segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Benfica - haverá vida sem o patrão da defesa? Sempre há, e é preciso entender isto

Foto: slbenfica.pt

Quando o Benfica caiu para o PAOK na eliminatória para a Liga dos Campeões, uma certeza pairou sobre as cabeças inchadas encarnadas: seria preciso fazer dinheiro. E a melhor forma, se não a única, de se fazer dinheiro no futebol para tapar um buraco inesperado é vendendo. Era bonito imaginar que a solução seria fazer caixa com os excedentários, mas como é que se valoriza quem não tem lugar no seu próprio clube? 

Não há mágica no futebol. Nestes momentos, é preciso vender o que tiver de mais valioso para fazer frente às despesas. No caso do Benfica, apenas um jogador tinha todas as características que o mercado das grandes ligas quer: idade e margem para progredir, atuar em alto nível e um preço barateado pela necessidade do vendedor ser maior que a do comprador: Rúben Dias.

Único titular indiscutível da Seleção Portuguesa a andar com a águia ao peito, já era esperado que, cedo ou tarde, Rúben seria recrutado para uma liga mais poderosa que a portuguesa, mero entreposto para campeonatos com clubes de maior poder aquisitivo. Pior para o Benfica que a falta dos esperados milhões da Liga dos Campeões praticamente tenha anulado a capacidade negocial encarnada, tanto que, incluído Otamendi por €15 milhões, na prática as Águias venderam-no por €53 milhões, valor bem abaixo do que se esperava e que, sem o inflacionado argentino, deveria causar embaraços à direção benfiquista a poucos dias das eleições. Fora essa questão, porém, não se pode tratar disso com espanto.

Quem em sã consciência acreditou por uma átimo de segundo na utópica ambição de Luís Filipe Vieira de voltar às decisões europeias tendo o que vem do Seixal como base? Além do Caixa Campus não ser La Masia, mítica fonte (nem tão) inesgotável de talento para o time principal do Barcelona, não há em Portugal um único clube capaz de fazer frente às propostas salariais de clubes de segunda linha de uma das cinco ligas mais ricas, como um Wolverhampton, que trata os clubes de Portugal como uma grande feira livre. Imaginem quando a proposta vem de um clube onde o dinheiro jorra igual petróleo, como é o Manchester City? 

Nem o mais inocente dos adeptos acreditaria, a não ser que seja um parvo irremediável.

Por mais que faça falta a imagem do zagueiro firme, anímico, que nasceu para ser um capitão que independe de andar com uma tarja ao braço para sê-lo, o outro que vem no negócio, Otamendi, preenche também estes aspectos de postura que toda equipa deve ter - e que os adeptos praticamente tratam como fetiche quando quem os reúne é de casa. Neste caso, há até um ganho, dependendo dos olhos de quem vê. Internacional argentino, Otamendi já conhece o futebol português e tem uma rodagem que, obviamente, Rúben Dias jamais teria somente a jogar no Benfica, a não ser que a fasquia de suas atuações não fosse tão alta, o que faria desnecessárias análises como esta.

Rúben apresenta problemas que somente o tempo e a prática no mais alto rendimento irão corrigir, sobretudo nos jogos maiores. Somente na Seleção Portuguesa é que ele sempre apresentou o futebol que justificasse um investimento maior do que o feito pelo City e que era esperado antes da pandemia pelo presidente Vieira, que garantia ter conversas para abrir mão dele - e de Carlos Vinícius - por valores a rondarem os €100 milhões da multa. E, sabe-se, não é com a Federação Portuguesa de Futebol que se negoceia, é com o Benfica, e todo o entorno entra na conta.

Do lado prático, ao Benfica, seja qual for o defensor a preencher a lacuna do último titular produzido na Caixa Futebol Campus, cabe confiar na capacidade de Jorge Jesus para adaptar a forma de jogar sem ter o primeiro pé que construía as jogadas, lá de trás. . No mais, que se dê valor ao terreno percorrido por Rúben Dias desde os primeiros chutes, com 12 anos de idade, há 11 anos.

Montagem: Facebook

Queira ou não o torcedor encarnado, três temporadas a titular, uma Copa do Mundo no currículo, um título nacional e a ida para um dos grandes tubarões do futebol mundial é um percurso que nem todo grande jogador feito em casa cumpre por aí. Lembrem-se dos seus novos companheiros de clube, Bernardo Silva e João Cancelo, que mal frequentaram o balneário principal da Luz e que viveram todos os seus grandes dias na carreira a defender outro distintivo.  

Convenhamos: até que durou bastante.  

Benfica 2 x 0 Moreirense - um adeus à altura para o projeto de reconquistar a Europa a partir do Seixal

ÚLTIMO ATO Autor de gol, registro limpo e melhor em campo. Não podia ser melhor a despedida do único fruto do Seixal que JJ queria (Foto: Manuel de Almeida)

Quem atentou-se não só ao 11 inicial do Benfica que venceu o Moreirense por 2 a 0, como também a quem foi opção no banco de suplentes, teve a certeza, se é que havia alguma dúvida, de que Luís Filipe Vieira acordou de seu 
sonho reconquistar o futebol europeu a partir do talento que floresce no Seixal. 

Entre os 19 escolhidos para a partida, somente Rúben Dias e Nuno Tavares saíram das categorias de base do Benfica. Já não havia Florentino ou David Tavares, que já foram emprestados, ou Tomás Tavares, ou Jota, que já apontaram à porta de saída. Ou Ferro, que cada vez conta menos para Jorge Jesus. E, a partir desta segunda-feira, já não há o camisola 6, que completou três anos desde que estreou no time principal e cumpriu o curso natural de quem começa a jogar à bola em um clube que, por mais bonita que seja sua história, é um entreposto para clubes mais poderosos. Ainda mais quando o cenário é amenizar as perdas causadas pela ausência benfiquista na Liga dos Campeões.

