandemia do coronavírus na Brasil e sua relação família, motivação maior para ter ficado em terras portuguesas, conforme noticiou o site goal.com

Eu teria feito o mesmo.

sábado, 25 de julho de 2020

Benfica 2 x 1 Sporting - a honra, o roto e o rasgado

PELO ORGULHO Não fosse um clássico, última rodada de
Sporting e Benfica daria sono (Foto: Patricia Melo Moreira)

O Derbi Eterno colocou no relvado do Estádio da Luz um Sporting à procura de garantir a terceira colocação da Liga - e a entrada direta na fase de grupos da Liga Europa - e um Benfica que já não poderia ser campeão, mas não perderia o segundo posto e a vaga na terceira eliminatória da Liga dos Campeões. Ainda havia o tempero da ironia e da pequena vingança do Braga, que poderia, com uma combinação de resultados, passar à frente justamente do clube que tirou-lhe o treinador. 

Ironia maior ainda o fato de, em caso de empate de pontos, a pesar a favor dos arsenalistas estava o golo marcado fora de casa no confronto direto. O Braga perdeu na primeira volta por 2 a 1 quando era treinado por Sá Pinto, mas venceu em seus domínios por 1 a 0, já orientado por Ruben Amorim, que, afinal, terminaria ultrapassado por si mesmo.

O que poderia não valer nada aos encarnados, afinal, valeria tudo para quem perdeu tudo no segundo turno. O Benfica poderia, apoiado por uma vitória do Braga contra o Porto, que jogava ao mesmo tempo da Pedreira, arrancar os mais históricos rivais do pódio e atrapalhar a próxima época, comprometendo a preparação para 2020/2021 com um jogo decisivo logo no arranque. 

"Minha senhora, a senhora não sabe o que é Benfica e Ishpurtingui", diria a versão portuguesa do espetacular Edil, do filme Boleiros - Era uma vez o futebol, para quem achasse que o jogo não teria serventia alguma. Honra e objetivos em campo, o Dérbi de Lisboa começou à pancada, basicamente o Sporting tentando sair jogando desde os três defensores, como gosta o Ruben Amorim, e o Benfica fechando os caminhos à base da foice, mesmo que isso custasse alguns cartões amarelos na primeira meia hora de jogo.

Até que Nelson Veríssimo percebeu que, adiantando os médios e abrindo Chiquinho de um lado e Tavares do outro e dando a Pizzi liberdade para criar, causaria tantos erros quantos quisesse aos de Alvalade. Assim, chances de gol foram sendo amontoadas - e desperdiçadas - pelos de vermelho, que mandavam no jogo. Perdulário, o Benfica foi para o intervalo somente com 1 a 0, obra do inesperado Seferovic, com seu quinto golo na prova.

Amorim voltou para a segunda parte sem o apagado Gonçalo Plata, rendido por Tiago Tomás, que, combinando com Nuno Mendes, transformou a vida de André Almeida num inferno. Foi do pé de Tomás que saiu, além de uma bola na trave depois de uma falha bisonha de Jardel, o passe para Sporar, que também já deixara avisos pelo caminho, devolver a terceria colocação ao Sporting. Pouco antes, na Pedreira, a Braga já havia virado seu jogo com o campeão Porto.

A essa altura, Florentino (no lugar de Gabriel) e Carlos Vinicius (saiu Seferovic) já estavam em campo, mas foi a entrada de Rafa no lugar de Chiquinho que devolveu a cimeira do jogo aos Encarnados. Era o maior dos dramas de Ruben Amorim, que aprendeu da pior forma possível que somente pode gostar de ter a bola o time que tem qualidade para isso também no banco - não que a tivesse no 11 inicial -, coisa que somente Veríssimo tinha à disposição. E foi o brasileiro que, saltado da suplência, chegou aos 19 tentos, vencendo a concorrência de Taremi e de Pizzi, que ficaram nos 18. Justamente em passe precioso de Pizzi, indiscutivelmente o melhor benfiquista do certame.

Um triste final para todos, do Alvalade à Luz: a quem, duas rodadas antes sequer havia perdido pelas duas equipes que treinou e, com um ponto nas últimas jornadas, falhou o último objetivo de uma época perdida, não por culpa sua, mas do clube que teve quatro treinadores em 2019/2020; e àquele que, com o maior orçamento, as maiores vendas, os maiores gastos, a pretensa ideia do domínio doméstico, pode festejar apenas o fato de poder rir-se ao rival, como numa disputa entre o roto e o rasgado.

Pouco para águias e leões, mas foi o melhor que conseguiram. 

