segunda-feira, 9 de março de 2020

Quem te viu, quem te vê, meu Palmeiras

*por João Gabriel Falcade

DO POVO PARA O POVO (Foto: Movimento Ocupa Palmeiras)
Tocava Chico...

Você era a festa mais bonita do pré, você era mestre sala enquanto eu portava a nossa bandeira, as nossas cores. Hoje, a gente nem se olha, nem se fala, mas a minha festa por você continua. Esse aqui não é um poema de Chico Buarque, mas é uma lamentação dolorida, ainda que sem ditadura, mas sob censura, sob protesto, sob tristeza e com bastante saudade. 

Saudades da rua, saudades da festa, saudade do bloco que não é de carnaval, mas é com todo mundo usando verde, branco, boné, bandeira e percussão. Saudades tenho porque te vi, dias e dias, te senti, vezes e vezes, mas e quem não pode mais te conhecer e ver pra crer nas belezas que contamos? É fantasia? Delírio? É lembrança de um tempo que virou música. De quem te conhece, mas não consegue reconhecer. 

Você só faz festa, e dá amor, onde eu não sou convidado. Dá chá e dá atenção onde vale o tostão que não tenho. Ficamos distantes, de cara pro ferro, de peito na grade, cheirando cavalaria, pisando no minado, com arma apontada pra testa. Que dó da festa. 

Hoje em dia passo pelo seu portão, dou a volta na sua casa, esbarro no seu preço. Que não é o meu valor. Não são meus meios, mas segue sendo minha vida. Me embalava nos seus dias de tensão, sonhava em te ver, mas hoje é só sonho, é só na imaginação. Paro mesmo, e sempre, é no portão.

Faço de conta que sou turista, só posso chegar quando a boca, e a rua, são livres. Não posso atender seu nível, sua classe e sua cor. Sou seu povo, aquele das antigas, mas sigo com o mesmo amor. Você ainda não me aceita na sua casa nova, seu tapete de veludo, mas saiba, meu Palmeiras, por você eu sigo dando meu mundo. 

Abaixa teu preço. Libera tua rua. Me chama de volta. Eu amo mesmo é você. Hoje o verde saiu procurando você.

Quem te viu, quem te vê,  Palmeiras.

Tum dum dum tim dum dum tim dum!

*João Gabriel é um filho da turma do amendoim, crente que a música é a solução pro mundo e que nada supera uma tarde de arquibancada. Escreve sobre o que sente e analisa reality show nas horas vagas. Sobrevive vendendo pães.


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