sexta-feira, 26 de abril de 2024

PORTUGUESA - O Dia do Cárcere

ÓDIO GENUÍNO Javier Castrilli tirou a Portuguesa da final
 do Paulistão de 1998 (Alex Ribeiro/Folhapress)

Nutro por Javier Castrilli um ódio tão genuíno que quase torna-se respeitoso, íntimo. Não sei sua idade, tampouco seu nome completo ou sua profissão. Não sei se é ou foi um bom filho, se tem irmãos, se é um bom avô, sequer se tem netos. Será que seus netos, caso existam, o chamam de Abuelito Javi? Não sei. Deve ser um bom avô.

Não conheço suas preferências políticas, se apoiou as torturas em meio à escandalosa Copa de 1978. Não faço ideia sobre o que ele pensa sobre a Asociación Madres de la Plaza de Mayo. Vibrou com a Guerra das Malvinas? Apostaria que sim, mas não sei.

Só o que sei é que pelo menos uma vez por ano me vem à mente aquele 26 de abril de 1998. É um looping eterno, no qual me recordo que ele tirou da gente a última chance de disputar uma final de um campeonato de elite ao marcar um pênalti obsceno no último minuto do segundo jogo da semifinal entre Portuguesa e Corinthians. Ganharíamos? Ninguém sabe. O que ninguém discute é que aquele time, com Evair, Alexandre, César, Leandro e tanta gente boa, era ótimo. E daria jogo na decisão.

Se o dia 25 de abril é o Dia da Liberdade (em Portugal), o dia 26 de abril de 1998 é o meu Dia do Cárcere. Desde aquele dia, estou preso no ódio a Javier Castrilli, que deve ser um bom avô.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Pílulas amadoras - 11

por Humberto Pereira da Silva*

LO DE SIEMPRE? Flamengo perdeu com o Bolívar e
Tite foi criticado (Marcelo Cortes/Flamengo)

Nos anos recentes, a Libertadores tornou-se uma espécie de Copa do Brasil com os melhores do Campeonato Brasileiro. Mas trata-se de uma Copa do Brasil com peculiaridades, como fazer jogos-treino com equipas latino-americanas. 

Esses treinos oficiais, certo, às vezes em situações bem peculiares. Jogar em altitudes próximas dos 4 mil metros, por exemplo. É de fato uma competição bem peculiar. A cobertura que a imprensa dá às equipes sul-americanas não é diferente da que daria a uma equipa do planeta Marte. E, por isso, a cara de espanto quando um desses supostos sparrings se dá bem. No ano passado, se bem me lembro, algum incauto jornalista sugeriu que perder para o Aucas na estreia seria uma vergonha para o todo-poderoso rubro-negro. E perdeu. 

Ontem, o Palmeiras jogou no Equador contra o Independiente Del Valle. O Flamengo foi ter com o Bolívar, na Bolívia. Como estão Del Valle e Bolívar em seus respectivos nacionais? Aliás, como são disputados os campeonatos no Equador e na Bolívia? De onde é o Aucas, a propósito? Bem, bem, hoje, se eu fizer um esforcinho de memória, decorarei até a escalação do Al-Hilal e do Al-Nassr.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Pílulas amadoras - 10

por Humberto Pereira da Silva*

DESGASTE DO MURO De herói a bode expiatório, Cássio vive
tempos turbulentos no Corinthians (Reprodução)

Há quem diga que Cássio é o melhor goleiro da história do Corinthians. Eu vi, na seleção, Ado, vi Carlos, vi Leão, vi Waldir Peres, vi Dida. Não vi Gylmar. Aqui todos, inclusive Cássio, passaram pela equipe nacional em copas do mundo. Acho que Cássio está entre os melhores dos melhores. 

O Corinthians vive HOJE um dos momentos mais horrorosos dos últimos anos, que igualmente são pouco gloriosos. E Cássio, herói e campeão do mundo pelo Timão, desperta HOJE ira da torcida, é tomado como vilão.

Cássio, após derrota na Sul-americana para o desfalcado Argentinos Juniors, desabafou: "Se sou culpado, melhor sair". Dessa declaração, destaco:

1. Cássio está de saco cheio, a ponto de explodir. Conveniências contratuais e outros motivos e ele dificilmente vai explodir;

2. Cássio tem memória. Sabe que há quem diga que é o melhor goleiro que já jogou no Corinthians. Sabe que o Corinthians foi campeão do mundo com ele pegando até vento.

Se Cássio sucumbir, sairá definitivamente pela porta dos fundos, como vilão. E dificilmente ficaria numa prateleira entre os melhores. Esse cenário seria bom para o Corinthians. Teria um bom bode expiatório. 

Se Cássio não explodir. Bem... Cássio usa o condicional para não perder grana, para não ser enquadrado em abandono de emprego. 

Resumo: com a declaração, Cássio não é mais jogador do Corinthians. Cumpriria contrato. 

Na situação do Corinthians HOJE, ter Cássio é o pior cenário, num cenário já medonho. Quando tudo está ruim, sempre se pode pensar no pior. E HOJE parece haver uma aposta no Corinthians: ver onde está o fundo do poço. 

Adendo 1: no Rio, Vasco e Botafogo têm flertado com o fundo do poço. Em Minas, mais recentemente, o Cruzeiro. Em São Paulo, dos "grandes", mesmo o Santos na segunda divisão, o Corinthians para mim é o mais forte candidato a ex-grande. 

Adendo 2: e Cássio? Para mim um dos grandes goleiros na história. Defeito? Ser fiel ao Corinthians. Sua fidelidade e como presente um final de carreira melancoóico. Palmas para a Fiel. 

HOJE, para mim, o glorioso Corinthians se apequena diante do literalmente grande Cássio.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pílulas amadoras - 9

por Humberto Pereira da Silva*

 QUEM SEGURA? Sem apoio de lado algum, o rolar da cabeça
de Thiago Carpini é uma questão de tempo (Foto: Getty)

A eventual queda de Thiago Carpini exibe o quanto há de esdrúxulo nas decisões de um grande time no futebol brasileiro. Não é cabível imaginar que pessoas com o mínimo de inteligência e que ocupam a direção de São Paulo não tivessem diagnóstico das dificuldades do treinador para conduzir a equipa no Brasileirão. Mas,  passada a primeira rodada, e um primeiro fiasco contra o Fortaleza, e Carpini incrivelmente não é técnico pra um time como o São Paulo. 

Nessa "não é técnico para time do tamanho do São Paulo, o esdrúxulo. Ao demitir o técnico que podia ser demitido na véspera do Brasileirão, e assim com o técnico novo PLANEJAR a temporada, a diretoria do São Paulo acena com técnico novo passada apenas a primeira rodada. Nesse aceno, HOJE, o tamanho do São Paulo. O tamanho do técnico que foi contratado. Ou seja, Hoje, sem qualquer planejamento, um time que começa o Brasileirão com todas as incertezas possíveis. Como qualquer outro time que pulou da Série B e que, após duas ou três rodadas, troca o técnico para desviar a atenção da torcida e imprensa para a inevitável volta à Segunda Divisão.

PS. Alertou-me o editor deste blog, Marcos Teixeira, que há um ano a mesma diretoria demitiu Rogério Ceni logo depois da primeira rodada do Brasileirão. Vinha de uma eliminação precoce no Paulista, para o Água Santa, e o nível de atuações não subiu mesmo com os treinos entre a queda no Paulista e o debute no nacional. Nem a vitória na Sul-americana, contra o Puerto Cabello da Venezuela, manteve o treinador. 

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo