sexta-feira, 13 de março de 2020

Gre-Nal 424 - uma estupidez

EM VEZ DE HISTÓRIA, VERGONHA Primeiro Gre-Nal da
Libertadores acabou nisso aí (Foto: Diego da Rosa)
Ontem o pau cantou no Gre-Nal 424, histórico Gre-Nal por ser o primeiro pela Libertadores. Ninguém afinou pra ninguém, todo torcedor raiz, de verdade mesmo, achou lindo. Soco no ar, chute por trás, esganadura. Quem ficou horrorizado é Nutella, é Enzo, é o caralho a quatro. O futebol respira, não é mesmo?


Não. O futebol agoniza. Ele respira quando os times são organizados. Respira quando há metodologia em campo. Respira, de verdade, quando há um projeto com início, meios e fins devidamente programados dentro da realidade de cada escudo. Respira mesmo é quando os dirigentes entendem que sem tempo, apoio, método e respeito pela instituição, o máximo que vai acontecer é conquistar algo sem a menor ideia de como fez. Anda a plenos pulmões quando um time não precisa vender o mando de jogo para honrar parte da folha salarial, inchada porque, se der merda, não é o deles que estará na reta.

Quando a imprensa perde dias a fio cobrando resultado com um mês de trabalho porque sim, o futebol, no máximo, arfa com dificuldade, ofega, arqueja.

O que os jogadores de Grêmio e Inter fizeram ontem foi dar razão a quem defende a torcida única, essa imbecilidade/atestado de incapacidade de quem deveria garantir a realização das partidas, seja dirigente de clubes, federações ou autoridades de segurança. Foi dar sentido ao discurso de quem vê desrespeito quando o time que desceu de divisão é alvo de chacota.

Isso não é futebol.

O Gre-Nal foi vergonhoso, uma ode à rivalidade cega, ao ódio, à intolerância. Foi uma estupidez.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Quem te viu, quem te vê, meu Palmeiras

*por João Gabriel Falcade

DO POVO PARA O POVO (Foto: Movimento Ocupa Palmeiras)

Tocava Chico...

Você era a festa mais bonita do pré, você era mestre sala enquanto eu portava a nossa bandeira, as nossas cores. Hoje, a gente nem se olha, nem se fala, mas a minha festa por você continua. Esse aqui não é um poema de Chico Buarque, mas é uma lamentação dolorida, ainda que sem ditadura, mas sob censura, sob protesto, sob tristeza e com bastante saudade. 

Saudades da rua, saudades da festa, saudade do bloco que não é de carnaval, mas é com todo mundo usando verde, branco, boné, bandeira e percussão. Saudades tenho porque te vi, dias e dias, te senti, vezes e vezes, mas e quem não pode mais te conhecer e ver pra crer nas belezas que contamos? É fantasia? Delírio? É lembrança de um tempo que virou música. De quem te conhece, mas não consegue reconhecer. 

Você só faz festa, e dá amor, onde eu não sou convidado. Dá chá e dá atenção onde vale o tostão que não tenho. Ficamos distantes, de cara pro ferro, de peito na grade, cheirando cavalaria, pisando no minado, com arma apontada pra testa. Que dó da festa. 

Hoje em dia passo pelo seu portão, dou a volta na sua casa, esbarro no seu preço. Que não é o meu valor. Não são meus meios, mas segue sendo minha vida. Me embalava nos seus dias de tensão, sonhava em te ver, mas hoje é só sonho, é só na imaginação. Paro mesmo, e sempre, é no portão.

Faço de conta que sou turista, só posso chegar quando a boca, e a rua, são livres. Não posso atender seu nível, sua classe e sua cor. Sou seu povo, aquele das antigas, mas sigo com o mesmo amor. Você ainda não me aceita na sua casa nova, seu tapete de veludo, mas saiba, meu Palmeiras, por você eu sigo dando meu mundo. 

Abaixa teu preço. Libera tua rua. Me chama de volta. Eu amo mesmo é você. Hoje o verde saiu procurando você.

Quem te viu, quem te vê,  Palmeiras.

Tum dum dum tim dum dum tim dum!

