segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 6

*por Humberto Pereira da Silva

Reprodução - Youtube

Passada a data FIFA, e a seleção... volta o Brasileirão com contas e tabelas finalmente ajustadas. Jogos com atenção para a parte de cima e a de baixo na tábua de classificação. 

Na parte de baixo uma fixação, que mistura crença, superstição, matemática e certa preguiça mental: quem fizer 45 pontos não cai. Seguindo esse "número mágico", o Fortaleza na 12ª posição, com os tais 45 pontos, não mais correria risco de cair... 

Não consigo imaginar todos os cruzamentos nas rodadas finais. Mas nas próximas rodadas se o Bahia perder e, vendo a tabela, o Fortaleza só cai se levar solenes goleadas... E ainda há o Cruzeiro, que complementa a rodada medindo [o que sobrou das] forças com o desesperado Goiás.

"Matematicamente", sim, o Fortaleza pode ser alcançado pelo Bahia. O São Paulo com 46 pontos também...

Cruzando todos os resultados possíveis é o caso de dizer que o Fortaleza ainda corre risco porque não atingiu o "número mágico? Ora, tendo superado o dito cujo, o Tricolor paulista sendo superado por Bahia e/ou Cruzeiro "matematicamente" não corre risco numa combinação maluca de resultados?

É preciso pôr no papel TODAS as combinações possíveis de resultados nas rodadas ainda vindouras para saber se ele, São Paulo, ainda pode cair, pois "matematicamente"... ainda pode ser alcançado por quem está, como dizem em algures e alhures d'além mar, abaixo da linha d'água. 

Quero dizer com isso que quando se fala em "número mágico" é preciso efetivamente fazer contas. Num campeonato com resultados tão surpreendentes, vejamos como foi a rodada 35. A goleada do Bahia sobre o Corinthians, além de Vasco, Santos, Inter e Fortaleza pontuando, e São Paulo x Cuiabá deixou de ser mero cumprimento de tabela. 

A campanha do Botafogo no segundo turno [n.e: 15 de 48 pontos] deve servir de lição para que uma expressão como "número mágico" não seja entendida literalmente: um número... mágico. Por óbvio, onde há mágica, não há matemática.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 5

*por Humberto Pereira da Silva

Foto: Gabriel Machado/AGIF/Folhapress

Como é óbvio, gosto muito de futebol e acho muito legal mesmo escrever, conversar sobre o assinto. mas os acontecimentos desse final de semana me desanimaram um bocado. Coritiba x Cruzeiro no final aquela briga entre torcidas; depois, Grêmio x Corinthians e o Alessandro, ex-jogador e atual ocupante de cargo de diretor do Corinthians, tenta invadir a sala do VAR [nem era onde estava o árbitro auxiliar, mas o equipamento...]

É desanimador. Ao longo do campeonato outras cenas se somam. De qualquer forma, terminada a rodada e só o Palmeiras (62) se saiu bem. Entre os que estão envolvidos diretamente com o título, foi o único que ganhou. O Atlético Mineiro (57), um pouco abaixo, ganhou e tem chance, mas acho difícil, pois tem só quatro jogos a realizar. O Flamengo (57) se complicou com o empate no Fla-Flu, mas com cinco jogos, virtualmente está a dois pontos do Palmeiras. A diferença de um jogo, uma rodada, e muita coisa muda. E ainda há a Data FIFA à mistura.

Sobre o Palmeiras? Se eu fosse palmeirense, ficaria bem apreensivo. Acho que essa é a temporada mais inconstante da era Abel. Não dá para confiar e deve perder pontos nessa reta final, mas os concorrentes também. Como diz a malta da terra de onde veio parte da família do Marcos Teixeira, editor deste blog e meu ex-aluno na faculdade, ao fim e ao cabo o campeão será... como o Flamengo em 2020, por demérito dos concorrentes. Ou então porque calhou de estar na liderança ao fim da última rodada.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

sábado, 11 de novembro de 2023

Pílulas amadoras - 4

 * por Humberto Pereira da Silva

Foto: Reprodução/Botafogo TV

Com os resultados da rodada, dá para cravar: o Botafogo e um caso (case, para brincar com anglicismo). Caso, bem entendido, que valeria ser SEMPRE lembrado não tanto em razão da derrocada espantosa no segundo turno do Brasileirão, mas sim como foi possível a campanha do primeiro turno. 