Vlachodimos: se o Ody disse "mas que car***" assim que foi vazado por Sporar, já terá demonstrado ao Jorge Jesus que está perfeitamente à vontade em Portugal, ainda mais tendo jogado boa parte da campanha com Weigl à frente dos zagueiros;

André Almeida: poderia ter dado pancadas nos dois miúdos atrevidos de Alvalade para manter a honra intacta. Seria expulso, mas daria mais gosto aos adeptos vencer com um a menos. Ou em igualdade numérica na prática, considerando o que (não) jogou o Wendel;

Jardel: interessante a tática de chutar o ar, errar a bola e dar a chance ao adversário para empatar e ter mais alguma emoção na partida. Como não deu em gol, resolveu não marcar o Sporar no lance do empate. Contra equipes mais fortes, como o Santa Clara ou o Marítimo, por exemplo, não seria aconselhável;

Ruben Dias: uma cacetada ao Jovane para mostrar quem é que manda, um passe para o golo de Severovic e uma bola na trave. Quem dera o Ruben tivesse um adversário mais forte na sua provável despedida da Luz;

Tomás Tavares: espero que o Jorge Jesus não se convença, a partir da boa partida que fez, que o Tavares de penteado mais original do plantel é uma boa opção para render Grimaldo;

Gabriel: suspeito que tenha saído para o Weigl não achar que é pessoal o negócio (Florentino: espero que conste no contrato do Jorge Jesus a cláusula  pétrea "escale o Florentino. Tire até o guardarredes, se quiseres, mas escale o Tino");

Weigl: e não é que a calça de ganga de 20 milhões começou a vestir bem? Tudo bem que o adversário era mansinho para os padrões do Sporting, mas fez sua melhor partida. Até às cacetadas andou;

Pizzi: um autruísta, capaz de oferecer o golo que o tirou do cume dos artilheiros para, com algum jeito, valorizar o avançado que o marcou. Além do mais, 30 golos na temporada, sendo médio e a jogar no mais bagunçado Benfica desde Quique Flores, é coisa que nem o Messi conseguiria;

Chiquinho: cansou os gajos de verde e branco para Rafa terminar o serviço. (Rafa Silva: pegou os gajos de verde e branco cansados e terminou o que o Chiquinho começou. O Rafael Alexandre já está habituado a fazer isto aos que vestem verde e branco, começando ou terminando as partidas); 

Cervi: em 1907, o Sporting levou do Benfica oito gajos a troco de banho quente e uniformes limpos. Pouco mais de oito décadas depois, levou pela porta pequena Paulo Sousa e Pacheco, e só não foram também João Pinto e Rui Costa porque não quiseram. Deve ser por isso que o Cervi não meteu o golo quando estava desmarcado à frente da baliza, para não diminuir as esperanças de quem as manteve até o minuto 88. Sou rancoroso? Serei até tirar alguém de Alvalade. Pelo que mostraram esta época, porém, seguirei com a mágoa por mais algum tempo (Jota: mais três minutos de Jota e ainda não entendi o porquê, passados quase 200 minutos. Duvido até que o João Filipe saiba);

Seferovic: certa vez, Nelson Rodrigues disse que é preciso ter sorte até para chupar um sorvete. Eu digo que, mais que sorte, é preciso ter confiança e nada como um Sporting pelo caminho para que aconteçam coisas inusuais, como um avançado do Benfica-2020 começar o jogo e anotar um golo (Carlos Vinicius: eu, que andava incomodado com ele, posso dizer, feliz da vida, que causar embaraços aos do José Alvalade já garante ao Carlinhos um lugar especial no meu coração. Nem precisava terminar na artilharia do campeonato);

Nelson Veríssimo: terminou o campeonato com alguma dignidade. Para sábado há mais. Se o mister quer um conselho, lá vai: deixe a bola com o Porto, assim como deu ao Sporting. Eles não sabem lá muito bem o que fazer com ela. Bom, o Benfica também não. Pelo visto, em Portugal, quase ninguém sabe.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Aves 0x4 Benfica - as vergonhas do futebol português

(Foto: José Coelho/Lusa)
Pode valer algo um jogo entre o último colocado, já rebaixado, e o segundo colocado que não pode ser campeão ou perder o estatuto de vice? Para o Benfica, vale para preparar o time para a final da Taça de Portugal, contra o Porto, em que poderá salvar o mínimo da dignidade que restou após uma época desastrosa. Ao meio, há o Derbi Eterno com o Sporting, em que joga-se a honra, que deveria valer tanto quanto qualquer taça.

Honra. É disso que deveria se tratar. Mas como falar de honra dentro de uma competição em que é permitido que um distintivo chegue ao ponto em que chegou o Desportivo das Aves, campeão da Taça de Portugal de 2018? Em suma, não há mecanismos que obriguem os acionistas a apresentarem as garantias mínimas de que a saúde financeira esteja salvaguardada, tampouco que impeçam que desentendimentos entre SAD e clube culminem no que foi visto na última semana em Portugal.

Foi contra um adversário que mal tinha elementos para compor o banco de suplentes que o Benfica mediu forças. Não chegou a ser o descalabro de enfrentar uma equipa que entrou em campo reduzida a oito elementos, como aconteceu ao União de Leiria contra o Feirense em 2011-12, mas os acontecimentos que antecederam a partida ferem de morte a reputação já combalida do futebol português. 

Aí, tanto faz se Gonçalo Ramos teve uma estreia de sonho, com dois golos nos oito minutos em que esteve em campo, se Florentino ofereceu, outra vez, mais equilíbrio tático à equipe, se a dupla Dyego Sousa e Seferovic deu mais garantias que Chiquinho e Carlos Vinicius para a Taça, se Pizzi chegou aos 30 golos na temporada e persegue o recorde de Bruno Fernandes. Nada disso teve importância.