Devaneios do presidente à parte - e considerando a fragilidade do adversário, é claro -, nota-se um Benfica cada vez mais forte em campo. Sem o faz-tudo Taarabt, o pouco combativo Weigl foi preterido por Pizzi, que deve atuar cada vez mais longe da área para ser o organizador desde trás (o que faria Gérson, caso deixasse o Flamengo para juntar-se novamente a JJ). Outro fator positivo é a afirmação de Gabriel, pé pensante na zona de destruição do jogo e com rara disposição e qualidade para romper linhas inimigas inversamente proporcional ao azar que carrega por sofrer lesões quando atinge seu melhor rendimento, além do entendimento que surge risonho entre todas as peças do setor ofensivo, com ou sem a bola.

O Benfica à Jorge Jesus é o retrato do atual estágio do futebol português, em que os principais treinadores buscam ter a bola, atacar espaços e sempre ter pelo menos três jogadores para seguir a jogada, seja qual for a zona do campo de ataque. Assim, hipóteses de gol se amontoam com a mesma naturalidade que foram perdidas, o único ponto a se lamentar. O festival de golos perdidos teve chance com goleiro, sem goleiro, de fora da área, de dentro da área, parando na barra, de cabeça, podem escolher a natureza do perdulário time que finalizou 29 vezes para conseguir acertar duas.

Claro que é mais complicado corrigir um time sem capacidade de criação do que um que constrói, mas erra os remates, mas há que ver visto com calma, qualquer que seja a medida que cada um vê no conteúdo do copo. Os que olham terrificados para os falhanços, lembrem-se de que o trabalho de Jorge Jesus ainda dá os primeiros passos. Já os mais entusiasmados com a alta velocidade do time, o poder de dínamo de Rafa e o entrosamento da dupla Everton/Grimaldo, que parece terem nascido um para o outro, percebam que o único dos de Moreira de Cónegos que teve algo a dizer foi o guarda-redes Mateus Pasinato. 

Para o futuro próximo, será preciso ver como o Benfica se arruma sem o patrão da zaga, que deverá ser substituído por Otamendi, de igual disposição, mas sem lá muita margem de progressão na carreira, e sem a capacidade de buscar passes desbravadores que destacou o último dos do Seixal, o melhor em campo no jogo em que toda a gente benfiquista acordou do sonho de Vieira.

Vlachodimos: uma pena que um raro momento sem sofrer golos coincida com a inevitável saída do miúdo que vai ganhar o mundo (se não for triturado pela máquina de moer defensores do Guardiola):
André Almeida: muito obrigado pela exibição em grande. Faça o mesmo contra o Porto, SFF;
Rúben Dias: precisamos entender que criamos os filhos para o mundo, não para guardá-los numa caixinha que ficará na cristaleira. Vá, miúdo, cumpra seu destino de ser o melhor zagueiro do mundo, mas saiba sempre que seu quarto cá estará à sua espera; 
Vertonghen: admita, Jan. Não virias se soubesses que vais ter que jogar com o Ferro, virias? Em todo caso, agarre-o pelos colarinhos no primeiro indício de medo que a cara dele invariavelmente terá;
Grimaldo: não, Alejandro, o Vertonghen não vai ter que se arranjar à direita para colmatar o Rúben. Podes dormir tranquilo (Nuno Tavares: lembras que o Jota jogava cinco minutos por jogo? Olha onde ele está, ó, pá!);
Gabriel: são sei se acreditas nisto, mas era bom que fosses à benzedeira só para garantir que não vais partir um braço ou machucar o olho. É só uma sugestão; 
Pizzi: a cada jogada certa em que tomas parte, imagino-te a fazer o gestual do Cristiano a apontar para o relvado e falar, olhando para o mister, "Eu estou aqui!" (Chiquinho: imagino esta conversa ao pé do banco:
- Consegues fazer o que deveria fazer o Weigl?
- Ó, mister, não é lá muito difícil!
- Anda lá, então, Francisco.
Não sabemos se é real, mas que o Francisco consegue, ah, consegue; 
Rafa Silva: nada como ter um treinador que percebe bem o jogo, não? Até escala os melhores, mas duvido que foi preciso vir ao Brasil para aprender isto (Pedrinho: já pensaste em usar creme de pepino para as olheiras, Pedrinho? Resolve lá isto, o resto se vê");
Everton: não me agrada a ideia de que, jogando o que está a jogar, devemos ver o Everton a vestir a camisa do Wolverhampton na próxima época (Weigl: ainda tens casa na Alemanha, Julian?";
Waldschmidt: não sei como era em Friburgo, ó, rapaz, mas por aqui ainda é permitido marcar golos em dois jogos seguidos (Seferovic: ora, viva! O velho Haris voltou à forma! Julgue-me quem quiser, mas acho o helvético útil porque não faz pouco pelo pouco que joga, literalmente);
Darwin Núnez: enquanto não entrares com um DN na camisola, não me preocuparei por não teres anotado o seu golo ainda. Mesmo que os distribuas à fartura para os companheiros. Andou por aqui há pouco um gajo que teve estes problemas.

domingo, 20 de setembro de 2020

Porto 3 x 1 Braga - a primeira rodada do terceiro turno

ÚLTIMO ATO? Pode ter sido o último jogo de Alex Telles no Porto. Obrigado por nada, rapaz (Getty Images)

Se alguém se confundiu com o calendário nestes tempos estranhos e assistiu à estreia dos campeões nacionais de Portugal contra a atual terceira força do país, é bem possível que imaginou não ter acabado a época passada se não percebeu os novos jogadores em campo. O Porto começou a época como terminou a última: vencendo, com os pormenores todos a vestirem azul e branco, e o Braga fez mais uma grande partida, sobretudo na segunda parte, e poderia ter a sorte a sorrir-lhe aos fim dos 90 e tantos minutos.