Como foi possível a um time que até o início do Brasileirão não revelar qualquer indício de favoritismo num campeonato tão equilibrado ter desequilíbrio como desequilibrou? O que me vem é o notável absurdo de praticamente ninguém ter questionado haver algo fora da ordem na campanha do primeiro turno. 

O caso Botafogo faz pensar duas coisas no calor da hora. Num campeonato longo uma equipe não se monta de uma hora pra outra, do nada, para manter regularidade até o fim. Outra coisa: futebol brasileiro há variáveis e variáveis que não podem ser subestimadas. O interesse no Brasileirão é fortemente condicionado por exemplo pelo envolvimento das equipes da Libertadores, na Copa do Brasil... é só olhar a tabela e vermos o de estão o Flu e o São Paulo. 

Essa é tão só UMA variável. Mas que para mim dá um tanto de sentido para explicar o case Fogão.

*Humberto Pereira da Silva é professor de Ética no Jornalismo.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

BENFICA - a noite das vergonhas europeias



Prostrado. Humilhado. Vergado. Não faltam adjetivos para descrever a terrível prestação benfiquista nesta edição da Liga dos Campeões, mas poucas vezes se viu em campo uma equipa tão vulgar, indigente. Ainda mais considerando que este espantalho em forma de time de futebol - ou seria o contrário? - carrega no peito três estrelas, cada qual para uma dezena de títulos nacionais, e a reputação histórica de ser bicampeã europeia, além de outras finais disputadas antanho.

Lá se vai muito tempo, sei, desde que a maldição de Béla Guttmann caiu sobre a cabeça dos avaros dirigentes encarnados, mas nada faria supor que depois da magnífica demonstração de como jogar futebol vista na temporada passada, um rascunho formado por 11 jogadores estaria a vestir a mesma camisola.

A noite no Anoeta foi de estarrecer, de petrificar, de fazer corar de vergonha o mais pessimista dos portugueses. E olhe que falo de uma característica praticamente inata ao povo português, ainda mais quando há do outro lado 11 gajos a representar o futebol espanhol e uma bola no meio. 

A Bola, maior jornal da Terrinha dedicado ao chamado desporto rei, fez uma compilação do que os jornais da Espanha disseram. A ver:

As:
"O Benfica, um brilhante bicampeão europeu, ajoelhou-se diante de uma Real Sociedad avassaladora, o que lhe deu uma lição histórica. Um banho frente a um rival que nada disse (...) O volume do seu futebol foi tão grande que rompeu os tímpanos dos lisboetas. Do aquecimento até o último apagão, foi um turbilhão que marca a época"

"Defensivamente, a equipa vermelha nem sabia para onde se virar. O Benfica ficou mumificado, era um fóssil, a agonia levou-o para uma caverna do horror. Para isso contribuiu o seu treinador, que colocou Neves na lateral, algo para o qual não está preparado, e deu a Barrenetxea uma pista para brilhar. Um cervo a dormir a sesta era mais assustador do que essas águias comidas por traças. (…) Neves foi um espectador na primeira fila. O que fazia ali o pobre rapaz?"

Sport:
"Exibição, banho, 'masterclass' de futebol, inúmeras qualificativos que demoraríamos mais tempo a procurar do que o Real levou para vencer um campeão da Europa e de Portugal como o Benfica. Parecia um jogo de profissionais contra juniores numa meia hora mágica e histórica, daquelas raramente vistas no mundo do futebol."

De certo, o leitor há de perdoar a reprodução do que parte da imprensa espanhola viu e disse, mas peço que notem o respeito para com o distintivo humilhado: 'brilhante campeão europeu", que venceu Barcelona em 1961 e, já com Eusébio, o mítico Real Madrid em 1962. Dois distintivos já enormes. O Barça com Ramallets, Evaristo de Macedo, Luis Suárez e os magiares Czibor, Kocsis e Kubala; o Real Madrid, pentacampeão, com Puskás, Di Stéfano, Santamaria e Gento.