Ao primeiro minuto, em que os da casa ficaram parados em protesto à situação em que o Aves se encontra (clique aqui para ver), já foi possível entender que nada do que aconteceria em campo teria a mínima relevância ao pé do pedido de socorro de profissionais que, notavelmente, honraram não o clube, mas a si mesmos.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Porto 6 x 1 Moreirense - a temporada toda em 90 minutos

COMO NÃO AMAR MAREGA? (José Coelho/EPA) 
Caro leitor, se você quiser entender o que foi a temporada 2019/2020 do campeão FC Porto, tire como base a goleada por 6 a 1 sobre o bom time do Moreirense. É basicamente um resumo.

Bom, não serei eu a alongar-me sobre o primeiro jogo com o título garantido. Assim como na campanha, a primeira parte foi arrastada, ruim, com um insosso 1 a 1 no placar, fruto do gol madrugador do colombiano Luis Diaz e da resposta, um quarto de hora depois, de Fabio Abreu para os visitantes.

Se a etapa inicial foi um conjunto de aborrecimentos espalhados por 45 minutos, com o Porto esbarrando na própria teimosia e na jornada infeliz do bom Fábio Vieira, uma de suas mais valias para o futuro, o segundo, porém, roçou a perfeição.

Já com Uribe em campo, e Luis Diaz e Otávio com o diabo no corpo, o Porto passou o carro sobre a turma de Moreira de Cónegos, que não perdia há seis jornadas. Teve de tudo: gol de pênalti de Alex Telles, gol de Otávio na marra, dois de Tiquinho Soares - o primeiro, um golaço pela jogada trabalhada -, que havia entrado no lugar de Marega. E o gol de falta do maliano, que já valeria pela época toda.

Sérgio Conceição pode ser a mente por trás da reviravolta. Alex Telles, Danilo Pereira, o multi-homem Corona. Qualquer um deles pode ser considerado o grande nome da improvável conquista portista, mas nenhum terá a mística do camisa 11. Coincidentemente, Marega pode ser dois indivíduos num só, representados pelos dois números 1 que ostenta em sua camisola: é capaz de fazer perder o juízo qualquer adepto com seus remates na direção do centro comercial que fica ao pé do Dragão ou arrancar sorrisos de Sérgio Conceição com seu golaço de falta.

Convenhamos, fazer sorrir o Sérgio é o mais difícil.   

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Volta de Jorge Jesus ao Benfica só surpreende quem não entendeu os objetivos do treinador


A imprensa portuguesa bateu o martelo e confirmou a volta de Jorge Jesus para o Benfica, fato que surpreendeu boa parte da imprensa esportiva brasileira. Não o retorno em si, pois o assunto está mais quente a cada dia que se passa sem que o próprio treinador diga se fica ou não, mas pela troca do favorito a ganhar tudo no Brasil e na América do Sul por um clube que é uma zona desgraçada e que o máximo que pode sonhar é bater nas quartas-de-final da Liga dos Campeões.

"Uma loucura!", diz um. "Imagine trocar toda a idolatria por um time que não é nem sombra do gigante que foi nos anos 1960?", comenta outro. Todos estes posicionamentos são válidos e lógicos, mas se esquecem de alguns aspectos que pesaram para que o treinador resolva regressar à casa. 

Alguns são estritamente particulares: voltar a Portugal, estar perto da família, estar longe do epicentro da pandemia do coronavírus, enfim, qualidade de vida. A principal delas, porém, está no que nem a vitoriosa e inquestionável passagem pelo Flamengo proporcionou a ele: VITRINE.

O Mister ganhou o Campeonato Brasileiro, a Taça Libertadores, a Supercopa do Brasil, a Recopa Sul-americana e o Campeonato Carioca. Não bastasse, sobrou contra quase todos os adversários e, mesmo quando teve dificuldades, como na final da Libertadores, virou um jogo praticamente perdido contra o fortíssimo River Plate de Gallardo. Tirou uma diferença de oito pontos para o líder Palmeiras e terminou 16 à frente. Um assombro.

Um assombro, mas nem isso serviu para chamar a atenção dos clubes das grandes ligas europeias, objetivo maior na carreira e na vida do português de Amadora. E os 66 anos que completará daqui a uma semana não permitem que ele espere.

Para ele, ficou claro que as portas das grandes ligas poderão ser abertas com uma grande campanha pelo Benfica, tanto que, quando renovou o contrato no Flamengo no início do mês de junho, ele fez constar cláusulas de rescisão mais acessíveis para alguns clubes, dentre os quais o Benfica.

Chamado de gênio da tática em sua terra natal, ele foi campeão em Portugal, fez o diabo na passagem pelo mundo árabe e mostrou ser melhor que todos os técnicos brasileiros em sua praticamente definida curta passagem pela América do Sul. Falta ser respeitado na Europa. 

E isso não é o Flamengo quem irá proporcionar a ele.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Porto, um campeão com méritos



Deixou de ser uma questão meramente matemática: o Porto é o campeão português 2019-20, recuperando a taça perdida para o Benfica na temporada passada.  "Perdida" é o termo correto, pois os Dragões perderam uma vantagem que chegou a sete pontos a uma rodada do fim do turno, que começou a esvair-se quando o FC Porto empatou com o Sporting e deixou de ter a maior sequência de vitórias da história do futebol de Portugal. 

É um filme parecido, pois, mas que mudou os protagonistas, numa espécie de plot twist que inverteu mocinhos e bandidos, o qual prefiro chamar de reviravolta. O carrancudo Sérgio Conceição termina a época com o sorriso angelical que era de Bruno Lage, posto a pontapés e traições para fora da Luz após uma série de escolhas infelizes, dele ou não, mas isso não cabe aqui. Ao menos agora.

O fato é que, mesmo tendo sido um campeonato dos mais fracos, talvez o de pior nível no últimos anos (é preciso somar quatro dos seis pontos ainda em jogo para não ser o campeão com menor pontuação desde que a Primeira Liga passou a ter 18 equipes), o Porto conquistou sua 29ª taça do nacional com duas rodadas de antecedência, vencendo um clássico contra o time de Ruben Amorim, um técnico que não havia perdido ainda na temporada por nenhuma das duas equipes que dirigiu (Braga e Sporting) e que havia vencido todos os jogos que havia feito contra os grandes.

E vencer os grandes foi algo que o Porto de Sérgio Conceição fez, com quatro vitórias contra Sporting e Benfica, coisa que só José Mourinho em 2002/03 e Jimmy Hagan, em 1971/72, haviam feito. Contra os encarnados, então, as vitórias foram ainda mais fundamentais, pois o time então de Bruno Lage havia vencido todos os jogos pela Liga, exceto os dois que fez contra o Porto, que desnudou todas as fragilidades do então campeão nacional, que estava com o bicampeonato encaminhado, incluindo aí a melhor primeira volta desde que o Campeonato Português passou a ter 18 equipes, além do recorde de vitórias seguidas fora de casa.

A duas rodadas do fim, o já campeão Porto tem o maior número de vitórias, o melhor ataque e a melhor defesa. É errado não atribuir a conquista portista também à calamidade benfiquista, sobretudo em 2020, mas é desonesto, portanto, não apontar todos os méritos de um time que soube reconhecer suas limitações, fortalecer suas qualidades e usar a favor também seus próprios problemas e, ao passo que o rival estava em queda livre, com problemas nas cordas do paraquedas, os azuis tiveram seu melhor momento, somando 19 dos 24 pontos em jogo pós-pandemia. O Benfica, por exemplo, fez só 12.

Como num filme clichê, o jogo do título, contra o técnico de carreira imaculada, para quem havia perdido a Taça da Liga, teve golos do jogador experiente (Danilo Pereira) que perdeu a posição e que só jogou porque o titular (Sérgio Oliveira) se machucou e de Marega, o atacante de trejeitos toscos, de quase nenhuma intimidade com a bola, mas que foi o símbolo maior da superação portista, superando um caso de racismo no lugar que foi sua casa, e marcando golos em quase todos os últimos jogos da Liga.

Como num filme clichê, a temporada, que começou com a perda de meio time titular entre vendas e saídas ao fim do contrato; que viu o fim da carreira do mítico Casillas graças a um enfarte; que presenciou a briga estúpida entre o treinador e seu capitão, expulso do estágio de preparação; que arrancou com  a vexatória eliminação na terceira eliminatória da Liga dos Campeões para o Krasnodar e uma derrota inesperada para o Gil Vicente, logo na primeira jornada para a Liga NOS; e que assistiu ao maior concorrente gastando dinheiro sem critério algum, como um novo rico que acabara de ganhar 120 milhões na loteria de Madrid, termina com a festa de quem fez questão de acreditar que poderia ganhar. E ganhou.  

Afinal, filmes clichês têm final feliz.



quarta-feira, 15 de julho de 2020

Benfica 2 x 0 Vitória de Guimarães - o sonho e a estupidez

QUEM É ESTE? Oito meses depois, Florentino reapareceu no
 Benfica (Foto: Patrícia Melo Moreira)

Tive um sonho estranho. Sonhei que os jogadores eram escalados somente pelas suas qualidades e o quanto elas poderiam ajudar a equipe como um todo, não importando quem era o seu agente ou escritório gerenciador de carreiras.

Para se ter uma ideia do quanto o sonho foi maluco, o treinador até usava um volante daqueles ladrões de bola para que o time tivesse posse, campo e criação de jogadas. Era uma equipa equilibrada em campo, tanto que contava com dois dos três artilheiros da competição e um deles, ainda, era o que tinha mais passes para gol. Funcionava bem.

No time tem até um gajo novo, campeão europeu nas categorias de base, que é cobiçado por times como Real Madrid e Milan. Se os tubarões o querem, é claro que tem lugar também em casa, não é? Que sonho mais esquisito!

Já imaginaram que difícil seria se o clube com maior orçamento, que mais gastou em reforços na história do país, que tem a maior torcida dentro e fora de Portugal, precisasse ganhar e tivesse o time melhor somente quando teve que mexer para evitar uma expulsão que deitasse tudo ao solo? Quem acreditaria?