Como naquele meme (existe outro termo para isso?) do Tobey Maguire, porém, era só botar os óculos na cara para ver que eram equipas diferentes, sobretudo os minhotos, seja em peças ou em postura. Não começou à Carlos Carvalhal, com o time a jogar a partir dos centrais e buscar ela mesma ter a iniciativa da partida. O treinador tratou de dar a bola ao Porto, para tirar dos de Sérgio Conceição o conforto de jogar a partir do erro do oponente. Era, pois, uma boa tática.

E foi até o período de compensação da etapa inicial. O Porto até então havia criado pouco, e, quando o fez, teve o gol de Otávio anulado, com o correto apoio do VAR, graças ao impedimento de Corona. Na verdade, até a segunda dezena de minutos, essa havia sido a única ocasião de gol. Quando Carvalhal abdicou do 3-4-3 com pouca mobilidade para recuar Ricardo Horta e Fransérgio é que os bracarenses arrumaram algo.

E que algo! Esgaio cruzou de qualquer jeito, com tensão, para Sequeira se virar no segundo pau e deixar a bola à feição do ex-portista Castro, que vinha sem marcação nenhuma e sentou o pé com gosto para buscar o canto direito de Marquesín. Meio minuto depois, nova fuga, agora pelo meio, e o argentino foi vencido por Abel Ruiz, mas que um pormenor de oito centímetros fora de jogo, detectado com precisão pelo VAR, manteve o placar.

A partir daí os campeões arrefeceram-se, mas uma queda de atenção dos visitantes foi fatal, já depois dos 45 minutos. E foi com os suspeitos de sempre que o Porto deu a volta em três minutos: Alex Telles tirou da cartola um cruzamento de cartilha e Sérgio Oliveira foi mais feliz que todos os minhotos na área e mandou, inapelável para Matheus Magalhães, que saltou só para sair à fotografia. Depois apareceu Marega sendo Marega. Praticamente convenceu um infeliz Raúl Silva a derrubá-lo na área. Chamado a bater, o lateral esquerdo da Seleção Brasileira colocou o Porto à frente.

Não é porque correu mal no final que Carvalhal mudaria. A segunda parte começou com o Braga em cima, dominante, e que só não empatou ao terceiro minuto porque a bola picou na grama e subiu o suficiente para fazer com que a finalização de Ricardo Horta, com Marquesín passageiro da própria sorte - ele e o eixo defensivo todo do Porto -, passasse por cima do travessão depois de uma jogada das mais bonitas que o Dragão já foi palco (Sequeira para Castro no meio, o passe em profundidade, com capricho, buscando Abel Ruiz, que fez a parede e deu de primeira para Horta, que cruzou-lhe a frente para desmarcar-se com uma finta seca sobre Danilo, Pepe e quem mais estivesse entre ele e a baliza).

Aí Conceição resolveu que era mais negócio não jogar, nem deixar que o Braga jogasse, colocando Laúm e todas as obrigações defensivas, no lugar de um Sérgio Oliveira um bocado apagado, e o jogo ficou morno. Seja qual fosse a medida tomada por Carvalhal, que tentou de tudo, ora a mexer nos avançados, ora a desfazer o trio de defesa, o jogo se arrastou até o fim, quando Taremi arrancou outro pênalti, já ao pé do minuto 90, para fazer de Alex Telles o defensor com mais golos anotados de sempre com o Dragão ao peito.

Marquesín: que bela a vida de quem sofre golos, mas sempre sorri no final; 
Manafá: sabes quando o jogo é atípico quando o Manafá está em campo e isso não é propriamente um problema para o Porto;
Mbemba: no dia em que perder a mania de marcar golos ao Benfica, terá meu apreço pelo grande zagueiro que parece que será; 
Pepe: julguem-me: gosto do Pepe. Gostava mais ainda se o drible que tomou do Ricardo Horta terminasse em gol, mas a vida é isto; 
Alex Telles: fez história ao chegar a 26 golos pelo Porto e superar os 25 de Jorge Costa e Zé Carlos. Agora pode ir embora e nos deixe em paz, SFF;
Danilo: meus olhos sangram quando vejo que, pela ducentésima vez, Danilo veste azul e branco e o Weigl veste vermelho (ou aquela cor parecida com o vermelho nesta época). Que o alemão não invente de atingir a marca;
Sérgio Oliveira: foste tu que disseste à malta do PAOK, quando estivestes por lá, como era possível ganhar ao Benfica, pá? (Zaidu: entrou porque o Lorenzo Lamas de Paços de Brandão estava a fazer má figura. Manteve o padrão);
Uribe: um dos milhares de colombianos que escolheram jogar no Porto, em vez de defenderem o Benfica. Eu poderia falar em desprendimento, mas me parece que sou eu que padeço disto (Loum: por ora, sou incapaz de qualquer chiste sobre isso);
Corona: o multi-homem não foi o maior responsável pela vitória do Porto. Que tempos estranhos, meu Deus! (Taremi: ó, rapaz! Quanta ingratidão ao Carlos Carvalhal, que foi seu técnico até outro dia. Isso lá não foi bonito!); 
Otávio: raios que o partam! Quando não há Corona no seu melhor, me aparece este gajo (Fábio Vieira: ó, Nuno Espírito Santo, leva logo este também, antes que nos cause algum embaraço);
Marega: o de sempre: tropeçou na bola, fez rir toda a gente, mas, no fim, só quem é do Porto é que achou graça.