*João Gabriel é um filho da turma do amendoim, crente que a música é a solução pro mundo e que nada supera uma tarde de arquibancada. Escreve sobre o que sente e analisa reality show nas horas vagas. Sobrevive vendendo pães.


domingo, 8 de março de 2020

Vitória de Setúbal 1 x 1 Benfica - todos, menos o Benfica

1/4 Até o "relvado" do Bonfim a
conspirar (Foto: Gualter Fatia)
Escrever sobre jogos de futebol nem sempre é uma tarefa das mais fáceis, sobretudo quando os jogos levam o cronista a ter a mesma impressão ao fim deles. Como não ser repetitivo se o futebol apresentado o é?

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Benfica 1 x 1 Moreirense - calças de ganga, lenços brancos e (mais) uma noite para ser esquecida


É o que aconteceu novamente ao Benfica. No Bonfim, um time apático, previsível e com uma pequena dose de azar voltou a perder pon
tos, prejuízo levemente amainado pelo tropeço do Porto no Dragão. Menor dos males, a vantagem azul e branca segue sendo de um ponto.

Bruno Lage até mandou a campo uma equipa mexida no 11, com Samaris e Taarabt à frente dos centrais, Cervi de início e Chiquinho como homem mais próximo de Vinicius, o que teoricamente serviria para deixar mais protegida a defesa encarnada sem fazer com que o time deixasse de criar.

Só que não foi bem assim. E não foi porque o Benfica apresenta o problema crônico de não saber jogar entrelinhas quando precisa explorar o espaço entre os setores do adversário, nem quando precisa defender os seus. E quase todo mundo já percebeu isto, além da fase desgraçadamente ruim de Chiquinho, mas, para além de nomes, o problema benfiquista parece estar na postura e na pouca variação de soluções que vem sendo apresentada.

Júlio Velásquez armou o Vitória para sair jogando curto, com o goleiro Makaridze, aquele que preferia perder todos os jogos se isso significasse não perder ao Benfica, a participar ativamente do jogo, e com seus setores o mais próximo quanto fosse possível. Nem precisava, dada a lentidão com a qual o time de Lage chegava ao campo ofensivo.

Essa demora acontece porque os movimentos dos de Lisboa já são conhecidos, mapeados pelos oponentes e fáceis de serem neutralizados pela pouca variedade existente de um jogo apoiado desde trás, mas sempre pelos mesmos caminhos.

Foram 45 minutos de monotonia, diferentemente do segundo tempo, que começou com Samaris a perder uma dividida no socorro a Grimaldo. Pizzi que deveria cobrir o grego, deixou Carlinhos livre para penetrar, dominar e bater na saída de Vlachodimos, até ali um espectador de dentro do relvado.

A vaca encarnada só não deitou porque não tardou o gol de empate, em pênalti bem cobrado pelo capitão. Com Rafa já no lugar de um lamentável Chiquinho e os setores mais próximos, foram 15 minutos de um time senhor do jogo, veloz, com passes buscando o espaço entre os setores do time da casa e o segundo golo parecia questão de tempo. Taarabt levou meio time no peito e achou Vinicius, mas o avançado estava impedido e o gol não valeu. Depois, Artur Jorge esteve com a mão no sítio errado, no momento menos apropriado. Mas mais desfavorável ainda foi a prestação de Pizzi, que mudou o lado da batida e falhou o terceiro pênalti nos últimos dois jogos.

A essa altura, Rafa, Dyego Sousa e Weigl já estavam em campo e o Benfica novamente tinha o desenho que tornou-se habitual quando é preciso fazer o golo e o relógio já não dispõe de muitas voltas: dois avançados, um extremo a jogar mais aproximado a eles e três médios, mas sem resultados práticos dos mais notáveis.

Ao fim e ao cabo, é verdade que Pizzi perdeu três das últimas quatro grandes penalidades, mas não se pode tapar os olhos para o fato de que um time cujo plantel é tão superior ao adversário, ao menos no papel, não pode hipotecar seus resultado à sorte de um pênalti convertido em gol.

É preciso mais. Como também é preciso dizer que Makaridze, mais do que qualquer sadino, não perdeu para a única equipa que não admitia perder. E sem grandes truques. Bastou seu time copiar os outros e ter a sorte dos últimos.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Memórias de uma tragédia que o tempo não apagou - o colapso da ponte de Castelo de Paiva

A PONTE EM COLAPSO (Rui Duarte Silva)
As chuvas que devastaram o litoral sul de São Paulo no início desta semana me trouxeram à lembrança uma tragédia que, coincidentemente, aconteceu no início de março, mas em Portugal: a queda da Ponte Hintze-Ribeiro, ou a ponte Castelo de Paiva - Entre-Os-Rios, que deixou marcas também na minha família.