Imagina se é possível pensar que este time, se não vencesse, veria seu maior concorrente vencer o campeonato ainda com três jogos por fazer? Jamais o clube que garante chegar em breve às decisões europeias com a maioria dos jogadores vindos da base passaria por isso.

Nem em sonho um clube que conta com profissionais preparados e experientes deixaria seus melhores valores no banco, ou sem jogar por meio ano, e gastaria 20 milhões em reforços que não precisa. Nem gastaria outros 37 em dois avançados, tendo o artilheiro da Liga no elenco. Fazendo isso, teria que ter um rodízio estúpido entre eles no 11 inicial.

Seria, pois, uma estupidez, estarmos a fazer contas e comemorando uma vaga para as eliminatórias da Liga dos Campeões, em vez de chegar à fase de grupos com o estatuto de campeão nacional, arrancada à fórceps, quando o Chiquinho marcou após meia hora de total domínio do adversário, e com o Seferovic, já perto do fim e depois de a desgraça rondar a área de Vlachodimos e só não ter se concretizado por falta de sorte dos vimaranenses.

Era só o que faltava à malta encarnada: além de vencer todos os seus jogos, ter que torcer para que Porto perca para o Sporting no Dragão, sem contar nas outras derrotas necessárias, contra Moreirense e Braga. Seria quase um pesadelo.

Caraças! O despertador tocou.

Vlachodimos: ao fim do jogo, sua expressão era estranha, algo parecia fora do lugar, como um jogo na Luz sem sofrer golos;

André Almeida: da próxima vez, pergunte ao Gabriel se ele vai deixar o Weigl sozinho para dar o combate. Não que isso ajude muito, mas ao menos saberás o que te espera;

Rúben Dias: ao fim do jogo em que foi escolhido o melhor em campo, falou que o segredo da vitória foi o desejo da equipe. Então a sequência de 13 jogos com só duas vitórias era a falta de querer vencê-los?;

Jardel: na condição de capitão, Jardel Nivaldo, pergunte à malta se querem ganhar ou não. Não que isso ajude muito, mas ao menos saberás o que te espera;

Nuno Tavares: é mais ou menos assim: quando estiveres perto da área, levantes a cabeça e olhes quem vem com uma camisola igual à tua. É para ele que tens que jogar a bola. Percebes? Se não for complicado, de preferência, o gajo com a camisola igual à tua que receberá o esférico é o que estiver numa posição melhor para rematar à baliza. Em caso de dúvida, pergunte ao mister, mas convém esperar para saber quem será o mister. Até lá, olha o que o Alex Telles faz e tenta copiar;

Weigl: caro Julian, tento gostar mais de ti, pois não será por falta de vontade que voltarás à Bundesliga com alguma raiva de tudo o que se mover vestindo vermelho. Em todo caso, gostei da ideia de distribuir pancadas sem desfazer a cara de bom moço para não suscitar ao árbitro um impulso qualquer de mostrar-lhe o cartão vermelho. Porém, faz bem combinar com o mister para que saias tão logo receberes o primeiro aviso de rua - ou então, aprendas a seguinte frase em Português: "põe um trinco, ó, pá" (Florentino: passes verticais, posicionamento correto, recuperação de bolas e equilíbrio a um time quase impossível de assistir sem recorrer completamente ao dicionário português do baixo calão. Mais uma destas, Tino, e corres o risco de ficares mais meio ano sem jogar);

Gabriel: se a sua falta de vontade for para deixar o alemão sozinho a ponto de ter que ser trocado por um trinco, maravilha, mas podias ter feito isso em outros cinco ou seis jogos. Se não foi por isso, caraças, que raio estavas a fazer em campo?

Pizzi: não percebi ainda, mas deve ter saído para que a presença de Rafa Silva não resultasse em muito talento junto em campo (Rafa Silva: não te falei que era só aparar a barba que entrarias mais cedo, Rafael Alexandre? Bom, agora é preciso ver algum jeito de mostrar que tu és aquele Rafa que, com o Pizzi, fazia o diabo com as defesas contrárias sem que isso faça com que te tirem); 

Chiquinho: a única razão para que não tenhas sido titular durante toda a temporada é seu bigode de adolescente, o que pode ser visto com desconfiança num país onde um bigode bem cultivado significa tanto. É isso ou quem decide quem joga não percebe lá muito as coisas (Zivkovic: ora viva, Andrinho! Mais seis minutos em campo para a conta. Mais um ano assim e chegas um jogo completo);

Cervi: aproveita que andas ao pé do Nuno Tavares e mostra pra ele como é que funciona esse negócio de cruzar a bola na área. Não te esqueças de enfatizar a importância da camisola igual (Jota: existe uma teoria que diz que 10 mil horas de prática de alguma atividade específica conferem excelência a quem a pratica. Vejamos aqui, cinco minutos por jogo, 12 jogos dão uma hora. Olha, João Filipe, suspeito que isso não vai funcionar); 

Carlos Vinicius: manteve a média estupenda de zero golos marcados pelo avançado que começa o jogo (Seferovic: duas finalizações e um gol? Quem és tu, Haris?).