sábado, 19 de setembro de 2020

Famalicão 1 x 5 Benfica - as coisas são o que são


O Benfica que faltou para o PAOK sobrou em Vila Nova de Famalicão, mas antes que eu caia na facilidade de sugerir que este é mais forte que aquele, que o nível do que se pratica em Portugal é baixo - a Grécia não é nenhuma vanguarda futebolística - ou que para quem é bacalhau basta, é preciso dizer que as coisas nada mais são do que realmente são.´

Para quem se propõe a sair para o jogo, é mais apetecível encontrar um oponente que não atue praticamente todo nos últimos 30 metros do terreno de jogo. E não digo aqui que a estratégia de Abel Ferreira não foi a correta, porque foi, ou fui condenável, porque não foi. Mas a questão é exatamente esta. Se Seferovic não falha a hipótese mais clara do Benfica não primeira parte, o PAOK teria outra atitude e os espaços que o Benfica não encontrou estariam mais à mão - ou aos pés - dos de Jorge Jesus, o que não significa dizer que isso faria com que os encarnados ainda estivessem na prova.   

Em relação à partida da Champions, Jorge Jesus apostou num 11 com quatro alterações, todas do meio para a frente. Além de fazer a gestão física, mudou a forma de jogar. Saiu o imóvel Seferovic, entrou Darwin Núñez; Pedrinho deu lugar ao mais incisivo Luca Waldschmidt; Pizzi foi rendido por Rafa; e a mais importante delas, que já poderia ter acontecido na terça: o inoperante Weigl por Gabriel. 

Contra a equipa de João Paulo Sousa, o Benfica teve os espaços que não foram possíveis em Salônica, mas, o mais importante, abriu 2 a 0 com cerca de duas dezenas de minutos. O estreante Luca Waldschmidt é quem andou à espreita do lote de campo que havia para explorar na frente da área contra um Famalicão que, certamente, encontrará a melhor forma de viver sem os destaques que se foram ao fim da época passada e que não quis mudar a forma de atuar, mesmo com tantas mudanças. 

Voltando ao estreante alemão, que chegou com um ano de atraso, ele mostrou que pode ser ao carregar a bola até atirar à malha lateral, sem efeito, mas como a dizer "é por aqui". Quem entendeu foi Darwin, pela primeira vez no 11, que saiu da área para achar o passe que destravou o placar no toque de classe do germânico, coisa que Seferovic, Carlos Vinicius e Dyego Sousa (que nem conta mais) não podem fazer, mas que dificilmente funcionaria em defesas fechadas como a do PAOK.

Contra a sensação da temporada passada, o Benfica finalizou menos, mas as hipóteses à frente de Zlobin foram mais claras, mais limpas, muito em função de um incansável Taarabt ser o responsável por esticar seus tentáculos pelo campo todo a fim de recuperar a bola o quanto antes, coisa que não ocorreu sobretudo na segunda parte na Grécia, em que havia a baixa agressividade de Weigl quando a bola estava com os gregos. Contra uma equipa que joga e deixa jogar, como o Famalicão, a presença de Gabriel fez mais sentido.    

Ao fim e ao cabo, os determinantes são particularidades de cada jogo, que acabam por condicionar a partida. Uma bola que entrou, um passe que não foi interceptado. Tudo muda de jogo para jogo, de minuto para minuto dentro de um mesmo confronto. Na eliminatória para a Champions, não houve. De pendente, a fragilidade no setor esquerda da defesa, onde Grimaldo requer um apoio maior, é o ponto sobre o qual JJ deverá se debruçar para resolver sem que isso signifique perder o poder de fogo do apoio do espanhol. Foi por ali que Lameiras fez o que quis com o camisola 3.

A sombra da eliminação prematura no grande objetivo da temporada irá pairar, mas é preciso entender que jogos são para ganhar ou perder. E aprender, ganhando ou perdendo.

Vlachodimos: como se fala "mas que caraças!" em grego ou alemão? 
André Almeida: olha, Almeidinhos, gostamos de ti. Então é bom aprender a jogar sem o Pizzi ao pé para que o mister não invente de colocar o gajo que chegou agora no defeso;
Rúben Dias: no lugar dele, eu cantaria aquela canção do Roberto Leal: "Que bela a vida quando sabe que se ama...", mas trocaria o "sabe que se ama" por um "sabe que há um trinco à frente";
Vertonghen: não, Jan, não é norma da casa levar um golo pelo menos por jogo;
Grimaldo: a gente sempre tem um dia em que pensa que não deveria sair de casa. Aquele, contra o Portimonense, em que o Grimaldo se machucou, era daqueles dias em que a fechadura deveria emperrar-se (Nuno Tavares: agora fica mais fácil copiar o que um lateral faz. Olhe o Grimaldo faz e tente fazer igual, SFF);
Gabriel: perguntes ao mister por que não estiveste em campo na Grécia, pá. Eu mesmo não entendi (Weigl: parabéns, Julian. Ficaste muito bem na nova posição, ali no banco. Se for o caso, nem é preciso que entres);
Taarabt: prometas a toda a gente que é possível jogar a trinco, e também que convencerás o mister que, na falta de Samaris, o Florentino é melhor que o Weigl. Nem precisarás insistir tanto;
Rafa: deve ter saído para entrar o Pizzi para evitar o excesso de talento em campo (Pizzi: deve ter entrado no lugar do Rafa para evitar o excesso de talento em campo);
Everton: não sei se gostei mais do golo que mais pareceu um passe, tamanha a precisão para encontrar a brecha entre o Zlobin e o poste, ou o passe para o Rafa depois de escorregar. Quero ver estes contra o Porto; 
Dárwin Núñez: ora viva! Finalmente um avançado que não apanha da bola e não mete as iniciais na camisola. Noutros tempos, um gajo assim seria enviado para ser rebaixado no Espanyol (Carlos Vinícius: se queres ser feliz, diga ao mister que não jogas às pontas. Ou então veja com o Jorge Mendes uma saída o quanto antes, ou então vais acabar como o Dyego Sousa, oque não é bom sob hipótese alguma); 
Waldschmidt: onde andavas que não vieste antes, ó pá? (Diogo Gonçalves: o Jorge Jesus quer usá-lo à lateral. Ele quis com o Bernardo Silva e deu no que deu. Na pior das hipóteses, porém, podes acabar brilhando na Premier League depois de recusares voltar aos bês).

