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TÁ AMARRADO Numa noite em que quase nada deu certo, a derrota foi evitada num ressalto do segundo pênalti desperdiçado pelo Pizzi (Foto: Patricia de Melo Moreira/Getty) |
Calças de ganga é como são chamadas as calças jeans em Portugal. Perfeitas para quase todas as ocasiões, tanto que escrevo esta crônica de pós-jogo enquanto uso uma, não são recomendáveis quando se procura conforto em atividades que requerem liberdade de movimentos, como numa partida de futebol.
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Quem organizou este ranking pode atualizá-lo, incluindo no topo um tipo alemão que custou 20 milhões de euros, cujo nome é Weigl, e quem a veste é o time do Benfica.
Os sete pontos de vantagem para o Porto, que eram vistos na segunda jornada do returno, viraram dois de desvantagem em menos de um mês. E o mais impressionante é que o time de Sérgio Conceição não fez nada, além de vencer o confronto direto, para alcançar o topo. Pelo contrário: joga mal jogo sim, jogo também, vence mais pela fragilidade dos adversários do que pela própria força. E um desses adversários fracos é justamente o Benfica de Weigl, que jogou por 61 minutos no empate com o Moreirense.
O Benfica é um time lento, engessado, pouco inventivo e que depende ora da falta de competência dos oponentes, ora da fase de Vinicius (que parece ter virado o fio), ora da lucidez de Taarabt e dos lampejos de Pizzi ou Rafa, cada vez mais raros no previsível Benfica versão 2020, incapaz de explorar espaços entrelinhas.
Verdade seja dita, faltou um poucochinho de sorte aos tipos de vermelho no empate contra o Moreirense. Faltou Pizzi converter o pênalti dado de presente pela arbitragem quando estava 0 a 0 ou uma das inúmeras chances claras criadas ainda na primeira parte contra um adversário defensivamente medonho ter virado gol, como aconteceu nas últimas oito partidas deles, a contar também a de hoje.
Como também sobrou sorte quando, com 1 a 0 à frente, os de Moreira de Cónegos perderam a chance de matar o jogo nos pés de Pedro Nuno. Nem a arbitragem digamos simpática às cores encarnadas, com seus 10 minutos de compensação no segundo tempo, foi suficiente.
Bruno Lage, mesmo este escriba discordando de Cervi no banco por tanto tempo, não errou nas substituições, embora tenha matado o jogo pelo meio de uma vez por todas, mas as fez para desfazer as deficiências do 11 que iniciou o jogo. Afinal de contas, não se joga futebol com calças de ganga por 61 minutos, embora ela combine com os lenços brancos vistos novamente nas bancadas da Luz. Não deveriam nem tê-la comprado.
Vlachodimos: não pode fazer nada no gol e ainda foi a mancha que pode ter feito Pedro Nuno atirar ao lado um gol certo;
Tomás Tavares: sonhamos com o dia em que ele marque como apoia, mas o vimos a apoiar como marca;
Rúben Dias: ralhou com o árbitro após o golo de empate, quando ainda haveria mais sete (que viraram nove) minutos de acréscimos. Tens razão, Rúben. Ninguém merecia ver um jogo tão ruim por mais tempo;
Ferro: sair de campo sem cometer nenhuma bobagem deveria valer pontos. Seria raro, mas hoje teríamos somado mais um;
Grimaldo: mostrem ainda hoje as ações defensivas dele ao Napoli. Não teremos outros jogos assim;
Samaris: tomara que paguem a ele um adicional por ter que correr o dobro para compensar a presença de Weigl;
Weigl: "de acordo com o artigo 26 do CDC, quando o defeito é aparente, o prazo para reclamação é de 30 dias para produtos não duráveis e 90 dias para os duráveis, contados a partir da data da compra. Se o problema for oculto, os prazos são os mesmos, mas começam a valer no momento em que o defeito é detectado pelo consumidor". Tomara que a lei brasileira também seja aplicável em Portugal (entrou Dyego Sousa: quero acreditar que está a guardar o golo para o Jamor, mas precisamos para já, Dyego);
Taarabt: saiu para não ser infectado pelo futebol ruim de toda a malta que estava por perto (Jota: esteve melhor que qualquer outro avançado benfiquista, o que é preocupante);
Pizzi: todo trabalhador tem direito a ter dias ruins, Luis Miguel. Gostamos de ti porque não foges à responsabilidade, mesmo que o juízo recomende deixar a bola aos outros em noites escuras como a de hoje;
Rafa: olha, Rafael Alexandre, como quem não quer nada, veja se há uma caixinha de sugestões e meta lá um papelinho escrito assim: "comece com Cervi e me deixe entrar na segunda parte, mister (Cervi: se o Rafael Alexandre não fizer o recomendado, copie a letra dele e faças tu, Franquito. O mister nem vai notar);
Vinicius: quando eu perco alguma coisa, tento refazer o caminho para, quem sabe, achar. Podias fazer o mesmo, Carlos. Vai que achas a boa fase que perdeste;
Bruno Lage: aproveite que o próximo jogo é em Setúbal e já fique em casa, Mister. Digo isso em consideração pela campanha na época passada, pois se fosse aí por esta, que voltasses a pé a Setúbal. Que ninguém diga que sou intolerante.