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Famalicão 1 x 1 Benfica - acaba logo, para que dias melhores venham, em nome de Jesus

AOS TRANCOS E BARRANCOS Segue o Benfica o
 calvário de 2020 (Foto: Octávio Passos)

Quando saiu a escalação do time que enfrentaria o perigoso Famalicão, foi praticamente um sinal: Samaris no banco, nenhum volante de ofício para enfrentar um dos times que mais gosta de ter a bola. Seria divertido, ao menos.

Divertido principalmente para o torcedor do FC Porto, pois o benfiquista só não viveu mais 90 e poucos minutos de sonolência porque o Famalicão não deixou. E não precisa nem ser um especialista para entender os motivos, os quais não vou me alongar mais, basta pegar qualquer jogo pós-pandemia, exceto o último, contra o Boavista, que deu bola, campo e espaço para o Benfica, coisa que nenhum outro adversário fez.

A destacar, somente a declaração do técnico interino Nélson Veríssimo, que parabenizou seus jogadores pela exibição, tão pobre quanto todas as que resultaram no título praticamente assegurado ao FC Porto. Se não encontram problemas, basta esperar pelo fim da época e, com um bocado de sorte, não perder para o Porto a Taça de Portugal, que é o que resta.

Muito pouco para quem começou a temporada arrotando superioridade financeira e desportiva.

Vlachodimos: não entendo a cara de desalento após o gol do Famalicão. Ja deveria saber que ia acontecer, mas dias melhores virão, em nome de Jesus
André Almeida: já não sei o que dizer, Almeidinhos. Não é culpa sua, mas podias trancar o mister no vestiário e tu mesmo fazer as alterações. Não é possível ser pior, mas dias melhores virão, em nome de Jesus;
Rúben Dias: "Foda-se! De novo?" O que parece que disseste no golo do Famalicão eu disse quando vi a escalação, mas dias melhores virão, em nome de Jesus;
Jardel: espero que tenha aproveitado o estatuto de capitão para convencer o Fabio Martins a vestir vermelho na próxima época. Isso já o fará melhor que o Ferro. Bom, era só andar para isso, mas dias melhores virão, em nome de Jesus;
Nuno Tavares: repita comigo, miúdo: "Vou aprender a cruzar! Vou aprender a cruzar! Vou aprender a cruzar! Dias melhores virão, em nome de Jesus"
Gabriel: pelo visto, não seguiu meu conselho de ir ao relvado fedendo. Deu no que deu. Dias melhores virão, em nome de Jesus;
Weigl: o melhor do Benfica. Isso diz muito, mas dias melhores virão, em nome de Jesus;
Chiquinho: que as exibições e a cara de insatisfação sirvam para empurrar a malta para o título da Taça de Portugal. É o que resta, 
mas dias melhores virão, em nome de Jesus (Samaris: gostei da tática de só disputar a sério se começar jogando. Pena que resultou em golo deles, pá. Mas dias melhores virão, em nome de Jesus;
Pizzi: se não fosse pelo Luis Miguel, estaríamos vendo a tabela do Sporting. Seria triste demais, mas dias melhores virão, em nome de Jesus (Jota: pra que, João Filipe? Pra que João Filipe? Dias melhores virão, em nome de Jesus);
Cervi: ao menos correu, o que serve para que tenha sido um dos melhores em campo, mas dias melhores virão, em nome de Jesus (Rafa: não queiras ser feliz em outros campos, Rafael. Dias melhore virão, em nome de Jesus);
Seferovic: Outra vez não conseguiu as cinco finalizações que resultam em um golo, mas dias melhores virão, em nome de Jesus (Carlos Vinicius: faz assim, Carlinhos: ande a sorrir em campo, mesmo na mais absoluta penúria em que tu te encontras com teus companheiros. Vai que os adversários se preocupem e acham que a confiança anda em alta. Mas confie, dias melhores virão, em nome de Jesus.
Nélson Veríssimo: Lage, és tu?  

Tondela 1 x 3 Porto - competência e sorte de campeão

SORTE de quem tem Corona (Foto: Paulo Novais/POOL/EPA)
Sorte e competência. Estas duas palavras podem definir a reta final do Porto no Campeonato Português, praticamente definido a três jornadas do fim em favor dos Dragões.

A união destes dois fatores determinou a conquista da Liga Portuguesa 2019/2020. Além de ter entrado nos eixos após o retorno das competições, conquistando 16 dos 21 pontos disputados, contou com perdulário e incompetente Benfica, que descartou uma vantagem de sete pontos para estar inalcançáveis oito pontos atrás. Justiça seja feita, não seria honesto não lembrar que o mesmo Porto deu de bandeja o título na temporada passada ao mesmo adversário, com a mesma vantagem deitada fora.    

E jogar fora a vantagem foi o que o Porto quase fez ontem, após abrir 2 a 0 sobre o Tondela com a naturalidade de quem come um Chicabon. E com sorte, já que Sérgio Oliveira se machucou e deu lugar a Danilo Pereira, de quem saiu o primeiro gol do jogo logo no início da segunda parte. Até aí, nada de anormal. Marega, em fase descomunal, aumentou o placar e estava a encaminhar a tranquila vitória, que poderia já garantir o título matematicamente caso o Benfica perdesse para o Famalicão.