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

PAOK 2 x 1 Benfica - o natimorto projeto europeu

A lei do ex mais merecida de todos os tempos (PAOK/Divulgação)

Entra ano, sai ano, e as noites europeias seguem causando pesadelo à toda malta benfiquista. Não bastasse passar vergonha em grupos acessíveis, o Benfica não chegou sequer para discutir a terceira eliminatória com o PAOK na Grécia. Os gregos, que jamais jogaram a Liga dos Campeões, seguem para a disputa a duas mãos com o Krasnodar-RUS - que também busca debutar na Champions - por uma vaga. Já o Benfica, que sonhava em encaixar mais €37 milhões com a presença na prova, está fora da liga milionária pela primeira vez desde 2010/2011, época em que começou a sequência interrompida em gramas gregas.

Bom, sempre que há Grécia e Portugal envolvidos em qualquer diabo que tenha uma bola, seria bom colocar os bigodes de molho, caso Jorge Jesus os tivesse. E ele, como fez Bruno Lage, deixou Florentino fora do banco e apostou em Weigl, que quase marca, quase arma, quase participa bem do jogo, quase convence.

Faltam-me palavras que não sejam de baixo calão para definir o que foi a prestação benfiquista, sobretudo no segundo tempo, quando Abel Ferreira - e toda a humanidade que resolveu gastar duas horinhas de sua vida para apreciar o fado lisboeta em terras helênicas - percebeu que não havia quem batalhasse com qualidade para recuperar a bola no permissivo meio-campo do time... não sei se chamo de encarnado com aquela camisola de cor indecifrável.

De qualquer forma, faltou ao Benfica preencher três requisitos fundamentais para aceder à eliminatória com o Krasnodar, a última antes do pote de ouro e de euros da fase de grupos: quem rompesse linhas de equipas a jogar compactadas, atrás da bola, como foi o PAOK na primeira parte, quando deu a bola ao Benfica e viu do que (não) eram capazes os rapazes de Jorge Jesus (o Gabriel estava sentadinho ao lado do mister, e assim ficou); quem fizesse a bola andar pelas beiradas quando o resultado já era desfavorável e os gregos entrincheiraram-se à frente de seu golo (Pizzi passou ao meio quando a vaca começou a deitar); e quem recuperasse a bola quando ela invariavelmente batia à porta (onde raios estava o Florentino, ó, Jesus?).

Para não dizer que não houve nada que se aproveitasse, dos quatro estreantes da noite, três estiveram em bom plano: Pedrinho, enquanto teve mais pernas que hematomas; Vertonghen, infelicidade à parte no gol contra, teve uma atuação bastante segura; e Everton, cuja produção caiu quando o time todo emperrou, mas de cujos pés saíram as melhores hipóteses de gol. 

Vai encaixar? Vai, mas isso só vem com tempo e treinamento, e toda a gente sabe que a temporada já começou condicionada pelas ausências causadas pelas convocações para as seleções, mas era algo previsível (ainda assim Rafa e Pizzi não foram chamados), como também era expectável que alterar a forma de jogar não era o ideal para agora, às portas do jogo mais importante da época.

O resultado, lápis e papel à mão, foi construído a partir de um gol contra e outro contragolpe muito bem encaixado e terminado no chute de quem foi chutado da Luz após uma temporada encostado no Seixal, mas é no fim das contas que se vê também que o futebol é isto.

Sobrou a Liga Europa, a competição europeia na qual o Benfica fez suas melhores campanhas europeias nos últimos anos, inclusive com Jesus ao leme, mas é pouco para quem voltou ao Velho Continente para estar sob os olhos das ligas mais poderosas. E pouco também para os objetivos eleitorais de Luiz Filipe Vieira. Bom, talvez esta seja a boa notícia na noite. 