Aquele Benfica, de Germano, Cavém, Simões, Coluna, José Augusto, José Águas e Eusébio, que mantém a reputação encarnada imaculada, nada tem a ver com este apanhado vulgar de jogadores de vermelho que ao cabo de meia hora já perdiam por 0-3, fora os dois gols anulados e o pênalti desperdiçado. O placar foi condescendente demais para a pobreza e absoluta falta de argumentos levada pelos de Schmidt a San Sebastián.

Há muito trabalho pela frente e o primeiro passo é admitir o fracasso do projeto de equipa levado a campo para esta temporada, seja com três centrais e Florentino a ter que varrer tudo sozinho e João Neves como extremo e presa fácil e entregue a Barrenetxea, que fez com ele o que quis, como quis e quando quis; seja com a linha de três médios e um avançado solo que não pressionam e deixam tudo a estoirar nos de trás, ora Florentino, ora Kokçü. Gastou-se quase 60 milhões de euros em reforços até aqui desnecessários e não há um lateral direito de raiz para colmatar as ausências de Bah pelas agruras físicas, tampouco um do outro lado que minimamente mimetize o que fazia Grimaldo, perda já cantada com um ano de antecedência. Seu substituto é Jurásek, o defesa mais caro da história do clube, que perdeu a bola 28 vezes em pouco mais de 60 minutos em campo, segundo dados do Goal Point.

Roger Schmidt, brilhante na sua temporada de estreia, parece não querer ver o naufrágio à sua frente e agarra-se a frases fáceis como "não é que o planejamento foi errado, os lesionados fazem falta" ou "realmente, não merecemos a classificação", como se houvesse viv'alma a pensar o contrário. O capitão do barco se mantém fiel às suas ideias e só não está a tocar o violino enquanto a embarcação afunda porque o que tem, quando muito, é uma tocata com instrumentos desafinados.

Ao lado, mas nem por isso menos importante, registre-se a vergonha causada por imbecis que atiraram tochas nos adeptos locais, o que poderia ter causado uma tragédia como a que aconteceu em 1996, na final da Taça de Portugal, entre Sporting e... Benfica!  O fracasso do projeto desportivo quando se tem tudo à mão é de se lamentar, mas a falência cultural espelhada em indivíduos que viajam, não pelo seu clube, mas por uma realização pessoal tendo os pés fincados na violência, este sim é de se envergonhar.

Que vergonha, Benfica! 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

BOTAFOGO - Sobre meninos mimados

 Reprodução/Premiere

Se o Botafogo conseguir a proeza de perder um campeonato no qual teve 13 pontos e de vantagem para o segundo colocado, John Textor e os líderes do elenco terão muitos o que explicar: Textor, o dono, porque não segurou o técnico Bruno Lage; os líderes, por terem derrubado o treinador e bancado Lúcio Flávio, que teve boa passagem dentro de campo pelo próprio Fogão, mas nem treinador é. 

O trabalho de Lage, se comparado ao do antecessor Luís Castro, era ruim, mas em momento algum o elenco comprou as ideias dele. No Benfica, que ele pegou a duas rodadas da final do turno e sete pontos atrás do líder, terminou campeão e com mais de 100 gols num campeonato com 34 rodadas, e ainda teve que enfrentar os quatro adversários mais bem colocados na tabela fora de casa. E venceu todos eles. Lage poderia não ser o melhor, mas está longe de ser despreparado.

AVASSALADOR Bruno Lage foi campeão português pelo Benfica
(Foto: Jorge Amaral/Global Imagens / Esporte News Mundo).




Textor não quis bancar um treinador interino, Cláudio Caçapa, apesar das quatro vitórias em outros tantos jogos, mas o levou para ser treinador de seu time na Bélgica, o Molenbeek. Buscou outro português, talvez pela grife, mas com experiência para tocar o barco. E este barrou o artilheiro Tiquinho Soares e o mundo caiu.