No dia 4 de março de 2001, em Aveiro, Portugal, a ponte que ligava Castelo de Paiva e Entre-Os-Rios desabou, matando 53 pessoas que estavam num ônibus, mais seis que caíram logo atrás. Quase 60 vidas engolidas pelas águas porque a ponte, construída 116 anos antes para a passagem de cavalos e bois, não suportou o tráfego pesado de duas mãos em seus seis metros de largura. Segundo minha tia Ana Ferreira, o motorista do ônibus era um primo nosso, Helder. Amigos do meu avô (nove pessoas da mesma família) também desapareceram nas águas do Douro, agitadas por causa da tempestade que caia sobre Castelo de Paiva naquela noite.

Ainda de acordo com minha tia, o irmão de um tio nosso perdeu o neto; uma moça, cujo corpo foi resgatado abraçando o seu bebé, trabalhava com nossas primas.



Fatalidade? Incúria, desprezo à vida. A ponte Hintze-Ribeiro, político que a encomendou e que, posteriormente, foi primeiro-ministro de Portugal, necessitava de reformas nas estruturas. Não aconteceram.

Jorge Coelho, ministro do Equipamento Social, demitiu-se na mesma noite. Integrantes da Junta Autónoma de Estradas, que sabiam da precariedade do equipamento, foram absolvidos cinco anos depois, quando a comoção já havia transformado vidas perdidas em estatística.

Para esse tipo de políticos e servidores, que se servem do povo quando deveriam servir ao povo, pontes, ruas e prédios servem para lhes render homenagem. Se cair, paciência. Pedem desculpas, respondem um processo e contam com a memória curta de toda e vida que segue. Ao menos as deles seguem, pois nem dignidade sobra a quem fica.

Dos 59 corpos tragados pelo Douro, somente 20 foram localizados, deixando o luto incompleto a quem não pode sequer enterrar seus mortos, dentre eles o primo Helder. Vão- se os entes, fica a esperança de um dia aparecerem, como que por milagre, e nem precisa ser sebastiano para isso.

Desde 2003 há no local o Anjo de Portugal, uma estátua de bronze que pesa 12 toneladas, uma para cada um dos seus 12 metros de altura, e que tem 59 castiçais na base, nos quais são acesas 59 velas todo dia 4 de março, além dos nomes das 59 vítimas. Era melhor haver respeito, pois assim não haveriam castiçais ou velas. Nem as mortes.

Pós Edit>> Lendo uma matéria de 2015 do expresso.pt, vi que, passados tantos anos da morte do primo, seu quarto segue intacto e seus pais dormem nele todos os dias, como uma espera em vão por quem nunca vai chegar.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Benfica 1 x 1 Moreirense - calças de ganga, lenços brancos e (mais) uma noite para ser esquecida

TÁ AMARRADO Numa noite em que quase nada deu certo, a derrota foi evitada num ressalto do segundo pênalti desperdiçado pelo Pizzi (Foto: Patricia de Melo Moreira/Getty)

Calças de ganga é como são chamadas as calças jeans em Portugal. Perfeitas para quase todas as ocasiões, tanto que escrevo esta crônica de pós-jogo enquanto uso uma, não são recomendáveis quando se procura conforto em atividades que requerem liberdade de movimentos, como numa partida de futebol. 


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Benfica 3 x 3 Shakhtar - escolhas, fragilidades e lenços brancos


Quem organizou este ranking pode atualizá-lo, incluindo no topo um tipo alemão que custou 20 milhões de euros, cujo nome é Weigl, e quem a veste é o time do Benfica. 

Os sete pontos de vantagem para o Porto, que eram vistos na segunda jornada do returno, viraram dois de desvantagem em menos de um mês. E o mais impressionante é que o time de Sérgio Conceição não fez nada, além de vencer o confronto direto, para alcançar o topo. Pelo contrário: joga mal jogo sim, jogo também, vence mais pela fragilidade dos adversários do que pela própria força. E um desses adversários fracos é justamente o Benfica de Weigl, que jogou por 61 minutos no empate com o Moreirense. 