Vlachodimos: olha, Ody, se queres um minuto de paz - ou 90 -, diz ao mister que precisa de trinco à porta na sua área. Não sabes o que é trinco? Ele sabe;
André Almeida: ó, Almeidinhos, não queiras que o Gilberto tome seu lugar no 11. Nem eu quero isto. Se calh
ar, nem ele;
Rúben Dias: o gajo que valeria 100 milhões, ao fim e ao cabo, está a ser vulgarizado jogo sim, jogo também, porque insistem em jogar sem quem proteja a entrada da área. Ao menos que o Jorge Mendes mostre os jogos da Selecção quando tentar vendê-lo;
Vertonghen: não confunda atuação de ferro com atuação à Ferro, SFF. No mais, tens estofo para dar alegria a toda a malta encarnada (ainda não sei se devo usar o adjetivo);
Grimaldo: saiu mal na foto quando foi tirado para dançar pelo Zivkovic, mas dança por dança as com o Cebolinha pela esquerda vão render quando o par estiver mais entrosado;
Taarabt: responda-me, Adel: se chegas à casa e a porta estiver fechada, tu corres e tentas abrir à força ou procuras por uma chave? Se não perceberes a analogia, não te preocupes, pois o mister também não entendeu (Rafa Silva: agradeço por não ter marcado o golo mais cedo para não dar esperanças falsas a toda a gente, Rafael Alexandre. Além do mais, se o Porto, que é o Porto, levou uma trepa do Krasnodar e depois descontou as frustrações em cima de nós, imagina o que nos aguardava? Deus nos livre! Em todo caso, é bom avisar ao mister que não és ponta de lança);
Weigl: Julian, Julian. Não sei o que pensar de ti
;
Pizzi: podias falar bem do Tino para o Jesus, Luis Miguel. Realces que ele é melhor que o Willian Arão, que é para o mister não andar com ideias ruins à cabeça. Já basta as de ontem;
Pedrinho: seria bom se disfarçasses essas olheiras de zumbi com alguma maquilagem para que os adversários parem de dar pancadas em ti. No mais, foi um começo bastante auspicioso do miúdo da 38 (Darwin: não consegui fazer nenhum trocadilho decente sobre a Teoria da Evolução e o Benfica. Por ora, isso não é possível, mas torço para que eu seja capaz em breve);
Seferovic/Carlos Vinicius: o primeiro perdeu um gol na frente do goleiro. O segundo, nem isso. Será que o RDT aceita voltar?   
Everton: imaginam os estragos que o Cebolinha causará na Liga dos Campeões 2021/2022?
Zivkovic: não é porque vestes outra camisola agora que não te incluo aqui, Andrija querido. O respeito que demonstraste ao não comemorares um gol que tirou-lhe um peso do tamanho da Sérvia de suas costas mostra que merecias pelo menos o mesmo respeito, que lhe negaram na última época com a águia ao peito. Bom, pelo visto, ainda veremos outros casos deste, como quando o Jota nos enfrentar por algum time inglês ou espanhol;
Jorge Jesus: ó, mister, agora que viste a bobagem que fizeste, é bom para ti que as coisas caminhem em bom plano para a próxima época. É isto ou terás que pedir desculpas à torcida do Flamengo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Suécia 0 x 2 Portugal - CR100 (101) e o jogo agridoce

Se não houve o brilho do todo, houve todo Cristiano Ronaldo

O que começou com uma pequena decepção ao ver a Selecção das Cinco Quinas toda de vermelho, terminou com a afirmação, como se precisasse, do tamanho do mito Cristiano Ronaldo. Não foi desta vez que o clássico equipamento dos calções verdes e camisolas vermelhas retornou. Da mesma forma, não vimos, em pleno, os quatro ases lusos juntos, já que Bernardo Silva saiu machucado antes dos 25 minutos.  


Não houve o mesmo futebol apresentado contra a Croácia porque Jan Andersson armou seu time com duas linhas de quatro muito próximas, eliminando o espaço na frente da área onde praticamente todo time português brincou de jogar bola contra os vice-campeões do mundo. Assim, Portugal tinha que buscar espaço onde tivesse, e normalmente havia nos corredores laterais. Sem um 9 fixo, porém, foram poucas as vezes em que a bola entrou na área de Olsen.   


O comando de ataque, inclusive, era uma das questões que estavam em suspenso até a bola rolar. Com Cristiano de volta, como seria o aproveitamento de João Félix? Voltaria a jogar aberto, como já fez ao lado de CR7, ou teria a mobilidade que teve na estreia da Liga das Nações? A resposta foi a melhor possível, mesmo quando Bernardo deu lugar a Gonçalo Guedes. Félix estava no centro quando roubou a bola no lance do gol 100. Foi ele, também, aberto na esquerda, que deu o passe para Cristiano definir o placar. Pouco antes, na bola na barra que Bruno Fernandes chutou, foi Gonçalo a estar na esquerda.


Também no meio, a solução passou pela mobilidade. Bruno Fernandes desceu à intermediária para ajudar João Moutinho na missão de achar passes quebradores de linha. E foi assim que começou o duelo entre Olsen e Cristiano Ronaldo, que seria o grande vencedor da noite com dois golaços, daqueles que figurarão em qualquer lista dos tentos mais bonitos dele a serviço das Quinas. 


O trabalho foi facilitado, é verdade, quando o atabalhoado Svensson acertou Moutinho na entrada da área e recebeu seu segundo amarelo. A partir daí, não bastasse o histórico golaço do gênio da Ilha da Madeira, o time sueco desmoronou e houve somente um time no campo da Friends Arena, que poderia ser chamada também de Arena Cristiano Ronaldo. 

 

Mas as sensações foram agridoces: o incômodo, com um a mais, pelo preciosismo dos lusos, sobretudo na fabulosa linha de frente, deu lugar ao deleite de ver a História sendo escrita com letras doiradas a partir do pé direito de Cristiano. O segundo, assistido por um cada vez mais maduro João Félix, foi um arco com classe e rapidez, como antevendo o desfecho do lance antes mesmo de ele existir, num jogo em que, pela superioridade numérica, 2 a 0 saiu quase de graça no palco onde Cristiano Ronaldo habitou-se a ser eterno.   


Se Fernando Santos descobriu como fazer render tanto talento junto, talvez como nunca houve mas terras de Camões, agora cabe a ele manter os pezinhos lusos na relva. Com as opções que tem, Portugal pode sim sonhar em expandir seu domínio europeu ao restante do mundo, porém, fica o alerta de que, desde a Olimpíada de 1928, sempre que se sentiu confortável demais, a vaca portuguesa deitou. 