Tiquinho, craque de última hora no Campeonato Brasileiro, teve uma boa passagem pelo FC Porto, onde era bem quisto pela torcida, mas longe de ser o jogador indiscutível no qual se tornou aqui. Lage o colocou no banco e teve o tapete puxado publicamente pelos líderes do elenco.

E depois? O Botafogo melhorou? Instável, segue derrapando e com seríssimos problemas para lidar com a pressão causada pelo estupendo trabalho de Castro, que se foi, como tantos outros por aí afora para receber o dinheiro árabe e para treinar Cristiano Ronaldo. Foi prejudicado contra o Palmeiras? É discutível e pode ser que sim, mas não há erro de arbitragem que justifique um time que abriu 3x0 ainda no primeiro tempo (e ficou barato) e tinha um pênalti a favor aos 37 do segundo tempo e com 3x1 no placar.

Se o Botafogo conseguir perder o campeonato, será não só a maior pipocada da história do futebol brasileiro, como também será a prova de que elencos mimados podem estragar um grande trabalho. E, neste sentido, Textor e os líderes do elenco terão sido os maiores responsáveis.

Pílulas amadoras - 3

por Humberto Pereira da Silva*


SOBRENATURAL DE ALMEIDA O personagem de Nelson Rodrigues
esteve em campo no Nilton Santos (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)

O jogo também é ganho fora de campo

No final do primeiro turno, um colega crítico de cinema que admiro e botafoguense escreveu no Facebook: "Não quero comemorar antes da hora, mas que loucura é esse Botafogo".

Mantivemos uma conversa virtual e destaco aqui um trecho do que escrevi para ele: "Mas, para mim, a imprevisibilidade no futebol, tão previsível, é o que me faz esperar pelas próximas 10 ou 12 rodadas pra ver o que vai acontecer com o Botafogo".

E, na sequência da conversa, fiz essa observação: "Mas, mas... sobressaltos, inconstâncias, irregularidades estão no caminho nas próximas 12 ou 13 rodadas. Isso pra mim o previsível... e, bem,... apenas especulação: jogos de seis pontos e o Bota não pode nem longinquamente pensar em perder para o Palmeiras e Grêmio. Pois teria que contar com a irregularidade deles pra não ver essa diferença diminuir pra seis pontos... ora, ora, caro... seis pontos no futebol brasileiro e toda sorte de VAR entra em campo... rs".

Nada de vã vanglória no vaticínio. Todo vaticínio, por princípio, se expõe ao erro. Senão, não seria vaticínio.  Acertar não é senão probabilidade. Mas, confesso, a expulsão de Adryelson me espantou. 

Até a expulsão, levando em conta a torcida, e não a fria probabilidade, o Fogão era campeão, pois num jogo de seis pontos punha nove na frente do segundo colocado faltando somente 7 rodadas (fora a partida a ser jogada com o Fortaleza). A entrada do VAR em campo decidiu a sorte do jogo. 

E sobre o VAR e arbitragem, só pra completar, gostaria de saber a opinião de Abel Ferreira e seu auxiliar, que no meio do campeonato sustentou: "Sistema quer evitar o bi do Palmeiras no brasileiro". 

Futebol, em todo lugar, é um jogo jogado dentro e fora de campo. "Sistema" não é folclórica teoria da conspiração. Abel, seu auxiliar e o Palmeiras sabem isso. Quem quer que acompanhe o futebol com atenção, para além do coloquial "jogo roubado", sabe isso. 

Impossível afirmar que calculadamente o "Sistema" se intimidou frente ao Palmeiras e... no momento de uma decisão controversa o VAR... Mas, a ação do VAR em momento me faz lembrar a frase de Júlio César: "A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta".

A vitória do Palmeiras, 0 a 3 contra e, depois, 1 a 3 tendo o adversário um pênalti par abater já perto do minuto 40 do segundo tempo, foi épica. Mas o Palmeiras também ganhou fora de campo.

* Humberto Pereira da Silva é professor de Ética em Jornalismo