O Benfica é um time lento, engessado, pouco inventivo e que depende ora da falta de competência dos oponentes, ora da fase de Vinicius (que parece ter virado o fio), ora da lucidez de Taarabt e dos lampejos de Pizzi ou Rafa, cada vez mais raros no previsível Benfica versão 2020, incapaz de explorar espaços entrelinhas.

Verdade seja dita, faltou um poucochinho de sorte aos tipos de vermelho no empate contra o Moreirense. Faltou Pizzi converter o pênalti dado de presente pela arbitragem quando estava 0 a 0 ou uma das inúmeras chances claras criadas ainda na primeira parte contra um adversário defensivamente medonho ter virado gol, como aconteceu nas últimas oito partidas deles, a contar também a de hoje. 

Como também sobrou sorte quando,  com 1 a 0 à frente,  os de Moreira de Cónegos perderam a chance de matar o jogo nos pés de Pedro Nuno. Nem a arbitragem digamos simpática às cores encarnadas, com seus 10 minutos de compensação no segundo tempo, foi suficiente. 

Bruno Lage, mesmo este escriba discordando de Cervi no banco por tanto tempo, não errou nas substituições, embora tenha matado o jogo pelo meio de uma vez por todas, mas as fez para desfazer as deficiências do 11 que iniciou o jogo. Afinal de contas, não se joga futebol com calças de ganga por 61 minutos, embora ela combine com os lenços brancos vistos novamente nas bancadas da Luz. Não deveriam nem tê-la comprado.

Vlachodimos: não pode fazer nada no gol e ainda foi a mancha que pode ter feito Pedro Nuno atirar ao lado um gol certo;
Tomás Tavares: sonhamos com o dia em que ele marque como apoia, mas o vimos a apoiar como marca;
Rúben Dias: ralhou com o árbitro após o golo de empate, quando ainda haveria mais sete (que viraram nove) minutos de acréscimos. Tens razão, Rúben. Ninguém merecia ver um jogo tão ruim por mais tempo;
Ferro: sair de campo sem cometer nenhuma bobagem deveria valer pontos. Seria raro,  mas hoje teríamos somado mais um;
Grimaldo: mostrem ainda hoje as ações defensivas dele ao Napoli. Não teremos outros jogos assim;
Samaris: tomara que paguem a ele um adicional por ter que correr o dobro para compensar a presença de Weigl;
Weigl: "de acordo com o artigo 26 do CDC, quando o defeito  é aparente, o prazo para reclamação é de 30 dias para produtos não duráveis e 90 dias para os duráveis, contados a partir da data da compra. Se o problema for oculto, os prazos são os mesmos, mas começam a valer no momento em que o defeito é detectado pelo consumidor". Tomara que a lei brasileira também seja aplicável em Portugal (entrou Dyego Sousa: quero acreditar que está a guardar o golo para o Jamor, mas precisamos para já,  Dyego);
Taarabt: saiu para não ser infectado pelo futebol ruim de toda a malta que estava por perto (Jota: esteve melhor que qualquer  outro avançado benfiquista, o que é preocupante);
Pizzi: todo trabalhador tem direito a ter dias ruins,  Luis Miguel. Gostamos de ti porque não foges à responsabilidade, mesmo que o juízo recomende deixar a bola aos outros em noites escuras como a de hoje;
Rafa: olha, Rafael Alexandre, como quem não quer nada, veja se há uma caixinha de sugestões e meta lá um papelinho escrito assim: "comece com Cervi e me deixe entrar na segunda parte, mister (Cervi: se o Rafael Alexandre não fizer o recomendado, copie a letra dele e faças tu, Franquito. O mister nem vai notar);
Vinicius: quando eu perco alguma coisa, tento refazer o caminho para, quem sabe, achar. Podias fazer o mesmo, Carlos. Vai que achas a boa fase que perdeste;
Bruno Lage:  aproveite que o próximo jogo é em Setúbal e já fique em casa, Mister. Digo isso em consideração pela campanha na época passada, pois se fosse aí por esta, que voltasses a pé a Setúbal. Que ninguém diga que sou intolerante.