Anthony Lopes: pode contar aos filhos e netos que esteve em campo no golo 100 de Ronaldo. Talvez seja sua única lembrança;
João Cancelo: não jogou tanto, mas estava em campo no golo 100 de Ronaldo;
Pepe: 
esteve em campo no jogo do golo 100 de Ronaldo;
Rúben Dias: 
esteve em campo no golo 100 de Ronaldo;
Raphaël Guerreiro: 
esteve em campo no golo 100 de Ronaldo. E jogou muito;
Danilo Pereira: 
esteve em campo no golo 100 de Ronaldo;
João Moutinho: melhor a cada dia no sistema de jogo da equipa de todos nós. É o dínamo do time, e, o mais importante: 
esteve em campo no golo 100 de Ronaldo. Ainda pode puxar dos galões de quem sofreu a falta que resultou no golo (Rúben Neves: entrou para aumentar o poder de marcação - e para estar em campo no jogo do golo 100 de Ronaldo);
Bruno Fernandes: a cada jogo que passa, torna-se mais relevante. Para completar, e
steve em campo no golo 100 de Ronaldo; 
Bernardo Silva: a lamentar, mais que a lesão, foi o fato de não estar
 em campo no golo 100 de Ronaldo (Gonçalo Guedes: troca-se um gajo do Seixal por outro criado no Seixal. Não tem como dar errado. Além do mais, o herói da Liga das Nações recebeu seu prêmio, que foi estar em campo no golo 100 de Ronaldo);

João Félix: contava quatro anos de idade quando CR7 marcou, contra a Grécia, seu primeiro gol pela Selecção, na abertura da Euro 2004. Porém, o entendimento foi tão grande entre eles que parecia que jogavam juntos desde então. Isso é quase tão importante quanto estar em campo no golo 100 de Ronaldo;

Cristiano Ronaldo: 101. Nada mais é preciso (Diogo Jota: substituiu o cara que tinha acabado de fazer história. Nada mau);

Fernando Santos: fez da seleção difícil de ser vencida uma equipa que encontra soluções com o que tem em campo. Mais que isso, é o técnico do jogo do golo 100 de Ronaldo;

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

BENFICA - a hora da verdade para Jorge Jesus


Já são menos de 30 os dias para que se conheça o fado do Benfica na Liga dos Campeões. Ou melhor, menos de um mês separa toda a gente da resposta para a pergunta que mais foi feita desde que Jorge Jesus aterrou em Portugal, de volta à Luz, em Portugal e no Brasil: o mister acertou ao deixar a idolatria que criou no Flamengo ao abraçar um novo desafio no futebol português?

Jorge Jesus não anda lá muito satisfeito com a falta de agressividade dos Encarnados no mercado. Afinal, o Flamengo era um tubarão na América do Sul e não tinha lá muitas dificuldades para atender os pedidos do treinador, coisa que não acontece para os lados do Cosme Damião, mesmo com o orçamento de €100 milhões à disposição para a montagem do elenco para atuar em grande em tantas quantas forem as provas na época que está para começar, sobretudo a Champions.

Não obstante haver tantos travões para seduzir os alvos de Jesus a oferecer o projeto desportivo no lugar dos milhões de euros em salários anuais, os dirigentes benfiquistas também não se desfazem dos jogadores excedentários. Se já não bastasse os nomes que já estavam no plantel e não continuarão, nomeadamente Carlos Vinícius, Seferovic, Jota e Cervi, ainda há os que retornam de empréstimo e que o clube tenta, sem sucesso por ora, colocar em outros clubes, que são os casos de Alfa Semedo, Ferreyra, Lema, Willock, Krovinovic, Fejsa e outros que andam aos treinos à parte.
Vendo malogradas as negociações por Cavani e até por antigos comandados no Mengão (o médio Gerson e o avançado Bruno Henrique), cujas multas indenizatórias impedem o Benfica de avançar, mesmo extrapolando o teto salarial a custo do pagamento de prêmios por assinatura, Jorge Jesus luta contra o relógio para montar uma equipa competitiva a ponto de discutir a eliminatória a sério com os gregos do PAOK de Abel Ferreira do próximo dia 15, em Salónica. E ainda haverá o Krasnodar, carrasco do FC Porto a esta mesma altura na época transata, pelo caminho que separa os cofres da Luz dos milhões da Champions.
Entre tantas dúvidas, a única certeza é que, se tombar antes de chegar à fase de grupos da Champions, o Benfica verá ainda mais limitado seu "poder de convencimento" e terá comprometido destarte seu projeto de reavivar a chamada “dimensão europeia”, aquela que Luís Filipe Vieira garantiu que recuperaria somente com o que floresce no Seixal e que, obviamente, mudou com a chegada de Jesus.
Basta saber se o nome do treinador será suficiente. Bem, ao cabo de setembro saberemos.

sábado, 5 de setembro de 2020

Portugal 4 x 1 Croácia - os campeões voltaram (com um uniforme feio, mas com um futebol bonito)

DE ENCHER OS OLHOS - se há dúvida quanto à beleza do equipamento, ela não existe quando a bola rola para os campeões de tudo o que é futebol na Europa (Foto: Fernando Veludo/Lusa)


A casa onde Portugal levantou seu último troféu, em meados do ano passado, recebeu os donos da Europa para dar início à defesa do título da Liga das Nações. Num 2020 atípico, o Estádio do Dragão parecia uma máquina do tempo, na qual estava a equipa que dominou completamente os holandeses em 2019 na final da primeira edição da prova. 