Duas substituições desastradas (Alex Telles por Fábio Vieira e Tiquinho Soares por Luis Diaz), uma jogada isolada, um gol de pênalti contra e o jogo fácil se complicou. A sorte esteve no calcanhar direito de Marchesin, que impediu o gol de empate logo depois. A sorte apareceu no pênalti tão idiota quanto discutível sobre Marega, mas numa altura em que o resultado estava praticamente definido.

A sorte, que veste azul e branco em 2020, também deu aquela força quando o Porto perdeu seus dois principais jogadores (o meia Sérgio Oliveira e o multi-homem Corona) para o clássico com o Sporting, mas dois também foi o número de pontos que o Benfica deixou pelo caminho em Vila Nova de Famalicão.

Afinal, como diria Nelson Rodrigues, "Sem sorte, não se come nem um Chicabon". Sem sorte, também não se levanta taças.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Porto 5 x 0 Belenenses - questão de tempo e confiança

QUANDO A FASE É BOA Marega anotou seu terceiro
 gol após a volta à disputa da Liga (Getty Images)
Voltou a ser de seis pontos, mais a vantagem no desempate, a diferença a favor do Porto sobre o Benfica na reta final do Campeonato Português. Restando apenas quatro jornadas, é só uma questão de tempo para que os azuis do norte recuperem a taça, perdida na temporada passada.

Mais que uma questão matemática, o que praticamente garante a conquista portista é a confiança, que anda em alta após três vitórias seguidas (duas por goleada) e cinco jogos sem sofrer golos, ao passo que o principal rival nem treinador tem e anda às voltas com seus inúmeros problemas internos.

Contra o Belenenses, o Porto apostou na sua tradicional formação com duas linhas de quatro e dois atacantes bem agudos, com Marega um poucochinho mais atrás e Tiquinho enfiado entre os zagueiros. Além do mais, Sérgio Conceição contava com o retorno do pé que melhor pensa o jogo, o de Sérgio Oliveira, que não jogou na pior partida desde a retomada das competições, na vitória sobre o Paços de Ferreira por 1 a 0. 

Esta aí a principal diferença entre Porto e Benfica: confiança. Mais que isso: o jeito direto de jogar dos azuis, com velocidade e poucos passes até chegar à área contrária, garante uma eficácia maior quando há pouco tempo para trabalhar entre um jogo e outro. E essa confiança só foi adquirida porque o treinador portista arma seu time para jogar de acordo com as peças que tem.

Mesmo contra um adversário mexido, com sete substituições, estreias de jogadores jovens promovidas pelo treinador Petit, o Porto teve dificuldades no início do jogo, sobretudo quando a frescura física era igual entre os times. A primeira chance de gol dos da casa, a rigor, aconteceu somente aos 30 minutos, quando Otávio cruzou na cabeça de Tiquinho, que abriu o placar sem dificuldades. 

O segundo tempo foi um passeio: os visitantes, que já não pareciam muito capazes de incomodar, pregaram e o Porto fez o que quis, quando quis e como quis. E é aí que entra a confiança, em alta nas últimas semanas: Marega, grande perdedor de gols, marcou o segundo; de pênalti, Alex Telles fez o terceiro e permitiu a Fabio Vieira marcar o quarto, de falta - e nem é o batedor -, estreando-se a marcar pelo time principal; e Luis Diaz, já além dos 90, puxou um contragolpe, preferiu seguir sozinho e anotou um golaço de longe. Coisas que só um time confiante faz. 

Sem ser vistoso, mas eficiente na fase final, o FC Porto caminha para conquistar seu 29º título nacional. De um jeito bonito? Não, mas isso é problema de quem não vence, principalmente quando desperdiça uma vantagem de sete pontos. Assim como o Porto na temporada passada.  

sábado, 4 de julho de 2020

Benfica 3 x 1 Boavista - sem melhora prática, mas há sobrevida na Luz

FUNCIONA? Sem ter a quem marcar, a dupla Gabriel
e Weigl esteve bem (Foto: Manuel de Almeida/EFE)
Quem resolver fuçar o Google e ver somente os números da vitória do Benfica por 3 a 1 sobre o Boavista, que deu uma sobrevida aos encarnados na luta quase perdida pelo bicampeonato português, terá a falsa sensação de que o time melhorou após a saída de Bruno Lage.

Não, não mesmo! O Benfica venceu e "convenceu" por dois motivos: teve sorte e contou com a complacência do Boavista, adversário de fragilidades expostas como há muito não se via frente ao time que era dirigido por Bruno Lage. Foi de Lage, inclusive, que o substituto Nélson Veríssimo herdou a ideia com a qual iniciou o jogo, inclusive com o desequilíbrio tático que causou a queda do antigo treinador.

Foram 10 minutos de domínio dos nortenhos, que adiantaram a marcação para dificultar a saída de bola e forçar a ligação direta de um time com os nervos em frangalhos e, mais uma vez, que começou desequilibrado em campo porque o principal ladrão de bolas entre os disponíveis, Samaris, estava no banco.