Até o equipamento de gosto extremamente duvidoso apeteceu-me. Tudo bem que os croatas não tinham Rakitić e Modrić, mas Portugal não tinha Cristiano, com uma infecção no pé. Só que, tal e qual fizera no histórico 9 de junho do ano transato, Fernando Santos deu liberdade para seus homens de frente e contou com a inspiração e a transpiração da dupla Danilo Pereira/João Moutinho, máquinas multifuncionais que prepararam o terreno para o brilho de Bruno Fernandes, João Félix, Bernardo Silva e Diogo Jota. E os laterais João Cancelo e Raphaël Guerreiro. 


Com Bernardo Silva a pisar pelo campo de ataque todo e Bruno Fernandes a ocupar os espaços que surgiam aos pés dos desesperados centrais Vida e Lovren quando João Félix, o falso 9 luso, deixava a área para dar apoio no setor menos numeroso de Portugal perante os cinco croatas que colocavam-se à frente do eixo central da defesa, além da potência física de um Diogo Jota endiabrado, que ajudava a empurrar ainda mais para trás os de Zlatko Dalić, estava criado o cenário perfeito para uma jornada das mais felizes.  


O jogo tornou-se fácil mesmo tendo todos os pormenores para o contrário: a bola que teima em não entrar, a baliza a diminuir, o guardarredes a agigantar-se, mesmo protegido pela sorte que protege a cidadela. Só na primeira parte foram três as vezes em que Livaković não bastou e, mesmo assim, o escore manteve o nulo. Até que Cancelo, um verdadeiro tormento para a vida de Barišić, resolveu tentar à força e já perto do intervalo marcou um golaço. Eram oito os oponentes entre o lateral e a baliza. Sem ter elementos de azul turquesa (!) desmarcados, resolveu levar para o meio e – catapimba! – soltou o sapato de onde deu, inapelável para o até então milagreiro goleiro croata.  


A lição de bola da primeira parte não foi aprendida pelo treinador croata, que manteve os 11 em campo e, pior, o sistema falho, debilitado pela estupefaciente movimentação dos homens de frente de Fernando Santos. Uma dúzia de minutos bastou para que Diogo Jota tabelasse na intermediária com Guerreiro, que aproveitou o recuo de Félix para encontrar o espaço que Lovren deixou ao perseguir o 23, e que foi aproveitado da melhor maneira pelo ponteiro do Wolverhampton para aumentar para 2 a 0 o placar e estrar-se a marcar pela equipa nacional. 


Tardiamente, Brozović e Perišić foram a campo para dar fôlego e clareza para um time completamente apagado, mas sem resolver a falta de proteção à frente da área defensiva. Mais uma dúzia de minutos e João Félix, finalmente, anotou seu primeiro golo a serviço das Quinas num chute violento da entrada da área, no mesmo espaço sempre aproveitado pelos lusos. Desta vez, com a colaboração de Livaković, que poderia ter feito coisa melhor do que deixar a bola passar sob seu corpo. 


Os minutos finais serviram para a estreia AA de Francisco Trincão para descansar Bernardo Silva. Sérgio Oliveira e André Silva também entraram. Já na compensação, na única falha lusa, Cancelo não dominou uma bola longa e permitiu que Perišić lhe tomasse o esférico e o lance terminasse no gol de Petković. Ainda houve tempo para André Silva, cria do Olival, desviasse a última bola do jogo após cabeçada do portista Pepe, numa jogada à Porto, mas com a participação de Bruno Fernandes. 


É verdade que o adversário foi mais mansinho que o estatuto permitia imaginar, mas há ali uma forma de jogar que faz com que os inúmeros talentos da melhor geração portuguesa desde a Geração de Ouro possam brilhar. O time difícil de ser batido, afinal, também sabe fazer gosto ao pé. 


E aos olhos de quem vê, mesmo com um uniforme tão feio. 


Anthony Lopes: ele e Cristiano Ronaldo foram os únicos espectadores da partida;
João Cancelo: começa a ganhar a disputa a três na lateral direita. Um assombro tamanho que nem lhe ralharam quando ofereceu o golo aos croatas;
Pepe: nem precisou mostrar os dentes aos contrários. Um dia atípico;
Rúben Dias: o futuro melhor zagueiro do mundo nem precisou desmanchar o penteado impecável;
Raphaël Guerreiro: perdoe pelas vezes em que pedi a volta do Coentrão;
Danilo Pereira: jogando em casa, o Comendador parecia estar enfrentando equipas frágeis, como o Benfica do Bruno Lage;
João Moutinho: ó, João Filipe, bates bem e jogas melhor ainda com o Bruno Fernandes (deu lugar a Sérgio Oliveira, já que o 7 de Portugal não pode ficar no banco o jogo todo);
Bruno Fernandes: aos 26 anos, é muito clara a felicidade de quem não precisará se apresentar em Alcochete ao cabo dos jogos da Selecção;
Bernardo Silva: abre quando tem que abrir, afunila quando é para afunilar. Se a perfeição em campo tem nome, chama-se Bernardo Mota Veiga de Carvalho e Silva (
entrou o Trincão para cumprir uma internacionalização AA e evitar ideias ruins, como se naturalizar espanhol daqui a alguns anos);
João Félix: entrou ao relvado um miúdo e saiu um homem feito, feliz pelo fim da virgindade (André Silva: um remate, um golo. Que grande avançado!);
Diogo Jota: outro a meter o gosto ao pé pela primeira vez. Sem Ronaldo em campo, pode marcar sem maiores embaraços);
Fernando Santos: ó, mister, continues assim e dou teu nome ao meu próximo cachorro.