A diferença foi a sorte, que sorriu quando o goleiro Helton Leite soltou uma bola fácil no pé de André Almeida, na primeira chance de gol benfiquista. A partir daí, a eficiência dos axadrezados de Daniel Ramos ruiu e o que se viu foi um desfile dos de vermelho: Chiquinho entre linhas tocava o terror combinando com Pizzi, que até conseguiu largar a lateral do campo e pisar na área para receber os passes longos e quebradores de linha de Gabriel, cuja pontaria do pé estava em dia como há muito não se via. O segundo golo foi justamente do 21 num passe teleguiado do trinco luso-brasileiro e o terceiro saiu da movimentação em diagonal de Pizzi para a conclusão de Gabriel, livre, na entrada da área, o que não se via porque ele tinha que atuar bem mais atrás para compensar a falta de combatividade de Weigl.  

A rigor, porém, o primeiro tempo da derrota por 2 a 0 com o Marítimo foi melhor que o apresentado hoje, com duas diferenças: o goleiro Amir pegou tudo; e Samaris estava em campo para dar a posse da bola e o equilíbrio tático que o time de Bruno Lage deixou de ter quando abriu mão de ter um jogador que vai para o choque, coisa que Gabriel, Weigl e Taarabt não fazem.

Some-se a isso a postura passiva de um Boavista que parece não ter visto nenhum jogo do Benfica pós-pandemia, que deu espaço para Gabriel organizar tudo e não corrigiu seu problema crônico de atuar com as linhas defensivas espaçadas - praticamente um convite para Pizzi, Cervi e Chiquinho. Além do mais, só incomodou de fato quando Ramos mandou a campo um segundo avançado para segurar a linha de defesa do Benfica em seu campo, fazendo com que os encarnados tivessem o desenho em campo que não vem funcionando, o que só foi corrigido primeiro com Rafa, atuando desde trás, e Samaris, que foi, talvez, a melhor notícia na noite, já que foi abandonado o expediente estúpido de tentar resolver o problema de criação com dois avançados de referência, bolas atiradas na área pelos laterais e nenhum jogo de toque e infiltração em busca de espaços. 

A diferença para o Porto caiu para três pontos, que podem voltar a ser seis caso o time de Sérgio Conceição vença Os Belenenses genérico no jogo de logo mais, no Dragão. Seja como for, e com os azuis com a vantagem do confronto direto, pode até ser que o Porto, que não rende lá essas coisas também, perca os pontos que o Benfica necessita tendo ainda cinco jogos a disputar. A questão é o time da Luz vencer todos os seus.

Vlachodimos: sabe aquela anedota do patrício que vê uma casca de banana a 10 metros e pensa "ai, Jesus, outro tombo"? Pois, bolas paradas no campo de defesa podem causar o mesmo dano ao Ody;
André Almeida: de golito em golito, já tem mais que o Seferovic;
Ruben Dias: se tiver outros Boavistas pelo caminho, pode voltar a ser o "futuro melhor zagueiro do mundo". Ou então ter o Samaris à frente;
Jardel: como todo capitão que se preza, deixou palavras de agradecimento ao mister Lage após sua saída. Uma pena que isso não se viu em campo, que é onde valia mais;
Nuno Tavares: chegar bem ao fundo, chega. Basta aprender a cruzar. E marcar; 

Gabriel: sugiro que não tome banho 72 horas antes de cada jogo, para que nenhum adversário chegue perto e possa dar o passes milimétricos que deu (Samaris: entrou com 77 minutos de atraso. Bom, contra o Boavista, podia jogar até o Luis Filipe Vieira a trinco que seria a mesma coisa);
Weigl: sigas assim, Julian. Mais cinco ou seis jogos como este, podes retornar à Bundesliga pelo mesmo preço pelo qual chegaste a Portugal;
Pizzi: o sua expressão facial ao se ver longe da linha lateral, podendo pisar na área, anotar um golo e dar uma assistência lembrava a reação de quem, pela primeira vez, mete o pé na areia da praia. Foi bonito (Jota: ainda não percebi os motivos que levam a termos cinco minutos de Jota todos os jogos, estejam eles decididos ou não);
Chiquinho: meu caro Francisco Leonel, se ainda tens o contato do mister Lage, pergunte a ele por que raios não podias jogar como jogaste com o Boavista. SFF;
Cervi: não acertou o Zivkovic, que não jogou. Suspeito que tenha sido por isso (Rafa Silva: certa vez eu tirei a barba para enganar uma moça que me procurava. Deu certo. Poderias fazer o mesmo para o mister, seja o Nelson ou o próximo a vir, pensar em dar uma chance a "este gajo novo que aí está");
Seferovic: tenho a tese de que o suíço é o típico avançado 4x1, que perde quatro chances claras antes de marcar o golo. Uma pena o mister Veríssimo tê-lo tirado após desperdiçar a quarta chance clara, pois faltava só o gol para comprovar minha tese. Uma pena (Carlos Vinícius: não consigo entender por que diabos os golos dos avançados só acontecem se estes saltarem do banco. Ok, o VAR anulou, mas não era nem isto);
Dyego Sousa: não, ele não entrou, mas esta foi sua melhor contribuição ao Benfica desde que chegou da China;

Nélson Veríssimo: só o fato de não ter colocado outro centroavante para resolver o problema da bola que não passa pelo meio-campo já significa uma melhora da mentalidade. Mas só isso.